Avatar: Inspiração para Reflexão e Contemplação
Publicado em 20 de fevereiro de 2010 por Rafael Cruz
Muito tem se falado de Avatar, desde as primeiras informações sobre o filme já se bradavam que seria uma revolução da 7º arte. O filme foi lançado e já bateu o recorde de maior bilheteria de todos os tempos. Segundo os entusiastas do filme a grande bandeira desta revolução foi o incrível resultado da tecnologia de CGI aplicada à obra. Concordo. E diria também que o marketing usado para alavancar o filme foi extraordinário.
Mas será que Avatar é só tecnologia e publicidade?
Talvez essa excelencia visual desvie um pouco a atenção dos espectadores para as mensagens contidas no filme. Venho observando comentários de colegas de cinema, blogueiros e espectadores do filme e muitos concordam que a trama do filme é bastante simples e com muitos clichês. De fato é. Mas e aí? Um filme com trama simples e com clichês não pode conter mensagens importantes? Penso que a partir do momento que temos um filme onde tudo é novo, não posso dizer que o filme tenha clichês que comprometam a obra. Imaginem AVATAR com uma trama complexa e sem nenhum clichê, ou seja, sem nenhuma ponte com o que já conhecíamos do cinema. Será que ficaria bom? Será que ficaria compreensível? Será que despertaria o interesse das pessoas? São pontos que merecem consideração. Ainda sim, quero analisar cada questão levantada no filme, que atinge muitas pessoas e que transcende sutilmente toda a simplicidade da trama e seu universo único.
Crítica à guerra do Iraque
Existe uma frase bastante emblemática no filme, dita pelo Coronel Quaritch: Venceremos o terror com o terror. O plano dos humanos era invadir Pandora para ocupar o território sagrado dos Na’vi e poder explorar o minério raro unobtanium,
que vale uma fortuna para empresas terráquias e geraria muitos lucros
para seus acionistas. Para isso precisavam que eles desocupassem o
local, por bem ou por mal. Militares mercenários se aliaram às empresas
para tirar proveito desta ocupação e trouxeram todo o seu know-how e
equipamentos de guerra para isso. Para quem conhece bem, foi exatamente
isso que provocou a guerra no Iraque, sob a falsa justificativa que
Sadam Hussein fabricava bombas de destruíção em massa e que isso seria
uma ameaça para a humanidade. E o que Avatar faz? Uma grande alegoria
sobre esse conflito criado pelos norte-americanos. Na verdade a crítica
é contra o imperialismo e não contra os norte-americanos. Eles são a
vedete porque estão a frente desses conflitos e são a nação mais
poderosa do planeta.
Conceito das múltiplas realidades
Apesar de toda a ficção envolvida, AVATAR explora um assunto bastante
estudado na metafísica: a teoria das multiplas realidades ou dimensões.
Imagine que a sua mente atinga diferentes tipos de realidade. Só que
você só percebe uma: esta que você vivência neste momento. Existem
algumas pessoas que conseguem acessar outros níveis de realidade, como
os médiuns espiritas (interagem com o mundo espiritual), os sonâmbulos,
os telepatas etc. Mas não são maioria. Esta habilidade requer uma
elevada sensibilidade sensorial. E este tipo de situação fica cerceada
pelo conhecimento empírico. Em AVATAR, fica claro que a ciência já
domina esta habilidade e tem a sua comprovação por meio do tradicional
método científico. O filme só não se aprofunda na tecnologia empregada
pelos cientistas para fazer esta transmigração. Aliás, transmigração é
um termo já conhecido de cientistas e pesquisadores metafísicos. O
termo transmigração (ou metempsicose, para os gregos) é um processo
para o comportamento de seres entrantes. Entrante é o
nome usado para determinar seres de origem espiritual, que não utilizam
os meios Divinos (Lei Cósmica=Lei da Encarnação), para se estabelecerem
e utilizarem um corpo de origem física encarnado em nosso meio.
Avatar e o Espiritismo
Para os espíritas e simpatizantes, fica fácil identificar uma
correlação entre a realidade dos Na’vi com a teoria do plano superior
dos kardecistas. Na filosofia espírita, existem vários planos
espirituais (também chamadas de colônias). Numa delas, o espirito
desencarnado (ou mesmo encarnado, em alguns casos como no sonho) tem
acesso ao plano. Neste plano, o ser vive numa harmonia constante com a
natureza que o cerca, como se ela fosse uma extensão da sua essência.
Vive de forma harmônica entre seus semelhantes e é desprovido de
sentimentos como o materialismo e desejos mundanos. A ligação entre
este plano e Pandora é muito evidente para quem conhece estes
ensinamentos. E a própria relação entre a realidade dos humanos com a
realidade dos Na’vi também é uma maneira de associar aos conceitos de
plano terrestre e o plano espiritual.
Portanto, percebam que AVATAR é muito mais que uma história clichê de amor, um filme tecnologicamente perfeito ou um grande case de marketing. É uma saborosa viagem filosófica, repleta de signos e questões despretenciosas, embaladas numa trilha sonora perfeita, uma fotografia exuberante e uma ideia única na indústria cinematográfica. Tiro meu chapéu para James Cameron e toda a sua brilhante equipe.
Artigo escrito para o site Tecnologia e Cinema - www.tecnologia-e-cinema.com