Os clientes dos bancos brasileiros podem ficar despreocupados. Eles não correm risco de ficarem no prejuízo no caso de quebradeira, como aconteceu com várias instituições estrangeiras, pegas no contrapé da crise econômica mundial no ano passado. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado no dia 12 de junho pelo Banco Central, os bancos passaram com louvor no teste de estresse, que busca avaliar os impactos causados por oscilações no risco de crédito e nas taxas de juros e de câmbio.

No início do ano, o governo americano realizou testes de estresse com as principais instituições financeiras do país, avaliando sua resistência em caso de uma piora dos efeitos da crise. Muitos bancos precisaram reforçar suas provisões em bilhões de dólares.

 No Brasil, os testes avaliaram a capacidade de os bancos enfrentarem oscilações no risco de crédito e nas taxas de juros e câmbio durante a fase mais aguda da crise. Apesar da turbulência global, o BC verificou que o Índice de Basiléia (IB) - que mede a relação entre o patrimônio de referência das instituições e o risco assumido nas operações de crédito - subiu no segundo semestre de 2008 de uma média de 15,5% para 17,5%, mantendo uma folga frente ao mínimo exigido no país (11%).

A avaliação feita mês a mês com mais de cem bancos mostrou que, mesmo em um cenário mais extremo, com fortes impactos nas variáveis analisadas, o IB médio do sistema cairia para 10,7%, rompendo a barreira adotada no Brasil, mas ainda assim superior ao índice recomendado internacionalmente (8%).

De acordo com o relatório, os bancos brasileiros estão bastante resistentes aos principais fatores de risco. O teste de estresse demonstrou que somente num cenário extremo, que combinasse choques nas taxas de juros, de câmbio e elevação do risco de crédito, é que os bancos brasileiros poderiam apresentar um índice médio de Basileia inferior aos 11% exigidos pelo Banco Central. É o índice de Basileia que determina quanto de capital próprio a instituição financeira tem que ter para carregar o risco de suas operações de crédito.

Segundo o BC, mesmo no cenário de crise do segundo semestre de 2008, o índice de Basileia subiu. Na média, ele passou de 15,5% para 17,5%, influenciado por fatores como o ágio nas incorporações e fusões ocorridas no período, a constituição de crédito tributário e algumas mudanças normativas.

O teste demonstrou que, mesmo num cenário extremo, o índice de Basileia ficaria dentro do padrão internacionalmente aceito, embora inferior ao adotado no Brasil. Nesse cenário bastante ruim, ele baixaria para 10,7%, percentual ainda superior aos 8% recomendados internacionalmente. Os testes de estresse vêm sendo feitos pelo BC desde 2002. Mensalmente, participam mais de 100 instituições financeiras.

Outros levantamentos que avaliam o volume de liquidez das instituições, considerando os impactos causados por oscilações no câmbio, juros e nos níveis de depósito, demonstraram que os bancos mantiveram, ao longo do segundo semestre, recursos suficientes para fazer frente aos seus compromissos. De acordo com o relatório, a condução adequada das políticas econômica e monetária contribuiu para minimizar os reflexos da crise no setor financeiro e, por extensão, nos setores produtivos do país.
 
Fusões ajudaram
Entre as causas do bom resultado estão as fusões e incorporações desde o início da crise - o Itaú se fundiu com o Unibanco, o Banco do Brasil adquiriu a Nossa Caixa e metade do Banco Votorantim. Isso reforçou os patrimônios destas instituições, que são as duas maiores do país. O BC ressaltou, porém, que todas as operações já estavam previstas antes da turbulência e, portanto, não significaram mudanças na estratégia dos bancos em função do abalo.

Outros testes de liquidez confirmaram que as instituições mantiveram recursos suficientes para honrar seus compromissos ao longo do segundo semestre de 2008. O relatório ainda elogiou a atuação da equipe econômica do governo para amenizar os efeitos da crise: "Os incentivos à aquisição de ativos dos bancos de pequeno porte pelos de médio e grande porte e a redução dos recolhimentos de depósitos compulsórios contribuíram para o restabelecimento do volume de liquidez do sistema e para a manutenção das concessões de operações de crédito", afirmou a nota do BC.

Uma pitada de pessimismo
O estudo, porém, é limitado por não falar na situação individual de cada banco, mesmo que sem citar nomes, como aconteceu recentemente nos EUA. Os resultados se referem apenas à média do setor e não garantem que uma instituição isolada não possa ter problemas caso a crise se agrave.

Além disso, nem todos os parâmetros considerados pelo BC estão próximos da realidade. O estudo considera, por exemplo, que a cotação do dólar não cairia para menos de R$ 2,06, sendo que hoje a moeda dos EUA já é negociada abaixo de R$ 2.

O que os balanços dos bancos mostram é que, no primeiro trimestre do ano, as instituições sofreram muito com o aumento nos juros praticados no mercado financeiro, que levou a uma forte elevação nos seus custos de captação.

Entre janeiro e março, os bancos gastaram R$ 44,5 bilhões para captar recursos com empréstimos de curto prazo, 44% mais que no mesmo período de 2008. Como o setor não conseguiu repassar todo esse aumento de custos aos clientes, o resultado foi uma queda de 15% no lucro com operações de intermediação financeira.

Como estão os lucros dos bancos?
Com a crise, o lucro dos bancos que atuam no Brasil caiu 39% no primeiro trimestre deste ano quando comparado com os primeiros três meses de 2008, segundo levantamento feito pelo Banco Central a partir dos balanços entregues pelas instituições financeiras. No período, os ganhos acumulados pelo setor passaram de R$ 12,3 bilhões para R$ 7,5 bilhões.

Os números consideram apenas os chamados bancos comerciais, ou seja, aqueles que oferecem contas correntes a seus clientes. Se considerados apenas as chamadas financeiras independentes -que operam apenas com a concessão de empréstimos e não estão ligadas a grandes conglomerados financeiros-, a queda foi maior: no mesmo período, o lucro recuou de R$ 70 milhões para R$ 14 milhões.

Bibliografia
Jornal Correio Braziliense de 13 de junho de 2009
Jornal O Globo de 13 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 13 de junho de 2009