1. INTRODUÇÃO Grande parte da energia consumida no mundo é obtida a partir do petróleo, carvão e gás natural. Mas um fato que poucos levam em consideração é que a energia fóssil não é renovável, é finita e emite gases que causam danos em proporções catastróficas ao meio ambiente. Com todos os problemas apresentados pelos combustíveis fósseis, sobretudo sua impossibilidade de renovação e o alto nível de emissão de poluentes, há uma motivação ao desenvolvimento de tecnologias que permitam utilizar fontes renováveis de energia. Com tudo isso, os óleos vegetais aparecem como uma fonte alternativa de combustível. O uso de óleos vegetais em motores de combustão interna não é novidade. Em 1900, Rudolf Diesel (1858 - 1913), inventor do motor do ciclo diesel, utilizou óleo de amendoim para demonstrar seu invento em Paris (RABELO, 2001 e DEMIRBAS, 2003). O uso do óleo vegetal, como uma alternativa renovável de combustível para competir com o óleo diesel, foi proposto no começo de 1980. O estudo mais avançado com o óleo de girassol aconteceu na África do Sul, por causa do embargo do óleo diesel. A primeira Conferência Internacional em Plantas e Óleos Vegetais foi organizado em Fargo, Dakota do Norte, em agosto de 1982 (FANGRUI, 1999). Os óleos vegetais apresentam diversas vantagens em relação ao diesel, podendo ser citadas as seguintes: líquido natural, renovável, alto valor energético, baixo conteúdo de enxofre, baixo conteúdo aromático e biodegradável. A utilização direta de óleos vegetais em motores a diesel é muito problemática. Estudos efetuados com diversos óleos vegetais mostraram que a sua combustão direta conduz a uma série de problemas: carbonização na câmara de injeção, resistência à ejeção nos segmentos dos êmbolos, diluição do óleo do cárter, contaminação do óleo lubrificante, dentre outros. As causas destes problemas foram atribuídas à polimerização dos triglicerídeos, através das suas ligações duplas, que conduzem à formação de depósitos. A baixa volatilidade e a alta viscosidade são as razões principais pelas quais os óleos vegetais ou gorduras são transesterificados a Biodiesel. A alta viscosidade conduz a problemas na atomização (divisão de 1 cm³ de óleo em 10 milhões de partículas) do combustível (KNOTH e STEIDLEY, 2005). A diferença nas propriedades entre os óleos vegetais e o diesel resulta principalmente da diversidade molecular entre esses dois grupos de substâncias. Os óleos vegetais são triésteres da glicerina, ou seja, produtos naturais da condensação da glicerina com ácidos graxos, cujas cadeias laterais de ácidos graxos têm números de carbono variando entre dez e dezoito, com valor médio de quatorze a dezoito para os tipos de óleos mais abundantes. O diesel é constituído de hidrocarbonetos com número médio de carbonos em torno de quatorze. Além da presença do grupamento funcional do tipo éster, os óleos vegetais possuem peso molecular cerca de três vezes maior que o diesel (RAMOS, 1999). O Biodiesel foi definido pela "National Biodiesel Board" dos Estados Unidos como o derivado monoalquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes renováveis como óleos vegetais ou gordura animal, cuja utilização está associada à substituição de combustíveis fósseis em motores de ignição por compressão (NATIONAL BIODIESEL BOARD, 1999). O Biodiesel necessita de algumas características técnicas que podem ser consideradas indispensáveis, como: a reação de transesterificação deve ser completa, acarretando ausência total de ácidos graxos remanescentes; e o biocombustível deve ser de alta pureza, não contendo traços de glicerina, de catalisador residual ou de álcool excedente da reação. Pode-se dizer que, enquanto produto, o Biodiesel tem as seguintes características: é virtualmente livre de enxofre e aromáticos; tem número de cetano equivalente ao diesel; possui teor médio de oxigênio em torno de 11% ; possui maior viscosidade e maior ponto de fulgor que o diesel convencional; possui um nicho de mercado específico, diretamente associado às atividades agrícolas; diminui a poluição ambiental. A utilização de Biodiesel gera uma série de vantagens ambientais, econômicas e sociais. Estudos demonstram que a substituição do óleo diesel mineral pelo Biodiesel resulta em reduções de emissões no meio ambiente de 20% de enxofre, 9,8% de anidrido carbônico, 35% de hidrocarbonetos não queimados, 55% de material particulado e 78% de gases do efeito estufa e 100% de compostos sulfurados e aromáticos. Em se tratando de Brasil, o país poderia enquadrar o Biodiesel nos acordos estabelecidos no Protocolo de Quioto e nas diretrizes dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), já que existe a possibilidade de venda de cotas de carbono através do Fundo Protótipo de Carbono, pela redução das emissões de gases poluentes e também créditos de "seqüestro de carbono", através do Fundo Bio de Carbono, administrados pelo Banco Mundial (FERRARI, 2005). 2. O BIODIESEL 2.2. Uma visão geral Cada vez mais o preço da gasolina, diesel e derivados de petróleo tendem a subir. A cada ano o consumo aumenta e as reservas diminuem. Além do problema físico, há o problema político: a cada ameaça de guerra ou crise internacional, o preço do barril de petróleo dispara. O efeito estufa e a queima de derivados de petróleo contribuem para o aquecimento do clima global por elevar os níveis de CO2 na atmosfera (para cada 3,8 litros de gasolina que um automóvel queima, são liberados 10 kg de CO2). Uma solução para esse problema seria o uso de combustíveis obtidos a partir de matéria vegetal, isso porque essa matéria possui um baixo teor de enxofre e baixo conteúdo de compostos aromático. Existem pelo menos cinco alternativas de combustíveis obtidos de biomassa potencialmente capazes de fazer funcionar motores de ignição por compressão (motores diesel), mas apenas uma dessas, mediante experimentos, tem se mostrado mais viável quando se leva em consideração diversos fatores e essa alternativa é o Biodiesel. Dentro da legislação brasileira, de acordo com a portaria nº 255/2003, o Biodiesel foi definido como um combustível composto de mono ? alquilésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais e designado B100 (ANP, 2007). Biodiesel é o nome de um combustível alternativo de queima limpa, ou seja, não emite certas substâncias nocivas ao homem e à natureza, como ocorre com o petróleo ao ser queimado. Porém, o Biodiesel pode ser adicionado ao petrodiesel, mais especificamente ao óleo diesel comum que contem um baixo teor de enxofre, formando uma mistura que confere a este melhores características de lubrificante e diminui a emissão de poluentes. A mistura aprovada para ser utilizada até 2008 é de 2%; a partir de 2008 essa mistura ao diesel será obrigatória, passando a ser facultativa a mistura de 5%. O uso dos ésteres em misturas numa proporção de 5 a 8% é vista como uma ótima alternativa para reconstituir a lubricidade e diminuir, consideravelmente, as emissões de vários poluentes (PARENTE, 2003). Mundialmente passou-se a adotar uma nomenclatura bastante apropriada para identificar a concentração do Biodiesel na mistura. É o Biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em volume do Biodiesel à mistura. Por exemplo, o B2, B5, B20 e B100 são combustíveis com uma concentração de 2%, 5%, 20% e 100% de Biodiesel, respectivamente. O Biodiesel é considerado um combustível ecológico, pois não é tóxico e essencialmente livre de compostos sulfurados e aromáticos. Como se trata de uma energia limpa, não poluente, o seu uso num motor diesel convencional resulta, quando comparado com a queima do diesel mineral, numa redução substancial de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos não queimados. Este biocombustível pode oferecer diversas vantagens: é um ótimo lubrificante e pode aumentar a vida útil do motor; tem risco de explosão baixo, pois precisa de uma fonte de calor acima de 150ºC para explodir; é de fácil transporte e fácil armazenamento, devido ao seu menor risco de explosão; seu uso como combustível proporciona ganho ambiental para todo o planeta, pois colabora para diminuir a poluição e o efeito estufa; é uma fonte limpa e renovável de energia que vai gerar emprego e renda para o campo; é um combustível renovável, enquanto que o petróleo leva milhões de anos para se formar e se esgotará; substitui o diesel nos motores sem necessidade de ajustes; o produtor rural estará produzindo o combustível usado na sua maquinaria. Para o Brasil, o Biodiesel trará também importância bastante significativa, pois o país abriga o maior território tropical do planeta, com solos de alta qualidade que permitem uma agricultura autossustentável do plantio direto e topografia favorável à mecanização. E como nação mais rica do mundo em água doce, com clima e tecnologia apropriada, poderão ser produzidas até duas safras ao ano (BRASILECODIESEL, 2007). Dentre as desvantagens do Biodiesel, pode ser citado o grande volume de glicerina produzido como subproduto. Isso fará com que está substância tenha preço de mercado muito inferior ao atual. Todo o mercado de óleos-químicos poderá ser afetado. No entanto, ainda não há uma visão clara sobre os possíveis impactos desta grande oferta de glicerina. 2.2.1. Especificação do Biodiesel A especificação do Biodiesel destina-se a garantir a sua qualidade e é pressuposto para se ter um produto adequado ao uso. O Biodiesel terá qualidade quando for adequado ao uso a que se propõe (ANP, 2005). As especificações das normas estão relacionadas a dois grupos de padrões: de identidade e de qualidade. Os padrões de identidade indicam se o produto está ou não adulterado e os padrões de qualidade dizem respeito ao uso do produto (GEUZA, 2006). A especificação do Biodiesel no Brasil ficou a cargo da Agência Nacional do Petróleo. Até o momento, foram editadas duas portarias sobre o Biodiesel: a portaria nº 240, que trata do uso de combustíveis não especificados, ou seja, aqueles cujas características não estão definidas por dispositivos legais expedidos pela ANP; e a portaria nº 255, que trata da especificação técnica do Biodiesel puro a ser adicionado ao diesel mineral (ANP, 2005). 2.2.2. Programa brasileiro de obtenção do Biodiesel O Biodiesel passou a fazer parte realmente da matriz energética brasileira a partir da Lei nº 11097, de 11 de janeiro de 2005, que o institui no Brasil. Em 20/10/1980, foi lançado pela Universidade Federal do Ceará, pelo professor Expedito Parente, o que foi denominado na época de PRODIESEL. Esse projeto esteve arquivado até 2002 por razões de desinteresse da Petrobras. A partir daquele ano surgiram novamente discussões para se implantar a produção de um substituto para o petróleo (PARENTE, 2003). O uso do Biodiesel como combustível poderá se tornar um apoio às políticas governamentais na área social e ambiental, tendo em vista a contribuição que este combustível poderá representar para a atividade econômica do país (GEUZA, 2006). No Brasil, os estudos acerca de combustíveis alternativos iniciaram na década de 70, com a experiência do Proálcool, o qual foi implementado em razão do choque do petróleo (GEUZA, 2006). 2.3. Processo de obtenção do Biodiesel Os procedimentos relativos à preparação da matéria-prima para ser transformada em Biodiesel visam fornecer as melhores condições para que a reação de transesterificação seja a mais eficaz possível, aproveitando o máximo a matéria prima. Inicialmente é necessário que esta passe por um processo de neutralização utilizando-se hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio, isso é necessário porque a matéria-prima deve possuir, segundo normas da ANP, uma acidez menor que 2,0 mg KOH/g de óleo e teor de umidade abaixo de 0,5%. O tipo e a complexidade do tratamento vão depender da natureza e das condições desta matéria-prima utilizada (GEUZA, 2006). Após a transesterificação a mistura reacional final é constituída de duas fases, separáveis por decantação ou por centrifugação. A fase mais densa é composta de glicerina bruta, impregnada de álcool que é utilizado em excesso devido ao caráter reversível da reação de transesterificação, de água e de impurezas que fazem parte da matéria prima. A fase menos densa é constituída de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos, conforme a natureza do álcool originalmente adotado. Esta fase também é impregnada de excessos reacionais de álcool e de impurezas. Os ésteres obtidos no processo devem ser purificados por centrifugação e desumidificados posteriormente, resultando finalmente no Biodiesel que também é conhecido como éster metílico. Este deverá ter suas características enquadradas nas especificações das normas técnicas estabelecidas para o Biodiesel como combustível. 2.4. Reação de transesterificação Enquanto combustível, o Biodiesel necessita de algumas características técnicas imprescindíveis: a reação de transesterificação deve ser completa, acarretando ausência total de ácidos graxos; o biocombustível deve ser de alta pureza, não contendo traços de glicerina, de catalisador ou de álcool excedente da reação. O processo de transesterificação é a reação de um lipídeo com um álcool para produzir um éster e um coproduto, o glicerol. A transesterificação é uma seqüência de reações reversíveis e consecutivas, em que os monoglicerídeos e os diglicerídeos aparecem como intermediários (PARENTE, 2005). Na prática, é sempre utilizado um excesso de álcool de modo a aumentar o rendimento em éster e permitir a separação do glicerol formado (BIODIESEL.GOV, 2007). A literatura descreve que a reação de transesterificação sofre os efeitos das variações causadas pelo tipo e pelas proporções necessárias de álcool, por diferentes catalisadores, pela quantidade de catalisadores, pela agitação da mistura, pela temperatura e pelo tempo de duração da reação, dentre esses efeitos pode ser citada a geração de sabão , ou seja, a ocorrência de saponificação. A reação de transesterificação pode ocorrer tanto em meio ácido como em meio básico, mas a mesma ocorre de maneira bem mais rápida em meio alcalino (RABELO, 2001). Com relação aos álcoois utilizados na reação de transesterificação, devem ser utilizados especialmente álcoois simples, tais como o metanol, o etanol, o propanol, o butanol e o álcool amílico (FREEDMAN, 1984). Dentre os citados, o metanol e o etanol são os mais utilizados, sendo que o metanol é utilizado preferencialmente por razões econômicas e por razões relacionadas ao processo (FREEDMAN, 1984; HATEKEAMA e QUINN, 1994; CONCEIÇÃO, 2005). O metanol, além de ser mais barato que o etanol, é isento de água, possui uma cadeia mais curta e uma maior polaridade. Essa alta polaridade facilita a separação entre o éster e a glicerina (NATIONAL BIODIESEL BOARD, 1988). Apesar das vantagens do metanol sobre o etanol, vale salientar que no Brasil, atualmente, uma vantagem da rota etílica é a oferta desse álcool, de forma disseminada em todo o território nacional. Assim, os custos diferenciais de fretes, para o abastecimento de etanol versus abastecimento de metanol, em certas situações, podem influenciar numa decisão. Realmente, o uso do etanol leva vantagem sobre o uso do metanol, quando o metanol é obtido de derivados do petróleo (PARENTE, 2003). Dentre as matérias-primas mais utilizadas para a produção de Biodiesel figuram os óleos de soja e de girassol e alguns tipos de óleos de frituras, como aqueles derivados do processamento industrial de alimentos para refeições industriais. Outros tipos de óleos vegetais também representam alternativas importantes, como os óleos de babaçu, dendê, mamona, coco, oliva e algodão (FERRARI, 2005). 2.5. Balanço energético do Biodiesel A utilização do Biodiesel depende, entre outros fatores, de uma relação positiva entre a energia consumida no processo de produção, e a energia disponibilizada pelo combustível produzido. É fundamental ter um balanço energético positivo para a utilização racional de derivados de biomassa como combustíveis (BIODIESELBR). Por exemplo, estudos detalhados de custos energéticos conduzidos para o etanol, no contexto brasileiro, indicam que para cada unidade de energia investida na agroindústria canavieira, são produzidas cerca de 8,3 unidades de energia renovável. Comparativamente, nos EUA o etanol tem uma relação de apenas 1,3 (BIODIESELBR). No Brasil, alguns estudos precursores do balanço energético na produção de Biodiesel foram realizados nos anos 80. Avaliando o Biodiesel de soja, determinou-se uma relação produção/consumo de 1,42. Uma avaliação preliminar mais recente para o Biodiesel de soja, sem ter em conta os subprodutos, estimou uma demanda energética de 30 MJ por litro de Biodiesel, resultando em uma relação produção/consumo de 1,43 (BIODIESELBR). Outros estudos chegaram a um balanço energético de aproximadamente 5,6 para o óleo de dendê, e de 4,2 para a macaúba, o que confirma o potencial das palmáceas como fonte de matéria-prima, ou seja, maior produtividade e disponibilidade de resíduos de valor energético (BIODIESELBR). O Brasil dispõe de poucos estudos sobre o balanço energético do Biodiesel. O tema é importante e deve ser melhor explorado para fundamentar decisões corretas (BIODIESELBR). 3. OBTENÇÃO DO BIODIESEL A obtenção do Biodiesel se dá a partir de óleos vegetais procedentes do esmagamento de sementes de vários tipos de oleaginosas, principalmente mamona e soja. A síntese do Biodiesel pode ocorrer principalmente por meio de duas rotas, a metílica e a etílica. Dentre essas a mais utilizada é a metílica devido ao baixo custo e a alta produção quando comparada com as demais. 3.1. Biodiesel na rota metílica (processo industrial) Inicialmente prepara-se a solução catalisadora, que tanto pode ser metóxido de potássio como metóxido de sódio. Esse processo ocorre quando se mistura 5000 L de metanol com 530 kg de hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. Toda essa mistura tem que passar por um processo de agitação, durante 30 minutos, a uma temperatura aproximada de 40ºC, para que ocorra a dissolução total do hidróxido de sódio ou do hidróxido de potássio. Ao término da agitação, uma amostra do catalisador deverá ser levada para análise da densidade e da concentração. Se os testes constatarem que a solução está dentro dos padrões exigidos, a mesma será liberada para uso na obtenção do Biodiesel (TECBIO, 2006). A próxima fase nesta rota será a transesterificação, que por sua vez se divide em duas partes, a transesterificação 1 e a transesterificação 2. A transesterificação 1 é a etapa onde 8500 L de óleo vegetal são adicionados a volumes de metanol e catalisador que podem variar de acordo com a concentração de KOH ou NaOH (TECBIO, 2006). Na transesterificação 2 já se trabalha com Biodiesel. Nessa fase 8000 L do Biodiesel obtido anteriormente serão misturados com um volume de metanol e catalisador estipulados pelo laboratório. Isso é feito para corrigir a acidez ou outros problemas relacionados às propriedades químicas do Biodiesel (TECBIO, 2006). Ao término da transesterificação, a mistura é transferida para sistemas onde ocorre a separação das fases por decantação. A fase superior, mais leve, é constituída em sua maior parte de uma mistura de estéres metílicos. A segunda fase é rica em glicerina, mais densa e mais escura (TECBIO, 2006). O próximo passo é a lavagem do Biodiesel, que pode ser feita com água ou com MAGNESOL (um pó de silicato de magnésio que adsorve contaminantes). A lavagem do Biodiesel é realizada para remover resíduos de catalisador, álcool, sabões e outros contaminantes. Logo após a lavagem o Biodiesel tem que ser desumidificado. O processo de desumidificação deixa um resíduo de água igual a 0,5%, para isso ocorrer o produto tem que ser aquecido a 95ºC e logo após expandido em um tanque sob vácuo. O Biodiesel seco é então encaminhado para a filtragem ( TECBIO, 2006). A filtração é o último passo antes da obtenção do B100. Esse processo, além de retirar partículas sólidas presentes, realiza o polimento do Biodiesel, retirando partículas microscópicas. Na filtração também serão reduzidos o índice de glicerina livre e combinada, água e outras impurezas (TECBIO, 2006). 3.2. Caracterização físico-química do Biodiesel As análises do óleo são realizadas de acordo com as normas da AOCS (American Oil Chemists Society). As análises do Biodiesel puro (B100) são realizadas de acordo com as normas da American Society of Testing and Materials (ASTM) e Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) indicadas pela Resolução no 42 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). 3.2.1. Índice de acidez O índice de acidez revela o estado de conservação do óleo e é definido como o número de mg de hidróxido de potássio necessário para neutralizar os ácidos livres de 1,0 g da amostra. A decomposição dos glicerídeos é acelerada por aquecimento e pela luz, e a rancidez é quase sempre acompanhada pela formação de ácido graxo livre (DANTAS, 2006). Altos índices de acidez têm um efeito bastante negativo sobre a qualidade do óleo, a ponto de torná-lo impróprio para a alimentação humana ou até mesmo para fins carburantes. Além disso, a pronunciada acidez dos óleos pode catalisar reações intermoleculares dos triacilgliceróis, ao mesmo tempo em que afeta a estabilidade térmica do combustível na câmara de combustão. Também, no caso do emprego carburante do óleo, a elevada acidez livre tem ação corrosiva sobre os componentes metálicos do motor (DANTAS, 2006). 3.2.2. Ácidos graxos livres O método determina a porcentagem de ácidos graxos livres, expressa como ácido oléico, em óleos comuns, brutos e refinados. Determina a qualidade do óleo para consumo ou como carburantes (ALBUQUERQUE, 2006). 3.2.3. Índice de saponificação O índice de saponificação definido como o número de mg de hidróxido de potássio necessário para neutralizar os ácidos graxos, resultantes da hidrólise de um grama da amostra, é inversamente proporcional ao peso molecular médio dos ácidos graxos dos glicerídeos presentes. É importante, para demonstrar a presença de óleos ou gorduras de alta proporção de ácidos graxos de baixo peso molecular, em mistura com outros óleos e gorduras (FERRARI, 2005). 3.2.4. Glicerina livre A amostra contendo a glicerina é saponificada, liberando a glicerina da sua forma de éster. Em seguida a glicerina é separada da parte graxa, por extração com água acidulada (AZEVEDO, 2005). 3.2.6. Teor de enxofre O teor de enxofre (S) é determinado segundo a norma ASTM D4294 da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A importância da determinação de enxofre é que na combustão, o enxofre se converte nos óxidos de enxofre (SO2 e SO3) e se os gases condensarem em superfícies frias ocorre uma corrosão forte pelos ácidos que se formam (ANP, 2007). 3.2.7. Índice de iodo O índice de iodo indica o grau e a quantidade de insaturação em condições específicas de ensaio. O índice de iodo corresponde ao número de centigramas de iodo que 1 g da amostra pode absorver. A fixação de iodo e de outros elementos faz-se sempre ao nível das duplas ligações dos ácidos graxos insaturados. 3.3. Propriedades físicas e químicas do Biodiesel Independente da natureza da matéria prima e do agente de transesterificação, se etanol ou metanol, as características físicas e químicas do Biodiesel são semelhantes entre si, isto é, tais características são quase idênticas (AZEVEDO, 2005). O Biodiesel natural do óleo de mamona foge um pouco dessa regra, no que diz respeito à viscosidade. No entanto, as demais propriedades são inteiramente equivalentes. Entretanto, o uso do Biodiesel de mamona em misturas com óleo diesel mineral corrige tal distorção. Além disso, estudos mostram que a lubricidade do Biodiesel de mamona é a maior, quando comparada com a de outros produzidos a partir de outras matérias primas (AZEVEDO, 2005). 3.3.1. Propriedades físicas a) Viscosidade e densidade - As propriedades fluidodinâmicas de um combustível, importantes no que diz respeito ao funcionamento de motores de injeção por compressão, são a viscosidade e a densidade. Tais propriedades exercem uma grande influencia na circulação e na injeção do combustível (AZEVEDO, 2005). O Biodiesel possui propriedades fluidodinâmicas semelhantes as do óleo diesel mineral, significando, assim, que não é necessário qualquer adaptação ou regulagem no sistema de injeção dos motores (AZEVEDO, 2005). b) Lubricidade - A lubricidade é uma medida do poder de lubrificação de uma substância, sendo uma função de várias outras de suas propriedades físicas, destacando a viscosidade e a tensão superficial (AZEVEDO, 2005). c) Ponto de névoa e de fluidez - O ponto de névoa é a temperatura em que o líquido, por refrigeração, começa a ficar turvo, e o ponto de fluidez é a temperatura em que o líquido não mais escoa livremente (AZEVEDO, 2005). Tanto o ponto de fluidez como o ponto de névoa variam segundo a matéria prima que deu origem ao Biodiesel, e ainda depende do tipo de álcool utilizado na reação de transesterificação (AZEVEDO, 2005). Estas propriedades são consideradas importantes no que diz respeito à temperatura ambiente onde o combustível deva ser armazenado e utilizado (AZEVEDO, 2005). d) Ponto de fulgor - É a temperatura em que um líquido se torna inflamável na presença de uma chama ou faísca. O ponto de fulgor do Biodiesel, se completamente isento de metanol ou etanol, é superior à temperatura ambiente, significa que o combustível não é inflamável nas condições normais onde ele é transportado, manuseado e armazenado, servindo inclusive para ser utilizado em embarcações (AZEVEDO, 2005). e) Poder calorífico - De um combustível indica a quantidade de energia desenvolvida por esse combustível durante sua queima, ou seja, o poder de combustão durante o funcionamento do motor (ALBUQUERQUE, 2005). O poder calorífico do Biodiesel é muito próximo ao do óleo diesel mineral. A diferença média em favor do óleo diesel do petróleo situa-se na ordem de somente 5%. Entretanto, com uma combustão mais completa, o Biodiesel possui um consumo específico equivalente ao diesel mineral (AZEVEDO, 2005). f) Índice de cetano - O índice de octano mede a resistência de um combustível a auto-inflamar-se. Quanto mais elevado for o índice, mais resistente é o combustível à detonação. O índice de octano ou octanagem dos combustíveis está para motores do ciclo otto, da mesma forma que o índice de cetano ou cetanagem está para os motores do ciclo diesel. Portanto quanto maior for o índice de cetano de um combustível, melhor será a combustão desse combustível num motor diesel (AZEVEDO, 2005). O cetano recebe arbitrariamente o índice 100. O índice de cetano médio do Biodiesel é 60, enquanto para o óleo diesel mineral a cetanagem situa-se entre 48 e 52, bastante menor, sendo esta a razão pelo qual o Biodiesel queima muito melhor num motor diesel que o próprio óleo diesel mineral (AZEVEDO, 2005). 3.3.2. Propriedades químicas a) Teor de enxofre - Como os óleos vegetais e as gorduras de animais não possuem enxofre, o Biodiesel é completamente isento desse elemento. Os produtos derivados do enxofre são bastante danosos ao meio ambiente, ao motor e a seus pertences. Portanto, o Biodiesel, por não conter enxofre, é considerado um combustível limpo (AZEVEDO, 2005). b) Poder de solvência - O Biodiesel, sendo constituído por uma mistura de ésteres de ácidos carboxílicos, solubiliza um grupo muito grande de substâncias orgânicas, incluindo-se as resinas que compõem as tintas. Dessa forma, cuidados especiais com o manuseio do Biodiesel devem ser tomados para evitar danos à pintura dos veículos, nas proximidades do ponto ou bocal de abastecimento (AZEVEDO, 2005). 3.4. Glicerina: subproduto do Biodiesel 3.4.1. Perspectivas Os excedentes de glicerina derivada do Biodiesel poderão levar a grandes reduções no preço, eliminando parte da produção de glicerina de outras fontes, hoje de 0,8 a 1,0 M t/ ano. Com as reduções substanciais de preço, deverão também entrar no mercado de outros polióis (poliéteres e poliésteres), em particular o sorbitol ou açúcar de álcool. Buscam-se novas aplicações de grandes volumes para glicerina no mundo, e isto provavelmente se dará nos intermediários para plásticos, como o propanodiol - PDO, contudo não são soluções de curto prazo. O cuidado a ser tomado, juntamente com o desenvolvimento de outros usos, é não usar nos estudos de custos os créditos para glicerina com base nos valores de mercado de hoje (BIODIESELBR, 2007). 3.5. Aplicações do glicerol O Glicerol é a parte hidrofílica que compõe os triglicerídeos. Ele pode ser produzido por via química ou fermentativa e encontra uma centena de aplicações, principalmente na indústria química. Os processos de produção são de baixa complexidade tecnológica (BIODIESELBR, 2007). A produção por síntese microbiana predominou até que a síntese química, de subproduto do propileno, avançou em 1950. Agora, com o declínio na produção de polipropileno, as fermentações voltaram a ocupar espaço no mercado. O mercado de volumes e preços oscilou muito na última década. Entre 1995-2003, os preços oscilaram entre US$ 1.08/ lb e US$ 0.60/ lb, com tendência, nos últimos anos, para US$ 1.00/ lb (BIODIESELBR, 2007). As aplicações principais hoje são: síntese de resinas, ésteres 18%; aplicações farmacêuticas 7%; uso em cosméticos 40%; uso alimentício 24%; outros 11%. A demanda cresce mais nos mercados de uso pessoal e higiene dental, e alimentos, onde o produto tem maior pureza e valor. Corresponde a 64% do total. Em alimentos, a demanda de glicerina e derivados cresce em 4% ao ano. Depois de fortes oscilações na década de 90, desde 2000 o mercado para glicerina volta a crescer. Uma grande fonte agora na Europa e nos Estados Unidos é a glicerina proveniente do Biodiesel (BIODIESELBR, 2007). 3.5.1. Drogas O glicerol é atualmente um dos ingredientes mais utilizados na indústria farmacêutica na composição de cápsulas, supositórios, anestésicos, xaropes e emolientes para cremes e pomadas, antibióticos e antissépticos (BIODIESELBR, 2007). 3.5.2. Cosméticos Por ser não-tóxico, não-irritante, sem cheiro e sabor, o glicerol tem sido aplicado como emoliente e umectante em pastas de dente, cremes de pele, loções pós-barba, desodorantes, batons e maquiagens (BIODIESELBR, 2007). 3.5.3. Outros Pode ainda ser empregado como lubrificante de máquinas processadoras de alimentos, fabricação de tintas e resinas, fabricação de dinamite etc. O glicerol pode ser usado como umectante e para conservar bebidas e alimentos tais como refrigerantes, balas, bolos, pastas de queijo e carne, ração animal seca. Todas estas aplicações utilizam hoje principalmente sorbitol. É possível que o glicerol venha a tomar parte dos mercados de sorbitol, se os preços caírem nos próximos anos em função de superprodução, com o Biodiesel. Outro mercado muito importante, e exclusivo, que provavelmente vai se desenvolver com a maior oferta de glicerol, é a aplicação deste para a síntese de moléculas de alto valor agregado. Entre estas está o PDO (propanodiol), a partir de fermentação do glicerol, para uso em plásticos. Matéria-Prima do futuro para fermentações de: 1,3 propanodiol e dihidroxiacetona (BIODIESELBR, 2007). Se o glicerol tiver um grande crescimento de oferta com redução de preços em função da produção de Biodiesel, e grande parte do mercado de sorbitol for substituído por glicerol nas aplicações de drogas, cosméticos e outros, teríamos uma nova demanda de glicerol estimada em 300 mil t/ano. Muitas aplicações de sorbitol em alimentos poderão ser substituídas pelo glicerol. Do ponto de vista tecnológico, existem poucas aplicações para as quais a glicerina não entraria no mercado de sorbitol (BIODIESELBR, 2007). 4. RELAÇÕES BIODIESEL-MEIO AMBIENTE 4.1. Meio Ambiente O consumo de combustíveis fósseis derivados do petróleo representa um impacto significativo na qualidade do meio ambiente. A poluição do ar, as mudanças climáticas, os derramamentos de óleo e a geração de resíduos tóxicos são resultados do uso e da produção desses combustíveis. As mudanças climáticas e a poluição do ar das grandes cidades são, provavelmente, os mais visíveis impactos da queima dos derivados de petróleo. Os gases que mais influenciam no processo de mudanças climáticas são os chamados gases de efeito estufa (GEE): o vapor d'água (H2O), o dióxido de carbono (CO2), o monóxido de carbono (CO), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozônio (O3) e os clorofluorcarbonos (CFC's). Ao todo, existem mais de setenta GEE?s com diferentes fórmulas químicas, tempo de vida e potencial de aquecimento global. O incremento na concentração do dióxido de carbono, do metano, do óxido nitroso e dos clorofluorcarbonos é responsável por cerca de 90% do aumento do efeito estufa ocorrido até hoje. Esta elevação deve-se ao crescimento da atividade humana, principalmente após a Revolução Industrial. Se forem mantidas as expectativas de desenvolvimento de países do Terceiro Mundo, espera-se, para o futuro próximo, um aumento ainda maior dessas concentrações (CUMMINS, 2007). 4.1.1. Dióxido de carbono, efeito estufa e atmosfera O efeito da maior concentração de gás carbônico (CO2) na atmosfera é um agravamento do originalmente benéfico efeito estufa, isto é, tende a ocorrer um aumento da temperatura maior do que o normal; um aquecimento global (ENERGIA VERDE, 2007). Em outras palavras, a temperatura global tende a subir, podendo trazer graves conseqüências para a humanidade. O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) de 2001 mostrou que o nível total de emissão de CO2, em 2000, foi de 6,5 bilhões de toneladas. Entre 2002 e 2003, a taxa de acumulação de CO2 na atmosfera da Terra aumentou acentuadamente, levantando entre os cientistas o temor de que os efeitos do aquecimento global possam se manifestarem mais rapidamente do que o esperado. Os níveis de CO2 aumentaram mais de 2 ppm ao longo dos biênios 2001/2002 e 2002/2003. Nos anos anteriores, essa taxa de crescimento havia sido de 1,5 ppm, o que já era um fator elevado. As variações grandes na concentração de CO2 estão associadas com picos de atividade industrial, que intensificam a queima de petróleo e derivados, ou a anos de atuação mais intensa do El Niño, quando a liberação de carbono por decomposição de árvores supera a retirada de carbono do ar pela fotossíntese. Entretanto, neste período, o El Niño não esteve ativo, não podendo ser responsabilizado pelo aumento da concentração de CO2 (BIODIESELBR, 2007). 4.2. Protocolo de Quioto, MDL e Crédito de Carbono A preocupação com o meio ambiente levou os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) a assinarem um acordo que estipulasse controle sobre as intervenções humanas no clima. Assim o mercado de "créditos de carbono" nasceu em dezembro de 1997 com a assinatura do Protocolo de Quioto. Este protocolo determina que os países desenvolvidos signatários, reduzam suas emissões de gases de efeito estufa em 5,2%, em média, relativas ao ano de 1990, entre 2008 e 2012. Para tanto, existem algumas alternativas para auxiliá-los ao cumprimento de suas metas, chamadas de mecanismos de flexibilização. Esse período é também conhecido como primeiro período de compromisso. Para não comprometer as economias desses países, o protocolo estabeleceu que, caso seja impossível atingir as metas estabelecidas por meio da redução das emissões dos gases, os países poderão comprar créditos de outras nações que possuam projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional (WIKIPÉDIA, 2007). O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) nasceu de uma proposta brasileira à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC). Trata-se do comércio de créditos de carbono baseado em projetos de seqüestro ou mitigação. O MDL é um instrumento de flexibilização que permite a participação no mercado dos países em desenvolvimento, ou nações sem compromissos de redução, como o Brasil. Os países que não conseguirem atingir suas metas terão liberdade para investir em projetos MDL de países em desenvolvimento. Através dele, países desenvolvidos comprariam créditos de carbono, em tonelada de CO2 equivalente, de países em desenvolvimento responsáveis por tais projetos (BIOBRAS, 2007). Há uma série de critérios para reconhecimento desses projetos, sendo um deles o fato de estarem alinhados às premissas de desenvolvimento sustentável do país hospedeiro, definidos por uma Autoridade Nacional Designada (AND). No caso do Brasil, tal autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança do Clima. Somente após a aprovação pela Comissão, é que o projeto pode ser submetido à ONU para avaliação e registro (BIOBRAS, 2007). A negociação de contratos futuros de crédito de carbono já ocorre na Bolsa de Chicago e em países como Canadá, República Checa, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Noruega e Suécia. Em 2005, também entrou em vigor no mercado regional europeu, batizado de "European Union Emission Trading Scheme" (BIODIESEL.GOV, 2007). O Brasil deve se beneficiar deste cenário como vendedor de créditos de carbono, e também como alvo de investimentos em projetos engajados com a redução da emissão de gases poluentes, como é o caso do Biodiesel. Segundo estimativas do Banco Mundial, o país poderá ter uma participação de 10% no mercado de MDL, equivalente a US$ 1,3 bilhões em 2007 (BIODIESELBR, 2007). Portanto, os benefícios gerados pela produção de Biodiesel no Brasil podem ser convertidos em vantagens econômicas, pelo acordo estabelecido no Protocolo de Quioto e nas diretrizes do MDL. O ganho decorrente da redução da emissão de CO2, por queimar um combustível mais limpo, pode ser estimado em cerca de 2,5 toneladas de CO2 por tonelada de Biodiesel. No mercado europeu, os créditos de carbono são negociados por volta de US$ 9,25 por tonelada. Portanto, 348 mil toneladas de Biodiesel de mamona geram uma economia de 870 mil toneladas de CO2, podendo ser comercializada por US$ 8 milhões (BIODIESELBR, 2007). Outra vantagem que está sendo estudada é a absorção de carbono na atmosfera pela própria plantação de mamona. Uma lavoura de 1,0 hectare de mamona pode absorver até 8,0 toneladas de gás carbônico da atmosfera. Como para a substituição de 1% de diesel mineral são necessários 348 mil toneladas de mamona, são ocupados 740 mil hectares. Ou seja, anualmente poderiam ser absorvidas mais 6,0 milhões de toneladas de carbono pela lavoura de mamona., o que poderia garantir para o Brasil mais US$ 55,5 milhões pela substituição ao diesel mineral. Porém, esse cálculo não pode ser considerado, pois não existem garantias de que esse tipo de seqüestro seja comercializável, dado ao curto ciclo de vida da planta de mamona (BIODIESELBR, 2007). 4.3. Vantagens ambientais do Biodiesel A utilização do Biodiesel como combustível apresenta várias características positivas em relação ao Protocolo de Quioto e às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Contribui com a redução qualitativa e quantitativa dos níveis de poluição ambiental e é um substituto para o óleo diesel e outros derivados do petróleo. Dentre as culturas mais cotadas para serem utilizadas no Brasil pode-se citar o dendê, a mamona, o babaçu, a soja, o amendoim e o girassol (BIODIESEL.GOV, 2007). O Biodiesel permite que se estabeleça um ciclo fechado de carbono, no qual o CO2 é absorvido quando a planta cresce e é liberado quando o Biodiesel é queimado na combustão do motor (ARIOSTO HOLANDA, 2006). Segundo estudos, com esse ciclo fechado estabelecido, o Biodiesel reduz em até 78% as emissões líquidas de CO2 (CUMMINS, 2007). Além disso, o uso desse biocombustível reduz significativamente as emissões dos seguintes compostos para a atmosfera: enxofre em 20%; anidrido carbônico em 9,8%; hidrocarbonetos não queimados em 35%; material não particulado em 55%; gases causadores do efeito estufa de 78% a 100%; compostos sulfurados e aromáticos em 100%. Vale lembrar também que os materiais não particulados são os principais causadores de problemas respiratórios e os compostos sulfurados são os precursores do câncer e da chuva ácida (BIODIESELBR, 2006). Para uma avaliação mais precisa dos benefícios ambientais do Biodiesel, é necessário levar em conta todo seu ciclo de vida, envolvendo a produção de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, preparo do solo, plantio, processo produtivo, colheita, armazenamento, transporte e consumo desse combustível renovável. Quanto ao efeito estufa, deve-se avaliar a quantidade de gases emitida em todas as fases desse ciclo e deduzi-la do volume capturado na fotossíntese da biomassa que lhe serve de matéria-prima (BIODIESELBR, 2007). 4.3.1. Vantagens e equivalência entre Biodiesel e óleo diesel mineral Devido à equivalência das propriedades físico-químicas do Biodiesel e do diesel mineral eles são completamente miscíveis entre si, sendo assim, as misturas de Biodiesel e diesel mineral podem ser empregadas em qualquer proporção. Esta condição é por demais vantajosa, especialmente quando comparada com o álcool hidratado usado como combustível. Uma vez que não são requeridas bombas específicas para os abastecimentos de Biodiesel, nem tampouco motores diferenciados para o uso de um ou do outro combustível, ou de suas misturas. O abastecimento com álcool exige bombas especialmente preparadas para este fim (BIODIESELBR, 2007). 4.3.2. Valoração dos custos evitados da poluição pela substituição do diesel mineral pelo Biodiesel O exercício de valoração dos custos evitados da poluição, devido ao uso do Biodiesel, apresenta o objetivo de oferecer elementos que justifiquem uma política tributária, ou mesmo de subsídios, que internalize os benefícios ambientais existentes. Caso o diesel convencional seja substituído pelo B5, os custos evitados com a poluição estariam em torno de R$ 76 milhões anualmente, enquanto que nas dez mais importantes metrópoles a economia seria de cerca de R$ 16 milhões anuais. A penetração do Biodiesel na matriz energética brasileira reduzirá as externalidades negativas para o sistema econômico que o uso do diesel mineral provoca. Assim, a valoração propicia traduzir os benefícios ambientais para a linguagem econômica, contribuindo para a efetiva internalizarão destes efeitos na política pública do Biodiesel no Brasil (BIODIESELBR, 2007). Ao reduzir a poluição, o uso do Biodiesel permitiria que se evitassem custos de variada ordem, relacionados principalmente à saúde. As estimativas resumidas na tabela a seguir indicam que a substituição do diesel de origem fóssil pelo Biodiesel puro (B100) proporcionaria redução desses custos da ordem de R$ 192 milhões anuais, nas dez principais cidades brasileiras, e em aproximadamente R$ 873 milhões, em nível nacional (BIODIESELBR, 2007). 4.3.3. Efeito do Biodiesel em relação às emissões de poluentes controlados O uso do Biodiesel reduz as emissões do monóxido de carbono (CO), do material particulado (MP), do óxido de enxofre (SOx), dos hidrocarbonetos totais (HC) e de grande parte dos hidrocarbonetos tóxicos, que apresentam potencial cancerígeno. O Biodiesel de referência é o originário de óleo de soja. Observa-se que um grande grupo de óleos vegetais e de gordura animal poderá apresentar benefícios ambientais superiores e, por conseguinte, custos evitados da poluição maiores do que os vislumbrados aqui (CUMMINS, 2007). Um estudo conjunto do Departamento de Energia e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostra que o Biodiesel reduz em 78% as emissões líquidas de CO. Estudos realizados pelo Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas ? mostram que a substituição do óleo diesel mineral pelo Biodiesel resulta em reduções de emissões de 20% de enxofre, 9,8% de anidrido carbônico, 14,2% de hidrocarbonetos não queimados, 26,8% de material particulado e 4,6% de óxido de nitrogênio. Contudo, estudo da União Européia mostra um aumento das emissões de NOx associado ao Biodiesel em relação as do diesel de petróleo e esse aumento tem sido confirmado por muitos estudos. O NOx não é tóxico, mas origina um fenômeno chamado de smog fotoquímico que quando reage com os raios ultravioletas do sol, produz irritação nos olhos, fazendo-os lacrimejar. Mas isso não é impedimento para a disseminação do Biodiesel devido às grandes vantagens em relação aos outros poluentes, mas deve ser considerado porque é um dos principais precursores do ozônio troposférico, atualmente o mais grave problema de qualidade do ar. É um incremento pequeno se comparado com as reduções de grande magnitude dos outros poluentes (BIODIESELBR, 2007). Ademais, há estudos em andamento visando reduzir a formação do NOx mediante o emprego de catalisadores adequados, a identificação da fonte ou propriedade que pode ser modificada para minimizar as emissões e a mudança do tempo de ignição do combustível, com a finalidade de alterar as condições de pressão e temperatura de modo a proporcionar menor formação de óxido de nitrogênio (CUMMINS, 2007). Cabe destacar, todavia, que o ajuste na regulagem dos motores e a instalação de catalisadores (visando a redução na formação de NOx) são operações simples durante o processo de produção de veículos novos, mas se revestem de considerável complexidade e de difícil mensuração de resultados quando se trata da frota de veículos em circulação, com número variado de modelos e anos de uso (CUMMINS, 2007; BIODIESELBR, 2007). Outro estudo, analisou apenas as emissões de gases de efeito estufa geradas pelo ciclo de vida do insumo álcool (desconsiderando as emissões de gases de efeito estufa do ciclo de vida da matéria graxa), o uso do Biodiesel metílico reduz a emissão de gases causadores do citado efeito em 95%. Quanto ao Biodiesel etílico, a redução é de 96,2%, havendo, portanto, diferença pouco significativa (1,2%) entre os dois ésteres. As emissões de poluentes locais (controlados e não controlados) do Biodiesel variam, basicamente, em função do tipo de óleo vegetal (soja, mamona, palma, girassol, etc) ou gordura animal usados na produção do Biodiesel (CUMMINS, 2007). 4.3.4. Efeito do Biodiesel em relação às emissões de gases tóxicos Os hidrocarbonetos totais, que são controlados, apresentam uma diversidade de compostos tóxicos que não são controlados individualmente. Dos 21 compostos hidrocarbônicos tóxicos, que provocam câncer e outros sérios efeitos à saúde, identificados como fonte móvel de gases tóxicos "mobile source air toxics" (MSATs), sete são metais. Como o Biodiesel é livre de metais, o mesmo apresentará redução de emissões destes compostos em relação ao diesel mineral e a seus aditivos que contenham metais (BIODIESELBR, 2007). Apesar de haver uma variação grande nos efeitos à saúde que cada composto tóxico provoca individualmente, a quantidade de dados disponíveis sobre o total de compostos tóxicos é muito maior do que o que existe para os compostos desagregados. Assim, a correlação entre as emissões totais de gases tóxicos do Biodiesel em relação ao diesel convencional é estatisticamente mais robusta. Como resultado, a APA apresenta o impacto do Biodiesel nas emissões dos gases tóxicos, bem como dos hidrocarbonetos, em relação ao diesel mineral (BIODIESELBR, 2007). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os combustíveis produzidos a partir de óleos vegetais têm se destacado como uma solução eficaz para resolver diversos problemas causados pelos combustíveis fósseis, além do fato de que existem dezenas de plantas que servem como matéria prima para esses óleos. Por diversos fatores apresentados, o Biodiesel tem sido o principal biocombustível produzido e utilizado em diversos países. Independente da natureza da matéria prima, ou seja, do óleo vegetal utilizado para produção do Biodiesel, as características físicas e químicas desse produto têm se mostrado semelhantes entre si, isto é, tais características são quase idênticas. Isso oferece aos produtores de Biodiesel diversas opções de matéria prima, podendo optar pelas mais economicamente viáveis. A utilização do Biodiesel tem se mostrado como uma ótima alternativa à diversificação da matriz energética. Além disso, gera benefícios econômicos, sociais e ambientais, na medida em que gera emprego e renda, diminui a emissão de gases de efeito estufa, além de aumentar as divisas do país. Quando comparamos as emissões dos GEEs do Biodiesel com as do diesel mineral, observamos uma redução muito significativa e benéfica para o meio ambiente em geral. A utilização do Biodiesel como mistura com o diesel mineral representa uma diminuição no teor de enxofre e um aumento do índice de cetano, conforme o aumento na porcentagem de Biodiesel na mistura. O Biodiesel apresenta inúmeros benefícios, quando se trata das emissões de gases poluentes. Mas um dos compostos emitidos pelo Biodiesel é visto como um dos seus pontos negativos. Esse composto é o NOx (Óxido de Nitrogênio). O óxido de nitrogênio, apesar de não ser tóxico, reage sob a ação dos raios solares gerando um fenômeno conhecido como smogfotoquímico. Esse fenômeno provoca irritação nos olhos fazendo-os lacrimejar. Além disso, o NOx é um dos compostos responsáveis pelas chuvas ácidas. Durante o processo de produção do Biodiesel, a transesterificação, é obtido um produto secundário que também oferece diversas vantagens econômicas para o país, esse produto é a glicerina. A glicerina é utilizada em diversas áreas do mercado e entre as principais destacam-se a síntese de resinas, ésteres, aplicações farmacêuticas, uso em cosméticos e em gêneros alimentícios. O Biodiesel é produzido, principalmente, pelas rotas metílica e etílica. O produto obtido nessas rotas apresenta características combustíveis compatíveis com a Resolução 42 da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Por fim, a produção de biocombustíveis possibilita atender aos compromissos firmados no encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), além de abrir portas para financiamentos internacionais em condições favorecidas no mercado de créditos de carbono e abre novos leques de idéias para a criação de projetos que atendam o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Quioto. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Geuza A. Obtenção e caracterização físico-química do Biodiesel de Cânola. 2006. 187 f. 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