Trabalho de Conclusão de Curso – 2003

Jaqueline Pereira Vianna

Pós-graduada em Docência do Ensino Superior

Formação Letras Vernáculas com Inglês

BRÁS CUBAS E A VONTADE DE REPRESENTAÇÃO

Escolhi trabalhar com dois nomes importantes do pensamento moderno e suas respectivas obras - o filósofo Arthur Schopenhauer, em O mundo como vontade e representação, e Machado de Assis, com Memórias Póstumas de Brás Cubas. O que mas deixou-me instigada a trabalhar esses autores foi a ligação que percebo entre o personagem Brás Cubas e a vontade de representação proposta pelo filósofo polonês.

Muitos devem estar se perguntando o porquê da escolha deste tema. A resposta se deve ao fato de que quando lemos Machado, escritor do século XIX, percebemos que o seu texto, para além do literário, traz fortes traços filosóficos, talvez graças ao contexto histórico que propiciava esta conduta. Um terceiro motivo seria o fato de Machado e Schopenhauer possuírem, em seus livros, temáticas muito parecidas, como a frieza do ser, a ironia e os questionamentos sociais e existenciais.

No primeiro capítulo deste trabalho - A verdade como vontade - realizei uma síntese dos conceitos tratados por Schopenhauer, que seriam os mais interessantes para a pesquisa, como o conceito de vontade, de verdade e de morte, tentando demonstrar a sua visão de mundo e o modo como ele trata de determinados assuntos. O objetivo é me utilizar desses conceitos para que esses possam me auxiliar na leitura apresentada no terceiro capítulo - Machado de Assis e a representação - que tratará do modo como o escritor Machado de Assis se apresenta e representa pela sua obra bem como do seu diálogo com Schopenhauer. Como são dois autores do século XIX, busquei também verificar o contexto histórico em que estão inseridos, a fim de justificar a relação existente entre ambos quanto aos temas recortados.

Por fim, no segundo capítulo – Brás Cubas: Onipotência e Vontade – reunirei os traços teóricos existentes entre os dois autores, mostrando que a noção de indivíduo aclamado por Machado de Assis traduz-se no ideal da onipotência e da vontade como representação da verdade, elaborado por Schopenhauer.

E assim, Brás Cubas, através do discurso de Machado de Assis, irá também mostrar a vontade de representação: a do personagem e a do autor. Investigarei isso no modo como esse defunto autor lida com o tempo, como ele trabalha a noção de arrependimento e a idealização. Irei discutir a sua ironia em relação à morte, o pessimismo com que ele enxerga a vida e a maneira como ele critica a conduta do ser humano como processo de auto-anulação em função dos valores sociais. Enfim, verei em Brás Cubas como se dá essa "vontade onipotente" e os pressupostos filosóficos com os quais dialoga.

Acredito que com este trabalho eu possa mostrar que tanto Machado Assis quanto Schopenhauer buscavam ser um Brás Cubas. Assim como muitos de nós, sendo assim , este personagem seria a representação da filosofia de dois pensadores, mas que reflete os anseios de muitos até os dias de hoje.

I - A V E R D A D E C O M O V O N T A D E -

"A vontade é não somente livre, mas também onipotente; e produz não somente a sua conduta, como também o seu mundo; tal vontade qual a ação e qual o seu mundo ... a vontade determina a conduta e o mundo, por isso que sem ela nada existe."

O filósofo Schopenhauer afirma que a verdade surge da maneira como as idéias são usadas na representação de uma vontade. Esta última resultará na construção de um mundo e, consequentemente, de uma verdade seguida, uma determinada conduta. Em outras palavras, tudo o que é construído ao redor do sujeito será resultado da onipotência que ele apresenta diante do seu mundo, uma vez que este gira conforme a sua vontade.

Segundo Schopenhauer, o importante é ter a consciência de que não deve-se usar essa vontade onipotente como uma simples inclinação, ou seja, se o sujeito tem consciência da sua importância no mundo e de que cada um dos seus atos se reflete em todo o seu mundo, saberá que deve ter sempre a certeza da necessidade de conhecer e julgar a sua realidade. Assim o sujeito não correrá o risco de se deixar levar pelo social, pois o mundo a sua volta, ou melhor, o mundo como representação, deverá ser o espelho da sua vontade.

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, pode-se encontrar um exemplo de como o sujeito deixa de representar a sua vontade e acaba por obedecer à representação social. Trata-se da relação que Brás Cubas estabeleceu com Marcela. Nas próprias palavras do narrador: ... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos" [1] . Ao se deixar levar por uma relação cujo interesse foi meramente financeiro, Brás Cubas valeu-se da simples vontade do prazer e do gozo, mas em nenhum momento pensou na sua conduta, a não ser depois de morto, já que não tinha que provar ou justificar a força de sua masculinidade perante o ambiente social. Ao entregar-se a essa relação, ele não agiu conforme a noção de "vontade" schopenhauriana; ele não construiu e dominou um mundo próprio, apenas fez parte da representação de um mundo alheio, onde o prazer carnal e a satisfação social o impediam de refletir sobre a sua conduta. O amor por Marcela era apenas um capricho.

Segundo o filósofo, deve-se usar a vontade como força modificadora ou transformadora do social e do individual. A vontade irá crescer a cada momento em que for adquirida a noção do poder existente nas mãos de cada um. Trata-se do poder de construir a sua própria verdade. Mas este poder só é perceptível ao ser humano quando este se depara com algo que vai de encontro à sua vontade, ou seja, com um obstáculo que não permite o curso da sua vida segundo a sua vontade de representação. O pai de Brás Cubas o afasta de Marcela, e essa é a interdição necessária para que ele reconheça o verdadeiro caráter de sua relação. Só depois da sua morte, quando não sofreria mais do julgamento social, é que Brás Cubas raciocina e reflete sobre a relação superficial que manteve com Marcela, admitindo que foi usado por ela.

A partir do momento que todas as coisas surgem em conformidade com o gozo, não há preocupação em expressar a vontade - segue-se o curso da vida. Mas quando algo contraria esse prazer, o indivíduo usa a sua vontade como única representação do ideal que deseja e assim percebe a importância da mesma na representação do seu mundo. Este pensamento parte da idéia de que "só a dor é positiva" [2] , ou melhor, para Schopenhauer o maior absurdo da humanidade é achar que o positivo se dá quando tudo ocorre bem na sua vida, quando nada interfere nos planos. Para o filósofo, é justamente o contrário: só se aprende com as coisas negativas, somente elas fazem amadurecer, argumentar, opinar e demonstrar a vontade. Se tudo segue corretamente, sem dor, nunca haverá necessidade de buscar a verdade e de expressá-la.

Tendo conhecimento da verdade representada pela vontade, o sujeito pode chegar ao pleno entendimento de si mesmo e conhecer a sua natureza tão clara e inteiramente que essa vontade se refletirá então no mundo inteiro. Pode-se então pensar que é egoísmo querer representar apenas a vontade, mas o ideal, para Schopenhauer, é que sejam respeitadas todas as verdades decorrentes da vontade de muitos, sem que seja anulada uma em função de uma outra. Representativamente, pode-se sempre ceder, ou melhor, a grande arte da vida é representá-la de forma tão clara que sejam sempre aceitas as vontades alheias, sem que se modifiquem os pontos de vista. Se o sujeito possui a noção do pleno conhecimento, saberá que aquilo em que acredita é a única verdade e poderá até abrir mão de defendê-la perante as outras, mas nunca deixará de nela acreditar.

Ao se agir de acordo com a vontade individual nunca haverá arrependimento, pois o arrependimento não nasce nunca do que é vontade, mas sim do que é conhecimento , modificado [3] . Só o conhecimento é mutável, só o que conhecemos pode sofrer alterações devido a outras circunstâncias ou outros conhecimentos adquiridos. Isso é explicável partindo do pressuposto de que a vontade do sujeito é o que ele quer, é o que busca, mas os seus atos podem não corresponder a essa busca. Assim, ele pode se arrepender do que fez, mas nunca do que quis, porque o "fazer" pode ser guiado por algumas noções ou falsas noções, levando ao arrependimento. Isso se exemplifica na reflexão de Brás Cubas acerca do seu caso com Marcela.

Uma questão que pode influenciar negativamente a vontade humana é a relação com o tempo. Segundo a filosofia schopenhauriana, isso acontece quando não há a percepção da onipotência e, logicamente, da detenção de poder absoluto, inclusive sobre o tempo cronológico. Por exemplo, se começarmos a acreditar que não existe passado nem futuro e sim um presente que foi deixado para trás em função de um novo presente, onde as ações realizadas se refletirão no próximo presente (o que chamamos futuro), então, iremos deduzir que há só o presente. Para Schopenhauer, o sujeito não deveria pensar em passado ou futuro, apenas no presente, e assim cada ato realizado seria sempre a representação da vontade onipotente. Muitas vezes a noção de tempo cronológico compromete o exercício da vontade do ser humano de se manifestar, porque ficamos sempre preocupados com a maneira pela qual agimos até então e também com a idéia de como um passo "impensado" pode sujar a nossa imagem futuramente. Assim, deixamos a vontade de lado para viver em função daquilo que fomos e do que seremos, nunca vivendo aquilo que somos.

A importância do presente está no fato deste ser o momento de maior onipotência, uma vez que o sujeito pode dizer e fazer o que quer e quiser. Poderíamos até parecer irracionais perante a sociedade, mas seríamos racionais diante de nós mesmos. O fato do ser humano Ter recusado a instintividade pode ter sido por um fator desencadeador desse modo de ser em que não se vive o presente. Afinal, desde o desaparecimento das tribos nômades para dar lugar á fundação das cidade, a existência do homem na vida em sociedade esteve muito mais ligada à necessidade da sobrevivência do que propriamente ao desejo de ser civilizado. Foi preciso que se abrisse mão dos instintos em função da sobrevivência. E isso, logicamente, nos distingue dos animais.

Segundo Schopenhauer, essa distinção ocorre porque o animal conduz a sua vida através da vontade. Como não "raciocina", usa sua vontade instintiva em função do único tempo que conhece: o momento. Este sempre se segue de outros momentos, não havendo para o animal o passado , o presente ou o futuro. Nós sofremos porque não conseguimos, como o animal, viver só o momento. Sempre nos preocupamos com o nosso passado e futuro. Então nos deixamos torturar por pensamentos ou razões abstratas, nos esforçando ao máximo para ficar à margem do curso do mundo, nos esquecendo da nossa verdade e não representando-a. Finalmente, nos deixamos determinar por um mundo de representações gratuitas e superficiais.

Seguindo esse raciocínio, nós devemos ser conhecedores da nossa verdade e das vontades reais e essenciais. Não podemos ficar a margem nem buscar em ninguém qualidades ou particularidades a não ser em nós mesmos, senão ficaremos iguais a todos os outros. Através da vontade se pode adquirir qualquer instrumento social, porque quando o homem conhece suas tendências e suas qualidades, além dos limites, ele chega à satisfação consigo mesmo. E assim será onipotente. A vontade é onipotente, é livre sendo sujeita apenas aos anseios de um mundo como vontade de representação, ou seja, da verdade representada.

II - B R Á S C U B A S: O N I P O T Ê N C I A E V O N T A D E

O que é ser onipotente? Como surge a onipotência? Perguntas como essas são, definitivamente, difíceis de serem respondidas ou, ao menos, possuem milhares de respostas, por demais complexas. Neste capítulo será tratada a onipotência construída por Machado em Brás Cubas o modo como esta se aproxima da noção de onipotência trabalhada por Schopenhauer. Também se tentará investigar como as visões de mundo do personagem-autor machadiano e as perspectivas pessimistas de Schopenhauer dialogam.

Ao ler Memórias Póstumas de Brás Cubas e ver o modo como o "defunto-autor" constrói a sua história, percebe-se que ele brinca com o leitor o tempo todo, ele "dita" as regras da leitura, inverte a ordem cronológica dos fatos parecendo não se preocupar com o modo como seu texto será interpretado. Além disso, o autor-personagem desvincula-se das leis divinas e das normas teocráticas quando burla o poder celestial ao voltar, depois de morto, para escrever as suas memórias.

A onipotência do sujeito Brás Cubas nasce a partir do momento em que ele, como narrador-personagem, tem a consciência de que sua autoridade sobre o mundo só lhe foi permitida após a morte. A vontade(a verdadeira vontade), segundo Schopenhauer, nasce da necessidade do sujeito, sendo livre em si mesma e nunca determinada por fatores sociais. Enquanto vivo o narrador seguia apenas regras determinadas pela sociedade. Talvez, por isso depois de morto ironiza-se a todo instante a sociedade, como se quisesse mostrar o quanto estava agora livre do seu domínio, em sua vida, ou melhor, sua morte, ele é quem dita as regras, ele é onipotente. Por exemplo, já no capítulo I, quando o narrador Brás Cubas se refere à própria história que estará a narrar, ele afirma que:

(...) o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

É importante perceber que através dessa fala há uma confirmação de que ele, o narrador, é onipotente, e governa a sua vontade, já que houvera saído do mundo da representação e com isso pode contar uma história póstuma, afirmando-se como o defunto autor que burla as leis divinas e teocráticas ditadas até então. Ele é seu próprio deus. Essa mesma idéia é tratada pelo filósofo Schopenhauer, que acredita no homem como construtror do seu mundo através de uma verdade originada exclusivamente pela vontade.

Partindo desse raciocínio pode-se abordar o pensamento de que só a morte acaba com as representações sociais e passa a dar margem à onipotência do sujeito, na visão de Machado e de Schopenhauer, ou seja, quando toma-se conhecimento do auto-biografia de Cubas percebe-se que quando vivo suas atitudes eram extremamente diferentes de quando se coloca como " defunto-autor", totalmente despido das representações mundanas.

Representações que Schopenhauer irá pregar como a falsa representação, a construção de um mundo onde representa-se a vida inteira as vontades e as perspectivas sociais e não as vontades humanas, com isso, não obtém-se verdade, os seres humanos passam a viver como meros seres representativos. Agindo de acordo com o que a "Matriz social" determina que eles sejam.

A vontade de criar seu mundo, sem interferências sociais, sem seguir padrões, é a liberdade idealizada por Brás Cubas traduzida nas palavras de Schopenhauer - " A vontade do homem pode, portando chegar ao pleno conhecimento de si ". Cubas conhecia-se tão claramente que conseguia se auto-avaliar, é como se ao ter morrido tivesse acordado de uma longa prisão onde nunca tivesse conseguido expressar suas verdades, e nem, ao menos, refletir sobre elas. Com esta visão do mundo, ele adentra em um mundo pessimista onde passa a desprezar toda a realidade e tenta mostrar todos os defeitos e desnudar a sociedade sem retoques de forma fria, irônica, sendo bem realista, assim como o seu genitor Machado de Assis.

Em várias partes das suas memórias é possível comprovar este pessimismo e também uma relação muito mórbida entre a vida e a morte. Nos primeiros capítulos, de forma mais forte, e nos demais, o autor deixa claro como a morte é algo natural e a te benéfico ao ser humano, ele a encontra como que encontra uma solução:

agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão... juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. (Brás Cubas - cáp I).

Essas palavras de Cubas combinam-se com o pensamento schopenhauriano de que viver é sofrer e que a morte é a constatação de que não tem valor algum, não só para a natureza como para a sociedade, ou ainda, que o que ele é na realidade, não passa de mera representação parcial da sua verdade. Ou também, a partir do pensamento de que ele é uma parte pequena infinitamente pequena para o mundo, assim como também sua forma pessoal não é mais do que uma parcela pequena do seu ser verdadeiro.

Em seu livro, Cubas toma a consciência de que o seu conhecimento enquanto ser vivo era apenas destinado à manutenção dele próprio e que ele apenas se conhecia enquanto indivíduo que necessita sobreviver, como todos os outros. Para Schopenhauer:

se o homem, ao contrário, pudesse ter consciência de tudo que ainda completa a natureza, ele se resignaria sem pesar à desaparição da sua individualidade, sorriria de tenacidade do seu apego a essa forma, e diria: " porque me inquietar com a perda da individualidade, se trago em mim a possibilidade de inumeráveis individualidades"?

Com isso Cubas se descobre como ser detentor de múltiplas individualidades, mas apenas quando é expulso deste mundo pela Natureza. É por isso que considera a perda da vida algo até delicioso, como já foi dito antes, porque a morte lhe traz a sua verdade.

Além disso certas passagens do texto denotam tamanho pessimismo presente nesta obra, o mero fato de que nada na vida do autor-personagem é realizado, nenhum amor, nenhuma vontade. Cubas é levado pela vida com a ambição de possuir muitas mulheres e muito dinheiro e acaba, pois, no fim da vida sem nenhum destes tesouros.

Em toda a obra, é possível perceber como as teorias de Cubas e Schopenhauer dialogam, afinal, muitas passagens da obra do filósofo polonês encontram-se legitimadas nas falas de Cubas. Exemplos não faltam e alguns até já foram mencionados anteriormente, mas vamos a outros. A forma como Cubas encara a morte como algo infinitamente melhor do que o mundo dos vivos é reforçada em Schopenhauer, que afirma que o mundo presente não vale muito coisa e que assim como a Natureza deveríamos tratar vida e morte com a mesma indiferença.

Todo o pessimismo abordado por esses dois autores é encontrado no último capítulo do romance, que, como o próprio nome já diz, é o capítulo das negativas. Nele, o autor só realiza, ironicamente, afirmativas negativas de tudo o que ele não conseguiu ser na vida:

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Tudo, nesse capítulo, pode ser explicado por Schopenhauer como sendo o resultado de viver como um indivíduo social, sem vontades e sem representar aquilo em que realmente se acredita.

O final de Brás Cubas é a legitimação de que "só a dor é positiva". Só a morte fez Cubas atentar para a sua vida e refletir sobre a mesma. Com tudo isso ele percebe o quanto a representação da verdade do ser humano é importante, pois nas suas últimas falas, ele consegue perceber que mesmo tendo sido usado pela Natureza ele conseguiu ao menos uma vez ir de encontro a ela a fim de representar a sua verdade: " Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

III- M A C H A D O D E A S S I S E A R E P R E S E N T A Ç Ã O

" Eu gosto de catar o mínimo, o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto." ( Machado de Assis)

Numa sociedade marcada por divisões sociais muito rígidas (como já era o Brasil da época de Machado de Assis), o indivíduo nasce com seu destino social mais ou menos determinado pela origem, pela raça e até pelas possibilidades ou não de freqüentar escolas. Joaquim Maria era um menino de subúrbio, sendo assim, sua vida e a vida do subúrbio era muito diferente da vida intelectual da corte, justamente a última era detentora da atração de Machado.

As coisas elegantes da época aconteciam nos cafés da Rua do Ouvidor, onde as pessoas da classe poderosa se encontravam, se divertiam e exibiam suas caras roupas importadas da Europa. Era nessa rua que Machado passava grande parte do seu tempo, trabalhando. Caixeiro de livraria, tipógrafo, revisor foram algumas das profissões que provavelmente exerceu antes de se tornar jornalista e cronista. Vendo desse ângulo, percebe-se que não terá sido fácil para o adolescente de arrabalde firma-se como intelectual da corte.

Além disso, já havia na sociedade teorias racistas espalhadas pelo século XIX que sustentavam a superioridade da raça branca sobre negros, índios e mestiços. Acredita-se que não é necessário dizer que Machado era mulato. Com isso, sua ascensão intelectual só se completará por volta de 1880 quando, no cenário da literatura brasileira, ninguém o supera em fama e importância. Mas o percurso foi longo. Começou escrevendo alguns textos para o jornal Marmota Fluminense, logo depois passou a ser membro da redação do jornal e com isso outros jornais passaram a publicar seus trabalhos. Mas como, no Brasil, ainda não era possível viver da escrita, Machado aceitou um emprego de funcionário público que lhe garantiu sustento. Com o tempo, sua competência profissional o transformou no mais alto grau da careira: diretor de um órgão público, a Diretoria do Comércio. Aos poucos conseguiu estabilidade econômica e mais tempo para escrever. Entre uma crônica e outra ia tecendo a parte mais importante de sua obra : o conto e o romance.

Para Machado, os jornais eram a verdadeira forma da república do pensamento [...], a literatura comum, universalmente aceita[...] [4] . Através de declarações como esta já era sabido que cada vez mais Machado de Assis, o homem da cidade, se distanciava de Joaquim Maria, menino de subúrbio. Nas roupas, na postura e, principalmente, na expressão.

O amor surge com Carolina Novais, de nacionalidade portuguesa e mais velha que o escritor, com quem se casa em 12 de novembro de 1869. Em carta, Machado declarou-lhe: " Tu não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras [...] como te não amarias eu?" O casamento durou 35 anos e consta que na mais perfeita harmonia.

Machado de Assis escreve vários romances, dentre os quais Memórias Póstumas De Brás Cubas(1881) se constitui marco inicial do movimento literário chamado Realismo. O romance, aos olhos de um leitor leigo, trata apenas da história de um morto azarento que quer contar da sua pobre vida na sociedade a que pertencia. No entanto, para um estudioso de crítica literária, fica claro que há na história uma crítica à sociedade burguesa e à falsidade dos valores sociais existentes na época, valores estes que, por exemplo, avaliavam o indivíduo pelos bens materiais. Outra característica seria, ainda, a influência do meio sobre o homem, a visão da vida como uma luta em que vence o mais forte, ou seja, vence o homem com todos os seus defeitos, sem retoques ou idealizações. O texto de Machado mostra o indivíduo, mas ultrapassa o nível pessoal, expondo as forças sociais e também as do inconsciente, com muita ironia e ceticismo.

Brás Cubas é o defunto-autor que decide contar toda a sua vida começando pela sua morte. Ele tem um caso com uma mulher mais velha que lhe tira todo o dinheiro, e quando os seus pais descobrem esse fato, mandam-no ao exterior para estudar. Ao se formar em Direito, ele decide viajar pelo mundo, mas é obrigado a voltar, pois sua mãe está morrendo. Depois do enterro da mãe, vai para uma fazenda da família e conhece uma moça por quem se sente atraído, mas logo a abandona, já que era "coxa" e não correspondia aos padrões estéticos. Posteriormente, conhece Virgília ,que não se casa com ele, mas segue como sua amante por longos anos. Também conhece Eulália, que morre aos dezenove anos de idade. Por fim, sem amores, busca fazer um emplastro e nesta tentativa recebe um golpe de ar que o deixa muito doente e o leva à morte. Em resumo, ele não consegue ter sucesso na vida, morre com poucos amigos e sem nenhum filho.

Brás Cubas só percebe a sociedade em que vive depois que está morto: " A maior virtude de um defunto é a sua franqueza" - nos lembra ele. Com isso atinge a sua Verdade, pois não há mais a necessidade de representar e o mundo agora a ser narrado é a catarse daquela sua vontade que nunca foi representada enquanto estava vivo.

Didaticamente, compreende-se que o Realismo surgiu como uma reação ao subjetivismo e individualismo românticos. A razão, a pesquisa, a ciência vêm ocupar o lugar do sentimentalismo. Os realistas procuram retratar o homem e a sociedade a partir da observação do ambiente, dos costumes, das atitudes, dos comportamentos, procurando as causas dos fatos e fenômenos que abordam. Sendo assim, como nos recorda Alfredo Bosi, do Romantismo ao Realismo, houve uma passagem do vago ao típico, do idealizante ao factual. [5]

Sendo óbvio que nenhum artista consegue evitar as influências do momento histórico em que vive, Machado assimilou as características do Romantismo e do Realismo, mas não se enquadra radicalmente em nenhuma dessas escolas. Suas obras se desdobrarão em dois estilos, as das chamadas fases de "aprendizagem" e "maturidade" do escritor. Apesar serem complementares, a primeira ainda possui grandes marcas de um romantismo convencional, um conformismo ideológico, conflitos entre o social e o natural, além da análise psicológica dos personagens. Já na produção do autor na sua fase madura predominam a narrativa problematizante, o abandono do tema da natureza, o aprofundamento da personagem, o realismo cômico-fantástico, a forma livre, o espírito de síntese, o pessimismo e ceticismo, a inclusão do leitor, o estudo da alma feminina e, sem dúvida, a ironia. Logo, Machado terá uma posição diferenciada em relação ao cânone estético realista.

Suas obras possuem como divisor de águas Memórias Póstumas de Brás Cubas. Que se transforma em cânone não somente das suas obras como também das demais produções da literatura brasileiras que lhe é contemporânea. Tudo isso ocorre porque, desde o início, sente-se a preocupação de Machado em desligar-se da moda reinante em sua época, à procura de uma moda própria, de tal maneira que a sua escrita carregaria para sempre, uma marca pessoal. As obras da segunda fase concluem esse processo.

As características dos romances de Machado começam pelo modo como o escritor escolhe os assuntos a serem abordados, dando preferência a temas que lhe despertam interesse que lhe parecem dignos de se transformar em literatura. Cada um desses é tratado de diferentes maneiras, mas em todos buscou a sondagem psicológica, tentando compreender as ações humanas, sejam elas de natureza espiritual ou decorrentes da ação que o meio social exerce sobre os indivíduos. Nesse aspecto, Memórias Póstumas anuncia a novidades através do relato de ações comuns da realidade, chegando até à banalidade, de onde tentará criar encruzilhadas humanas para buscar extrair seus temas mais usados: a morte, a luta entre o bem e o mal, a crueldade, a ingratidão , a sensualidade, o adultério, o egoísmo, a vaidade, dentre outros.

A Machado de Assis interessou o espetáculo e não o cenário, ou seja, diferente dos românticos que dedicavam várias partes dos seus romances à descrição de ambientes, Machado buscará retratar os acontecimentos. Não há, por exemplo, nas Memórias Póstumas, nenhum capítulo destinado a descrever os personagens ou o ambiente, o autor atribui importância às ações dos personagens e com isso seus textos ganham maior fluência e dinamismo.

Segundo Afrânio Coutinho seus textos realizavam uma totalidade e realizam-se como totalidades de modo que os livros, romances, contos, crônicas, poemas, críticas, etc., estão articulados como conjunto e devem ser lidos como fragmentos de algo maior. O conjunto de totalidade da concepção machadiana de linguagem realiza essa dimensão como prática estética e tem por isso mesmo dupla função: cognitiva e estética. Sua obra realiza a dupla tarefa de enriquecimento de informações da língua literária, do patrimônio cultural e da humanização das relações humanas mediante o conhecimento e a corrosão daquilo que a desumaniza na história que penetra na linguagem. [6]

Ao analisar o Realismo e algumas das suas características, percebe-se o quão forte é a preocupação dessa estética em representar a realidade, entendida como o conjunto de fatos e relações concretas, materiais, observáveis pelos sentidos de forma nua e crua, sem retoques. Com isso, há uma preocupação geral dos autores com o presente, já que buscam "reproduzir" a realidade, deixando de lado a reconstituição do passado, até então, um fascínio dos autores Românticos. O romance histórico era evitado pelos realistas, pois dava margem à fantasia e a sentimentos nostálgicos, o que seria um desvio em relação aos "fatos".

Muitos fatores podem ter levado os autores realistas à prenderem-se na realidade de forma tão maçante e profunda. Deve-se lembrar que este movimento do século XIX assistiu, junto ao mundo, a um crescente desenvolvimento das ciências sociais e naturais, dando origem ao determinismo de H. Taine, ao evolucionismo de C. Darwin e, por fim, ao positivismo de A. Comte. O primeiro traz a noção de que é possível explicar todos os fenômenos, naturais e sociais, como efeitos determinados pela raça, meio e momento de cada indivíduo. O segundo, através da lei de seleção natural, acredita que a sobrevivência está diretamente ligada ao processo de seleção natural das espécies. Ao final, o terceiro, que não admite qualquer outra realidade além dos fatos, glorificando a razão e buscando explicar todas as coisas à luz da ciência.

Essas correntes servirão à formação da linguagem realista que se apropriará de características, como já foi dito, desses filósofos e de suas teorias. Por exemplo, a partir das idéias deterministas e do aumento crescente das diferenças sociais, muitas obras trarão críticas a essas idéias e condenará a exploração do homem pelo homem, surgindo disso um romance social, com o racionalismo proposto pelos positivistas, através da apresentação de temas do cotidiano para, geralmente, os ambientes sociais em desequilíbrio, na tentativa de provar que a seleção proposta por Darwin não é tão natural como pensava-se, mas sim, também, uma seleção social.

Como é preciso provar a veracidade das suas idéias, o romance desse estilo passa a ser conhecido como romance de teses, e o leitor é sempre convocado para esse debate, aproximando-se o máximo possível do que está sendo relatado. Em muitos dos seus textos de Machado de Assis, por exemplo, o leitor é parte fundamental dos diálogos realizados pelo narrador.

Em Machado, especialmente em Brás Cubas, a narrativa apresenta peculiaridades que denotam a preocupação consciente do escritor com a linguagem. Constantemente, o leitor é convocado a participar da história que revela sua forma ficcional, através de uma metalinguagem, ou seja, a obra chama atenção para sua ficcionalidade, volta-se para si mesma, na tentativa de se examinar. Isso se justifica já no primeiro capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador tenta explicar o título do livro e a razão que o levou a fazê-lo. Esse trabalho minucioso de explicitação da ficcionalidade da obra resulta em lentidão e cuidados extremos, o que dificulta e retarda, por muitas vezes, a leitura.

A descrição do caráter das personagens é, muitas vezes, ambígua, permitindo diferentes opiniões. O narrador vai contando a história em meio a ironias e ceticismo, compondo um humor de difícil definição, mas que se revela em desdém contra as convenções humanas, ridicularizando-as, desnudando as hipocrisias mais íntimas e criando tipos imortais. A obra reflete também as leituras do escritor, que nutre o seu texto, de outras linguagens e autores como por exemplo: a Bíblia, com passagens de Moisés(cap.I); a história de Caim e Abel(cap.VI); Schopenhauer (cap. VII); Miguel de Cervantes(cap.XV); Shakespeare(cap.I, XXV, CXXIX, CVIII);Pascal(cap. XXVII, XCIX, CXLII), dentre muitos outros nomes, desde filósofos gregos como Aristóteles, Cícero e Sócrates, até Swift com As viagens de Gulliver (cap. XCIX) [7] . Machado, assim, demonstra estar em sintonia com o espírito da época. Ele escreve com correção e bom gosto, aproxima a linguagem escrita da falada e explora também modismos.

Dentre as peculiaridades deste romance, encontra-se a discussão da ficcionalidade, onde tenta-se comprovar a noção de que a ficção só existe devido ao contrato entre autor e leitor pelo ato ou signo ficcional chamado por Wolfgang Iser de "discurso encenado"8; Através desse contrato, autor sabe que o que escreve não é tão verossímil e o leitor sabe que o que ele irá ler também não condiz com a sua realidade propriamente.

A diferença clara entre o Machado ficcional e o Realismo é o fato de que o primeiro busca mostrar que o mundo representado não é o mundo dado, mas que deve apenas ser entendido como se o fosse.9 Machado acredita que não deve-se, simplesmente, refletir a sociedade, e sim, buscar como um novo "olhar que sonda e perscruta" (Bosi, Alfredo), que como um foco de luz tenta mostrar nas sombras das linguagens representadas até então o que ainda não foi visto pelo simples olho humano, o que ainda não foi dito pelos realistas. Seria como se ele, autor, tentasse ser o foco de luz na criação de uma nova linguagem, diferente do Realismo que acredita na representação do mundo como ele é.

Ao que parece, esse olhar Machadiano, como em todo texto ficcional, além de mostrar a realidade social e seus conflitos, está repleto de uma realidade de ordem sentimental e emocional do romanticista. Ou seja, segundo Iser, o autor, por mais que tente, nunca conseguirá distinguir o real, o ficcional e o imaginário no texto ficcional. Além disso, Machado nunca buscou simplesmente representar simples e puramente a realidade, e sim, buscar na sua linguagem e no seu texto ficcional algo análogo da representabilidade e ao mesmo tempo intraduzível. O autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas, ao construir sua história, irá representar os acontecimentos de uma sociedade com novas abordagens, transgredindo a realidade e criando campos de referência intertextuais através de elementos de que se apropria esses elementos levarão o personagem de Machado a transgredir as fronteiras entre os campos do real e do ficcional. Para Lotman, geralmente esse acontecimento tem a ver com o tema. No que diz respeito ao livro das memórias, o personagem machadiano transgride a ordem "natural" da vida humana quando decide elaborar uma auto-biografia depois de morto. O procedimento se justifica pelo uso do texto bíblico como intermédio para que ele fuja da representação análoga do real e forme um "elemento revolucionário" e intraduzível na medida em que vai de encontro a tudo o que é "possível" .

Outro momento em que Machado ultrapassa o campo da realidade no texto ficcional se dá quando Brás Cubas é colocado a dialogar com a Natureza no capítulo O Delírio :

Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga... não te assustes, minha inimizade não mata" (...)"primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês... senti-me transformado na suma teológica de S. Tómas... restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo que me arrebatou...

Na verdade o que o autor acaba por mostrar é que não há texto completamente verossímil, mesmo que por mais parecido ou similar à realidade nenhum texto conseguirá ser absolutamente realista ou não-ficcional. O que ocorre é um texto com aparências da realidade que transcende a constituição desta realidade.

O mundo representado deve ser entendido como se fosse verdade ou realidade. É a lição de Aristóteles recuperada por Iser, afirmando que a realidade é trazida no texto ficcional, mas nunca conseguirá ser copiada definitivamente. Afinal não pode-se esquecer da tríade, ou seja da união presente em qualquer texto ficcional, entre o real, o fictício e o imaginário onde "o mundo representado há de se tomar como se fosse um mundo". O fictício então se qualifica como uma passagem entre o real e o imaginário, com o único fim de se completarem.

Machado questiona a postura da estética realista a partir do momento em que acredita na impossibilidade da reprodução verossímil. Já que, do ponto de vista da escola realista, o presente motiva a verossimilhança, o que dizer de Brás Cubas, o autor-defunto que busca a verossimilhança motivado por suas abstrações passadas? Ou seja, se a busca do verossímil parte do presente e das motivações que este insere no indivíduo, Machado, com Brás Cubas, descronstrói esta idéia, já que é o passado que motiva o seu personagem principal, e não o presente.

Novamente Machado encontra Schopenhauer, pois a consciência da construção do real combina-se à tese schopenhauriana de que "a vontade é, não somente livre, mas também onipotente", ou seja o autor tem total liberdade para selecionar os aspectos mais interessantes da realidade a qual se dispõe a relatar ficcionalmente. E da mesma forma, possui uma onipotência para combiná-los com outras abordagens e outras leituras. Se o mundo representado é o espelho da nossa vontade, assim também será o mundo ficcional um espelho das leituras, dos sentimentos e do intelecto do autor.

IV- C O N C L U S Ã O

Com essa pesquisa, espero ter lançado a perspectiva do aprofundamento dessas idéias e na busca de novas visões e caminhos para as várias maneiras de como os autores aqui tratados dialogam.

Desejo que este trabalho tenha contribuído, como muitos outros, para a constatação de que a literatura e a filosofia caminham em linhas paralelas e sendo sempre necessário estarmos buscando soluções para os conflitos teóricos na intenção de enriquecer as idéias individuais, abrindo-as para novos horizontes.

O trabalho como este, não só é passaporte para um diploma, mas sim, passaporte para um mundo de conhecimento que nenhuma outra viagem proporcionará. Um enriquecimento instantâneo do mais puro ouro: o saber.

Acredito que com a realização dos capítulos anteriores eu possa contribuir para o enriquecimento desse tesouro "invisível" e tão valioso,

V - R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 28a. Edição São Paulo: Ática, 1997.

BOSI, Alfredo. Machado de Assis - O enigma do olhar. 1a. Edição. São Paulo: Ática, 1999.

____________. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cutrix, 1970.

____________; Garguglio, José Carlos; Curvelo, Mario & Facioli, Valentim. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982.

CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. São Paulo: Nacional, 1980.

COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria - literatura e senso comum. 2a. Edição. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

COUTINHO, Afrânio. Machado de Assis na literatura brasileira. In: Machado de Assis – Obra completa. Rio de Janeiro: ed. Aguilar, 1959. Vol. I

LIMA, Luiz Costa. Mímeses: Desafio ao pensamento. 1a. Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte; metafísica do amor; do sofrimento do mundo. São Paulo: Martin Claret, 2001.

_______________________. Dores do mundo - O Amor , A Morte, A Arte, A Moral, A Religião, A Política. Rio de Janeiro: Ediouro.

_______________________. O mundo como Vontade e representação. Rio de Janeiro: Brasil..



[1] ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: ed. Ática, 1997 - Página 20. No capítulo "do trapézio e outras coisas" o autor já o inicia com esta frase onde demostra ter a noção de que o amor dele e de Marcela era apenas representação e que na verdade havia um jogo de interesses.

[2] SCHOPENHAUER, Arthur. Da morte; metafísica do amor; do sofrimento do mundo. Pág 114: " Não conheço absurdo maior do que aquele que a maioria dos sistemas metafísicos afirma, a saber , que o mal é algo negativo. Pois sucede exatamente o contrário: o mal é o positivo, é aquilo que em si mesmo se torna sensível; e o bem (por exemplo, toda a felicidade e satisfação) constitui o negativo, isto é , vem a ser a supressão do desejo e a eliminação de uma angústia. sensível; e o bem (por exemplo, toda a felicidade e satisfação) constitui o negativo, isto é , vem a ser a supressão do desejo e a eliminação de uma angústia.

[3] SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade de representação . pág. 50: "o arrependimento não nasce nunca do que é vontade( porquanto seria mpossivel), mas sim do que é conhecimento, o qual se modificou. Pelo que haja de essencial ou de especial que eu quis devo quer6e-lo ainda, porque sou eu mesmo esta vontade que se pôs fora do tempo e de qualquer modificação. Assim, não posso me arrepender do que quis, senão do que fiz, por isso que , guiado por falsas noções, fiz algo que não era conforme à minha vontade.

[4] FARACO, Carlos. Um mundo que se mostra por dentro e se esconde por fora. In: ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: ed. Ática, 1997.

[5] BOSI, Alfredo. História Concisa da litératura. Brasileira.. São Paulo: ed. Cultrix, 1970.

[6] COUTINHO, Afrânio. Machado de Assis na literatura brasileira. In: -, org. Machado de Assis – obra completa. Rio de Janeiro: ed. Aguilar, 1959. Vol. I

[7] Alguns textos e personagens muito comuns são destrinchados por Machado em seu livro. Estas figuras retratam muito do pessimismo encontrado em Schopenhauer, como por exemplo, Caim, Lady Macbeth. A primeira personagem bíblica que com tamanho pessimismo inveja e outras posturas negativas mata o próprio irmão, Abel, e a segunda, a consagrada personagem de Shakespeare induz seu marido a matar o atual rei da Escócia com muita frieza e um ambição sem limites.

8;9 Segundo o autror:" o sinal de ficção não designa nem mais a ficção, mas sim 'o contrato' entre o autor e o leitor, cuja regulamentação o texto comprova não como discurso, mas sim como 'discurso encenado'. Deste modo, por exemplo, os gêneros literários se apresentam como regulamentações efetivas de largo prazo, que permitem uma multiplicidade de variações históricas nas condições contratuais vigentes entre autor e público..." ISER, Wolfgang. Atos de fingir ou o que é fictício num texto ficcional. In: LIMA, Luiz Costa(org). Teoria da literatura em suas fontes. Pág 974 e a construção de discurso encenado.