BRANCA DE NEVE E SEUS FINAIS FELIZES
TAFURI, Thiago

Resumo
O presente artigo visa apresentar a origem, adaptações e realizações obtidas através da evolução dos contos de fadas, sendo a obra de base estudada Branca de Neve e suas diversas versões, tanto para o cinema quanto para a televisão. Para execução deste trabalho bibliográfico, foram consultados autores como Alexandre Callari Callari, que em seu vasto estudo mostra como surgiram diferentes formas de contar um mesmo conto; Nelly Novaes Coelho, que explica como funcionam as formas desse gênero literário e Nadia Batella Gotlib, mostrando a estrutura dos contos, além de outros nomes da nossa literatura.
Palavras-chave: Conto de fadas. Adaptações. Versões. Cinema. Literatura Infanto-Juvenil.

Abstract
The current paper presents the origin, adaptations and realizations obtained through the evolution of fairytales, based on Snow White and its versions, from the cinema and television. To develop this bibliographic work, one consulted authors such as Alexandre Callari,whose wide study shows different ways of telling the same tale; Nelly Novaes Coelho who explains how the forms of this literary genre work, and Nadia Batella Gotlib, showing the tales structure, and other names in our literature.
Keywords: Fairytale. Adaptations. Versions. Cinema. Children and Youth Literature.


Introdução
Uma mesma história contada por séculos, através da sociedade que encanta e não se perde até hoje, várias formas de contar um mesmo conto, sem perder seu brilho próprio independente da língua utilizada e sim ganhando cada vez mais seguidores e conquistando legiões de fãs, de todas as idades. Fadas, Bruxas, Príncipes Encantados, Feitiços e finais que nem sempre são felizes. Era uma vez, entre tantas outras vezes, o Conto de Fadas.

Origens do Conto Maravilhoso
De acordo com Gotlib (2003) podemos citar ao menos três fontes principais de como surgiram os Contos de Fadas ou Contos Maravilhosos: Um Manuscrito Egípcio, encontrado no século XIX com idade estimada de 3200 anos, que contava a história de dois irmãos, considerado como o texto fonte para o episódio bíblico José e a mulher de Putifar. A trama envolve dois irmãos e a uma mulher que semeia a discórdia entre eles, mas por conta de um quarto personagem as malfeitorias dessa mulher são descobertas e tudo se resolve, sendo reestabelecida a amizade dos irmãos.
A Fonte Oriental (Calila e Dimna, Sendebar, As mil e uma Noites) localizada na Índia resultante da fusão de três livros sagrados (Pantschatantra, Mahabharata e Vishno Sarna) que eram pregados por budistas no século VI antes de Cristo. O intuito era de propagar a Justiça entre os Homens.
Fonte Latina (Contos Maravilhosos, Fábulas, Livros Exemplares), foi feito uma imersão dentro das diversas culturas desde a Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) no século V até o Renascimento no século XV. Um trabalho paciente de tradução feito pelos monges e por contadores de história que a herança latina se fundiu por todo o ocidente que teve como pano de fundo a força da religião como instrumento civilizador.

O Conto de Fadas e o Maravilhoso
A afirmação mais correta sobre Contos de Fadas e Maravilhosos a se dar é que eles eram contados ao longo dos anos mesmo em tempos Antes de Cristo e sempre com a premissa básica de contar algo envolvendo elementos mágicos para dar um caminho correto à humanidade. Coisas simples, por exemplo, como conviver bem em sociedade, como se portar perante dificuldades triviais e, principalmente, o que não é correto fazer. O mais enaltecido até hoje nessas narrativas é a luta do bem contra o mal, envolvendo sempre os dois lados em que o sentimento de amor é a arma mais poderosa de combate.
Esse tipo de conto sempre é escrito no contexto do Maravilhoso, ou seja,
este conto não pode ser concebido sem o elemento “maravilhoso”, que lhe é imprescindível. As personagens, lugares e tempos são indeterminados historicamente. Nada mais é que o começo de cada conto de fadas reescrito e contado o tempo todo começando com o famoso “Era uma vez...”:
Este conto é transmitido, oralmente ou por escrito (...) pode ser recontado com as “próprias palavras”, sem que seu “fundo” desapareça. Pelo contrário, qualquer um que conte o conto, manterá a sua forma, que é a do conto e não a sua, que é uma “forma simples”. Daí o conto tem como características justamente esta possibilidade de ser fluido, móvel, de ser entendido por todos, de se renovar nas suas transmissões, sem se desmanchar: caracterizam-no, pois, a mobilidade, a generalidade, a pluralidade. (Gotlib: 2002, p.18)

As histórias sempre casam seus enredos com a problemática do Bem versus Mal sendo o mais comum a Princesa ser a mocinha e a Bruxa ser a vilã enfrentando obstáculos e tentando resolver intrigas que levavam a um desfecho que fosse positivo para os protagonistas.

Autores
Charles Perrault, considerado o pai dos contos maravilhosos, publica Contos da Mãe Ganso no século XVII na França. Tal compilação contém A Bela Adormecida do Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela ou A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. Perrault atribui a autoria dos contos a seu filho Pierre Perrault.
Jean de La Fontaine, também na França do século XVII, procurava por fábulas dos antepassados de diversas culturas, enaltecendo injustiças, intrigas e desequilíbrios vividos pela corte ou entre o povo. Sua compilação conta com O Lobo e o Cordeiro, O Leão e o Rato, A Cigarra e a Formiga, A Raposa e as Uvas, Perrete a Leiteira e o Pote de Leite e leva o nome de Fábulas de La Fontaine.
Irmãos Grimm, Jacob e Whilhelm nascidos na Alemanha no século XVIII, compilaram as obras A Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira, O Ganso de Ouro, Os Sete Corvos, Os Músicos de Bremen, A Guardadora de Gansos, Joãozinho e Maria, O Pequeno Polegar, As Três Fiandeiras, O Príncipe Sapo, entre 1812 e 1822. São considerados como precursores do gênero Literatura Infantil. Na segunda edição de sua compilação foram retirados os excessos de violências ou maldades praticadas contra as crianças nos contos por influência do Romantismo e de alguns influentes que levantaram certa polêmica relacionados ao tema.
Hans Christian Andersen, dinamarquês nascido no século XIX, publicou Eventyr – 168 contos, entre 1835 e 1877 que sintonizavam-se com a época em relação a fé, fraternidade e generosidade humana.

A Jovem Escrava e a primeira de tantas Brancas de Neve
Antes mesmo dos irmãos Grimm foi relatado o conto da Jovem Escrava, escrito por Giambattista Basile (1572-1632) e publicado postumamente em 1634 no livro O pentamerão que reúne, além deste, mais 49 contos.
Nessa primeira versão, reconhecemos símbolos que fazem parte do conto mais famoso como o pente envenenado, o caixão de cristal, a beleza da heroína e, é claro, a figura que serve como rainha / bruxa / madrasta má. Porém, há um questionamento de que realmente esse tenha sido a inspiração da história mais tradicional, pois segundo estudos teóricos sobre o assunto, foi constatado que:
Embora seja o primeiro registro conhecido da fábula Branca de Neve e também de outros contos de fadas famosos, como Rapunzel e Cinderela, tendo inclusive precedido Perrault em 50 anos e os Irmãos Grimm em dois séculos, há certa discordância sobre o fato de o livro de Basile ter realmente influenciado os demais trabalhos europeus. (Callari: 2012, p. 22)

Essa questão é levantada por conta da localização das histórias e culturas diferentes, a descoberta de um conto com a mesma base depois de muito tempo pode ter sido um dos motivos dessa diferença entre obras:
O pentamerão foi publicado inicialmente em Nápoles, num dialeto napolitano e, durante quase 200 anos, não foi traduzido para nenhuma outra língua ou viajou para fora de sua região de origem. Essa limitação espacial e o período de tempo no qual o texto foi ignorado por escribas e tradutores representam uma séria dúvida para os especialistas, que não conseguem determinar a carga de influência que o livro pode ter tido. (Callari: 2012, p. 22)

Nesse primeiro momento temos também de diferente, da fábula mais conhecida, a ausência de punição para a madrasta e a alta concentração de violência que a personagem principal sofre durante a história.
O conto mais importante e editado pelos Irmãos Grimm em 1857, mostra a história da jovem princesa que é amaldiçoada por sua madrasta com um laço, uma escova e uma maçã envenenada. Neste conto, mesmo sendo o mais conhecido e readaptado da história, não acontece o tão esperado beijo entre o príncipe encantado e a princesa adormecida, mas sim um solavanco que o caixão da Branca de Neve sofre no caminho do castelo do rei, que faz com que ela se desengasgue da maça envenenada que ficou presa em sua garganta.
A característica principal que se mantém em todas as adaptações sofridas pelo conto dos irmãos Grimm é de como a personagem principal nasceu. Sua mãe estava costurando junto de uma janela numa tarde de grande nevasca e ao espetar seu dedo com a agulha, três gotas de sangue caíram na neve e, então, surge seu pedido de ter um filhinho branco como a neve, vermelho como o sangue e negro como a moldura da janela. Um tempo depois, nasce sua filha e a rainha morre em seguida, fazendo com que o rei se case com outra mulher, que é a complicação de toda história.
Ainda no enredo da versão dos Grimm, Branca de Neve é inocente e tem o que é chamado de “coração puro”. Ela não via em sua trajetória vingança, mesmo sabendo que sua madrasta tinha pedido sua cabeça a prêmio. Ela apenas queria seguir viva e em paz contrastando com Lisa, personagem do conto de Basile que, por diversas vezes, pensa em cometer o suicídio para colocar um fim em seu martírio.
Mesmo antes da versão de 1857, Jacob e Whilhelm já haviam feito sua primeira compilação de contos populares em 1812, porém, foi totalmente reeditada por alguns motivos:
Quando lançaram seu livro em 1812, os irmãos Grimm escreveram-no para um público seleto, supondo que quem teria interesse em consumir a obra seriam estudiosos e escolásticos. Tanto assim que a primeira edição teve uma tiragem de apenas 900 cópias, e vinha repleta de anotações, referências e notas de rodapé explicativas, com uma linguagem claramente acadêmica. (Callari: 2012, p. 12)

O motivo da reedição se deu ainda por conta da grande procura do livro por pais que queriam contar essas histórias populares para seus filhos. Por conta desse sucesso junto ao público, começaram as diversas supressões de conteúdo, que resultaram em sete edições dessa mesma obra. Os autores procuravam amenizar situações onde pudessem constranger quem lia e quem ouvia os contos com o excesso de violência apresentada, principalmente contra as personagens infantis das fábulas.
A informação mais contundente que a versão original de Branca de Neve sofreu foi a troca da antagonista; no conto mais conhecido, a madrasta é a responsável pelo sofrimento da jovem princesa, já na versão original de 1812 a própria mãe da protagonista é quem tenta matar a filha por ciúmes de sua beleza. Callari (2012) comenta os motivos da troca de antagonista:
A explicação é simples: ao matar a mãe de Branca, eles a colocam em uma posição santificada, um pedestal intocável, uma imagem a ser preservada, respeitada e adorada (...) há mães adotivas boas, assim como mães biológicas más; mas é certo presumir que os autores quiseram fugir a essa variável e preservar a imagem da instituição família – tão importante para os leitores do século XIX. (Callari: 2012, p. 13)
Uma grande curiosidade da Jovem Escrava é que o feitiço que ela sofre não é feito pela madrasta, mas sim por uma fada trapalhona que erra a mão quando vai fazer seu desejo de boa sorte pra Lisa e a amaldiçoa sem querer. Outro ponto a se levantar, é que a Baronesa Má é quem tira a maldição de Lisa e a desperta do sono profundo em que a protagonista se encontra. E, por fim, quem a salva realmente, é seu tio que descobre tudo que sua esposa vem fazendo com a jovem escrava, que na realidade era sua sobrinha.

As tantas outras Brancas de Neve
Ao longo dos séculos, diversos autores apresentaram várias derivações do que seriam a Branca de Neve, a mais marcante e de sucesso junto ao público com certeza é a que a Disney editou em 1937 (baseado no conto dos irmãos Grimm) e a última que passou pelos cinemas no ano de 2012, chamado de Branca de Neve e o Caçador.
Nesta última a história é recontada de maneira bem diferente da nossa inocente menina que tem sua vida modificada pela madrasta; no caso em questão a sucessora de sua mãe dá lugar a uma Bruxa Má que tem como objetivo drenar a beleza de belas jovens para manter-se imortalmente bonita. Ravenna é apresentada como prisioneira de sua própria armação, para conquistar o reino mais próximo, depois de esgotar as fontes de sua última conquista. E, para conseguir ficar pra sempre feliz, precisa de um coração puro, que só, é claro, a Branca de Neve tem e está nesse próximo reino que ela vislumbra conquistar para dar sequência as suas maldades. A reviravolta acontece quando Ravenna ordena que o Caçador leve sua enteada para a floresta e a mate para que possa realizar seu feitiço. No meio da aventura o Caçador cai nas graças de Branca de Neve e se rende a uma paixão que, além de poupar a vida de nossa princesa, ainda faz dela uma invencível caçadora, treinando-a e ajudando a retomar seu reino das mãos da maldade em pessoa, Ravenna. Como pano de fundo, até os sete anões viram cavaleiros e combatem as forças do mal junto com a Branca de Neve e o Caçador.
Já na TV temos a série Once Upon a Time, literalmente “Era uma vez”, que conta a história de Emma Swan, a filha da Branca de Neve que tem como missão salvar o mundo encantado nos tempos atuais da sempre vilã Rainha Má. O diferencial deste enredo está nos acontecimentos após o “final feliz” em que Branca de Neve se casa com o Príncipe Encantado. Após o nascimento de Emma, a Rainha Má lança um feitiço em que transporta todos os seres encantados pro mundo atual, apagando suas memórias e cabe à protagonista reestabelecer os laços entre os seres encantados e o mundo da fantasia.

Quem é Branca de Neve – Caráter, Moral e Sociedade
As personagens apresentadas de diversas formas contrastam com a sociedade diretamente. Antigamente a moça prendada, inocente e pura era tida como a figura exemplar de Branca de Neve que esperava pela salvação (casamento) com seu Príncipe Encantado (rapaz de boa família). Já nas recentes adaptações conseguimos observar a mudança de caráter e atitude, que transforma a jovem frágil em caçadora, que percorre atrás de seu destino e sua felicidade, não espera apenas por ser salva, mas faz a sua salvação em si.
Esse não seria o retrato fiel da mulher contemporânea, que trabalha e tem as rédeas de sua vida?
Branca de Neve é um símbolo de santidade, ingenuidade e beleza. Sempre foi. Talvez, pouquíssimas pessoas da nossa geração – a geração Disney – pensem nela como heroína ou modelo. Com os valores se modificando de uma época para outra, normalmente as mulheres se sentem “Bancas de Neve” quando sofrem injustiças ou querem dar desculpas para um ato totalmente feminino. (Dewet: 2012, p. 6)

Exatamente como no passado, os contos de fadas sofreram com o tempo a evolução que o mundo sofre por si só. Novos valores são lançados e abraçados pela sociedade, mesmo que a forma com que são contados e ambientados no passado, as transcrições são redefinidas de acordo com a demanda do cotidiano.
Os Contos Maravilhosos sempre voltam aos tempos remotos por conta do ambiente mágico que ronda essa era, nada mais que a forma original. É difícil escrever um conto que sobreviva e encante como os de antigamente sem se sustentar no passado.
Contos de fadas sobrevivem talvez porque ainda digam algo que nos interessa. E até hoje nos golpeiam com uma força que parece nos lançar longe. Com alguma sorte, para o melhor da nossa infância. (Pereira Junior: 2012, p. 44)

Branca de Neve e suas características através de releituras
A Branca mais velha, dos contos dos irmãos Grimm, tem como modelo a menina indefesa, pura, ingênua. Ela é desenvolvida na velha história da criança não conversar com estranhos, coisa que ela sempre desobedece e acaba arcando com as consequências de tal ato. Formatada também na figura dependente do homem para sobreviver, logo que uma vez que ela precisa do Príncipe Encantado para ter seu final feliz somo sugere a fábula original.
A irmã do meio, Branca de Neve presente em Once Upon a Time, tem seu formato um pouco alterado da precursora. Em momentos ela até renuncia o Príncipe para ser independente, em outro momento a renúncia vem na forma do amor. Uma história secundária é colocada a cargo do encantado filho do rei que sofre com as maldições da Rainha Má, que está presente como ser onipotente no seriado. O ponto alto da série é dar continuidade à vida da Branca após o final feliz; com o decorrer dos capítulos acompanhamos o nascimento da filha do casal que tem como objetivo salvar o reino dos contos de fadas da imbatível Rainha Má.
Com a irmã mais nova, do filme Branca de Neve e o Caçador, temos a inversão maior de papel visto até hoje. Branca é exilada de seu reino em uma prisão e esquecida por lá até sua adolescência quando Ravenna descobre que precisa do “coração puro” da garota. Até então nenhuma novidade, as mudanças ocorrem mesmo quando Branca se refugia do Caçador em meio à floresta, a compaixão do caçador ao encontrá-la fará com que o rapaz, que assume o papel do príncipe nessa versão, ensine a Branca as artes de ser uma guerreira para que possa retomar seu reino.
Seguindo a linha do tempo das três versões da personagem principal, podemos observar a inversão de valores acompanhando o avanço do tempo em seu próprio tempo. A primeira moçoila era casta, ingênua, pura como em sua época (1857) formada nos valores empregados pela sociedade e religião predominante da época. Com a Branca de Neve do seriado temos uma aparente reviravolta, mas tradicional mudança de caráter e personalidade: ela vive num período recente (2011) tentando manter sua família unida, batalhadora, independente, mas ainda sim dentro dos padrões sociais. Ao final da nossa linha do tempo (2012) nos deparamos com uma guerreira, que não mede esforços pra poder resolver seus problemas sozinha. Lutando contra forças do mal, com o mínimo possível da intervenção masculina, sem a presença de um príncipe encantado, faz seu próprio caminho em busca de seus objetivos.
Podemos concluir que ao longo da história, independente da unidade, Branca de Neve sempre vai representar uma figura forte para a sociedade dentro de sua época, uma personagem formadora de exemplo, encantadora, seja por usa beleza ou atitude, mas que consegue passar a mensagem a qual foi proposta, estando inserida em seu tempo.

Onde tudo é possível
Contos de Fadas ou Contos Maravilhosos são marcados pela lembrança de que é um gênero voltado para crianças, mas como podemos observar no começo desse estudo, muitos dos contos conhecidos hoje passaram por diversas reestruturações em seus matizes e, por fim, perderam algumas de suas características originais. A violência constante nas histórias de gosto popular deu ares à imaginação de maus tratos e fantasia. Ao longo do tempo e a cada releitura, esses mesmos contos, que antigamente eram lidos para todas as faixas etárias, começaram a tomar forma de literatura infantil para que pudessem agregar as ideias sábias das fábulas e, assim, doutrinar as crianças para o caminho certo da vida.
Passado algum tempo, os Contos de Fadas começavam a ganhar visibilidade em suas diversas aparições no cinema e adaptações, gerando assim novos contos. Porém, hoje conseguimos perceber que esse gênero deixou de ser classificado para apenas uma faixa etária, englobando muito mais do que aparenta. Isso é visto pelas diversas interpretações feitas por estudiosos e filósofos que dedicaram um tempo especial na análise dos contos. O mais cabível a se constatar é que os contos foram gerados pela criatividade comum do ser humano no intuito de passar uma mensagem com que fizesse que sua sociedade soubesse conviver em grupo, deixando sentimentos inferiores de lado (ciúmes, ganância, raiva, mediocridade) e seguissem suas vidas harmoniosamente.
Logo podemos endossar a ideia que os Contos Maravilhosos estão presentes para aqueles que se interessam por essas obras, por filmes e adaptações como Branca de Neve e o Caçador, Once Upon a Time e tantos outros que virão; sendo um gênero dedicado a todas as idades, como os próprios produtores declaram que fazer um seriado baseado nos contos de fadas, a liberdade de criação que existe para assim poder alcançar uma variedade maior de público.
Fadas, bruxas, princesas, todos os personagens que ouvimos desde nossa infância e ficam presas em nossa memória desde sempre. Basta ouvir apenas uma vez sobre o mundo encantado ou o mundo do faz-de-conta para nos maravilharmos com a existência de onde tudo é possível e que cada um pode criar seu próprio conto de fada.
Falar que esse gênero literário é recomendado apenas para jovens é um erro irreparável e desrespeitoso com a nossa própria vida. E distancia de tudo que já fomos e crescemos aprendendo. O nosso eu-interior, a nossa eterna criança pode estar maquiada, mas nunca será esquecida e os contos maravilhosos conseguem resgatar o que temos de mais puro assim como a Branca de Neve tem seu bem maior: O Coração Puro.
Em meio à agitada vida que levamos poder nos refugiar num ato tão solene quanto ler um livro é uma dádiva concedida não apenas para nosso entretenimento, mas um ensinamento de pacificação interna que nos foi presentado pelos nossos antepassados com o mesmo objetivo de sempre em acalentar nossas inquietações, daí que vem a tradição de contar histórias para crianças para que elas consigam dormir em paz. Às vezes, o que mais precisamos é de um momento desses, pra dormir em paz e isso, através dos contos, conseguimos com perfeição ao ler uma fábula em que temos um final feliz.

Referências
CALLARI, Alexandre (org.). Branca de Neve - os contos clássicos. São Paulo: Generale, 2012.

COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas: símbolos mitos arquétipos. São Paulo: DCL, 2003.

DEWET, Babi. Prefácio. In: CALLARI, Alexandre (org.). Branca de Neve - os contos clássicos. São Paulo: Generale, 2012.

GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do Conto. São Paulo: Editora Ática, 2002.

HOROWITZ, A.; KITSIS, E. Once Upon A Time. Estados Unidos, ABC, 2011. 1 seriado (42 min), colorido.

MACHADO, Ana Maria (org.). Contos de fadas: de Perrault, Grimm, Andersen e outros. [tradução de: Maria Luiza X. de A. Borges] Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa Pereira. Fada é a Vovozinha. Metáfora 10. São Paulo: Editora Segmento: 2012. pp. 38-45.

SANDERS, Rupert. Branca de Neve e o Caçador. Estados Unidos, Universal Pictures, 2012. 1 filme (127 min), colorido.