BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

BELO, Claudia Patrícia Mendes

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Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia

Instituto Superior de Educação Sant´Ana - IESSA

 

RIBEIRO, Marisa Marques

Profa Ms. Educação – Instituto Superior de Educação Sant´Ana (IESSA)

Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná.

[email protected]

 

 

O presente trabalho justifica-se pela necessidade de repensar o papel das brincadeiras e do ato de brincar na Educação Infantil, pois estes constituem uma das fases que marcam o desenvolvimento psicomotor, neurológico, psicológico  e principalmente  a socialização das crianças. A Educação Infantil deve considerar a criança como um ser capaz de aprender de maneira lúdica, divertindo-se e brincando.

Por ocasião dessa pesquisa, pode-se observar que a criança alimenta sentimentos de prazer, paixão ou amor pelo ambiente escolar e que a atividade lúdica faz-se imprescindível, pois segundo Murcia et al apud Both (2008, p. 110), “a brincadeira envolve toda a vida da criança, é um meio de aprendizagem espontâneo e exercita hábitos intelectuais, físicos e sociais e/ou morais”.

O conhecimento obtido pela criança através do contato com os brinquedos e as brincadeiras, juntamente com outras tradições, formou a cultura corporal. É o momento em que as crianças conhecem outras brincadeiras ou descobrem a história e as distintas formas de realizar as diversões de que já desfrutam.

Ao observarmos as crianças nos momentos em que estão brincando, podemos ver suas habilidades e características. Há crianças que participam de todas as brincadeiras assim como existe aquela que apresenta dificuldade de adaptação e de participação nas brincadeiras. Devemos sempre respeitar as fases de desenvolvimento e as habilidades de cada criança, pois de acordo com as condições ofertadas pelo mundo aprendem a competir e a cooperar com seus semelhantes e conviver como um ser social.

Os jogos e as brincadeiras na educação infantil são de suma importância para o desenvolvimento da criança no ensino aprendizagem, uma vez que as crianças desenvolvem o raciocínio e constroem o conhecimento de forma descontraída.

Vejamos o que nos diz Rossetto Jr. et al (2010, p. 11):

Os jogos e os esportes se destacam como elementos de integração social, troca de conhecimentos, ampliação das possibilidades de convivência e instrumento educacional capazes de reduzir o comportamento antissocial, prevenindo a violência por meio de regras e normas de conduta estabelecidas para garantir a convivência, o espírito esportivo.

Tudo isso propicia uma aprendizagem satisfatória, bem como o desenvolvimento pessoal, social e cultural do educando para que vivencie uma experiência significativa.

Através da observação realizada em sala de aula na Educação Infantil sobre o brincar, pode-se perceber que há pouco tempo para as crianças brincarem e desenvolverem sua coordenação motora. Neste período da infância o que mais interessa à criança é o brincar, portanto, é de fundamental importância o professor fazer um bom planejamento em suas aulas as quais devem envolver brincadeiras a fim de socializá-las de forma reflexiva e compartilhada.

A problemática que norteia a pesquisa é: Qual a importância dos brinquedos e das brincadeiras na educação infantil? Os objetivos pretendidos são: Ressaltar a importância do desenvolvimento psicomotor, cognitivo e socioafetivo através das brincadeiras; Valorizar as brincadeiras na educação infantil; pesquisar sobre a importância da brincadeira no processo ensino aprendizagem.

 

AS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PASSAGEM PELA HISTÓRIA

O brinquedo está envolvido na aprendizagem da criança e deve ser valorizado como recurso pedagógico educativo. As teorias psicogenéticas de Piaget (1998), Bruner (2002), Vygotsky (1989) discutem a importância do ato de brincar para a construção e representações infantis. Mas, é com Froebel (2002) que o jogo, entendido como objeto e ação de brincar, faz parte da história da educação pré-escolar.

Na mesma época, a médica italiana Maria Montessori elabora uma metodologia de ensino destinada às crianças deficientes mentais, empregando matérias criados por Itard e Seguin (1965), com o objetivo de implementar a educação sensorial. Uma área que recebeu grandes benefícios com a utilização de brinquedos foi a educação de crianças portadoras de deficiências, sendo que essa prática teve origem no século XVII com a criação de materiais para surdos-mudos.

Normalmente, a aceitação da brincadeira como parte da infância é consequência de uma visão social de que brincar é uma atividade inata, inerente à natureza da criança. Contudo, a educação da criança, que a vincula a uma determinada forma de brincar, tem origem nas concepções românticas de homem e educação e ganha contribuições da crescente distinção entre a criança e adulto, com direitos e deveres, a qual foi construída pelos homens depois da Idade Média. A diferença entre criança e adulto, em nossa sociedade, é estabelecida entre brincar e trabalhar, pelo menos teoricamente.

É com a ruptura do pensamento romântico que a valorização da brincadeira, da forma como entendemos hoje, ganhou espaço na educação das crianças pequenas. Na antiguidade, as crianças participavam, tanto quanto os adultos, das mesmas festas, dos mesmos ritos e mesmas brincadeiras.

Segundo Aires (1971, p. 94) afirma:

Nessa época o trabalho não ocupava tanto tempo do dia e nem tinha o mesmo valor existencial que lhe atribuímos nesse último século. A participação de toda a comunidade, sem discriminação de idade, nos jogos e divertimentos era um dos principais meios de que dispunha a sociedade para estreitar seus laços coletivos e para se sentir unida.

Os humanistas do Renascimento perceberam as possibilidades educativas dos jogos e passaram a utilizá-lo e considerar a brincadeira e jogos como uma forma de preservar a moralidade dos miniadultos, proibindo-se os jogos considerados maus e aconselhando-se aqueles considerados bons. A brincadeira, como um comportamento infantil e espontâneo, passou a ter valor. Também passou a ser concebida como a maneira de a criança estar no mundo próxima à natureza e, portadora da verdade, a inocência e fragilidade da criança garantiria um investimento educacional voltado para a verdade contida no brincar e a preservar a sua pureza.

Os trabalhos de Comenius (1953), Rousseau (1972) e Petalozzi (1746), na Europa, contribuíram, ao lado do protestantismo, para o nascimento de um novo sentimento de valorização da infância baseada numa concepção idealista e protetora da criança, voltados para a educação dos sentidos da criança, com o uso de brinquedos centrados na recreação. Foi o início da elaboração de métodos próprios para a educação infantil, seja em casa ou instituições específicas para tal fim.

Além destes autores, Froebel inaugurou uma educação institucional baseada no brincar, organizou seus jardins de infância em torno dos dons, tempo que designava os brinquedos de livre manipulação pelas crianças.

Pauline Kergomard (1965), na França, propôs um pouco mais tarde as escolas maternais em substituição aos asilos infantis. Através da observação das crianças, elaborou uma pedagogia científica que propunha a brincadeira como atividade livre de aprendizagem e espaço educacional. As primeiras pedagogias científicas e o estudo aprofundado do desenvolvimento infantil a partir do século XIX modificaram o sentido da brincadeira na educação e sua aceitação social.

Dewey (1965) concebia a brincadeira como uma ação livre e espontânea. “Através das brincadeiras a criança apresentava sentimentos, necessidades e interesse e por isso tem um fim em si mesma” (KISHIMOTO, 1992 p. 61). Nas escolas primárias, utilizavam-se os jogos como meio de ensino, nos parques infantis paulistas, sob a influência do movimento modernista e da recuperação do folclore como elemento da cultura, as brincadeiras ocupavam um lugar de experiência cultural, física e recreação das crianças.

Froebel (2002), Montessori (1965), e Décroly (1965) contribuíram para a superação de uma concepção tradicionalista do ensino pré-escolar, inaugurando um período histórico no qual as crianças passaram a ser respeitadas e compreendidas.

Podemos observar, mais recentemente, uma tendência das pré-escolas brasileiras a utilizar materiais didáticos, brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos de ensino e alfabetização.

O brincar está associado a uma nova imagem de criança que vem sendo construída em função do seu status social.

Para o autor Brougere (1993) o brincar passou por diversas concepções na História da Filosofia, da Pedagogia e demais áreas das ciências e das artes. Tal diversidade só é compreendida se tomarmos o fato de que brincar é uma atividade mental, uma forma de interpretar e sentir determinados comportamentos humanos. O brincar deve ser considerado como representação e interpretação de determinadas atividades infantis explicitadas pela linguagem num determinado contexto social. A brincadeira é uma linguagem baseada na atribuição de significados diferentes aos objetos e à linguagem, comunicados e expressos por um sistema próprio de signos e sinais.

Com o Romantismo e sua nova concepção de infância, a brincadeira ganha uma seriedade no interior de um sistema de inversão de valores proposto por esta corrente de pensamento e pode aparecer como o espaço de uma educação “inatural” (1993, p. 219).

Segundo os estudos de Brougére (1993, p. 227), “a brincadeira precisou ser concebida como uma vantagem evolutiva para manter-se enquanto atividade infantil. Ela serve para alguma coisa, não pode ser fútil”.

O brincar tem sido historicamente, assimilada a uma forma mais livre e informal de educação da criança pequena, e é preciso entender o porquê da dificuldade dos adultos e profissionais de Educação Infantil relacionarem-se com ela.

Para os pequenos, quase tudo na vida é brincadeira. Por isso, na Educação Infantil não faz sentido separar momentos de brincar dos de aprender. Essa simultaneidade pede que espaços e rotina da escola sejam planejados de modo a proporcionar multiplicidade de experiências e contato com todas as linguagens, o tempo todo. Sem abrir mão, é claro, dos cuidados com segurança e saúde.

A respeito das brincadeiras, Carmem Craidy (2001, p.103) afirma que “as brincadeiras, são estudos feitos sobre a história da infância mostra que a criança vê o mundo através do brinquedo”. Para alguns autores o brincar se relaciona com a criança e mostra suas concepções e representações do sujeito criança. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da aquisição de um novo saber fazer, incorporando- o a cada novo brincar.

Nós, educadores, precisamos compreender como as crianças constituem-se crianças através dos novos brinquedos. Pelo brincar a criança experimenta, organiza-se, regula-se, constrói normas para si e para os outros. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com o outro e com o mundo.

Já para Craidy e Kraercher (2001, p. 107):

O prazer do brincar e esquecemos que o olhar, curtir, tocar, experimentar faz parte do ser criança, faz parte da descoberta na infância e da construção de novos sujeitos-crianças.

Através dos brinquedos podemos proporcionar o afeto, solidariedade, compreensão que as brincadeiras podem contribuir.

A criança deve ter os brinquedos disponíveis ao seu alcance sempre respeitando a faixa etária. É importante que a escola garanta um tempo para o livre brincar, apenas pelo seu prazer. Não importa o sexo, pois tanto menina quanto menino devem cuidar de si e do outro nas suas brincadeiras, entender que quem está a fim de brincar tem seu direito garantido.

É o papel do educador mediar as situações e convidar todos à investigação, aproveitar a curiosidade dos pequenos e incentivá-lo na busca sobre a origem da brincadeira em questões culturais relacionadas a ela. Nesse processo, livros, vídeos, fotografias e sites são grandes aliados, mas também vale estender os horizontes com visitas a museus, parques e até a residência das crianças, onde familiares podem ajudar com as próprias experiências. Durante a investigação, é importante realizar conversas com a turma, questionando o que já foi encontrado, quais as relações entre a novidade e o que já sabe. Vygotsky (2003, p. 53).

A criança da Educação Infantil gosta muito das brincadeiras de correr, como pega-pega, mas sempre brinca seguindo as mesmas regras porque não conhece outras variações possíveis.  Ciente dessa realidade, que precisava ser transformada  e planejada a situações de pesquisa com os familiares a respeito dessas várias possibilidades de brincar.

Garaigordobil apud Both (2008, p. 112) afirma que.

É através da brincadeira que a criança amadurece o sistema nervoso, educa os sentidos, desenvolve as habilidades motoras (controle e consciência corporal, locomoção, manipulação, habilidades básicas, genéricas, etc.), as capacidades físicas básicas (força, resistência, velocidade e amplitude de movimento) e ainda possibilita à criança coordenar o corpo, permitindo um melhor desenvolvimento no meio [...].

A brincadeira possibilita à criança vivenciar novas experiências, estimulando entre outras, habilidades como a capacidade de questionar e experimentar e o desenvolvimento da capacidade do pensamento. A brincadeira também oferece a oportunidade de resolver problemas, ajudando na elaboração e no desenvolvimento das estruturas mentais (memória, atenção, etc.). Favorece ainda, a distinção entre fantasia e realidade e ajuda a melhorar a linguagem.

Já Vygotsky apud Both (2008, p. 114), por sua vez, diz que:

O brinquedo desempenha várias funções no desenvolvimento, tais como: permitir o envolvimento da criança num mundo ilusório, favorecer a ação na esfera cognitiva, fornecer um estágio de transição entre pensamento e objeto real, possibilitar maior autocontrole da criança, uma vez que, ao brincar, a criança lida com conflitos relacionados às regras sociais e aos seus próprios impulsos.

Seguindo esse raciocínio Adorno (1995), Dewey (1956) e Orlik (1989) apud Rossetto Jr. (2010) relatam:

Durante o jogo, forma-se uma minisociedade que estabelece as regras e normas para sua realização, transformando ou reforçando valores e atitudes da sociedade maior. Assim, o jogo é ambíguo, podendo ser canalizado para o “bem” ou para o “mal”.

O brinquedo ajuda no desenvolvimento cognitivo, físico, social  e moral da criança.

Brougère (1998), Elkonin (1984), Huizinga (1996) e Vygotsky (1984) concordam que “o jogo é uma atividade representativa/interpretativa, e não apenas imaginária, um misto das vivências concretas com a fantasia (imaginário)”.

As brincadeiras são linguagens não-verbais, nas quais a criança expressa e passa mensagens, mostrando como ela interpreta e enxerga o mundo. Brincar é um direito de todas as crianças do mundo, garantido no Princípio VII da Declaração Universal dos Direitos da Criança da UNICEF(1959). O brincar é uma atividade de grande importância para a criança, pois a torna ativa, criativa e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros. Também a faz feliz e por isso, mais propensa a ser bondosa, amar o próximo a ser solidário.

 É nesse ambiente de aprendizagem que as crianças vão socializar-se e ganhar autonomia. "Dentro do espaço da Educação Infantil é necessária a integração entre o educador, o planejamento pedagógico e a organização dos lugares, que funcionam como mais um elemento educativo, como se fossem um professor a mais”, explica Elza Corsi, formadora do Instituto Avisa lá, de São Paulo.

Froebel (2001, p. 108) coloca que “A esfera, ou bola é geralmente o primeiro e mais apreciado brinquedo das crianças. Para ele, a esfera simboliza a unidade porque é interna e completa”.

O mesmo autor (2001) relata que o jogo e as brincadeiras são entendidos como objeto e ação de brincar e passam a fazer parte da história da educação pré-escolar. Parte-se do pressuposto de que, manipulando e brincando com materiais como a bola, cubo e o cilindro, montando e desmontando cubos, a criança estabelece relações matemáticas e adquire noções primárias de Física e Metafísica.

Kishimoto (2007, p. 57) diz:

Quando vemos uma criança brincando de faz-de-conta, sentimo-nos atraídos pelas representações que ela desenvolve. A impressão que nos causa é que as cenas se desenrolam de maneira a não deixar dúvida do significado que os objetos assumem dentro de um contexto. Assim, os papéis são desempenhados com clareza: a menina torna-se mãe, tia, irmã, professora, o menino torna-se pai, índio, polícia, ladrão sem script e sem diretor. Sentimo-nos como diante de um miniteatro, em que papéis e objetos são improvisados.

Muitos teóricos e estudiosos do assunto, como Freud (1976), Piaget (1971), Luria (1932) e Vygotsky (1984) afirmam que o jogo de fantasia possibilita observar a origem dos devaneios na fase adulta.

Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo a sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui.

Vygotsky (1984) define o brincar com uma situação imaginária criada pela criança e considera que brincar preenche necessidades que mudam de acordo com a idade.

O mais importante não é a similaridade do objeto com a coisa imaginada, mas o gesto. Neste caso, a vassoura composta um gesto em relação ao objeto (cavalo) ao qual ela está conferindo um significado. “Dessa forma, no brinquedo, o significado conferido ao objeto torna-se mais importante que o próprio objeto” (Kishimoto 2007, p. 61, 62).

O brincar é mais do que uma distração, é uma linguagem na qual a criança revela uma forma de pensamento, através das brincadeiras a criança situa-se no espaço em que vive, constrói, a ideia de si e do outro, experimenta, fala, age, interpreta, enfim desenvolve habilidades essenciais para uma melhor compreensão do mundo.

Segundo afirma Porto (2003, p. 182):

A brincadeira pode ser um espaço de experiência bem original, onde o comportamento encontra-se dissociado e protegido de censuras corretamente encontradas na sociedade. Nesse sentido, a brincadeira é uma situação de frivolidade e flexibilidade. A criança pode tentar sem medo a confirmação do real. Algumas condutas de comportamento que, sob pressões funcionais, não seriam tentadas pode ser experimentadas nas brincadeiras. Nesse universo pode, sem riscos, inventar, criar, tentar.

PROPONDO UMA OUTRA CONCEPÇÃO

As concepções inatistas e espontaneístas sobre o brincar contaminam o pensamento e as práticas da maioria dos profissionais de educação infantil. A relação das brincadeiras com as crianças oferta um período de recreação para relaxamento e dispersão de energias fora da sala. Deve ser a prática, pois essas práticas não pressupõem uma ação educativa planejada e consciente com relação ao brincar por parte do professor.

O brincar define-se por uma maneira que as crianças têm para interpretar e assimilar o mundo, os objetos, a cultura as relações e os afetos das pessoas. Na brincadeira as crianças podem pensar e experimentar situações novas ou mesmo do seu cotidiano, no entanto, pode ser o espaço de reiteração de valores retrógrados, conservadores, com os quais a maioria das crianças se confronta diariamente Vygotsky (1987, p. 93).

Do ponto de vista do desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens sociais, cognitivas e afetivas na medida em que, “além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário, no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade, o brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência”. Vygotsky (1987, p. 102).

Numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos de vida real e motivações evolutivas aparecem no brinquedo, que se constitui no mais alto nível de desenvolvimento pré- escolar. Vygotsky (1984, p. 117).

A brincadeira pode transformar um espaço privilegiado de interação e confronto de diferentes crianças com diferentes pontos de vista. Vygostsky (1989) denomina autocontrole o nível simbólico entre a liberdade da brincadeira e a submissão às regras estabelecidas e determinadas pelo limite entre a realidade e seus próprios desejos.

Toda brincadeira possui regras que são definidas e respeitadas por aqueles que brincam, mas também são desprovidas de finalidade ou de objetos explícitos. Para Vygotsky (1984, p. 68) “a brincadeira cria na criança uma nova forma de desejos”.

Ao brincar, o desenvolvimento infantil pode alcançar níveis mais complexos por causa das possibilidades de interação entre os pares numa situação imaginária. Pela negociação de experiência a brincadeira permite a criança: atribuir significados diferentes aos objetos transformando-os em brinquedos; levantar hipóteses; resolver problemas e pensar; sentir sobre seu mundo. Por essa razão, Vygotsky (1984, p. 74) considera que a brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento proximal”, a qual não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de um problema sob a orientação de um adulto. Segundo o autor a brincadeira possui três características: a imaginação, a imitação e regra.

O contato com a manipulação e uso dos brinquedos, por seu lado, possibilita às crianças uma aprendizagem multidisciplinar das formas de ser e pensar da sociedade.

Segundo Brougère (1995), um brinquedo não é a realidade, mas uma forma de representá-la. Os brinquedos industrializados e artesanais constituem-se em mediadores das crianças com a sociedade, facilitando a construção dos papéis sociais e dos sistemas de representação, através de sua utilização nas brincadeiras.

A brincadeira e o brinquedo estão relacionados com a educação infantil, pois impõe uma reflexão sobre as atitudes e práticas educativas assumidas pelos professores em contato com as crianças, organizado a rotina diária, espaço, tempo das atividades, os materiais e dos brinquedos que são propostos na Educação Infantil.

Observar e registrar as brincadeiras espontâneas das crianças, suas falas e os brinquedos que inventam, assim como nossas atitudes, ideias e dificuldades frente a essas situações, pode ser uma forma de começar a modificar nossa própria prática profissional.

3.2 Brincadeiras presentes na educação infantil

O brinquedo educativo é entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas e cores. Nos brinquedos de tabuleiro, exige-se compreensão do número e das operações matemáticas; nos brinquedos de encaixe, são trabalhadas as noções de sequência de tamanho e forma; nos múltiplos brinquedos e brincadeiras há um olhar de desenvolvimento infantil e a materialização da função psicopedagógica. Os móbiles, a percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas trabalham a linguagem; brincadeiras envolvendo músicas, danças desenvolvem a parte expresso motora, gráfica e simbólica.

“O uso do brinquedo tem um fim pedagógico para situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil” (Kishimoto, 2007 p. 36). O brinquedo educativo propicia diversão, prazer e até desprazer. Quando escolhido voluntariamente, ensina qualquer coisa que compete ao indivíduo seu saber, seus conhecimentos sua apreensão do mundo.

3.2.1 Brincadeiras tradicionais infantis

A autora Kishmoto (2007, p. 32) nos relata que:

A tradicionalidade e universalidade das brincadeiras assentam-se no fato de que povos distintos e antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincaram de amarelinha, empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Tais brincadeiras foram transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil.

            Nas brincadeiras a criança manifesta-se com naturalidade, agindo livremente, demonstrando prazer que raramente pode ser observado em outras atividades educativas.

            Entre elas destacamos:

  • ·Brincadeiras de faz-de-conta

Considerada uma brincadeira simbólica, de representação de papéis ou sociodramática são adquiridas pelas crianças e provêm do mundo social, incluindo a família e o seu círculo de relacionamento, e do currículo apresentado na escola. Os conteúdos veiculados durante as brincadeiras infantis, bem como os temas de brincadeiras, os materiais para brincar, as oportunidades para interações sociais e o tempo disponível são fatores que dependem do currículo proposto na escola. Através do brincar de faz-de-conta a criança está aprendendo a criar símbolos.

  • ·Brincadeiras de construção

São brincadeiras consideradas importantes por enriquecer a experiência sensorial, estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança.

Froebel, o criador dos jogos de construção, oportunizou a muitos fabricantes a duplicação de seus tijolinhos para a alegria da criançada que constrói cidades e bairros que estimulam a imaginação (Kishimoto 2007, p. 40).

É importante que tenha tempo livre para as crianças brincarem, pelo prazer de brincar, meninos e meninas brinquem e cuidem de si e do outro na sua brincadeira, direito garantido para fazê-lo. Os educadores da educação infantil devem buscar os novos modos de educação que garantam que o brincar faz parte da criança.

4 . CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho teve-se a oportunidade de aprofundar mais conhecimentos teóricos sobre a importância das brincadeiras na educação infantil. Verificou-se que as brincadeiras proporcionam à criança a oportunidade de realizar as mais diversas experiências e preparar-se para atingir novas etapas em seu desenvolvimento.

Cabe à escola estar atenta ao desenvolvimento e o aprendizado das crianças cumprindo a sua função integradora, dando oportunidades de desenvolver o papel na sociedade e contribuindo para um bom desenvolvimento de uma socialização adequada, através de atividades em grupos e das brincadeiras.

 Resgatar e utilizar as brincadeiras como um meio educacional é um avanço para a educação infantil, um espaço onde a criança recebe estímulo e se desenvolve em diferentes aspectos afetivo, motor, cognitivo entre outros. Podemos destacar a importância da Educação Infantil, pois com ela que a criança evolui na faculdade mental e no desenvolvimento da aprendizagem, visto que as brincadeiras contribui para que a criança de controle ao expor suas emoções deixando as seguras e confiantes de si mesma.

Na brincadeira as crianças vivenciam concretamente a elaboração e negociação de regras de convivência, assim como a elaboração de um sistema de representação dos diversos sentimentos, emoções e das construções humanas.

5. REFERÊNCIAS

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 BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Ensino fundamental: referencial curricular nacional para a educação infantil. Volumes I, II, III Brasília; Mec/Sef:1998.

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 CRAIDY, Carmem. KAERCHER, Gládis E. (Org). Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. p. 108.

 Educação infantil, lugar de aprendizagem. Disponível em: <http://www.revistaescola.abril.com.br/educaçãoinfantil/gestão/educação-infantil-lugar-aprendizagem-creche-pre-escola-espaços-ambientes>. Acesso em: 03 mai. 2012.

 Educação infantil. Disponível em: <http://www.revistaescola.abril.com.br>. Acesso em 24 abr. 2012.

 KISHIMOTO, citado por Lucena, Ferreira de. Jogos e brincadeiras na educação infantil. Campinas: Papirus, 2004.

 KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org). Jogo brinquedo brincadeira e a educação. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 1999.

 KISHIMOTO, Tizuko Morchida. (Org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 10. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2007. p. 13-40.

 MONTESSORI, Maria. Pedagogia científica Trad. A.A. Brunetti. São Paulo, Flamboyant, 1965.

 NICOLAU, Marieta Lucia Machado. A educação pré-escolar: fundamentos e didática. São Paulo: Editora Ática, 2002.

 PIAGET, Jean. A psicologia da criança, Rio de Janeiro: Bertrand and Brasil,1998.

 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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