Basta sabermos escolher? E os ralhos da filosofia?

Saber deliberar é uma arte. Porém, muitas das escolhas (proáiresis/ do grego) que as fazemos podem nos deixar muito felizes, ou, extremamente decepcionados. Grande parte dos humanos imagina que a escolha deve se identificar com o desejo. O que é um equívoco segundo o macedônio, Aristóteles (384 a.C. Ver, Ética a Nicômaco livro III, capítulo 2), os desejos nos enganam. O caso que iremos refletir é tão simples que nos fará entender o quão se deve pensar antes de escolher. E ainda sim, nem sempre há garantias de que estamos a fazer escolhas corretamente. Como este mês é propício a ‘convites’, vos convido a desistir da leitura neste mesmo parágrafo. A escolha é sua! Até!
O que é ético sempre tem que ser justo? Depende? Por quê? Vejamos uma situação curiosa no filme, A Escolha de Sofia (1982) de Alan Pakula (Este filme exige maior atenção para entendê-lo), onde é retratada uma das escolhas éticas mais difíceis em termos humanos.
Certo momento do enredo, Sofia, (Maryl Streep) está com dois filhos numa fila do campo de concentração nazista. A preferência para ser liberado daquele inferno, é para quem não seja judeu. Sofia é polonesa.
Um soldado nazista passa por ela e a acha bonita e faz elogios eróticos a pobre moça, ela retruca, dizendo não ser judia, mas sim, polonesa. O soldado fica furioso e diz que por ela ser realmente uma polonesa terá o poder de ‘escolha’: “muito bem, já que você é polonesa, veja que o trem está chegando, faça sua escolha, irão apenas duas pessoas, portanto, escolha qual filho irá para a câmara de gás, escolha logo?!”.
Pergunto: Qual filho, uma mãe escolhe para morrer primeiro? Qual escolha será a mais correta, a mais Ética? O bebê de colo, para assim pensar privá-lo das desgraças da vida, ou, o deixo viver para experimentar se a vida é boa ou ruim? O com idade um pouco acima? Ou, os deixo partirem sozinhos (no caso iria à mãe para a câmara de gás), e conhecerem de verdade a Vida? Seria justo com eles viverem sem referencial da mãe e pai? Foram eles quem escolheu nascer? Porém, Sofia não tem mais ninguém na vida fora os dois. Os soldados estão armados até os ‘dentes’.
Como Sofia deveria ter resolvido este problema ético em poucos segundos? Fugir, não dá! Viajar os três, também não! Sem dizer, que havia pouca piedade no soldado nazista! O que fazer? Qual a melhor saída? Existe? (ver filme e refletir, indagar a escolha da personagem principal; Sofia).
Pakula, em seu filme vos apresenta a vida! Eu, NÃO vos apresentarei a resposta! Aliás, ela nem esteve em minhas indagações. E posso lhes garantir que não há nada igual! Se é que na vida realmente se escolhe alguma coisa…!
O pesar, é que infelizmente, algumas pessoas podem pensar ser este filme, muito ‘antigo’ e não ter nada haver com a vida. Provavelmente a maioria das locadoras, deve ter dado sumiço! Não tem saída, (crítica do autor as locadoras que se desfazem de filmes clássicos sem terem noção do nobre conteúdo presente na obra), não dá dinheiro, é legendado etc., etc. Estas coisas de quem não dá valor ao conhecimento, diz também, não ter tempo para ler, pensar, respirar, escolher, para nada?! Os chamados vivos mortos! Não saber viver, é um ótimo sinal de que ‘tu está desafinando… ’, Sofia, dará uma aula esquisita sobre isso. Aula de que quase nada se escolhe. Não tem nada mais ilusório, escolher, achando que está dominando a situação. Pensar pode ser arriscado demais, dói.

 


“Se você me perguntar como é a gente daqui, serei forçado a responder: “A mesma de toda parte”. Como a espécie humana é uniforme! A maioria sofre durante quase todo o seu tempo, apenas para poder viver, e os poucos lazeres que lhe restam são tão cheios de preocupações que ela procura todos os meios de aliviá-las. Oh, destino do homem!”. (GOETHE. Werther. Editora Nova Cultural Ltda. São Paulo, SP, 2003 (Suzano) p.225)