BARROCO PORTUGUÊS E BRASILEIRO

7.1.INTRODUÇÃO:

O Barroco é de origem espanhola e italiana. Espalhou-se pela Europa e América. Era um estilo das artes plásticas e foi adotado na literatura.

O Barroco é também conhecido por Seiscentista e Gongorismo.

A reforma religiosa e a contra-reforma contribuíram muito para o desenvolvimento desta corrente literária, uma vez que ela desencadeou uma série de conflitos espirituais, morais e filosóficos na tentativa de aproximar o homem de Deus, o divino do terreno, o profano do religioso. Surge então o dualismo no Barroco, característica central da corrente.

O Barroco apresenta quatro tendências importantes:
1.Conceitismo - Analisa o objeto conceituando-o. Ordena as idéias, desdobra-a de uma
forma inteligente e racional, faz um jogo de conceitos;

2.Cultismo - valoriza a forma, apresenta muitas estruturas com figuras, vocabulário variado, texto bem trabalhado:

3.Contraste - Apresenta o dualismo, tentando ligar uma coisa que é contrária a outra, uma espécie de antônimos, exemplos: bem-mal, cristianismo-paganismo, religioso-profano;

4.Nativismo - é o amor às coisas da terra, o sentimento nacional, valorização de tudo quanto rodeia o homem. Esta tendência só existe no Brasil.

7.2.CARACTERÍSTICAS:

Além das tendências acima, o Barroco apresenta uma série de características:
1.Dualismo - é a principal característica. É formada por oposições como vimos: céu-terra, tristeza-alegria, profano-religioso.
2.Desespero - Alucinações;
3.Uso de antítese, metáfora;
4.Valorização das sensações;
5.Uso de palavras latinas;
6.Vocabulário colorido, luxo, pompa, brilho, etc.
7.Frases interrogativas;
8.Palavras que nomeiam cores, perfumes, sensações fúteis e sonoras;
9.Uso de símbolos que representam efemeridades do tempo, vento, água, fumaça, fogo, neve ,etc.
10.Corpo diem (gozar a vida porque ela é breve);
11.Morbidez (gosto por expressar a dor, o sofrimento, a morte, o trágico.

7.3.BARROCO EM PORTUGAL (1527-1756):

Em Portugal, o Barroco evidencia um flagrante predomínio do religioso e do espiritual. A contra-reforma agiu muito, reforçada pela ação da companhia de Jesus e da inquisição.

O rei D. Sebastião foi derrotado e desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir e como conseqüência Portugal vai sofrer um longo período de dominação espanhola. Este incidente e a morte de Camões fazem desaparecer o sopro virial da arte renascentista bem como o modelo greco-latino.

Entretanto aparecem novas formas e novos recursos expressivos e vai surgindo um novo modelo literário tanto na prosa como na poesia.

Proliferam-se as academias literárias. Eram os redutos de intelectuais, sobretudo de oradores e poetas medíocres, explanando mais as vaidades literárias. As academias foram o foco da literatura profana. Essas academias realizaram pouca coisa de real importância. Apenas três academias devem ser lembradas: a Academia dos Generosos, a Academia Real de História Portuguesa e a Academia Pontífica. As melhores obras foram realizadas fora das academias.

7.4. A POESIA BARROCA PORTUGUESA:

Na poesia notamos bem o espírito depressivo da época. O lirismo passou a ser um jogo, um entretenimento, um prazer de imaginação sensual ou de inteligência engenhosa. Exclui-se dela a gravidade da preocupação social, da comoção religiosa, até as efusões de emoção pessoal.

O cultismo (Gongorismo) e o conceitismo são a marca distinta dessa literatura. No cultismo notamos uma sobrecarga de elementos ornamentais. O conceitismo - é o desdobramento do discurso de um conceito. Duas características se destacaram: a atitude sensual e a atitude intelectual.

As poesias Barrocas portuguesas, acham-se compiladas em duas antologias: Fênix Re
nascida e Postilhão de Apolo.Os poemas são escritos em português e espanhol. Entre os poetas destas obras estão: Jerônimo Baia, Francisco de Vasconcelos, Antônio Barbosa e outros. Os melhores poetas não estão inseridos nessas obras. São eles: Rodrigues Lobo e D. Francisco Manuel de Melo.

7.5. A PROSA PORTUGUESA:

A prosa atingiu plena maturidade no plano formal no Barroco. A prosa ganhou um novo colorido e uma plasticidade e elegância extraordinária, graças às novas características do Barroco. A genialidade de alguns escritores também ajudou muito no desenvolvimento da prosa.

Entre os escritores do Barroco português temos: Pe. Antônio Vieira (também pertence
à literatura brasileira), Frei Luis de Sousa, D. Francisco Manuel de Melo.

7.6.A HISTORIOGRAFIA:

Foi cultivada pelos monges do mosteiro de Alcobaça - por isso recebeu o nome de
Alcobacense. Eles pretendiam construir uma história da nação portuguesa, partindo da origem da humanidade, com o fito de lograr ânimo dos patrícios do tempo da dominação espanhola.

Eles, no entanto, ainda inseriram muito de fantasia em suas obras. A obra planejada
"Monarquia Lusitana", foi iniciada por volta do séc. XVI. Houve vários escritores continuadores e depois de cem anos a obra ainda ficou inacabada.

Entre os autores temos: Pe. Manuel Bernardes, Matias Aires, Sóror Mariana Alcoforado.

7.7.TEATRO PORTUGUÊS:

Francisco Manuel de Melo tenta restaurar a tradição dramática do país através do auto vicentino, mas não conseguiu.

Na metade do séc. XVIII um comediante nascido no Brasil conseguiu elevar a uma altura bastante considerável o prestígio da dramaturgia portuguesa. Antônio José da Silva cognominado O Judeu, nasceu no Brasil e ainda menino foi morar em Portugal. Acusado de Judaísmo foi condenado à morte.

Dedicou-se a comédia popular, associando os elementos de tradição vicentina, aos da
comédia clássica e mais as óperas italianas. Destas veio a sugestão da parte musical, árias. O teatro de Antônio José é o resultado de múltiplas influências antigas e modernas, nacionais e estrangeiras. Entre suas obras temos: Guerras do Alecrim e da Manjeroma,Vida do grande D. Quixote e do gordo Sancho Pança, Anfitrião e outros.

7.8.BARROCO NO BRASIL(1600-1768):

No Brasil o Barroco inicia no séc. XVII e vai até o ano de 1768. É um período de várias agitações, pois o Brasil ainda era colônia de Portugal e sofreu a ambição dos fortes países da época. Entre as muitas agitações, destacamos as invasões estrangeiras e lutas para expulsão das mesmas, conquistas do interior, entradas e bandeiras, colonização da terra, sentimentos nativistas, além das enormes dificuldades da época. Mesmo assim essa corrente apresentou algo de importante em nossa literatura.

Nessa corrente surgiram diversas academias literárias nos moldes das existentes em Lisboa. Traçavam-se vastos programas, quase nunca cumpridos, porém tentavam aproximar o público da literatura. Não fizeram muito, mas contribuíram no desenvolvimento literário.

São as seguintes as academias surgidas:
1.Academia Brasílica dos esquecidos -Bahia - 1724;
2. Academia dos Felizes - Rio 1736;
3.Academia dos Seletos - Rio 1752;
4.Academia dos Renascidos - Bahia 1759;
5.Academia científica do Rio de Janeiro - 1772;
6.Academia literária do Rio de Janeiro - 1786.

7.9.PROSA BARROCA - AUTORES E OBRAS:

A prosa continua ligada à terra, somando-se ainda a religião e o misticismo. É ainda
uma continuidade da literatura Quinhentista, informativa, descritiva. Inclui-se aí novos
valores da terra como a descoberta das minas.

1.André-João Antonil (Toscana-Itália 1650 -1716)- Era Jesuíta e veio para a Bahia na
Companhia de Jesus. Foi reitor do colégio dos jesuítas em Salvador. Escreveu: "Cultura
e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas".

Notadamente ele fala muito sobre a economia no começo do Séc. XVIII, das minas,
do tabaco, do álcool, do açúcar, etc. Também fala sobre o alto custo de vida em virtude
das descobertas do outro. É uma literatura histórico-informativa.

2.Nuno Marques Pereira (Bahia 1652-Lisboa 1728) Foi o primeiro a tentar criar um romance brasileiro, porém sua obra é ainda um trabalho informativo. Escreveu: Compêndio narrativo do Peregrino da América. Neste livro ele tece um comentário sobre um peregrino nas suas andanças pelas capitanias. É uma obra moralista, cheia de sermões.

3."Diálogo das Grandezas do Brasil"(1618) Trabalho cujo autor ainda é desconhecido. É
um conjunto de seis diálogos nos quais, o autor, Brandônio, mostra-se um grande conhecedor do Brasil, inclusive defendendo-o. A obra é atribuída a Ambrósio Fernandes Brandão, português, senhor de engenho . Os diálogo já mostram um estilo próprio e bastante fluente.
4.Pe.Alexandre Gusmão - Escola de Belém, Aventuras de Diógenes:
5.Pe.Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Inventor do Aerostato) - Sermões,Vários modos
de esgotar sem gente as naus que fazem água.
6.Matias Aires- Reflexões sobre a vaidade dos homens.

7.10.POESIA BARROCA - POETAS E OBRAS:

Notamos características Barrocas na poesia de Bento Teixeira, que segue a linha camoniana. Chega a copiar versos inteiros de Camões. Só sabemos da publicação de Prosopopéia, porém várias obras lhe têm sido atribuídas.

Além de Bento Teixeira, outros poetas imitaram Camões e outros poetas da Europa,
mas já houve o predomínio do sentimento nativista do povo brasileiro. Aproveitaram os
valores da terra: a paisagem, o povo, a região. É uma poesia bastante diversificada, principalmente com Gregório de Matos, seu momento culminante. Sobressai a poesia lírica, sacra e satírica.

1.Gregório de Matos Guerra ( Salvador 1633 - Recife 1696) - Muita coisa a respeito de
Gregório de Matos continua mistério. Sabe-se que estudou com os jesuítas em Salvador e
aos 14 anos foi para a Europa onde estudou Direito em Coimbra.

Em 1661 formou-se e se casou. Foi nomeado Juiz de Fora em Alcácer do Sal (Alentejo) em 1663. Em 1672 foi eleito procurador da cidade de Salvador, mas abandona o cargo em l674.

Em 1681 retorna ao Brasil, sendo nomeado Tesoureiro-mor da Sé da Bahia, mas passa por um período agitado.

Talvez por causa de sua poesia satírica, atacando o governador e colegas do clero, foi
deportado para Angola.

Regressa ao Brasil e vai morar em Pernambuco, falecendo posteriormente.

Sua obra foi publicada posteriormente e divide-se em cinco partes (publicação da
ABL): I-Sacra, II - Lírica, III -Graciosa, IV - V -Satírica,VI - Última.

a)Gregório Lírico - Aqui vemos o homem arrependido, mostrando os sentimentos, as emoções, as tristezas, a transitoriedade da vida, a beleza da mulher. Aparece claramente os jogos de palavras, a influência espanhola (gôngora).
Não vi em minha vida a formosura,
ouvia falar dela cada dia,
e ouvida me incitava, e me movia
a querer ver tão bela arquitetura.

b)Gregório Religoso - Mostra-se ainda mais arrependido. Seus poemas vão, quase sempre, falar sobre assuntos religiosos e sobre sua vida passada.
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
é verdade, Senhor, que hei delinqüido,
delinqüido vos tenho, e ofendido,
ofendido vos tem minha maldade.

c)Gregório Satírico - Talvez tenha sido o ponto máximo em Gregório. Não perdoava a
ninguém, atacava tudo e a todos: povo, governadores, colegas e autoridades.
Nariz de embono
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro que seu dono.

2.Botelho de Oliveira (Bahia 1636 - 1711)- Formou-se em Direito em Coimbra. Publicou suas poesias em Lisboa. Sua obra é considerada nacionalista. Suas poesias eram líricas, inspiradas em armada. Publicou em 1705, "Música do Parnaso", obra dividida em quatro partes: Rimas portuguesas, Rimas castelhanas, Rimas italianas, Rimas latinas.

Somente a primeira parte é interessante, o resto é considerado documento histórico,
de pouco valor literário.

Na primeira parte aparece o poema:"A ilha da maré", que fala da ilha do Recôncavo.
Escreveu ainda: "Descrição da ilha Itaparica" e um trabalho em latim.

7.11.A ORATÓRIA:

No Barroco tivemos os melhores oradores do Brasil, todos sacros. A plêiade compunha-se de Jesuítas gabaritados. Entre eles o maior foi o padre Antônio Vieira.

1.Pe. Antônio Vieira (Lisboa 1608-l697) Fez os estudos no colégio dos jesuítas e ingressou aos l5 anos na companhia de Jesus. Em 1634 ordenou-se padre.

Foi redator da carta Ânua. Lecionou em Olinda. Sua fama cresceu após o sermão: "Pe
lo bom sucesso das armas de Portugal", contra os da Holanda. Participou da política da
restauração. Pregava a tolerância religiosa e a reabilitação econômica de Portugal, após a
restauração. Exerceu missão diplomática em Roma, Haia e Paris (onde fracassou).

Volta ao Brasil (São Luis - 1653) onde passa a catequizar índios e denuncia ao rei a escravidão indígena. Em 1661 é preso pelo tribunal da inquisição por causa das idéias sobre o "Quinto Império do Mundo".

Em 1669 vai à Roma onde passa a ser confessor da rainha exilada da Suécia": Cristina. Escreveu:"Sermões"(200),"Cartas", "História do futuro", "Esperanças de Portugal".

Tivemos ainda os oradores Pe. Eusébio de Matos e Pe. Antônio de Sá.

7.12.HISTORIOGRAFIA:

A historiografia brasileira começa a ter sentido a partir do Barroco. O que muito favoreceu este campo foram as academias.A sistematização histórica tem seu início, porém tudo ainda está muito preso ao Quinhentismo. O povo começa a valorizar o que lhe pertence. Aparecem o sentimento nativista. A própria literatura Quinhentista e Barroca, tem muito de história, mais do que a própria literatura.

HISTORIADORES:

1.Frei Vicente de Salvador (Bahia 1564-1640) Pertenceu a ordem de São Francisco. Estudou em Lisboa. Escreveu:"História do Brasil","História da custódia do Brasil".
Ele nos fala de tudo que viu e ouviu naquela época. Parece ter já um juízo crítico, mas
seu trabalho não difere muito dos outros. Escreve em forma de lendas, crendices, anedotas, fatos. Apresenta um estilo agradável, com introdução de expressões populares.

2.Sebastião da Rocha Pita ( Bahia 1660 a 1738) Estudou em Coimbra. Foi um homem rico e de vida folgada. Escreveu:"História da América Portuguesa".Deu uma visão geral do Brasil até 1724. Apresenta um estilo gongórico. Na sua obra tudo parece ser recitado. Foi um patriota, valorizando as coisas do Brasil. Foi poeta e escreveu algumas obras, mas sem muito valor literário.