Há pouco, o crepúsculo havia baixado seu manto escuro sobre a relva, selva... enfim, sobre toda forma vivente que ali existia. Inclusive nós, que dentro de um ônibus, rasgávamos a noite escura, rumo a Sanção*...

Apesar da escuridão, ao longo do pano da noite que corria por entre as janelas, todos assistíamos aquele crime...

Pelo qual, criminosos e inocentes irão pagar...
Ao dia, as luzes se ofuscam, se invisibilizam.
Na escuridão, nada se esconde, tudo se mostra nos clarões.

Os criminosos? Ninguém os viu ou conhece. Apenas o crime, que em cada lareira se revelava... E castanheiras abrasadas, verdadeiras tochas empinadas para o céu sendo consumidas como uma tocha olímpica em dias cinzentos.
O que parece ser um encanto, é um desencanto;
O que parece vislumbrar e alegrar, consterna....

Eram pedaços da floresta que diziam adeus. Eram centenárias, que em horas se despediam nas cinzas.

No dia anterior, as televisões haviam anunciado:
"vinte mil focos em todo Brasil...".

Estávamos ali testemunhando apenas sete casos. Eram tantos!
No momento, o Brasil estava em chamas! O fogo lambia, comendo grandes áreas com seus seres bióticos.
Não é só a floresta que está em chamas...
Longe das florestas, nos bastidores do poder, um imenso incêndio incontrolável também consome...
... Consome os bens do país ferindo as leis morais e éticas...
... O fogo da corrupção que assola a nação...


*Sanção: alusão ao Povoado Vila Sanção, interior de Parauapebas- Pará.

Autor: Adilson Motta

Extraída do livro (que será publicado): Sintonia: Poemas, crônicas e contos.