BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM RONDONÓPOLIS –MT.

     ARTIGO: CALMINDO DE MORAES DELGADO 

     Este trabalho é resultado de uma pequena síntese de pesquisa realizada em algumas publicações sobre a história da educação em Rondonópolis, Estado de Mato Grosso, bem como os conhecimentos práticos e teóricos do autor, que conviveu com esta realidade, por ter nascido nesta cidade. 

Rondonópolis, antigo povoado do Rio Vermelho, surgiu como Distrito de Paz de Cuiabá, em 08 de Outubro de l920, através da Resolução nº 814. Em 26 de outubro de 1938, devido a  proximidade com a cidade de Poxoréu, ao restrito número de habitantes e a nova política adotada pelo Estado, passou a ser Distrito de Poxoréu, através do decreto-lei nº208. Finalmente em l953, com aproximadamente 2.888 habitantes, comércio razoável, de igrejas e escolas, foi elevado á categoria de município, pela lei nº 666, de 10 dezembro de 1953. O prefeito nomeado foi o Sr: Rosalvo Farias, já o primeiro prefeito eleito foi o Sr: Daniel Martins Moura. Pode-se dizer que o telégrafo desempenhou importante papel na formação de Rondonópolis, pois foi através de um telegrama que o Sr: José Rodrigues se deslocou com sua família e alguns amigos para a região do Rio Vermelho, para socorrer seu irmão Manuel Conrado, que estava com dificuldades na região e lhe pedira ajuda. No aspecto educacional, uma das preocupações do Sr: José Rodrigues ao se deslocar  para uma região desconhecida, foi a de convidar um professor para acompanhar sua família, o professor João Caetano.

Nessa época a educação brasileira passava por várias mudanças, em decorrência das novas correntes pedagógicas que surgiram nos Estados Unidos e na Europa e, da necessidade de se organizar um sistema de ensino e expandir a escolarização no Brasil. Devido as dificuldades que a escola pública atravessava, era comum nas famílias mais abastadas a contratação de um professor particular que, na maioria das vezes, morava na própria casa da família contratante. É a fase da educação domiciliar.

Naquela época as aulas eram dadas nas casas das pessoas, não havia carteiras, os bancos eram improvisados com caixotes, não havia lápis e nem cadernos disponíveis. A lousa vinha de Cuiabá e, era uma pedra que cada aluno tinha individualmente,possuía um formato de, mais ou menos, 30x40 cm. , e emoldurada por uma madeira de meio centímetro de largura. Quanto ao giz, este era confeccionado aqui mesmo, próximo ao matadouro havia uma piçarra mole, a onde se amassava e enrolava o barro com a mão e colocava para secar, depois levava ao fogo para endurecer, e estava pronto o giz igualzinho ao comprado feito. Os professores tinham toda a autoridade para castigar as crianças, aliás, era o pai quem fazia a palmatória e a entregava para a professora dizendo: você de hoje em diante, é a segunda mãe desse menino e, portanto, também responsável pela educação dele.

Naquela época ainda não havia influência da psicologia na educação e a relação entre aluno e professor era muito ríspida. O aluno deveria aprender sem discussão, por isso nem todos gostavam do professor. Por volta de l915, o povoado do Rio Vermelho recebeu o primeiro professor nomeado pelo Estado: o professor Odorico Leocádio da Rosa, que ocupava o cargo de telegrafista. É uma nova fase da educação, as aulas perderam seu caráter domiciliar e passaram a ser ministrada numa pequena escola, a Escola Mista do rio Vermelho. A nomeação de um professor e a obtenção de uma casa para o funcionamento das aulas marcaram o início da Escola Pública em Rondonópolis. As aulas iniciaram em fevereiro de l915, com 35 alunos que se entusiasmaram como novo professor, visto que o mesmo utilizava métodos mais modernos, deixando de lado a palmatória. O conteúdo das aulas se restringia aos manuais didáticos e a cada série se adotava um livro diferente. Tão logo se concluísse um livro, passava para outro, o que possibilitava a conclusão de duas séries num mesmo ano.

Apesar das divergências em torno da questão política, Rondonópolis recebeu em 1923 o professor Francisco Siqueira, era a tentativa de melhorar a qualidade do ensino e uma das exigências da reforma do ensino em Mato Grosso. Outro mestre que se destacou foi o professor Álvaro Feitosa, que construiu a 1ª balsa do Rio Vermelho, outros que merecem ser lembrados foram Francisco Barbosa e Antonio Duarte, ambos professores no lageadinho. Pelos depoimentos, a metodologia das aulas e conteúdos eram os mesmos, a diferença é que este último não foi nomeado pelo Estado, mas contratado pelo Sr: Jerônimo Lopes Esteves.

Por volta de 1928, houve a nomeação de outro professor Joaquim Murta, bacharel, conhecedor de uma nova metodologia. Ministrou aulas do !º ao 5º ano, o que possibilitou o prosseguimento dos estudos de vários alunos. Até então ao se concluir o 4º ano, o aluno não poderia prosseguir os estudos ou parava ou se mudava para outra cidade. Fato este constatado também na década de sessenta, quando os alunos terminavam o antigo ginásio se quisessem prosseguir os estudos, geralmente iam estudar em Cuiabá, Campo Grande, Goiânia, ou São Paulo entre outros, pois na cidade existiam apenas o curso técnico profissionalizante ou o normal.

Em 1930, o professor Joaquim Murta partiu para Poxoréu, ficando a cidade sem professor, sem Juiz e, sem Delegado. O Cartório de Paz foi transferido para Poxoréu, e Rondonópolis passou à condição de Distrito, pelo Decreto-lei nº208, de 26 de outubro de 1938.

Na década de 30, uma das preocupações de Vargas, era a expansão das fronteiras econômicas e a ocupação de terras do Oeste brasileiro, por isso retomou o projeto da Marcha para o Oeste, e destacava que o verdadeiro sentido da brasilidade era a ocupação dos espaços vazios. A partir daí várias estradas foram  abertas o que facilitou a penetração para o interior do Brasil. Em 1942 foi construída a 1ª ponte de madeira sobre o Rio Vermelho, no governo Julio Muller. A partir desta data Rondonópolis passou a ser visitada por pessoas de relevância no Estado, tais como: D. Vunibaldo Talleur e o professor e deputado Lenine Póvoas.  D. Vunibaldo Talleur, Bispo da diocese de Chapada dos Guimarães,da qual Rondonópolis fazia parte, no inicio de 1949, solicitou duas freiras para a região de Rondonópolis e, em 29 de março do mesmo ano, chegaram as irmãs Maria Romani e Maria Bona para ensinar e catequizar os filhos dos colonos. Nessa época havia no povoado cerca de 100 crianças em idade escolar, por isso D. Vunibaldo conseguiu a criação da escola e a nomeação da irmã Maria Bona, que passou a receber Cr$ 500,00 por mês. A escola criada recebeu o nome de Escola Reunida Cândido Rondon, foi instalada em uma casa de pau-a-pique, sem janelas, sem portas,sem mesas e sem quadro negro, que só chegou três meses depois. A Escola Cândido Mariano, é a atual Escola Sagrado Coração de Jesus.

Em 1942, Gustavo Capanema organizou a reforma do ensino, que enfatizava a necessidade de se implantar o ensino profissionalizante em todo o país. D. Vunibaldo tentou implantar em Rondonópolis, conseguiu algumas máquinas de costura e de datilografia e, além das aulas normais, as irmãs ministravam cursos de corte e costura e datilografia ás alunas. Quantos aos alunos, D. Vunibaldo os enviava para Cuiabá, depois montou uma marcenaria na cidade, na qual se formaram bons marceneiros. Já em 1950, o governador nomeou a professora Transvalina para auxiliar as irmãs, e criou o 1º Grupo Escolar em Rondonópolis: o Grupo Escolar Major Otávio Pitaluga. Segundo o regulamento da instrução pública do Estado de Mato Grosso, 1927,artigo 34º, secção v, capitulo I, título II, os grupos só poderiam ser criados em lugares onde houvesse, no mínimo 250 crianças em idade escolar e deveriam funcionar com, pelo menos, 8 salas de aulas.

Até o Marechal Rondon reconhecia a importância da escola, numa visita que fez ao colégio das irmãs em São Lourenço de Fátima em 1950. Devido ao valor dado à educação é que os pais andavam às vezes 15 a 20 léguas, para trazerem seus filhos à escola. Normalmente o pai fazia um ranchinho e trazia a família para a cidade, enquanto continuava trabalhando na roça, o importante era garantir a educação dos filhos. Durante toda a década de 1950, o ensino em Rondonópolis ficou restrito ao nível primário: funcionava as escolas Sagrado Coração de Jesus, Escola Adventista, algumas escolas municipais e o curso particular Nossa Senhora das Graças, da professora Arolda Duette Silva. Somente na década de 1960 foram criados cursos ginasiais: Ginásio La Salle, Ginásio Estadual e Ginásio Treze de Junho. D. Vunibaldo com verbas do governo brasileiro e da Alemanha, implantou o Curso Normal Regional em Rondonópolis que teve inicio em 1960, e expressava a necessidade de se preparar pessoal docente. Surgiu também a necessidade de mais escolas na zona rural, o que provocou a criação de novas escolas municipais: Cabeceira do Almoço, Naboreiro, Três Pontes, Beroaba, Inhumas, Jurigue, Barra da Macaiba, Atribiau, Nova Babaçu, Vila Operária, Fazenda Goiânia, Barra da Tadarimana, Fazenda Perua e Piqui. Por exigência da Lei nº 4.024, que enfatizava o ensino profissionalizante, foi criada a Escola Técnica do Comércio, em 1965. Foi autorizado o funcionamento em caráter precário, nas instalações do Ginásio Estadual (atual Escola Emanuel Pinheiro), no período noturno. Mais três escolas foram criadas na década de 60: a Escola Santo Antonio, São José Operário, e Adolfo Augusto de Moraes. Portanto na década de 60 o numero de escolas que a cidade possuía eram: Escola Sagrado Coração de Jesus, Grupo Escolar Major Otávio Pitaluga, Escola Adventista Duque de Caxias, Ginásio Treze de Junho, Ginásio La Salle, Escola Técnica do Comércio, Escola Santo Antonio, Escola São José Operário, Escola Adolfo Augusto de Moraes, Curso normal de 1º e 2º Ciclos, Curso Normal de Férias, além de 23 Escolas Municipais, aproximadamente.

Em 05.05.1976, foi criado o Centro Pedagógico de Rondonópolis, com os cursos de Licenciatura Curta em Estudos Sociais e Ciências Exatas, ligado à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, com sede em Campo Grande. Após a divisão do Estado, o Centro Pedagógico passou a fazer parte da Universidade Federal de Mato Grosso, sob a coordenação do professor Etevaldo de Oliveira Borges. No início o centro funcionava no prédio da Escola Joaquim Nunes Rocha, coma implantação dos cursos de Pedagogia, Letras e Ciências Contábeis, em 1981, passou a ter salas anexas na Escola José Salmen Hanze, Igreja Santa Cruz e no prédio da APAE. Somente em 1982, passou a funcionar em prédio próprio, ainda em precárias condições. Atualmente Rondonópolis conta com 33 escolas estaduais, aproximadamente 34 escolas municipais, várias escolas particulares, um campus da Universidade Federal de Mato Grosso e outras Universidades Particulares, oferecendo cursos em várias áreas da educação.

Houve muito incentivo para que também os adultos estudassem, através do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Em Rondonópolis, pelo decreto nº 209 de 26.08.1969, foi criada a Comissão Municipal do MOBRAL, com o objetivo de promover a alfabetização de jovens e adultos. No entanto a maior parte dos recursos deveriam ser do município, não havia verbas suficientes para o pagamento dos professores e, aos poucos faltavam professores e o curso foi extinto.