Brasil do oba oba

José Maria Couto Moreira*


A voracidade do tempo se encarrega de nossos juízos, os mais próximos da verdade. Hoje, a consciência mais lúcida aponta Lula como o maior demolidor de estruturas do Estado Brasileiro. Todos os fatos e circunstâncias que compõem os últimos dez anos de nossa vida pública, em que o imperador mandava e desmandava em nossa terra, incomoda como marteladas em nossa tradição republicana, como chicotadas em nossa ordem econômica, como atitudes absolutas irresponsáveis na esfera social, como cunhas solertes no terreno da ação política. Em todos os campos em que um presidente pode atuar, sem curvar-se a constrangimento algum, Lula o fez, preso a um projeto pessoal (depois aderiram sócios) de um plano partidário de longa duração no poder.
Tudo que se realiza tem um impulso inicial, dos mais nobres aos mais abjetos. E tudo obedece a variáveis para o êxito, ditadas pelo momento, o que exige paciência, assim como os aloprados não podem participar do jogo. É imperioso que os artífices se disponham ao risco, porque o líder é que não pode comprometer-se para não salgar sua bandeira (que é de muitos). Em nome, assim, deste projeto (vil), quantas cabeças não o executaram abrasadas por uma ideologia ou um interesse, nunca como a mártir revolucionária francesa, a intrépida M. Rollan (liberdade, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome), porém tão significativa quanto um suposto exercício arbitrário das próprias razões (e maiores interesses). Como o Brasil vivia, ainda, sob o impacto virtuoso da eleição de um operário para o Planalto, Lula viveu seu paraíso nas asas do Aerolula, perdoando dívidas de terceiros sem nosso consentimento, chefiando o esquema do mensalão, o que lhe daria chance de aprovar o que bem quisesse, cometendo estripulias para adoçar seu delírio de alçar-se a líder latino-americano, estimulando desempregados a manterem esta condição humilhante com benefícios insuportáveis ao tesouro, enfim, atirou o país num “imbroglio” sem saída, o que fez de sua sucessora uma mulher infeliz e uma presidente que, de resto, insiste em agredir o vernáculo, agressão insólita confirmada pressurosamente pelos sectários, embora cientes da bobagem. A conta vem depois, a débito do povo.
Tudo isto aconteceu no compasso do chamado “oba oba”, dir-se-ia mais uma tradição de relaxamento das práticas civis do que uma expressão popular que define essa festa oficial, esta algazarra que não tem fim, desfazendo da realidade que conhece, isto é, a fome, o desemprego, a violência, a escassez de moradia, o esgoto a céu aberto e outras mazelas, todos os dias vistas na TV. E a festa continua, com assaltos audaciosos nas estatais revidados com pífias providências do Poder Público. Lula introduziu a defesa do “não sabia”, e pegou, como a presidente também de nada sabia, embora disponha o governo de um gabinete de segurança institucional, com foco na inteligência.
Para o mundo continua valendo o refrão de que o Brasil não é um país sério.

*Advogado