É fácil ser advogado? Basta estudar e passar no vestibular, fazer o curso de bacharelado em direito e obter aprovação na prova da OAB. Depois alugar uma sala, colocar uma placa de doutor, comprar uma mesa e instalar um computador, e tudo pronto.

Advogado escrevendo em um restaurante de luxo.

Os clientes baterão à porta do escritório e logo é possível comprar um carro importado, uma casa com piscina e todas as mordomias, ter a mulher dos sonhos, viajar pelo mundo e ter muito dinheiro para realizar todos os sonhos de consumo.

Porém, o mundo jurídico, político, econômico, social, cultural e científico–tecnológico atual vive uma realidade diferente e vem sofrendo intensas e freqüentes transformações oriundas da informatização e da globalização.

Tanto é que, muitos são os bacharéis que saem das faculdades de direito todos os semestres, porém poucos são os que se vêm nos corredores dos nossos fóruns, e atuando ativamente como advogados.

Deve-se ter em conta que, da mesma forma que os meteoros destruíram os dinossauros, com a informatização e a globalização houve uma profunda mudança na advocacia. Hoje os advogados não são mais fazedores de processo e transformaram-se em consultores legais, tornando-se gestores de seus escritórios.

Atualmente o trabalho diário dos advogados deve estar focado por um planejamento estratégico, realizado com a consciência das necessidades, decisão para utilização, envolvimento, estrutura para o processo, informações relevantes e organização e readaptando-o sempre que preciso.

O planejamento estratégico é uma ferramenta que tem por objetivo apoiar os advogados, sobre as decisões e métodos a serem aplicados quando da busca pelos objetivos, com vistas a potencializar as oportunidades oferecidas pelo ambiente e minimizar os impactos das ameaças.

No mundo contemporâneo para administrar um escritório de advocacia independentemente do porte da organização, é mister atualizações constantes, domínio de novas tecnologias, constante aprendizado e fundamentalmente planejamento estratégico

Escritórios de advocacia são negócios que precisam ser administrados com eficiência e eficácia para o seu desenvolvimento da melhor maneira, e assim cobrir suas operações e remunerar seus funcionários, advogados e sócios.

A aplicação das táticas do planejamento nos escritórios de advocacia deve ser flexível, observando-se as condições ambientais que constantemente se alteram, desta forma o objetivo sempre estará perto.

Para implantá-lo com sucesso nos escritórios de advocacia é necessária uma mudança na filosofia, na visão de mundo, distinguindo cada uma de suas etapas, formalizando, escrevendo, planejando, controlando, agindo e avaliando seus resultados.

Maquiavel: já havia dito: "Quem não prepara as bases antes, poderá fazer depois este trabalho, se tiver grande capacidade, ainda que com aborrecimento para o arquiteto, e perigo para o edifício", ou seja, é preciso tomar decisões antecipadamente, escolher alternativas, definir os objetivos e as ações, definir os resultados e operacionalizar as estratégias.

O sucesso dos escritórios depende do planejamento de seu futuro, atentando às constantes mudanças de cenários externos e internos. Somente com a implantação de uma gestão focada nas seguintes etapas do planejamento administrativo pode garantir o dia de amanhã melhor.

Negócio: Saber quem são os clientes, qual o seu perfil, o que eles esperam dos serviços prestados, quem são os concorrentes do escritório. É a expressão de forma clara, do âmbito de atuação do escritório.

Missão: É a motivação da existência do escritório, é o deve fazer o que, para quem, para que, como, onde e a qual a responsabilidade social do escritório. Seus questionamentos devem ser periódicos e se preciso mudar.

Visão: É onde o escritório pretende chegar, são os seus sonhos. É o estado que se deseja chegar ao futuro. A visão tem a intenção de proporcionar o direcionamento dos rumos do escritório.

Princípios: Estes são imutáveis, são os valores que norteiam o dia a dia do escritório, relacionados a clientes, parcerias, qualidade, sigilo, ética, transparência, imagem, ou seja, o que predispõe o Código de ética profissional e os valores morais dos indivíduos da organização.

Análise do ambiente: É a identificação e análise de tendências, através de evidências, que impactam na formulação de estratégias ou no cumprimento de sua missão, resultando no elenco de oportunidades e ameaças.

Oportunidades e ameaças: São situações externas que colocam a empresa diante de possibilidades ou dificuldades para o atingimento de seus objetivos, melhorando ou piorando sua posição competitiva e/ou sua rentabilidade.

Pontos fortes e pontos fracos: São características internas de um ativo que coloca o escritório em vantagem/desvantagem em relação aos concorrentes ou facilidades/dificuldades para atingir seus objetivos.

Objetivos ou metas: Objetivos são os resultados esperados. Consistem em alvos perseguidos pela canalização de esforços e recursos, são padrões de desempenho presente e futuro que possam ser medidos e que a organização deseja alcançar. Quando esses padrões são quantitativos, chamam-se metas.

Postura estratégica: É a escolha consciente de uma das alternativas de caminho e ação para cumprir a visão do escritório, considerando a capacitação, a situação da empresa após a analise dos ambientes e de seus objetivos.

Estratégia de sobrevivência: Deve ser usada quando não existe alternativa, quando o ambiente e a empresa estão em situação negativa, utilizando por um tempo curto, visando objetivos mais tangíveis no futuro. Sua postura deve ser de redução de custos, desinvestir em processos ou serviços que não são lucrativos.

Estratégia de manutenção: Deve ser usada para manter a condição conquistada, maximizando os pontos fortes, com atitude defensiva diante das ameaças e investimento moderado. Sua postura deve ser de manutenção do equilíbrio do mercado, dominando o segmento de atuação, especializando-se nos serviços já oferecidos.

Estratégia de crescimento: Deve ser usada quando, embora o escritório possua pontos fracos o ambiente apresenta situações favoráveis. Sua postura deve ser de lançamento de novos serviços, parceria com outros escritórios, planejamento do processo de expansão.

Estratégia de desenvolvimento: Deve ser usada quando a situação interna e externa é favorável para buscar novos mercados e serviços. Sua postura deve ser de atuação em novas regiões, diversificação de serviços, desenvolvimento financeiro, novas tecnologias, fusão com outros escritórios.

Plano de ação: É o que o escritório decide fazer a curto, médio e longo prazo, considerando o ambiente, para atingir as metas, respeitando os princípios, visando cumprir a missão do negócio.

Implantar o planejamento estratégico é um grande desafio e demanda esforços É uma tarefa difícil, mas não impossível. Exige envolvimento de todos e o aprendizado de novos valores, além da persistência.

Desta forma, conclui-se que, com o advento da informática e da globalização os escritórios de advocacia necessitam mudar os padrões culturais existentes, adaptando-se para esta nova época, assim somente os mais preparados permanecerão.

O planejamento estratégico precisa ser um documento vivo. Deve ser um verdadeiro "oráculo" para que os advogados busquem por orientação nos períodos de incerteza ou ambigüidade, obtendo na sua execução o controle da situação na tomada das decisões para o futuro.

Somente com planejamento haverá melhorais significativas no desempenho do escritório, especificamente nas questões essenciais encontrando soluções para as pressões e demandas do ambiente, além de fortalecer o trabalho em equipe, aumentando a capacidade organizacional e mobilizando os esforços para o alcance dos objetivos.

Portanto, nos escritórios de advocacias, não há como esperar para amanhã, para projetar suas decisões a curto, médio e longo prazo, através da implantação de um planejamento estratégico, com o comprometimento de todos envolvidos, para que se alcance o sucesso e os clientes não procurem os concorrentes.

Eduardo Luiz Miotto. Contabilista, advogado, pós-graduado em administração financeira, consultor, articulista, sócio da Argus Assessoria Empresarial e Jurídica.