E agora a recordações nostálgicas conduziram-me àquele lugar maravilhoso. Quantos caminhos: um labirinto. Mas não havia sombras, nem temores; apenas rumores, vozes que por conta da distância erigida pelo tempo chegavam como barulhentos sussurros. Apurei os ouvidos, divisei os sons, deixei-me guiar pelo doce Barulho que o vento trazia.
Escolhi um entre os coloridos caminhos de sons e sonhos. Penetrei profundamente. Pois a curiosidade consumia meu ser. Era crucial descobrir de onde vinha e o que era aquele Barulho.
Que passeio encantador! Durante o trajeto revisitei lugares e momentos, revivi encantos de um tempo com gosto de Barulho de chuva em telhado de Eternit, de barulho de torcida enlouquecida gritando “gooooooool”.
Com os olhos baços, tentei reconhecer o lugar onde me encontrava na tentativa descobrir a origem do Barulho que me despertaram lembranças e sons.
Aquelas vozes, aquele lugar, aquela euforia... Não era possível que estivesse enganado, com certeza eu estava mesmo ali. Aquele era mesmo o lugar que imaginava. O Barulho não me deixava enganar. Os gritos, as vozes:
– Toca pra mim! Toca pra mim!
– Passa a bola.
– Chuta, isso!
E finalmente a explosão: “gooooool!”
É incrível, mas estava ali mesmo. Estávamos todos: os amigos, os enamorados, as explosões de sons, a euforia; o grito uníssono.
O Barulho do córrego lambendo as pedras, das lavadeiras batendo roupas nas pedras quentes pelo sol, dos “pontagulhos” executados das mais altas pedras, dos braços da meninada batendo nas límpidas águas, dos gritos maternos, das estridentes gargalhadas da criançada...
Era mesmo o lugar, não estava enganado! Corri os olhos ao longe e constatei com os ouvidos a autenticidade daquele Barulho. Não restava qualquer dúvida era mesmo o nosso campinho na fazenda à beira do córrego.

Porto Seguro, 02/Julho/2009