Imaginemos a cena: um adolescente vai a uma banca de revista, um pouco assustado e ansioso. Pede ao jornaleiro uma playboy e este, um pouco desconfiado, tira a revista e lhe dá rapidamente, como se ali contivesse um segredo partilhado apenas por ambos. O adolescente sai, de início a passos lentos, olhando para os lados e guardando seu segredo em meio aos cadernos escolares. Os passos lentos tornam-se rápidos, a vontade se ficar só no quarto de casa aumenta o desejo e a curiosidade em ver o que ali está. O jovem rapaz enfim chega ao destino. Entra rápido, vai ao quarto, tranca a porta à chave e com cuidado e sobre o colchão de sua cama que guarda tantas outras playboys abre a revista. Sombreia-lhe a culpa por estar observando, desejando e imaginando coisas proibidas, porque ligadas ao sexo e tudo o que ele pode trazer de prazer e medo. Esta cena, tão comum no cotidiano de muitos brasileiros nos anos 90, seria impensável agora, onde a nudez banalizou-se e o sexo pode ser encontrado em um clique sob variadas formas, em fotos, vídeos e webcams de anônimos ou famosos tornados públicos em sua nudez. Se antes o garoto ingenuamente buscava a banca de revista para descarregar o seu desejo nascente pelo corpo do outro (seu reflexo ou seu contraponto), hoje esse ritual se dilui em uma sexualidade cada vez mais banal e às vezes opaca de tão comum. Até que ponto o que é sensual passa a ser erótico? Indo um pouco mais longe, a partir de onde o que antes era erótico passa a ser comum? Me pergunto quando observo o comportamento que nos é ditado. O erótico passou a ser considerado normal, e hoje ocupa um status de modernidade... Mas, distorce a sexualidade dessa geração adolescente, incutindo-lhe a banalização do sexo. Muitos me dizem: “Pô, Wendel... seu pensamento é muito atrasado! No seu Facebook, só vejo gata e você deve pegar todas”... Que nada, rapaz! Sou homem de uma só mulher. Quem me conhece, sabe. O sexo está sendo exposto sem disfarces, sexo associado a práticas de perversão, por todos os cantos. Estamos na fase pré-pornográfica da modernidade, período no qual se faz a chamada concessão à liberdade. A propaganda é atrair pessoas exatamente por trazer o sexo de modo explícito e sem meias palavras ou metáforas, exatamente como se ouve a pornografia nos funks cariocas. Ah, os eróticos da mídia, cuja mistura de baixa cultura e termos chulos ainda nos surpreende, o que dizer deles?... Quero perguntar a vocês: estamos nos encaminhando para o erotismo desenfreado ou estou escrevendo bobagem?