Breve Comparação entre os sonetos de Camões e Vinícius de Moraes

 

Camões influenciou escritores consagrados da Literatura Brasileira como o escritor modernista Vinícius de Moraes, especificamente, em sonetos cujas temáticas se relacionam aos efeitos causados pelo amor na separação dos amantes. O Classicismo de Camões e o Modernismo de Vinícius se aproximam nitidamente nos versos decassílabos, esquemas rimáticos (ABBA), nas figuras de linguagem como antíteses e anáforas. No entanto, há diferenças. Camões fez uma alusão aos mitos gregos, questão de estilo do autor ou fazer literário e, formalmente, usou personificações, hipérboles e metonímias que não se percebe claramente na composição de Vinícius.

Indubitavelmente, Vinícius de Moraes espelhou-se no gênio quinhentista na elaboração do soneto abaixo:

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de  repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Percebe-se no soneto de Vinícius a abordagem da temática de Camões, o amor, efeitos das desilusões deste mesmo amor, tristezas e saudades contrapondo-se às alegrias e aos momentos felizes vividos pelos amantes antes da separação. Recursos do Classicismo:  antíteses entre riso e pranto; bocas unidas e mãos espalmadas; calma, momento imóvel e vento; o quiasmo do primeiro terceto mencionado por Ribeiro, no artigo intitulado “ A Paixão de Ler Camões (A LÍRICA ), entre triste e contente, amante e sozinho. Vale ressaltar que  “timidamente”, algumas anáforas são intercaladas em estrofes: “De”, “E”, “Fez-se”.

Exemplifica-se abaixo, um dos sonetos antológicos de Camões, que, provavelmente, Vinícius baseou-se para escrever a poesia similar “Soneto de Separação”:

Aquela triste e leda madrugada,

Cheia toda de mágoa e de piedade,

Enquanto houver no mundo saudade

Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada

Saía, dando ao mundo claridade,

Viu apartar-se de ua outra vontade,

Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio

Que de uns e de outros olhos derivados,

Se acre[s]centaram em grande e largo rio.

Ela [ou]viu as palavras magoadas

Que puderam tornar o fogo frio

E dar descanso às almas condenadas.

Camões celebra a saudade, ou seja, os momentos felizes dos amantes no primeiro quarteto e, no desenvolvimento do poema as tristezas e desilusões, através de antíteses: triste e leda; mágoa e piedade; amena e marchetada. Contanto, Camões personifica a “madrugada” que evoca “as almas condenadas”, já nota-se uma diferença formal e conteudística entre os sonetos, que segundo Ribeiro em seu artigo “A Paixão de ler Camões (A LÍRICA)” esclarece que “as personificações de “Aquela triste e leda madrugada” que termina com a belíssima hipérbole que evoca os amantes Orfeu e Eurídice:“Ela ouviu as palavras magoadas / Que puderam tornar o fogo frio / E dar descanso às almas condenadas. E também de acordo com Ribeiro, a separação dos amantes traduz-se pela metonímia: “apartar-se de ua outra vontade”, “é tão horrenda que só a madrugada lhe pode assistir e assim será por todo o sempre, isto é, enquanto houver saudade no mundo e amantes separando-se.”.

É inegável a contribuição do Classicismo medieval, através da virtuosidade de Camões, aos escritores brasileiros de todas as escolas literárias, desde o Romantismo até o Modernismo e por que não, aos contemporâneos também. Pra que exemplo melhor, do que Vinícius de Moraes que chegou ao ponto de colocar no “Soneto da separação” o mesmo conteúdo, apesar de algumas diferenças, devido a estilos literários de épocas distintas, e até o desenvolvimento temático distribuído quase que sequencialmente na mesma ordem, com imperceptíveis diferenças de traços formais, devido, logicamente, ao fazer poético de cada autor, mas a semelhança entre os dois sonetos demonstra a marcante presença do lirismo camoniano, tanto em traços conteudísticos quanto formais nos poemas analisados.

Referências: Breve Comparação entre os sonetos de Camões e Vinícius de Moraes

Camões influenciou escritores consagrados da Literatura Brasileira como o escritor modernista Vinícius de Moraes, especificamente, em sonetos cujas temáticas se relacionam aos efeitos causados pelo amor na separação dos amantes. O Classicismo de Camões e o Modernismo de Vinícius se aproximam nitidamente nos versos decassílabos, esquemas rimáticos (ABBA), nas figuras de linguagem como antíteses e anáforas. No entanto, há diferenças. Camões fez uma alusão aos mitos gregos, questão de estilo do autor ou fazer literário e, formalmente, usou personificações, hipérboles e metonímias que não se percebe claramente na composição de Vinícius.

Indubitavelmente, Vinícius de Moraes espelhou-se no gênio quinhentista na elaboração do soneto abaixo:

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de  repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Percebe-se no soneto de Vinícius a abordagem da temática de Camões, o amor, efeitos das desilusões deste mesmo amor, tristezas e saudades contrapondo-se às alegrias e aos momentos felizes vividos pelos amantes antes da separação. Recursos do Classicismo:  antíteses entre riso e pranto; bocas unidas e mãos espalmadas; calma, momento imóvel e vento; o quiasmo do primeiro terceto mencionado por Ribeiro, no artigo intitulado “ A Paixão de Ler Camões (A LÍRICA ), entre triste e contente, amante e sozinho. Vale ressaltar que  “timidamente”, algumas anáforas são intercaladas em estrofes: “De”, “E”, “Fez-se”.

Exemplifica-se abaixo, um dos sonetos antológicos de Camões, que, provavelmente, Vinícius baseou-se para escrever a poesia similar “Soneto de Separação”:

Aquela triste e leda madrugada,

Cheia toda de mágoa e de piedade,

Enquanto houver no mundo saudade

Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada

Saía, dando ao mundo claridade,

Viu apartar-se de ua outra vontade,

Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio

Que de uns e de outros olhos derivados,

Se acre[s]centaram em grande e largo rio.

Ela [ou]viu as palavras magoadas

Que puderam tornar o fogo frio

E dar descanso às almas condenadas.

Camões celebra a saudade, ou seja, os momentos felizes dos amantes no primeiro quarteto e, no desenvolvimento do poema as tristezas e desilusões, através de antíteses: triste e leda; mágoa e piedade; amena e marchetada. Contanto, Camões personifica a “madrugada” que evoca “as almas condenadas”, já nota-se uma diferença formal e conteudística entre os sonetos, que segundo Ribeiro em seu artigo “A Paixão de ler Camões (A LÍRICA)” esclarece que “as personificações de “Aquela triste e leda madrugada” que termina com a belíssima hipérbole que evoca os amantes Orfeu e Eurídice:“Ela ouviu as palavras magoadas / Que puderam tornar o fogo frio / E dar descanso às almas condenadas. E também de acordo com Ribeiro, a separação dos amantes traduz-se pela metonímia: “apartar-se de ua outra vontade”, “é tão horrenda que só a madrugada lhe pode assistir e assim será por todo o sempre, isto é, enquanto houver saudade no mundo e amantes separando-se.”.

É inegável a contribuição do Classicismo medieval, através da virtuosidade de Camões, aos escritores brasileiros de todas as escolas literárias, desde o Romantismo até o Modernismo e por que não, aos contemporâneos também. Pra que exemplo melhor, do que Vinícius de Moraes que chegou ao ponto de colocar no “Soneto da separação” o mesmo conteúdo, apesar de algumas diferenças, devido a estilos literários de épocas distintas, e até o desenvolvimento temático distribuído quase que sequencialmente na mesma ordem, com imperceptíveis diferenças de traços formais, devido, logicamente, ao fazer poético de cada autor, mas a semelhança entre os dois sonetos demonstra a marcante presença do lirismo camoniano, tanto em traços conteudísticos quanto formais nos poemas analisados.

Referências:

RIBEIRO, Lúcia Maria Moutinho. “A Paixão de Ler Camões (A LÍRICA)”. Rio de Janeiro: UNIRIO/FSJ. Disponível em: http://www.filologia.org.br/vincnlf/anais/caderno04-04.html Consulta em 27 de abril de 2012.