Dentre os equipamentos utilizados nos canteiros de obras civis, a betoneira entra como um equipamento que apresenta níveis de ruídos considerados altos, quando levado em consideração a legislação e a saúde humana. Neste artigo foram caracterizados os níveis de ruídos equivalentes gerados pelo equipamento betoneira levantados em diversos artigos realizados pelo Brasil. Buscou-se neles a exposição dos trabalhadores, a dose de exposição diária, o nível de pressão sonora correspondente ao limite de tolerância e ao nível de ação. Os riscos foram então determinados e comparados com os níveis de atuação recomendada. Foram observados que as medições e avaliações utilizaram a norma NR-15 e NHO-01. Nos resultados verificou-se que o equipamento betoneira gera níveis de ruído dentro dos limites aceitáveis.

1. INTRODUÇÃO
A construção civil possui um papel de grande importância na economia nacional, sendo responsável pela construção de toda a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do país e pela geração de um número significativo de emprego, mais de 5 milhões de trabalhadores (IBGE, 2000).
Apesar da grande importância a indústria da construção civil no Brasil é constantemente alvo de duras críticas, principalmente relacionadas às condições de trabalho, onde o campo da saúde ocupacional apresenta uma realidade preocupante.
Os trabalhadores da construção civil, na maioria das atividades, não encontram proteção adequada à sua saúde e integridade física e dentre os principais problemas relatados no setor aparecem os efeitos causados pelo ruído excessivo dos equipamentos que rotineiramente são utilizados nos canteiros de obra. Pode-se citar a perda auditiva, dificuldade na comunicação, estresse, falta de concentração e até desordens físicas e psíquicas (MAIA, 2001).
Não há duvidas que o homem ainda esbarre com a problemática do "bem estar" e proteção ao meio ambiente. As construções civis não deixaram de ter seu espaço, cada vez mais crescente nesta problemática. As máquinas, equipamentos, produtos diversos que são utilizados nas construções ganharam espaço nos estudos no que se diz respeito às normas de proteção ao meio ambiente. O que ainda passa por estudos é a poluição sonora, a nível destas construções civis, pois não apenas os equipamentos são os responsáveis pelos ruídos, mas ações normais do trabalhador, como despejo, locomoção e processos manuais dos diversos utensílios das obras.


2. REVISAO BIBLIOGRÁFICA
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS
Máquina é todo dispositivo mecânico ou orgânico que executa ou ajuda no desempenho das tarefas, dependendo para isto de uma fonte de energia. Podem ser dos tipos leves, médias ou pesadas, e podem também, desempenhar várias funções, como em aplicações industriais agrícolas e pavimentações.
Já equipamento é um aparelho em si, como um todo, usado na execução de uma tarefa ou serviço. Exemplos: Furadeiras, parafusadeiras e afins, computadores, e equipamentos eletrônicos, ferramentas diversas, máquinas diversas. Como alguns componentes de máquinas, podemos citar as engrenagens, os mecanismos, os motores dentre outros.

BETONEIRA
Uma batoneira, betoneira ou misturador de concreto é o equipamento utilizado para mistura de materiais, na qual se adicionam cargas de pedra, areia, cimento e água, na proporção e textura devida, de acordo com o tipo de obra. A critério do engenheiro civil podem ser acrescidos outros tipos materiais, como diversos tipos de cimentos e pedras, ou aditivos.
É muito usada na construção civil, principalmente, para mistura de agregados como produtos e matérias primas a exemplo na construção de barragens e açudes utilizando-se o concreto na mistura da argamassa. Por ter composição diferente, não sendo adicionada a pedra e podendo-se adicionar a cal hidratada, esta é mais usada em revestimento, rejuntamentos e outros preparos na obra.
Pode ser usado na mistura e preparo de outros produtos como rações, adubos, plásticos, etc. Neste caso sua denominação passa a ser como misturador. As betoneiras podem se apresentar:
? móvel na forma de transporte por caminhão betoneira, com um sistema movido por uma correia de aço acoplada a um motor normalmente alimentado por um sistema de transmissão do veículo e hidráulico.
? fixa como é conhecida no Brasil equipada com motor para que a mistura fique homogênea.
? semi-fixa, o mesmo que fixa porem pode ser fácilmente removida pois possui rodas.
? automática movida por um motor sincronizada e equipada com esteiras rolantes.
? semi-automática.

RUÍDO
Em nosso dia-a-dia são facilmentes detectáveis a presença do ruído. Ele se faz presente desde a conversação até construções de prédios, mas sua definição não é fácil, pois pode ser interpretada de forma fisiologica ou psicológica. De acordo então com o manual do ruído "ruído é um som ou conjunto de sons desagradáveis e/ou perigosos, capazes de alterar o bem estar fisiológico ou psicológico das pessoas, de provocar lesões auditivas que podem levar à surdez e de prejudicar a qualidade e quantidade do trabalho."
Dentre os colaboradores então para poluição sonora, o ruído entra como grande contribuinte por ser provocado pelo som excessivo das indústrias, canteiros de o bras, meios de transportes, áreas de recreação, etc. A OMS (Organização Mundial de Saúde) aborda que um som deve apresentar até 50 db (decibéis ? unidade de medida do som) para que não caracterizado como de risco a saúde humana.
STELLMAN E DAUM (1975), enfatizam que, para se estudar o ruído, se faz necessário conhecer um pouco de sua natureza física.
A freqüência é representada pelo número de vibrações completas em um segundo, sendo sua unidade expressa em hertz (Hz). A classificação do ruído quanto a sua propagação é estabelecida por STELLMAN E DAUM (1975), da seguinte forma:
Contínuo estacionário: ruído com vibrações desprezíveis nos respectivos níveis durante o período de observação.
Contínuo flutuante: ruído cujo nível varia continuamente de um valor apreciável durante o período de observação.
Ruído de impacto ou impulsivo: ruído que se apresenta em picos de energia acústica de duração inferior a um segundo.
Ainda segundo STELLMAN E DAUM(1975), a perda auditiva pode ser classificada em dois tipos, a MTL e a MPLPR. A perda MTL significa Mudança Temporária Limiar, denominada dessa forma quando o ouvido tem capacidade de se recuperar da perda a que foi submetido após determinado tempo de descanso. O segundo tipo, MPLPR, Mudança Permanente de Limiar Provocada por Ruído, ocorre quando o indivíduo é submetido por um tempo prolongado a níveis elevados de ruído que lhe proporcionam uma perda auditiva na audição.
Na Construção Civil, a grande variação dos níveis médios diários e/ou semanais ocorre, mesmo considerando esses períodos de avaliação, porque não há uma seqüência diária de tarefas semelhante às de outros tipos de indústria. Cada profissional executa um grande número de tarefas que podem durar horas ou semanas e apresentam diferentes níveis sonoros dependendo das condições ou da fase da obra (MAIA, 2001).

LEGISLAÇÃO PERTINENTE
São adotadas como referência de níveis de ruído os valores contidos nas normas IEC (International Electrotecnical Commission), NEMA (National Electrical Manufacturers Association) e ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
A ABNT determina os limites de níveis de ruído pela norma NBR 7565, a qual é referenciada pela norma de especificação de máquinas elétricas NBR 7094, sendo o método de ensaio adotado pela WEG determinado pela norma NBR 7566.
A IEC determina os limites de níveis de ruído pela norma IEC34-9, sendo os métodos de ensaio para máquinas e equipamentos em geral determinados pelas normas ISO374, ISO3745 e ISO3746, e especificamente para máquinas elétricas girantes pelas normas ISO1680/1 e ISO1680/2. A WEG adota a ISO1680/1 para determinação do nível de ruído por ser mais precisa do que a ISO1680/2, levando em conta as condições do ambiente de ensaio.

3. METODOLOGIA
Foi realizado um levantamento do nível de ruído emitido pelo uso de betoneiras em construções civis. Os artigos utilizados faziam referência a cidade de Curitiba, João Pessoa, Guaratinguetá e Rio de Janeiro.
A radiação sonora é emitida pelo conjunto motor/redutor e pelos impactos dos agregados com o corpo ou parede da cuba de mistura.
Na cidade de Curitiba os pesquisadores estiveram presentes em três obras espalhadas pela cidade. As medições de ruído foram executadas a 1,0 metro de distância e o aparelho usado para a medição global foi um decibelímetro da marca Instrutherm, modelo DEC-5010 e um calibrador acústico, calibrados e certificados. Os resultados apresentados variam de 87,88 a 91.9 Db.
A equipe baseou-se na NR-15 e NHO-01 para medição do ruído, medindo o tempo total durante a jornada de trabalho em que o trabalhador ficava exposto ao nível de ruído.
Na cidade de João Pessoa foram visitados dez canteiros de obra com 17 trabalhadores no total referindo-se, claro, aos trabalhadores ligados diretamente as betoneira. Os mesmos nao apresentaram valores da ABNT, mas focaram seus resultados em demonstrar os ruídos estavam presentes na hora da mistura do concreto onde era utilizada a betoneira, isso também no caso do concreto ser fabricado na própria obra.
Em Guaratinguetá, os pesquisadores se focaram em apenas uma construção, para medição do nível de pressão sonora causado pela betoneira. Neste estudo foi utilizado para medição o "Dosímetro Medidor de Ruído" da marca "Quest", modelo "M-15", devidamente calibrado, as medições foram realizadas próximas ao ouvido dos trabalhadores. Num tempo de operação de 30 minutos, o nível de ruído ficou entre a faixa de 89 a 90 Db.
Os estudos realizados no Rio de Janeiro também foram realizados em apenas uma obra, mas a metodologia apresentada e aplicada pode ser utilizada no controle do ruído numa escala regional, nacional e/ou internacional, servindo de instrumento de análise de componente acústica em estudos de sustentabilidade.
Os resultados basearam-se em soluções de aprimoramento dos canteiros de obras e metodologias para medição dos níveis sonoros. As centrais de concreto e betoneiras, no caso do caminhão betoneira, devem permanecer próximas à bomba para lançamento de concreto, na entrada do canteiro de obras, internamente, de preferência próximo a uma das ruas mais ruidosas para atender aos parâmetros acústicos.

4. RESULTADOS
Numa junção dos resultados apresentados pelo uso das betoneiras estudadas, os valores apresentaram-se dentro dos limites de tolerâncias de ambas as normas, sem a caracterização de insalubridade. Apresentaram-se sem riscos e nos dois primeiros casos com risco leve perante NHO-01. Os operadores das betoneiras analisadas estão submetidos a valores de doses aceitáveis e o nível de atuação recomendado para as ações de controle são desejáveis, não prioritários. Assim, as tarefas executadas nas betoneiras atenderam à NR-15 e NR-9, não sendo insalubres. Atenderam também aos valores limites da NHO-01.
Mas apesar obter níveis de ruídos dentro dos limites aceitáveis, a exposição a um ciclo de trabalho prolongado (média de 360 min.), acima dos permitidos nas normas NR-15 e NHO-1, pode levar a ocorrência de lesões auditivas devido ao tempo de exposição contínua.

STELLMAM E DAUM(1975) também apresentam, conforme mostra a Tabela abaixo, os resultados obtidos no ensaio de verificação da eficácia dos protetores auditivos encontrados no mercado.

DISPOSITIVO QUANTIDADE DE REDUÇÃO
Tampões auriculares:
Algodão bruto 8 Db
Algodão encerado ou lã de fibra de vidro 20 Db
Acrílico moldado individualmente 18 Db
Borracha de silicone-moldadagem individual 15 a 30 Db
Tampões de borracha produzidos em massa 18 a 25 Db
Borracha de silicone semi inserida 14 Db
Conchas protetoras acústicas:
Pesadas 40 Db
Médias 35 Db
Leves 25 Db
Tampões auriculares:
Algodão bruto 8 Db
Algodão encerado ou lã de fibra de vidro 20 Db
Tabela 1-Eficácia dos protetores auditivos


5. CONCLUSÃO
Verificou-se que não importa a região de nosso país e nem o tipo ou construção civil estudado, os níveis de ruído podem ser decisivos no processo de avaliação dos efeitos que vem causando e aumentando as graves doenças de saúde nos trabalhores operários. Apesar dos resultados não terem sidos negativos quanto ao nível medido do uso de betoneiras, a frequência de seu uso que causa os principais danos.
O homem como elemento principal na prevenção de acidentes, qualquer que seja seu posto numa determinada obra, tem sua participação definida e diretamente responsável pela ocorrência dos acidentes ou das doenças profissionais devido a atos ou condições inseguras. É necessário enfatizar àqueles que irão comandar e se responsabilizar pelas obras, o risco que vão se expor no dia a dia de suas tarefas, o perigo a conta gotas que acontecerá se não forem tomadas as devidas precauções durante suas atividades, ou seja, a aplicação e o uso correto dos protetores auriculares.
Vale ressaltar também que, os engenheiros residentes nas obras são diretamente responsáveis pelos acidentes que ocorrerem ou que podem ocorrer envolvendo integrantes da sua equipe. A demonstração deste estudo de caso, que neste trabalho refere-se exclusivamente à ruídos e que pode ser estendido a várias outras situações encontradas no dia-a-dia da obra, coloca desde cedo uma visão importante para os alunos que, já na fase de aprendizado na graduação, defrontam-se com a preocupação sobre as atividades e operações insalubres, sendo que isto invarialvelmente acontece somente quando estiverem inseridos no meio profissional.


6. BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151- avaliação de ruídos em áreas habitadas visando o conforto da comunidade, 2000.

FUNDACENTRO: Norma de Higiene Ocupacional. ? Procedimento técnico ? Avaliação de exposição ocupacional ao ruído. 2001. Fundacentro: Ministério do Trabalho e Emprego.

NORMA REGULAMENTADORA 9 - NR 09. PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS, 1994.

MAIA, P. A. Estimativa de exposições não contínuas a ruído: Desenvolvimento de um método e validação na Construção Civil. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - UNICAMP, Campinas, Brasil.

STELLMAN, J.M. E DAUM, S. M., trabalho e Saúde na Indústria, Vol. 1 e 2, Editora EDUSP,1975.