Texto resultante de proposta de trabalho da professora Roberta Puccetti em disciplina de atividades complementares da faculdade de artes visuais da PUC Campinas.

O que poderia ser do futuro de uma criança de doze anos de idade se as experiências pessoais não extrapolassem o ambiente familiar, principalmente nesta idade das grandes descobertas, com todas as limitações que o costumeiro comodismo dos adultos pode ser capaz de impor?

A obrigatoriedade precoce da decisão por suas próprias escolhas nem sempre faz a pessoa amadurecer nem criar "responsabilidade". Pode, pelo contrario, levar ao desenvolvimento de complexos comportamentais capazes de atravancar qualquer possibilidade de desenvolvimento.

Porém, este menino nem podia imaginar que da porta para fora, nas condições inadequadas, a vida pode ser extremamente cruel. Mas o destino se encarregaria de apresentá-lo a todo o tipo de situação que o afastamento da estrutura familiar pode proporcionar aos menos avisados:

Órfão de pai e mãe aos treze, começou sua trajetória de amargas e medonhas descobertas de tudo o que não deveria colecionar. Em conseqüência, resolveu colecionar coisa nenhuma.

Por sorte aprendeu rápido, ou talvez nem tão rápido, a olhar para suas experiências, vivencias e relacionamentos com olhares desconfiados e descartáveis, sem vocação para o hábito saudável da reciclagem, ou seja, tudo ao lixo!

Ainda hoje, depois de décadas decadentes ou decaídas, os reflexos e conseqüências desta formação, porque não dizer: formação, estão presentes, vivas e atuantes, sustentando seu estado de pessoa mal sucedida, solitária e sem expectativas de recomeçar do ponto onde não deveria ter sofrido seu desvio, pois a grande maioria das pessoas que constroem sua psique a partir desta experiência de mundo ou qualquer outra semelhante, cria hábitos e vícios de comportamento que ninguém merece conviver e suportar, sendo estes sua grande e infeliz "coleção de alguma coisa".

Manoel Brandão Nobilli