Já dizia o imperador romano Comodus que o povo precisava "de pão e de circo" ― em latim, PANIS ET CIRCENSIS ―, ou seja, comida e diversão. A população romana foi iludida por ele, alienada dos graves problemas por que passava o Império.

Hoje, já não é o circo o grande atrativo da massa, mas a televisão, que não cumpre seu papel social. Deveria oferecer uma programação variada, havendo espaço para temas diversos: arte, cultura em geral, esporte, política e economia, saúde, saneamento, diversão, etc. Porém, a concorrência mercadológica pela maior audiência, referida pelo estudioso Erasmo Borges, criou um ambiente de selvageria: um programa imita o outro, baixa o nível, tudo se faz pela maior audiência, porque aí se terá um patrocínio mais encorpado, geralmente no horário nobre.

Se a televisão é o circo moderno, é apenas indústria do entretenimento. E se "vinga" o programa, vem uma enxurrada de outros parecidos: Casa dos Artistas, Fama, Big Brother, etc. Todos são a mesma "cara", encarnados e esculpidos, trazendo à tela só o entretenimento fácil, ilusório, alienante, porque não debatem as mazelas sociais nem propõem mudanças. Mas, se assim o fizessem, decretariam sua própria extinção.

Não importa qualquer aparente virtude ou quaisquer caracteres qualitativos dos participantes do BBB: carisma, simpatia, sinceridade, lealdade, pois tudo isso é escamoteado, já que o que estava em jogo era R$ 1.000.000,00. Tantos zeros "transformam" os ideais humanos e disfarçam a verdadeira essência do ser. E os índices de audiência podem sugerir que a televisão dá ao povo o que este precisa. Só que esse povo jamais foi consultado sobre isso. Oxalá pelo menos o "pão" de Comodus fosse hoje transformado em alimento cultural. Mas estamos longe disso. Muito longe.