*Joézio L. dos Anjos

Aos vinte anos de idade acredita-se na possibilidade de solução dos problemas socioambientais do Planeta apenas com ideologia. Dos quarenta em diante a maturidade vem acompanhada de desilusão e acomodação sobre tais assuntos.

Questões ambientais como mudanças climáticas e poluição das águas dos rios e dos oceanos têm resoluções, aparentemente, distantes das mentes e mãos das pessoas comuns. Porém, há formas simples e concretas ao alcance de todos os interessados, que podem promover avanço ambiental considerável por meio de boas práticas ecológicas em casa e no trabalho.

O avanço das cidades sobre áreas verdes tem sido rápido e insano, acompanhando o crescimento populacional acelerado. Na rota do "progresso", a lei é "urbanizar', cimentar. O "status" financeiro das pessoas é proporcional ao tamanho daárea construída, acúmulo de móveis e ostentação nas casas.Não se observava circulação de vento, claridade, e muito menos presença de áreas verdes nas residências. As construções se assemelham a sepulcros suntuosos pelo aspecto fechado e azulejado. Também nas empresas os ambientes internos são lúgubres, acarpetados e com cortinas bloqueando a luz natural.

 Porém, já há predominância na sociedade de uma nova proposta. Valorizam-se aspectos socioambientais, melhoria das relações interpessoais e com a Natureza. As construções de residências e empresas visam internamente mais espaço, claridade e simplicidade, e externamente, bem-estar por meio de áreas verdes bem cuidadas. É a era de atitudes mais equilibradas voltadas para o respeito às questões socioambientais.

 Nesse sentido, há várias possibilidades de boas práticas ecológicas que fazem bem a todos os seres vivos, mesmo nos exíguos espaços deixados nas residências e empresas. Com certeza, essas práticas podem contribuir para a beleza, equilíbrio e bem-estar de todos. A jardinagem deve estar presente nos mínimos espaços por quebrar a monotonia do cimento e propiciar satisfação e atração às pessoas, aves e insetos benéficos.

Nas áreas externas das residências, sempre que possível, deve-se cultivar plantas com flores coloridas e ricas em néctar para atraírem beija-flores, borboletas, mangangás; mamoeiros com frutos e outros tipos de alimentos para alimentação de pássaros nativos. Também a inflorescência de gramíneas atrai bandos de pássaros silvestres que vagam pelas cidades, em êxodo rural. Deve-se colocar vasilhas ("piscinas") com água (retirar toda noite - evita dengue), diariamente, favorecendo o cinematográfico banho dos pássaros, principalmente na época seca. Embora não muito ecológico, pode-se atrair as beija-flores por meio de água com açúcar, renovada diariamente para não provocar doenças.

 Deve-se reservar nas casas um pequeno espaço externo com canteiros ou outros recipientes para reciclar os resíduos orgânicos da cozinha – cascas de frutas, verduras, cascas de ovo trituradas, lenço de papel etc. Essa reciclagem quando auxiliada pelas minhocas resultam em adubo orgânico de alta qualidade para uso no jardim e/ou horta. Além da produção caseira de adubo fica na consciência das pessoas a certeza de que os resíduos orgânicos domésticos ( 60% do lixo doméstico) não irão provocar poluição do solo e água nos lixões.

 Diminuir o uso de sacos plásticos substituídos por bolsas de pano e cestas, nas compras em supermercados e feiras. Pode-se também substituir os sacos plásticos utilizados nos banheiros por sacos feitos de folhas de jornais usados, método prático e eficiente.

 Evitar o desperdício de água utilizando controladores de fluxo nas mangueiras para lavar carros com moderação, nunca utilizar aspersores nos jardins, reutilizar sempre água da máquina de lavar roupas para limpeza dos pátios. Colocar torneiras modernas nas cozinhas e banheiros. Se possível economicamente, deve-se substituir descargas antigas de banheiro por conjunto de vasos sanitários modernos cujas descargas são de 6 L e não de 20 L ou mais .

 Lembrar que a reciclagem de garrafas PET de maneira geral apenas adia a chegada dos plásticos na Natureza. O ideal mesmo é evitar. Por exemplo, quem toma refrigerantes deve adquiri-los em recipientes de vidro (Cascos reutilizáveis) ou latas de alumínio (95% são recicladas). Melhor ainda para a saúde é retornar ao hábito de consumir suco de frutas tropicais, uma da grandes riquezas do Brasil.

 Várias das boas práticas comentadas podem ser realizadas tanto nas residências como nas empresas. Se houver atenção para a questão ambiental, é certeza encontrar saída e estar sempre aprimorando as boas práticas. As empresas modernas devem ter na agenda trabalho sério e participativo com os empregados sobre boas práticas ecológicas.

As empresas devem ter banheiros com vasos sanitários e torneiras modernas voltados para a economia de água, fazer captação de água da chuva com reservatórios, ter posto de lavagem de carro mais moderno e com sistemas de reutilização de água, etc.

A gestão ambiental nas empresas com nivelamento para todos os empregados, em todas as áreas, deveria ser prioridade.

 Na Embrapa Tabuleiros Costeiros há dois exemplos interessantes. A substituição de piquetes (marcadores de áreas no campo), que eram retirados da Mata Atlântica, por outros de bosques artificiais de leucena ou gliricídia (leguminosas) cultivadas no próprio campo experimental. Ocorre também na Unidade a reciclagem de resíduos sólidos inertes (papelão, plásticos etc) em parceria com cooperativa de catadores.

 A humanidade avançou em tecnologias apropriadas ao seu bem-estar mas com reflexos desfavoráveis ao meio ambiente. Ainda há tempo para reversão com sabedoria, a exemplo de uso de tecnologias para a despoluição dos rios e transformação de resíduos orgânicos em adubos e energia, dentre outras. È tempo de priorizar os cinco R's – repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar.


 * Joézio L. dos Anjos é engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Aracaju, Sergipe