BRASIL: UMA NAÇÃO SEM RUMO OU SEM ESTRATÉGIAS?

Impactos globais, religião, tragédias e atentados ocorridos nas mais diversas regiões do globo terrestre têm marcado a mídia brasileira com maiores ou menores repercussões. Mas um assunto, não citado nesta listagem, vem ganhando um espaço com maior enfâse nos mais diversos âmbitos do que designa-se como política. De fato estamos inseridos em um cenário político nunca visto antes desde a implementação da república, há aproximadamente 126 anos. Isto não reflete ao que denominamos “funcionamento correto do país”, pois sabe-se que a história brasileira não é uma das mais belas para se ouvir. No entanto, ganhou-se, com um toque mais agudo, uma repercussão na área da política atual, fazendo com que o Brasil seja visualizado negativamente de modo nacional e internacional.
Visualizar o cenário político brasileiro atual é indagar-se sobre o que ainda resta-nos dele. Não é uma tarefa árdua responder a tal indagação, julga-se fácil quando uma palavra remete à característica marcante que se ouve diariamente: Corrupção. É claro que generalizamos muito ao salientar a palavra corrupção, pois este conceito remete a uma série de atitudes iníquas. O que quero demonstrar a você, leitor, é que quando empregamos a palavra corrupção, para resumir o cenário que se vive, estamos tornando restrito o assunto. Quando empregada só ela por si, tornamos o contexto mais leve para quem desconhece o que realmente há na política. Um pouco de ironia é necessário às vezes, mas vamos nos reter dela, pois aqui ela não é cabível. Não sejamos também otimistas. O problema aparentemente não é de fácil solução. Acredito que se houvesse uma solução, tão brevemente seria apresentada e este cenário estaria em processo de restauração.
Nosso cenário é ingreme e encontra-se empobrecido, em estado de decomposição. Os cidadãos carregam consigo uma sombra de dúvidas a todo o instante. Do suborno à votação ao desvio do dinheiro do povo, os protagonistas são sempre o corpo eleitoral, o próprio povo. Depara-se com uma grande insuficiência ao retorno no serviço público, como rodovias e estradas de acesso à cidades e estados brasileiros que estão precariamente danificadas pela 1 Texto elaborado pelo graduando em Ciências Sociais da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Barbacena – como avaliação final para a disciplina “Ciência Política Contemporânea”. Barbacena, 24/novembro/2015.
ação temporal, assim como estruturas escolares cujas às portas de acesso estão sendo fechadas, professores dia após dia violentados por exercerem devidamente a sua função – e continuam a serem desvalorizados pela pátria –, milhares de usuários do sistema único de saúde vindo a órbito pela negligência dos governadores na ausência de médicos e equipamentos nas unidades de saúde, tarifas de energia e água sofrendo reajustes desenfreados, cortes nos gastos públicos em geral e uma atitude que se repete constantemente: político é acusado de desviar milhões de dinheiro dos cofres públicos, impeachemnt irá ocorrer, enfim, aspectos sempre negativos. Algo está muito errado nisso.
Resta-nos questionar se não é dever da política garantir o pogresso de uma nação, de um estado ou de uma cidade. Sim, claro. A política é administrável para o progresso, não para o retrocesso. A política moldou-se ao contrário e acarreta danos irreversíveis. Sabe-se que o homem, assim como defende Aristóteles2, é um animal social: Depende da política, das pessoas que o cerca, para alcançar a sua plenitude. Não me equivoco em afimar tal argumento de Aristóteles. Precisamos de uma organização social, de um indivíduo que seja capaz de representar a vontade de geral, de evitar colisões e violamentos à dignidade humana. Ainda é possível?
Muitos possuem uma concepção enganosa ao salientar que as possíveis falhas iniciam-se sempre “lá do alto”, como dizem no dia a dia. A corrupção está por toda a parte. O homem, afirma Tomas Hobbes3, é um ser egoísta, movido por desejos. Quando ele esta frente a frente com algo que é desejo de todos, ele modifica instantaneamente sua forma de ver o mundo. Independentemente de cargo superior ou não, os envolventes na política são os responsáveis pelo trabalho e ambos estão comprometidos com a mesma função. É possível, e também perceptível, falhas em cargos inferiores. A culpa não pode ser direcionada unicamente a cargos políticos que por sua vez ocupam postos superiores.
A infalibilidade política, uma política que não falha, é impossível. Mas o que restanos são questionamentos e retóricas profundas acerca dos acontecimentos que nos rodeiam. Se podemos confiar realmente na eficabilidade política, se o cenário é mutável e se a raça humana, ao ocupar um cargo na política, pode se interessar pela coletividadade são algumas dúvidas que a população enfrenta.
2 Aristóteles fundamenta a tese que “o homem é um animal social”, dizendo que a união entre os homens é natural, porque o homem é um ser naturalmente carente, que necessita de coisas e de outras pessoas. 3 Thomas Hobbes (1588-1679) é um filósofo inglês contemporâneo de Descartes e leitor de suas obras.

A desorganização na política faz emergir problemas sociais que degradativamente decompõe toda a sociedade brasileira. O Brasil caminha sem estratégias, o que eventualmente ocasiona um desiquilíbrio total. Em outras palavras, sem querer amenizar o quadro, a sociedade está sem rumo juntamente com os políticos. Enfrenta-se uma sociedade marcada pela incerteza e pelo medo. Retomando à questão de estratégias políticas, ela é primordial para a restauração desse quadro empobrecido para que seja possível a recuperação da ética e da direção centralizada ao progresso.
Enquanto a política estiver sendo associada ao poder, definitivamente restar-se-á muita desconfiança à política, restará a ausência de credibilidade a discursos políticos e um cenário triste e empobrecido. De positivo resta-nos apenas sonhos com um futuro melhor, de um país onde os políticos invistam adequadamente nos requisitos precisos e não pensem somente com suas racionalidades privadas, com seus interesses particulares. Encerro dizendo que faço parte da pequena parcela de cidadãos brasileiros que ainda conseguem sonhar e acreditar que um outro cenário é possível.