Avatar

 

Muito tem se falado de Avatar, desde as primeiras informações sobre o filme já se bradavam que seria uma revolução da 7º arte. O filme foi lançado e já bateu o recorde de maior bilheteria de todos os tempos. Segundo os entusiastas do filme a grande bandeira desta revolução foi o incrível resultado da tecnologia de CGI aplicada à obra. Concordo. E diria também que o marketing usado para alavancar o filme foi extraordinário.

Mas será que Avatar é só tecnologia e publicidade?

Talvez essa excelencia visual desvie um pouco a atenção dos espectadores para as mensagens contidas no filme. Venho observando comentários de colegas de cinema, blogueiros e espectadores do filme e muitos concordam que a trama do filme é bastante simples e com muitos clichês. De fato é. Mas e aí? Um filme com trama simples e com clichês não pode conter mensagens importantes? Penso que a partir do momento que temos um filme onde tudo é novo, não posso dizer que o filme tenha clichês que comprometam a obra. Imaginem AVATAR com uma trama complexa e sem nenhum clichê, ou seja, sem nenhuma ponte com o que já conhecíamos do cinema. Será que ficaria bom? Será que ficaria compreensível? Será que despertaria o interesse das pessoas? São pontos que merecem consideração. Ainda sim, quero analisar cada questão levantada no filme, que atinge muitas pessoas e que transcende sutilmente toda a simplicidade da trama e seu universo único.

Crítica à guerra do Iraque
Existe uma frase bastante emblemática no filme, dita pelo Coronel Quaritch: Venceremos o terror com o terror. O plano dos humanos era invadir Pandora para ocupar o território sagrado dos Na’vi e poder explorar o minério raro unobtanium, que vale uma fortuna para empresas terráquias e geraria muitos lucros para seus acionistas. Para isso precisavam que eles desocupassem o local, por bem ou por mal. Militares mercenários se aliaram às empresas para tirar proveito desta ocupação e trouxeram todo o seu know-how e equipamentos de guerra para isso. Para quem conhece bem, foi exatamente isso que provocou a guerra no Iraque, sob a falsa justificativa que Sadam Hussein fabricava bombas de destruíção em massa e que isso seria uma ameaça para a humanidade. E o que Avatar faz? Uma grande alegoria sobre esse conflito criado pelos norte-americanos. Na verdade a crítica é contra o imperialismo e não contra os norte-americanos. Eles são a vedete porque estão a frente desses conflitos e são a nação mais poderosa do planeta.

Conceito das múltiplas realidades
Apesar de toda a ficção envolvida, AVATAR explora um assunto bastante estudado na metafísica: a teoria das multiplas realidades ou dimensões. Imagine que a sua mente atinga diferentes tipos de realidade. Só que você só percebe uma: esta que você vivência neste momento. Existem algumas pessoas que conseguem acessar outros níveis de realidade, como os médiuns espiritas (interagem com o mundo espiritual), os sonâmbulos, os telepatas etc. Mas não são maioria. Esta habilidade requer uma elevada sensibilidade sensorial. E este tipo de situação fica cerceada pelo conhecimento empírico. Em AVATAR, fica claro que a ciência já domina esta habilidade e tem a sua comprovação por meio do tradicional método científico. O filme só não se aprofunda na tecnologia empregada pelos cientistas para fazer esta transmigração. Aliás, transmigração é um termo já conhecido de cientistas e pesquisadores metafísicos. O termo transmigração (ou metempsicose, para os gregos) é um processo para o comportamento de seres entrantes. Entrante é o nome usado para determinar seres de origem espiritual, que não utilizam os meios Divinos (Lei Cósmica=Lei da Encarnação), para se estabelecerem e utilizarem um corpo de origem física encarnado em nosso meio.

Avatar e o Espiritismo
Para os espíritas e simpatizantes, fica fácil identificar uma correlação entre a realidade dos Na’vi com a teoria do plano superior dos kardecistas. Na filosofia espírita, existem vários planos espirituais (também chamadas de colônias). Numa delas, o espirito desencarnado (ou mesmo encarnado, em alguns casos como no sonho) tem acesso ao plano. Neste plano, o ser vive numa harmonia constante com a natureza que o cerca, como se ela fosse uma extensão da sua essência. Vive de forma harmônica entre seus semelhantes e é desprovido de sentimentos como o materialismo e desejos mundanos. A ligação entre este plano e Pandora é muito evidente para quem conhece estes ensinamentos. E a própria relação entre a realidade dos humanos com a realidade dos Na’vi também é uma maneira de associar aos conceitos de plano terrestre e o plano espiritual.

Avatar

Portanto, percebam que AVATAR é muito mais que uma história clichê de amor, um filme tecnologicamente perfeito ou um grande case de marketing. É uma saborosa viagem filosófica, repleta de signos e questões despretenciosas, embaladas numa trilha sonora perfeita, uma fotografia exuberante e uma ideia única na indústria cinematográfica. Tiro meu chapéu para James Cameron e toda a sua brilhante equipe.

Artigo escrito para o site Tecnologia e Cinema - www.tecnologia-e-cinema.com