Dois amigos em um bar

— Sabe a Bruninha?

— A do 302?

— Sim, ela.

— Que tem?

— Ela me lembra meus amores da adolescência.

— Hmm...

— Aquele jeito doce, aqueles olhos verdes, aquela mancha no pescoço.

— Que mancha?

— Não importa. Ela é uma fofa.

— Que papo de fofa é esse?

— Eu fugiria com ela... pra longe!

— Hmm...

— Voltaríamos dois meses depois, ela já grávida do primeiro filho. Betinho... isso. Depois nasceria a Rebeca.

— Filhos pra quê?

— Eu seria um bom marido pra ela, sabe? Sairíamos aos fins de semana e deixaríamos os filhos com a minha mãe. Ela iria adorar os netos.

— Olha, a verdade é que...

— Espera, espera... Mas eu me separaria da Bruninha dez anos depois. Ela engordaria e não faria mais panquecas pra família. Agora só iria querer saber de assistir a novela das seis e de fofocar com a vizinha. Maldita Rosemília.

— Tá ficando tarde.

— Eu fugiria com uma aluna minha depois disso. E sem assinar os papéis do divórcio. Mas ela me roubaria os cartões de crédito. Eu ficaria revoltadíssimo, bêbado, e a deixaria pelada no hall da pousada. Sim. Depois de passar 3 meses preso, eu me candidataria a vereador, só pra provar que o povo elege os candidatos sem ligar para o passado deles. É. Depois estaria no Jô Soares falando sobre minha vida, quando me lembraria da Bruninha. O amor da minha vida. Beijaria o Jô, sairia correndo pra casa e reencontraria a Bruninha, agora magra depois do SPA, que me perdoaria e faríamos juras eternas, depois de muito sexo, é claro.

Ele, sozinho na mesa do bar, fecha os olhos e sorri tolamente, com a visão da Bruninha em seus Braços. Uma mulher entra no bar

— Vai já pra casa homem, as crianças tão te esperando.

— Ok amor... – ainda sorrindo de olhos fechados.

— Anda, homem de Deus.

— Me deixa sonhar, Rosemília!