BREVE REFLEXÃO SOBRE O ATO DE PLANEJAR

Planejar faz parte do cotidiano, é uma atividade comum e imprescindível em todos os setores da vida. É uma atividade sócio-econômica e política, porque para desenvolvê-la em forma de ações, as pessoas de um grupo devem estar em sintonia para esclarecer o problema, pensar na alternativa ou coletar dados necessários para se tomar uma decisão, estar-se-á realizando o processo de uma maneira integrada e coordenada que permite a participação do coletivo nas decisões visando para alcançar as metas desejadas.
Nessa perspectiva, o planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito para aproximar-se da realidade esperada, caso contrário, os resultados poderão não ocorrer de forma satisfatória.
Leonardo Boff enfatiza:
"Quando, em nossa vida cotidiana, deparamos com novos ambientes, com novas pessoas, com um novo trabalho, enfim, com qualquer nova atividade ou situação, podemos ter a sensação inicial de insegurança. De qualquer maneira, realizamos espontaneamente uma sondagem inicial acerca de tudo o que nos cerca e naturalmente interpretamos as condições encontradas". (Leonardo Boff, 2001, p.31).
O"planejamento" nas últimas décadas, devido a sua importância, passou a ser discutido com mais intensidade, sendo objeto de muitos estudos, identificado como uma necessidade, preocupação dos sistemas sócio-político e econômico da era capitalista.
No que concerne a sua conceituação teórica, pode-se encontrar as mais diversas, entre elas registramos:
Ferreira: "trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados".
Gandin: "Um plano é bom quando contém em si a força do que o faz entrar em execução. Ele deve ser tal que seja mais fácil executá-lo do que deixá-lo na gaveta".
Newman: "Planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, ou seja, um planejamento é uma linha de ação pré-estabelecida".
As definições citadas colaboram em reflexão alguns elementos que levam ao questionamento da ação. Segundo Gandin, estes questionamentos podem ser feito em três sentidos:
"_ O que queremos alcançar?
_ A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?
_"O que faremos concretamente (em tal prazo) para diminuir esta distância"?
Vale ressaltar que alguns pontos deverão ser considerados no planejamento, para que se consiga alcançar a meta desejada:
? Estar adequado à realidade onde se pretende realizar a ação;
? Ter flexibilidade,
? Ser feito o controle e avaliação contínua a fim de que, frente aos imprevistos que venham a ocorrer, se possa refletir e tomar as medidas necessárias ao seu aperfeiçoamento.
Reafirmamos, então, que o planejamento é uma tarefa que deve ser executada com a participação de várias pessoas, pois querer informações corretas, reflexões, tomadas de decisões coerentes com objetivos a serem alcançados, a fim de transformar uma realidade. Daí a conveniência da participação de uma equipe multidisciplinar neste processo, pois a partir da aproximação de idéias, das reflexões, dos estabelecimentos, de estratégia poderão ser definidos objetivos gerais tendo por base uma visão do sistema com um todo.

O Planejamento no Contexto Educacional

O planejamento educacional é fundamental para atingir os verdadeiros propósitos da educação,pois busca direcionar a educação considerando o contexto nacional, regional, local e comunitário que o indivíduo está inserido, buscando sempre uma educação dinâmica que possa ser criadora e libertadora do homem. Assim, o bom o planejamento, visa uma educação que conscientize e comprometa o homem diante do seu mundo, sendo o propósito do mesmo a humanização da sociedade.
Sabemos que o homem busca a sintonia com o mundo em que participa, que influência e ao mesmo tempo é influenciado, é uma constante busca da sua liberdade e autodeterminação escolhendo aquilo que quer com um foco determinado. No entanto para que se possa formar cidadão com esse perfil nós professores necessitamos rever constantemente a nossa prática e buscar qualificação profissional para que realmente estejamos contribuindo para uma sociedade melhor e assim planejar uma educação que vise realmente o desenvolvimento do indivíduo como um ser em constante transformação e com possibilidades de conscientizar-se da sua importância no processo de evolução social.
Na educação, assim afirma Gandin "a pergunta supõe, certamente, a busca de um posicionamento (sempre pronto e sempre provisório) a respeito do homem e da sociedade, a respeito da pedagogia. É um duplo posicionamento: político e pedagógico".
No posicionamento político tem se o ideal de sociedade e de homem, já o pedagógico,é uma definição das características que deve ter a instituição planejada.
De acordo com Gandin, "O planejamento educacional é um processo de abordagem racional e cientifica dos problemas da educação, incluindo definição de prioridade e levando a relação entre os diversos níveis do contexto educacional".
Nesta perspectiva o planejamento do processo ensino aprendizagem é uma forma de intervenção na realidade para o qual os valores educacionais são fatores determinantes para atingir os objetivos maiores da educação.
Ressaltamos que o planejamento é uma atividade política e social em toda e qualquer área da educação, dada a sua intervenção em mudanças de estrutura social. A educação é um processo social contínuo e dinâmico que se destina a promoção do homem, ser circunstancialmente situado, e a função da educação é estar a serviço de tal promoção. Isso deixa clara a existência de uma intrínseca relação entre sociedade e educação, pois ambas estão historicamente unidas e evoluindo das mais diversas maneiras, nas diferentes épocas de acordo com a visão sócio cultural de cada sociedade. Por sua vez os conceitos atribuídos à relação sociedade e educação, são inúmeros e variados de acordo com as tendências dos seus doutrinadores.
Cabe aqui retrospectiva histórica dos movimentos sociais que lutaram por espaços democráticos junto aos órgãos públicos.
Segundo a literatura das últimas décadas, os movimentos sociais possuem características como:
? Desenvolveu-se autonomamente através da população carente e marginalizada.
? Os pesquisadores se dedicaram em campos específicos como a educação e ciências sociais.
Os anos 50 trouxeram uma grande quantidade de estudos embasados no nacional desenvolvimento ganhando destaque os estudos sobre raças, cultura, costumes e idiomas.
Nos anos 60, houve uma grande influência da sociologia francesa, onde se dá o início a estudos sobre a realidade brasileira, com propostas de uma sociedade mais justa e igualitária.
A produção da época empenhou-se na reflexão sobre a América Latina e paralelamente desenvolveu-se programa de educação popular. A educação era um instrumento apresentado como técnica, mas, que na realidade tinha características políticas.
Na década de 70 ocorreu a sistematização e as críticas aos programas e métodos da educação popular, que busca alternativas para a saída do regime militar. A educação popular entrou em moda e vários grupos intelectuais começaram a participar dos movimentos sociais de reivindicações para melhorias urbanas. Há uma ruptura em como a educação popular é concebida, deixa-se de levar o material pronto para se trabalhar nos grupos e passa-se a construir esses materiais no coletivo.
A educação deixa de ser só alfabetizadora, e assume um caráter de politização junto aos movimentos sociais. Ao lado desses movimentos surgem programas do Governo como o Mobral e Minerva que tentaram usar o mesmo espírito de "direito social", desenvolvido pelos movimentos sociais.
Nos anos 80, com uma política neoliberal, que visavam recuperar as práticas do capitalismo selvagem, houve um aumento das políticas assistencialista. A educação popular, especialmente, o sistema Paulo Freire, prega o resgate da cidadania definida como obtenção das condições dignas de subsistência, direito à saúde, educação, lazer, através de uma ação pedagógica conscientizadora que deveria atuar sobre o nível cultural da camada popular nos pontos de interesses comuns.
Após uma década de estudos sobre os problemas sócio-econômicos e políticos do cotidiano popular podemos observar que não foram formulados realmente projetos populares a partir das manifestações das bases populares, os projetos foram formulados com vistas aos interesses das assessorias. Assim, vários movimentos populares entraram em crise e a produção teórica a respeito da educação popular estagnou-se.
A crítica à teoria da marginalidade foi substituída por variadas matrizes de investigações como o negro, a mulher, movimentos sindicais,religiosos e outros.
Entendemos que não há movimento sindical puro, todos estão impregnados por presenças de elementos externos ao grupo de base, que pertencem a outra categoria, mas, com o objetivos e ideologias em comum nos movimentos sociais, a educação é autoconstituída no processo educativo a partir de diferentes fontes como experiências de contato, pelo exercício de repetição, realidade social, desmistificação das autoridades.
O saber popular politizado tornou-se uma ameaça às classes dominantes à medida que levava a reivindicações de espaços nos aparelhos do estado. Há uma tentativa de delimitar o poder dos movimentos sociais e conselhos consultivos, que continuaram com os seus problemas estruturais de base.
Os movimentos populares provocaram uma alteração das relações sociais no planto coletivo nos anos 80, os movimentos sociais de caráter popular, orientaram alguns avanços democráticos onde se obteve a sociedade civil.
Os movimentos sociais vão perdendo força e permitem a rearticulação da classe dominante, onde o Projeto Collor é a expressão máxima dessa rearticulação.
Vê-se, então, que o objetivo da educação diz respeito de um lado à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro, a descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.
Observamos que a maneira de refletir d a sociedade e a escola se relacionam de tal modo que um bom sistema de ensino escolar favorece a construção uma boa sociedade.
Assim,o planejamento educacional que envolve os aspectos da sociedade em que o homem vive, será o instrumento norteador para a elaboração das atividades da escola, abrangendo todos os seus segmentos através de uma reflexão e uma lógica, sobre a realidade social complexa, mediada pela apropriação do conhecimento científico, confrontando com as diferentes representações da realidade.
As etapas,os aspectos das atividades ou a ação planejada devem estar de acordo com os fins pretendidos e com a realidade concreta que os determinam. As ações serão acompanhadas pela reflexão que provoca o aprimoramento da ação anterior na medida em que se torna mais adequada a situação concreta desafiadora.
Desta forma, o planejamento educacional passa a ser um ato político direcionador da ação pedagógica que, norteado pela realidade concreta, se modifica a partir das transformações desta realidade. Vê-se então que o processo educativo é o resultado de um conjunto de relações sociais e relações com o conhecimento. É um fenômeno histórico e social, logo só pode ser compreendido no contexto social, particular em que acontece.
Conclui-se que a escola, centro irradiador do saber sistematizado, influi e recebe as influências da vida e da sociedade a que pertence, ou seja, a escola será o reflexo do conceito de cidadania em cuja sociedade está inserida.

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. Texto Cidadania com cidadania, Cidadania Terrenal.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda: Dicionário da Língua Portuguesa. 1986,
p.1343.
GADOTTI, Moacir. Escola vivida, escola projetada. 2° edição. Papirus, Campinas/SP, 1993.
GANDINI, Danilo. Planejamento participativo. Vozes, Petrópolis/RJ, 1994.
Planejamento como prática educativa, 7° edição. Loyola, São Paulo, 1997
NIEWAN, Willian H. Ação administrativa: As técnicas de Organização. Atlas, São Paulo, 1970.