Sem o fantasma de quebradeira e risco de inadimplência que assustou o mercado financeiro nos últimos meses, os bancos retomaram a acirrada disputa pelo financiamento de carros zero-quilômetro.

Desde a semana passada, várias instituições anunciaram redução dos juros e ampliação de prazos em até 72 meses. Na manhã do dia 27 de maio, foi a vez do Bradesco, responsável por 25% dos financiamentos de carros novos no País, lançar planos em até 80 meses. O mercado praticamente volta às condições oferecidas antes da crise, quando a maior parte das ofertas era de até 84 parcelas. Algumas financeiras chegaram a trabalhar com 99 meses, mas houve pouca adesão de clientes.

Na semana anterior, Itaú Unibanco e Santander já haviam estendido os prazos máximos para compra de veículos para 72 meses. Já o Banco do Brasil ampliou em R$ 13 bilhões a oferta de linhas para pessoas físicas. O próprio Bradesco elevou de 25 para 30 anos as parcelas para a compra da casa própria no início dessa semana, além de reduzir os juros dessas linhas. Medidas essas já analisadas em artigo anterior.

Até agora os bancos das montadoras ainda não aderiram a essa tendência, mas devem segui-la em breve, admite a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Segundo a entidade, os bancos filiados à entidade operam com prazo máximo de 60 meses, "mas a maioria deve seguir o caminho da ampliação."

Ainda segundo a Anef os juros hoje estão até mais baixos que os cobrados no período pré-crise, entre junho e julho, de 1,63% ao mês. No meio da crise, passou a 1,8% e, em março passado, estava em 1,65%. "Certamente quando divulgarmos um novo balanço já estará abaixo disso."

O motivo para essa corrida dos bancos para oferecer as melhores condições aos clientes é a maior previsibilidade da economia, que permite ampliar a oferta de crédito com mais segurança.

Além da ampliação dos prazos, o Bradesco também reduziu os juros. A taxa mínima caiu de 1,52% para 1,20% ao mês. A mudança é representativa, pois hoje 48% dos veículos novos comercializados são financiados e entre 15% e 20% das operações costumam ser tomados no prazo máximo oferecido. O grau de restrições para financiamentos de carros zero também diminuiu. Na crise, as financeiras exigiam o comprometimento máximo de 10% da renda do cliente com as parcelas. Hoje, a exigência voltou aos 30% exigidos antes da crise.

Segundo o Bradesco além do cenário econômico estar menos turbulento, os atrasos já estão estabilizando: "A inadimplência ainda carrega um pouco de sujeira de períodos anteriores, mas dados recentes já dão um pouco mais de conforto".

Com a melhora da atividade econômica, do comportamento do consumidor, com os índices de inadimplência dando sinais de que podem retroceder dos sucessivos aumentos que tiveram e a não elevação do nível desemprego o cenário atual é de mais otimismo e, por isso, o banco decidiu retomar prazos mais longos. Por isso também, a tendência de alongar os prazos que vem sendo verificada nos grandes bancos deverá ser seguida por outras instituições, incluindo as de menor porte.

De fato, a situação de inadimplência nas carteiras de pessoas físicas continua dando sinais de melhora. Os atrasos acima de 90 dias recuaram de 8,4% para 8,2% entre março e abril, segundo dados do Banco Central. Além disso, os atrasos entre 15 a 90 dias também recuaram, de 7,5% para 7,4%, indicando que o crescimento começou a perder força.

Na avaliação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), com o aumento do nível de exigência para conceder crédito por parte dos bancos, além da retomada da economia mais intensa nos próximos meses, os calotes podem recuar a partir do segundo semestre.

De acordo com ACSP, a faixa de renda mais crítica ainda está no patamar entre três e dez salários mínimos, por conta do desemprego e da queda na renda, que ainda podem se refletir no consumo e nos atrasos: "Ainda vamos ter crescimento da inadimplência nos próximos meses, mas nada explosivo, podendo se acomodar no segundo semestre".

Segundo dados da ACSP, cerca de 10% das pessoas que saem dos cadastros negativos em renegociações de débitos, voltam a ser negativas em um mês. Esse percentual sobe para 50% em 12 meses, ou seja, metade das pessoas que renegociaram suas dívidas, voltou a ficar inadimplente em um ano.
 
Bibliografia  
Jornal Valor Econômico de 28 de maio de  2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 28 de mai de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 28 de maio de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 28 de maio de 2009