BRINCAR É COISA SÉRIA: AGITAÇÃO QUE FAZ BEM.

“(...) a identidade de uma pessoa e de um povo começa nos rituais da infância.”

                                                                                                                         Erik Erikson

Transformar, resignificar, desvendar na descoberta da escola como ambiente de alegria, criatividade e conhecimento vital para o desenvolvimento global do ser humano. É preciso que a escola seja um ambiente de permanente fonte e interação da ludicidade, associadas a seriedade em torno do aprender. Se para as crianças aprender tem muito de brincar, para jovens e adolescentes aprender tem muito de criar, interagir e de conhecer seus potenciais, sejam eles artísticos, esportivos, culturais e relacionais. Nesta vertente Alicia Fernandes sublinha que:

“Aprender é arriscar-se a fazer do sonho textos possíveis; e nunca esquecer esses sonhos”.

Em meio a esse contexto, o brincar e o aprender estão no fato de que o aprender encontra-se entre a “vontade” de conseguir alguma coisa e conseguir. Já o brincar é uma forma de conseguir, mas em outro âmbito. Haja vista que ser humano brinca desde a mais tenra idade.

As brincadeiras alimentam o espírito imaginativo, exploratório incentivando o faz de conta, e a isso chamamos de lúdico. De maneira geral a criança pequena traz consigo o impulso da descoberta, da curiosidade e do querer aprender as coisas. Brincar tem um sabor de desconhecer o que se conhece, pois da brincadeira se cria um universo a ser sempre (re) descoberto, (re) vivido, (re) aprendido. Se a criança mexe com dedos, inventa vozes, esconde as mãos, descobre os pés, faz algo sumir e aparecer, transforma objetos, lugares, inventa coisas, esse jeito de lidar com a realidade, já tem aspecto de brincadeira. Ela se transforma em mágico, fada, bailarina, bruxa... Tudo na mais inimaginável sede de aprender interagindo com o lúdico.

Ser dirigirmos nosso olhar fora de nós, em direção aos outros, teremos como possibilidade tomar como sério o processo do ensinar, associando-o a ludicidade. Abrimo-nos para relações, saindo do casulo que muitas vezes construímos para não estar diante delas. Brincar, então é estar em relação com algo diferente em nós é / ou fora de nós.

O autor Simone Stilva enfatiza bem esse olhar:

“Brincar se tornou coisa séria, pois a criança descobre-se e compreende o mundo que a cerca”.

Portanto cabe reafirmar que a dinâmica da vida gira incessante no reinventar do brincar. É necessário repensar pensando a escola, fazendo dela um espaço de alegria, iluminá-la por meio de razão, estudo, ciência, filosofia, crenças, verdades, ideais, ideias também, esperança, fraternidade, renúncia, relação, desilusão. Ah! Pote de ouro no final do arco íris? Não, apenas, pensar igual criança, fazer da minha prática a minha realidade cotidiana, onde o brincar se torna sério, se torna aprendizado significador.

Voltando ao arco-íris, em nossa imaginação adulta/infantil sempre acreditamos que no final do arco-íris haveria um pote de ouro, que nos faria ricos, nos possibilitando comprar todos os doces e guloseimas do filme “a fantástica fábrica de chocolate” e também os doces da história de “João e Maria”. Em nosso mais puro devaneio infantil descobrimos a seriedade contida no pote de ouro, construir e reconstruir se tornou componente de nosso imaginário mundo real, mundo da doce descoberta, do conhecimento.

Nesse pensamento dos potes de ouro, do brincar com seriedade, dos chocolates de “João e Maria”, surge novamente Alicia Fernandes que em meio há floreios poéticos, diz:

“Da alegria nasce a esperança, que move o desafio impulsionado a vencer os obstáculos”.

 Atento o mestre Paulo Freire ouviu e enfatizou:

 “Portanto, escola é luz que ilumina possibilidade de viver de ser e estar, de conviver com o outro, diante de um espaço rico em possibilidades de expressão, comunicabilidade, inteligibilidade”.

Afinal no contexto vigente atual ouve se costumariamente falar que todo ser humano carece de brincar. Não importa a idade, cor, sexo, etnia...Está na veia pulsante que anima/reanima o cotidiano vivencial,     sejam eles crianças, jovens, idosos, homens e mulheres. Partindo deste pensamento, todos os ramos do conhecimento sejam na psicologia, na biologia, na sociologia, na arte, na antropologia, na música e outras áreas do saber humano já estudaram o brincar na vida das pessoas, e todos esses estudos têm uma contribuição muito importante para compreendemos como é que acontecem as situações do brincar.

Portanto no brincar, tendo como relevância a seriedade do aprender, pode acontecer em todo momento, em toda idade, sendo somente necessário gente. Gente que brinca e aprende no corpo latente, corpo que pulsa, associando sensações às emoções, na mais envolvente significância de viver. Afinal, brincar é coisa séria.