BRINCADEIRAS: INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES NO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

         Na visão, sócio histórico de VIGOTSKY (1984), a brincadeira é uma atividade específica da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos e dessa forma acaba por resultar em uma atividade social, dentro de um contexto cultural.

         A brincadeira continua o autor, cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que significa a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por meio do resoluto do problema, sob a orientação de um adulto ou de um companheiro mais capaz.

         VIGOTSKY (1984) classifica o brincar em algumas fases:

  • Primeira Fase - a criança começa a se distanciar de seu primeiro meio social, representado principalmente pela mãe, isto é, fala e anda influenciada dentro de um ambiente adulto. Esta fase se estende em torno dos sete anos.
  • Segunda Fase - é caracterizada pela imitação. A criança copia os modelos dos adultos.
  • Terceira Fase - é marcada pelas conversas que surgem de regras e convencimentos e assim as crianças realizam associações

                As brincadeiras terão que ser oferecidas as crianças, de acordo com a zona de desenvolvimento em que estas se encontram e desta forma o professor possui um papel de suma importância, principalmente no processo da educação infantil, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação na construção do conhecimento, utilizando as diferentes formas do brincar (VIGOTSKY, 1984).

         Para Vigotsky (1984) a desvalorização do movimento natural e espontâneo da criança em favor do conhecimento estruturado e formalizado, ignora as dimensões educativas da brincadeira, como forma rica e poderosa de estimular a atividade construtiva da mesma.

         De acordo com Brougere (1995, p.18), a brincadeira entendida em seu aspecto livre ou sob a forma de jogo com regra, possui uma função simbólica e funcional. Ela só existe na liberdade que a criança tem de iniciativa, acreditando na atividade imaginária, como critério diferenciado do brincar em relação a outras atividades realizadas pela criança que é reorganizada no próprio ato de brincar, de acordo com o sentido particular por ela atribuído às suas ações, em interação com seus pares ou com os membros mais competentes de sua cultura.

         O ato de brincar supõe uma relação dual. A criança pode brincar com os significados para mediar simbolicamente a internalização da cultura, que promove saltos qualitativos no seu desenvolvimento. A assimilação da cultura, mediada pela brincadeira, possui uma função subjetiva, em que a criança resgata, organiza e constitui sua subjetividade. Esta função da brincadeira corresponde ao que Valsiner (1988), citado por Brougere (1995) denomina de "entidade pessoal da cultura".

         Para autores da Psicologia Soviética como Vigotsky (1984) e Leontiev (1988), a atividade lúdica surge para resolver uma contradição, qual seja a discrepância entre o desejo de agir sobre o objeto e o domínio das operações necessárias para a execução desta ação.

         Esses autores, fortemente influenciados pelo materialismo dialético, vão defender que a humanização se dá por parte de dois elementos básicos, o instrumento e o signo. O primeiro age sobre o objeto e o segundo sobre o psiquismo.

         LEONTIEV (1988) defende que o desenvolvimento da criança é caracterizado por rupturas e desequilíbrios e os adultos procuram significados para as ações dela. A cultura, neste sentido se configuraria como negociadora, em que a linguagem seria o fator mediador dos signos produzidos pela mesma.

         A relação da brincadeira e do brinquedo com a cultura é visto por Benjamim (1984), atrelada a função da imaginação no desenvolvimento da criança na sua relação com o brinquedo. Por esse motivo afirma que, quanto mais a imitação se anuncia nos brinquedos, tanto mais estes se desviam da brincadeira viva.

          A essência do brincar não estar no fazer como se, mas um fazer sempre de novo, transferência da experiência mais comovente em hábito (BENJAMIM, 1984).

         Assim, o professor pode corroborar na ampliação, cada vez mais nas vivências das brincadeiras com as crianças, pelo fato dela contribuir no desenvolvimento cognitivo das mesmas, principalmente com a interação com outras crianças.

         O professor contemplando a brincadeira como um dos princípios norteadores das atividades didático-pedagógicos, possibilitará as manifestações corporais e intelectuais, que darão significados lúdicos que podem estar presentes na relação que as crianças mantêm com o mundo em que estão inseridas.

         REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BENJAMIM. W. Reflexões: A criança. o brinquedo e a educação. M.V.Mazarri Trad. São Paulo.Summis, 1984.

BROUGERE, G. Brinquedo e Cultura. São Paulo. Cortez, 1995.

BROUGERE, G. Jogo e Educação. Porto Alegre. Artes Médicas. 1997.

LEONTIEV, W. A. Princípios Psicológicos da brincadeira pré-escolar. Desenvolvimento, Linguagem e Aprendizagem. São Paulo. Ícone. 1988.

VIGOTSKY, L. S. Formação Social da Mente. São Paulo. Martins Fontes. 1894 e l989.