BRINCAR A MODA ANTIGA: UM DESAFÍO E UMA NECESSIDADE

(Por Marcos Teodorico Pinheiro de Almeida 1)

O brincar a moda antiga é uma alternativa diferente de viver o presente, pensar no futuro e resgatar as tradições lúdicas do passado. Quando começamos a estudar sobre os jugos antigos, começamos a entender a magia e a alquimia contida em cada um deles: suas possibilidades de transformação, de adaptabilidade, de educação, de socialização e suas possibilidades cognitivas. Os jogos e brinquedos apresentados nos mais diferentes livros são resultados das mais diferentes experiências culturais humanas e nos mais diferentes contextos históricos. (ALMEIDA, M.T.P, 2004)

Os jogos tradicionais têm estado sempre presentes, em todas as épocas e culturas, sendo uma das principais coordenadas da vida humana. O jogo e o brinquedo e a sua relação com a nossa vida, e parte do nosso patrimônio lúdico. Atualmente o brincar passou a ser um tema de grande relevância para estudiosos e curiosos. No Brasil e no mundo, os jogos tradicionais tornaram-se importantes no cotidiano, com o seu grande dinamismo e sua adaptabilidade ao tempo e aos espaços, revelando-se como uma potencialidade lúdica incomparável. O jogo tradicional tem sua energia própria e uma magia que teima e resiste às normas e formas impostas pela sociedade, já que se enraiza nas culturas locais onde mora a verdadeira essência humana.

Os jogos e brinquedos antigos não aceitam definições prévias, preconceitos ou reconhecimentos abstratos. A sua legitimação encontra-se na dimensão histórica e cultural dos comportamentos e no vinculo aos elementos de uma data situação. Os jogos e brinquedos são marcados por uma identidade particular, isto é, a identidade do contexto cultural em que a ação lúdica se realiza. Mas isto não significa dizer que o jogo e o brinquedo não estejam abertos aos múltiplos e diversos cruzamentos de culturas, porque eles não são uma entidade descontinua, imutável, finita, sem capacidades de reestruturação permanente, como as vezes e erradamente eles tem sido apresentados, com uma visão reduzida e substantiva do mundo.

Podemos dizer, que o jogo e o brinquedo têm contido neles os mais diferentes elementos e valores que são suas virtudes e os seus pecados. Virtudes, porque na essência, eles são constituídos de princípios generosos que permitem a revitalização permanente. Pecados porque o jogo e o brinquedo podem ser também manipulados e desviados para as mais diferentes finalidades ou objetivos podendo, comprometer a verdade.

A pluralidade cultural para nós é entendida como a convivência em um mesmo espaço de pessoas procedentes de diferentes culturas, é um fato presente em nossa sociedade atual. Está diversidade, longe de significar uma ameaça é a própria identidade cultural. Muito pelo contrário, a pluralidade cultural pode favorecer e enriquecer a nossa cultura e se converter em um fator positivo para o desenvolvimento de indivíduos e sociedades.

As escolas que acolhem imigrantes ou alunos de minorias culturais se convertem em um lugar de encontro onde compartilham experiências meninos e meninas de diferentes etnias. Suas relações na escola com outras crianças marcarão sem duvida as relações em outros âmbitos como: a família, a comunidade e a cidade.

 

O objetivo que devemos buscar como educadores não deve ser a integração da cultura minoritária com a cultura majoritária se isso leva a renúncia da cultura minoritária a seus próprios padrões culturais e sociais. Tão pouco podemos propor

o conhecimento das diferenças e o respeito das mesmas sem favorecer uma interrelação entre ambas culturas, entre pessoas de distintas culturas. Nosso objetivo principal como educador deve ser que ambos os grupos, majoritário e minoritário, alcancem uma interdependência baseada em respeito, na valorização e no reconhecimento mútuo que favoreça o enriquecimento comum.

Este ambicioso objetivo é válido tanto para escolas que recebem alunos de minorias culturais como para outras que somente tem alunos de uma mesma etnia. Em ambos os casos, partirão de um conhecimento das manifestações culturais das mais diferentes etnias, eliminando prejuízos e preconceitos, para ir, pouco a pouco, descobrindo as diferenças e semelhanças e estimulando um intercâmbio que possibilite inúmeras ações comuns.

Um dos principais pontos em comum dos meninos e meninas de diferentes culturas é o JOGO. O jogo é um meio que as crianças aprendem as normas culturais e os valores de uma sociedade. Os diferentes tipos de jogos que os meninos e meninas praticam são um reflexo da cultura em que vivem. Devemos estimular a pesquisa de jogos de diferentes países e culturas com o fim de que sirva como recurso em uma aula, resgate e manutenção da cultura lúdica.

Desta maneira, podemos selecionar jogos e brinquedos de diferentes lugares do mundo e introduzi-los convenientemente estruturados nas aulas, permitindo assim, que os nossos alunos tenham acesso a outras formas de brincar.

Praticando e tendo uma reflexão sobre estes jogos os envolvidos podem estabelecer elementos de comparação com outros. Perguntas podem surgir:

  • Com que se parecem?
  • Em que se diferenciam?
  • Que materiais variam?
  • Como podemos modificá-los?

Neste tipo de pesquisa, vamos perceber que muitos dos jogos investigados são similares a outros que conhecemos. Algumas características podem ser observadas:

  • Alguns vão parecer simplificações de outros;
  • Variantes derivadas da adaptação do jogo a múltiplas condições como: a ausência de um material determinado ou sua substituição por outro ou até mesmo a eliminação do mesmo;
  • A educação a um espaço de jogo concreto ou a adaptação para favorecer o jogo quando o número de jogadores é superior ou inferior ao habitual.

 

A busca de semelhanças e diferenças entre jogos pesquisados e os que conhecemos e praticamos habitualmente em nossa vida ou escola, assim como uma analise mais profunda dos diversos contextos culturais de onde são provenientes os jogos pesquisados, podem nos levar a adquirir um maior conhecimento de outras formas de vida, nem melhores nem piores que a nossa, simplesmente diferentes.

A fabricação de materiais para a prática dos jogos a partir de elementos que estão ao nosso alcance e que se usa no dia-a-dia, na maioria das vezes considerados materiais não necessários (lixo), com eles, podemos estimular vários temas para discussão sobre a sociedade de consumo em que estamos inseridos e fazer reflexões com os nossos alunos como nossa forma de viver e tratar o meio ambiente repercutem nas formas de brincar.

Finalmente podemos realizar inúmeras propostas que podem se derivar do jogo como eixo condutor. Um eixo no qual tem a criança como representante primordial, e consequentemente um elemento motivador para nossos alunos e para o profesor como meio ou recurso para o trabalho docente nas mais diferentes áreas do conhecimento, os mais diferentes objetivos e conteúdos orientados há uma verdadeira educação intercultural.

Somos perfeitamente conscientes de que não são somente os jogos do mundo e os jogos tradicionais e/ou populares que serão suficientes para conseguir os nossos objetivos. Porém é um bom começo. A partir dos jogos podemos analisar de forma interdisciplinar, outros conteúdos comuns a todas as culturas: a música, a alimentação, a arte, a religiosidade, as formas de vida etc.

Em escolas com alunos de diferentes países ou culturas, o jogo pode se converter em um elemento integrador. Podemos iniciar com os nossos alunos e alunas, um pequeno trabalho de investigação de jogos que nos sirva como ponto de partida para encontrar aspectos comuns e diferentes entre os jogos praticados pelas crianças em função de suas respectivas origens. O professor pode estudar também alguns jugos de outras culturas não existentes no grupo de aula. Descobriremos jogos e brinquedos com diferentes nomes, podemos aprender algumas formas de escolha nas diferentes línguas, as próprias crianças podem ser os responsáveis de ensinar o jogo a outras crianças e colocar em prática etc.

Porém podemos ir um pouco mais longe, depois de escolhidos e investigados os jogos e brinquedos, podemos planejar uma CIRANDA DE JOGOS E BRINQUEDOS DO MUNDO, onde os próprios alunos pesquisadores serão os organizadores e multiplicadores. Organizando os espaços, selecionando os jogos e brinquedos e estabelecendo um sistema de rodízio (com se fosse uma ciranda) onde todos os outros colegas da escola irão passar.

Em fim, estas são algumas propostas não tão difíceis de por em prática com um pouco de ajuda por parte de todos, porem não são as únicas. O jogo e o brinquedo é uma fonte inesgotável de recursos para abordar um projeto mais global de educação intercultural e deve ser o próprio educador e/ou educadora o encarregado de descobrir quais são as alternativas que mais se adaptam as características de sua escola ou comunidade.

 

Os jogos e brinquedos são criações de uma cultura e fruto de uma história. Sabemos que é fundamental e urgente viver o presente, preparando o futuro e sempre respeitando nossas tradições.

Bibliografía

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___. Os Jogos tradicionais Infantis em Brinquedotecas Cubanas e Brasileiras. São Paulo: Universidade de São Paulo – USP / PROLAM, 2000. (Dissertação de Mestrado)

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1 Atualmente sou professor da Universidade Federal do Ceará – UFC, Mestre pela Universidade de São Paulo – USP, Doutorando em Educação na Universidade de Barcelona – UB, coordeno o Laboratório de Brinquedos e Jogos – LABRINJO da Faculdade de Educação – FACED. Sou facilitador de jogos cooperativos, sou brincante, desenvolvo projetos lúdicos, projeto e crio jogos e brinquedos, pesquiso sobre os jogos antigos (tradicionais e populares), trabalho com sistemas de análise e classificação de jogos, brinquedos e materiais lúdicos, desenvolvo testagem e estudos sobre segurança de brinquedos.