O corifeu, personagem do teatro grego, era a alma das tragédias e comédias dos primeiros tempos da encenação. Considerado o chefe do coro, enunciava partes isoladas do texto. Uma figura como o maestro, padre, delegado, professor, pai, líder, carrasco ou general da banda. Membro destacado do coro, podia dialogar com os atores. O jornalista e apresentador do Big Brother Brasil, Pedro Bial, há nove anos encarna papel de animador do programa que festeja o corpo, a intriga, o verão, as férias, o milhão, a festa, o jogo, atravessa o carnaval e desaparece na quaresma. Com direito à escrita da moral da história, ao final de cada paredão, que promove a simbiose entre o dramaturgo da vida real ou repórter poeta (culpado?) da criação.

Os textos sofisticados, já famosos na trajetória de Bial na crônica jornalística, produzidos para o eliminar o brother do paredão, revelam pistas do seu pensamento e de que o resultado de quem vai para a rua já é conhecido antes mesmo da sentença ou vaticínio "está encerrada a votação". A autoridade do programa se estampa no tom de voz do apresentador e textos como "para mandar o fulano para rua", "para botar para fora", "para mandar para a roça" enfim, construções de expressões que desconfortam os participantes do programa. Atua como o Salomão pós-moderno no drama das mães que disputam filhos no discurso imperativo da publicidade: vote, ligue, participe e compre.

De sandálias franciscanas Bial faz o escárnio dos confinados na jaula ou prisão de luxo. Personifica o domador no circo do ridículo. É o algoz, carrasco ou o churrasqueiro que salpica e "assa" os aspirantes ao sucesso. Quando os chama de heróis, destila veneno e ironia. É próprio do apresentador. Ele é o herói. No cenário que lembra um picadeiro, ou arena, os brothers são os cristãos novos entregues aos leões: nós, o público. Bial como Fausto, de Goethe, celebra e ri, por dentro, de todos e dele mesmo. Perde o amigo, mas não perde a piada ou o poder. Dá respostas grosseiras aos confinados sob o aval da desconstrução, da aproximação artificial, da brincadeira ou virtuose. É o humor que castiga homens e costumes. O chicote é a fala. É vitorioso no comando da massa.

Herói é a sua metáfora ou exercício de autoflagelação pela performance inspirada em Chacrinha, que além de irreverente também era sádico – ridicularizava a todos sob a proteção da telinha e balançava a pança. Conhece-se espectadores que tinham medo do Chacrinha! Bial está magrinho! Elegante e charmoso. Tem centenas de súditos no estúdio e milhões de fiéis esparramados pelo mundo. É dele o poder divinal! É o único que pode abrir a "porta do céu"... Ao final de cada edição está pleno, inflado e feliz. Ou melhor, saciado! E aí vem o seu melhor: na entrevista com o eliminado, ao final do programa, muda o tom farsesco, da inflexão incorreta, desaparece o algoz e, no tom humano, volta o homem sensível, boa praça e de sandálias franciscanas.

"Alguém tem que fazer o trabalho sujo"

A casa, como é chamado o local de concentração dos BBB, pode remeter à clássica casa grande, do Brasil colonial, onde viviam os poderosos e na senzala, o resto do Brasil, fora do Projac, onde vivem os pobres mortais, que ainda podem comungar do mundo divino da TV, doando espórtulas por ligações telefônicas. Esse é o objetivo dos reality shows e da interatividade que estão dominando a cena televisiva brasileira: a salvação da lavoura das emissoras em tempos de críticos índices de audiência. Bial é o coronel da casa. Vai doar uma "fazendona" ou dote de um milhão de reais para um pobre do país da anestesia.

Em duas entrevistas à revista Imprensa, em 1997e 2005, seu perfil foi detalhado. Na primeira surgiu como o carismático apresentador e a nova cara de domingo como apresentador do Fantástico. Posou com a filha, Ana, e fizeram língua para a foto. Na segunda entrevista, já com os cabelos grisalhos, se defendia com sorriso franco do patrulhamento sobre sua participação do BBB e da antológica citação, após a apresentação do balé Kirov, quando fez o comentário "Isso é coisa de viado". Lamentou a escravização da imagem no telejornalismo. E afirma que "todo mundo fala em fato, mas só conhece versão. Você tenta falar do que interessa, mas o que vende jornal é fofoca..." e a entrevista destaca trechos do livro Crônicas de Repórter, no qual ele afirma que "repórteres podem ser advogados de causas perdidas, padres confessores, carrascos, redentores. Têm noites de médicos e dias de coveiros. Alguns diriam abutres. Mas como dizem os tiras, `alguém tem que fazer o trabalho sujo´...".