Bancos: amigos ou inimigos?

As instituições bancarias tem como função essencial tomar recursos de uma entidade/pessoa superavitária (orçamento positivo) e emprestar a uma entendida/pessoa deficitária (orçamento negativo). Em outras palavras, sua missão está em captar recursos da forma mais barata possível, ou seja, oferecendo uma "recompensa" pequena e, posteriormente, emprestá-los cobrando a maior taxa possível do tomador. Essa diferença entre o que o banco paga e o que ele cobra é o que chamamos de spread bancário.

Essa função de empréstimo foi notada há muitas décadas atrás, quando estava iniciando a negociação de ouro. As pessoas que disponibilizavam o serviço de custodia do metal começaram a notar que seus clientes faziam muito mais depósitos de ouro do que retiradas. Por exemplo, eles depositavam 10 barras de ouro e posteriormente retiravam de lá 2 ou 3 barras para uso ou venda. Mais tarde, essas mesmas pessoas seguiam depositando novas quantidades de ouro e continuavam retirando pouco, uma vez que um dos principais objetivos era a acumulação. Sendo assim, os custodiantes viram a oportunidade de emprestar as quantidades que sobravam para terceiros, em troca de juros no período, pois sabiam que a única coisa que deveriam cuidar era o pedido de resgate de seu dono original, controlando de perto o estoque para que houvesse ouro suficiente para as devoluções.

Atualmente essa “logística” ainda é bastante similar. A sociedade deposita seus recursos em contas correntes dentro dos bancos e estes por sua vez emprestam seu dinheiro a terceiros em troca de juros. Virtualmente quando olhamos nossos extratos na internet nosso dinheiro passa a impressão de estar "ali", disponível, quando na realidade fisicamente ele já pode ter sido emprestado para outras pessoas. De qualquer forma, o banco mantém um controle das operações e visa manter a liquidez para seus clientes. Liquidez é, basicamente, a facilidade que se tem para obter ou se desfazer de algo. No caso da conta corrente a liquidez é total, pois podemos utilizar o dinheiro a qualquer tempo. Em aplicações que possuem na sua descrição de liquidez prazos como D+1, significa que assim que for solicitado o resgate demorará um dia para o dinheiro de fato estar disponível para utilização.

Chegamos então a situação de risco bancário, onde centenas de pessoas já foram prejudicadas pelos episódios de falências de bancos, sendo funcionários ou clientes. O risco bancários está relacionado, principalmente, com dois fatores. São estes: alavancagem do banco e grau de risco dos ativos que o banco investe (incluindo o controle de risco dos mesmos). O primeiro item esta relacionado ao fato de que quando uma pessoa obtém um empréstimo, por exemplo, de dez mil reais ela provavelmente deixará o dinheiro, mesmo que temporariamente, na conta corrente, “parado”. Dessa foram o banco precisa reter um percentual disso, por segurança, e o resto ele já pode emprestar para outra pessoa, que por sua vez também deixara uma fatia parada na conta corrente e assim sucessivamente. Isso é a alavancagem, ou seja, o banco empresta muito mais dinheiro do que na verdade possui. O que aconteceria se todas as pessoas quisessem resgatar todo seu dinheiro de uma vez só? Não haveria dinheiro suficiente para pagar todas as pessoas, pois ha muito menos dinheiro em circulação do que se aparenta e, conseqüentemente, a instituição bancaria pediria falência, deixando muitas pessoas desempregadas e, ainda, seus investidores na corda bamba sem seus recursos, mesmo que temporariamente. Vale mencionar que na crise de 2008 nos EUA haviam bancos alavancados em até 30 vezes o capital disponível.
O segundo ponto é relacionado a como o banco obtém lucro. Alem dos empréstimos, o banco investe em ativos financeiros e realiza outros tipos de atividades/serviços, a fim de ganhar dinheiro de outras formas e diversificar suas operações. Caso os bancos tenham problemas de captação, por exemplo, possivelmente irão se expor cada vez mais em ativos mais arriscados a fim de contrabalancear a rentabilidade que estão deixando de ganhar normalmente, Isso pode ser altamente prejudicial para o banco e, conseqüentemente, para o sistema financeiro, não só nacional, como também mundial dependendo dos casos, principalmente devido à globalização. Hoje diversos bancos assumem direitos e obrigações entre si. Caso um deles venha a descumprir tais compromissos o sistema pode passar por um colapso e, com isso, haveria profunda necessidade de intervenção governamental.

Dessa forma, chegamos ao foco da questão em relação ao papel dos bancos. Como julgá-los e para que realmente eles existem.

Seguidamente as pessoas se iludem e criam uma visão distorcida do que é oferecido pelos bancos. Quando é oferecido um credito rotativo cobrando juros de 100% ao ano, muitas pessoas tendem a se sentir especiais, pois a impressão que fica é de que estamos sendo lembrados ou presenteados, tendo em vista que aquela instituição está colocando a nossa disposição um recurso para qualquer necessidade que surja, quando na verdade ele esta fazendo sua atividade principal que é de nos emprestar a juros caros um dinheiro que adquiriu com outras pessoas a juros muito baixos, conforme foi citado no inicio deste artigo. Sendo assim, a pessoa física deveria utilizar o banco de forma simples, apenas utilizando a conta como forma fácil e pratica de armazenagem de recursos e nunca pegar dinheiro emprestado, a menos que realmente seja necessário. Para tanto, é preciso que haja uma conscientização da sociedade e uma organização pessoal em suas finanças, a fim de não se endividarem e criarem uma obrigação que são incapazes de honrar e que podem, inclusive, terem repercussões judiciais por falta de pagamento.

Em suma, o banco não deve ser julgado como amigo ou inimigo, mas sim como uma instituição onde depende do consumidor fazer as escolhas corretas. Existem pessoas que investem através do banco, visualizando o crescimento de seu capital investido e nunca tiveram reclamações. Alias, você com certeza conhece alguém que não possui problemas financeiros, possui aplicações e nunca precisou de empréstimos. Isso tudo está diretamente ligado a planejamento financeiro. Como também deve conhecer alguém que vive ou viveu o oposto disso, com muitas dívidas, sempre procurando novas alternativas de crédito, pensando no que fazer no mês seguinte para pagar as contas, pois o dinheiro que possui não é suficiente, etc.

Sendo assim a dica que fica é: invista em conhecimento e finanças pessoais. Matematicamente é possível você investir 200 reais por mês, a uma taxa de juros de 11,50% ao ano (taxa atual do Brasil), em 30 anos você terá acumulado mais de meio milhão de reais. Hoje isso representaria uma renda mensal de aproximadamente 5 mil reais por mês. Resumindo, diminua ao máximo suas dividas e planeje seu futuro, pois ninguém fará isso por você. Faça seu dinheiro trabalhar para você e não para o banco!