Em 1948 o escritor George Orwell lançou um romance distópico intitulado “1984”. O autor projetou um futuro em que, neste ano, todas as pessoas seriam vigiadas por um personagem onipresente denominado “Big Brother”, através de câmeras instaladas em todos os lugares (o nome do programa de TV não é mera coincidência). Ainda não chegamos ao extremo da monitoração doméstica, mas aceitamos como natural a existência de dispositivos de filmagem em praticamente todos os lugares públicos, e o fazemos em opção a um mal maior, a insegurança em cidades cada vez mais perigosas.

Os estabelecimentos de ensino já utilizam esses dispositivos em áreas de acesso, circulação e convívio, sem que se criem problemas quanto a isso. No entanto, algumas escolas estão instalando câmeras em salas de aula, e enfrentando oposição de muitos alunos e pais de alunos. É uma questão delicada, e assim deve ser tratada, melhor que não fosse necessário tal recurso, todos nós ficamos mais à vontade sem estar sendo filmados, porém a violência em algumas escolas alcançou nível inaceitável, tanto entre alunos quanto entre alunos e professores. As câmeras não serão solução definitiva para este problema, que tem outras causas alem da simples falta de vigilância, todavia constituem um elemento dissuasório.

As instituições de ensino devem adotar alguns procedimentos ao optar pela vigilância eletrônica: divulgação ampla a todo o corpo docente e discente da instalação dos dispositivos, sua finalidade, localização e área de alcance; restrição do acesso às imagens a poucos funcionários, ligados a área pedagógica e comprometidos com o respeito à privacidade das pessoas filmadas; adoção de política clara de uso das imagens apenas para finalidades definidas; envolvimentos dos alunos, e de seus responsáveis legais se forem menores de idade, em qualquer ação que envolva suas imagens.

Evidentemente, no ambiente escolar, o ideal seria que a paz e respeito não dependessem de tanta fiscalização, e o monitoramento gera apenas uma disciplina ilusória, uma distorção na moralidade, que é distinta por estar, ou não, diante da hipótese de um registro mecânico.

A sociedade, como um todo, tem sido inábil no controle da violência por outros meios, e temos assistido o aumento dos episódios de comportamentos violentos e das manifestações descontroladas de ira, com ataques ao patrimônio ou mesmo pessoais dentro do ambiente escolar. Algumas instituições necessitam até mesmo instalar detectores de metal para coibir o ingresso de armas, temendo não apenas o elemento externo à comunidade acadêmica, como traficantes, mas também seus próprios alunos, o que é absurdo.

É verdade que a repressão não pode compensar a ineficiência do Estado, dos pais ou da própria instituição de ensino, e que estes equipamentos podem sugerir intimidação. Contudo, a experiência tem demonstrado a diminuição do bullying e do vandalismo quando de seu uso, e se não podemos confundir com respeito o simples medo de portar-se mal diante de uma câmera, certamente a prevenção pode funcionar como um bom remédio, até que a sociedade e o sistema educacional brasileiro atinjam um maior grau de maturidade e efetividade.

Wanda Camargo – educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.