Resumo: Os países em desenvolvimento apresentam as mais altas taxas de incidência de Tuberculose. No Brasil, os números são considerados preocupantes. Em 1999, a taxa de incidência registrada foi acima de 50/100 mil habitantes, estando o país em décimo lugar em número total de casos. O objetivo do estudo é conhecer e avaliar as causas de baixa cobertura de baciloscopia em sintomáticos respiratórios nos municípios da 19ª Regional de Saúde de Frederico Westphalen. Para isso utilizou-se método de pesquisa quali-quantitativo levantando dados do Livro de Registro de Baciloscopia e Cultura para Diagnóstico e Controle da Tuberculose, do ano de 2006, do Sistema Informação de Agravos e Notificação (SINAN) e entrevistas com profissionais médicos e responsáveis pela realização da baciloscopia de escarro em 5 municípios com população acima de 10.000 habitantes. As dificuldades apontadas referem-se a falta de conscientização, motivação, comprometimento dos profissionais de saúde, falta de educação em saúde para a população e carência de estrutura física, equipamento e recursos humanos para a realização de baciloscopia.
Palavras-chave: Baciloscopia, sintomáticos respiratórias, Tuberculose.

Introdução

A tuberculose é uma das doenças mais antigas da humanidade, com raízes sociais profundas ligadas a pobreza e a má distribuição de renda, sendo ainda uma das principais causas de morbimortalidade em nosso país, atingindo diversas faixas etárias e classes sociais. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação ? SINAN1, no Brasil foram registrados em 2004 80.960 doentes novos de tuberculose, correspondendo à um coeficiente de incidência de 45,2 por 100 mil. Com isso o governo assumiu o compromisso com seus cidadãos e com a comunidade internacional de controlar a evolução deste agravo, procurando reduzir sua morbimortalidade na população através do Programa Nacional de Controle de Tuberculose.
O Plano Nacional de Controle de Tuberculose (PNCT)2 define várias estratégias de estruturação de serviços, normas técnicas, distribuição gratuita de medicamentos e outros insumos necessários, sendo executado em conjunto pelas três esferas de gestão. Dentre as estratégias para desenvolver o PNCT em todos os municípios Brasileiros, estão à expansão e consolidação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde da Família (PSF) do Ministério da Saúde, em parceria com as prefeituras municipais.
O diagnóstico da Tuberculose além da avaliação clínica deverá estar fundamentado em alguns métodos dentre eles a pesquisa bacteriológica que é fundamental para diagnóstico e controle porque permite descobrir as fontes mais importantes de infecção: os bacíliferos. Recomenda-se para diagnóstico a coleta de 2 amostras de escarros em sintomáticos respiratórios (todo indivíduo com tosse e expectoração há 2 semanas ou mais). A baciloscopia é simples, de baixo custo e desde que executada corretamente em todas as fases, permite detectar de 70 a 80% dos casos de tuberculose pulmonar em uma comunidade3.
O trabalho técnico realizado na 19ª CRS ao longo dos anos nos mostrou uma realidade onde não há priorização por parte dos gestores em desenvolver e realizar ações de controle de agravos tais como a tuberculose, sendo observado que muitos municípios não apresentam se quer estrutura para coleta do material para baciloscopia ou para confecção das lâminas de diagnóstico.
A insuficiência de recursos destinados ao cuidado da saúde e a falta de decisão política por parte dos gestores para priorizar as ações efetivas do controle têm colaborado para agravar o quadro. O advento da epidemia da AIDS, que aumentou em 12% o número de casos nos países desenvolvidos, e ainda, o uso inadequado das tecnologias e sistemas de informação disponíveis, o diagnóstico tardio e a não realização de busca ativa de sintomáticos respiratórios e comunicantes, não tem assegurado o controle da doença4.
Outra questão observada nos casos positivos em tratamento na 19ª CRS são os fatores sociais que independem da capacidade de interação dos profissionais, tais como o alcoolismo e a não residência fixa (ex: indígenas) o que dificulta a criação de vínculo, acolhimento e a garantia de maior qualidade e adesão do paciente ao tratamento5.
O PNCT2 e a Portaria nº 1474/GM6 de 19 de agosto de 2002 enfatizam que o controle da doença compreende necessariamente o diagnóstico precoce.

De acordo com Morrone, N. (2004)7

As mortes por tuberculose são decorrentes principalmente do diagnóstico tardio ou não realizado da doença, e pela quimioterapia inapropriada. Nos países desenvolvidos, estima-se que o prazo mínimo para o diagnóstico de um doente seja de dois ou três meses. Nos países em desenvolvimento, a demora é muito maior e, conseqüentemente, proporcionaria maior número de infectados e de novos doentes. p.02.


Os documentos oficiais do Ministério da Saúde8 sempre enfatizam que deverão ser submetidos à baciloscopia de escarro os sintomáticos respiratórios há mais de três semanas, admitindo-se que pelo menos 1% a 5% da população seja sintomática e que 4% dos mesmos teriam baciloscopia de escarro positiva, e sendo obrigatória a repetição da baciloscopia tanto para os positivos quanto para os negativos. Entretanto, Farga admite percentuais mais elevados, pois considera que entre 5% e 10% dos adultos sejam sintomáticos respiratórios, dos quais 1% a 10% com baciloscopia de escarro positiva9.
A preocupação que motivou o estudo é de que o coeficiente de incidência médio de TB pulmonar bacilífera na 19ª CRS é de 1,5% ao ano10. Como este coeficiente não se manifesta em número de casos registrados no SINAN1 acreditamos que se deva a baixa cobertura de exames Bk realizados. Com isso o objetivo do estudo é conhecer e avaliar as causas de baixa cobertura de Bk em sintomáticos respiratórios nos municípios da 19ª coordenadoria Regional de Saúde de Frederico Wetphalen/RS.
De acordo com CONTANDRIOPOULOS, A. P., 200611:

Para fazer com que a avaliação esteja no cerne das estratégias de transformação do sistema de saúde, sugere-se criar condições para um julgamento avaliativo verdadeiramente crítico, com a implementação de estratégias que favoreçam a formação e o aprendizado, o debate, a reflexão e a abertura de novas frentes de intervenção. (p.01)

Baseados no conceito de avaliação pretendemos contribuir através da análise de dados levantados para interferir com decisões, estratégias de ações, para qualificar a Atenção Básica referente ao controle de Tuberculose, nos municípios da 19ª CRS ? RS, utilizando-nos do monitoramento e avaliação.


Metodologia

Na fase quantitativa da pesquisa utilizamos principalmente levantamentos de dados do SINAN. Após compilou-se dados do Livro de Registro referente ao percentual de baciloscopias realizadas (400) que representa 10% do total esperado de sintomáticos respiratórios em 2006.
A 19ª CRS é composta por 28 municípios, em sua maioria menores de 6.000 habitantes. Optou-se por escolher os municípios maiores de 10.000 habitantes, sendo que a soma dos habitantes desses 5 municípios equivale a 44% da população total da nossa regional. Independente do número de habitantes cada município tem apenas uma referência para realização de lâminas de baciloscopia, com um médico para realizar o diagnóstico e um técnico responsável pela confecção das lâminas de BK, tanto de diagnóstico como de acompanhamento. A 19ª CRS disponibiliza um dia da semana para realização de consultas com o médico responsável pelo PNCT para confirmação de diagnóstico..
A fase qualitativa aconteceu através de entrevista com perguntas abertas a 10 profissionais médicos e 10 responsáveis pela realização da baciloscopia nos locais de trabalho dos municípios de Nonoai, Planalto, Tenente Portela, Três Passos e Frederico Westphalen sendo cada cidade representada por 2 profissionais. Foi realizado piloto dos questionários elaborados, onde foram entrevistados quatro profissionais que trabalham na área estudada, após, foram feitas poucas alterações nas questões para realizar as entrevistas na amostra selecionada. Em seguida, entramos em contato com os profissionais responsáveis pelo PNCT dos municípios, e agendamos com o gestor a entrevista com os referidos profissionais, as entrevistas aconteceram durante o mês de abril de 2007, através de oficio e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por cada participante.
Em média as entrevistas gravadas duraram 15 minutos, e foram transcritas na íntegra, a análise dos dados se deu através da técnica de análise de conteúdo, seguindo os passo preconizados por Minayo12.


Resultados e Discussões

Investigação Individual de Tuberculose ? SINAN Total de casos e baciloscopia escarro 2006

De acordo com dados do SINAN1, o total de casos de tuberculose em 2006 na região era de 24, sendo que 13 casos eram positivos, 1 negativo e 9 casos tratados não realizaram baciloscopia.
Analisando os dados acima e calculando o coeficiente médio de incidência de Tuberculose Pulmonar Bacilífera para a 19ª CRS, esperaríamos ter encontrado 30 casos em 2006, no entanto, foram constatados 13 casos (43,33%). Isso nos leva a questionar se é devido a baixa cobertura de Bk em sintomáticos respiratórios, dados apresentados à seguir, ou a outros fatores que se desconhece, como comentado por Nelson Morrone7 em sua contribuição sobre Diagnóstico da Tuberculose em sintomáticos respiratórios onde examina aspectos importantes referente a indicação de baciloscopia como método de escolha para o controle da tuberculose,baixa sensibilidade, tempo para realização do exame, tempo prolongado para ser sintomático respiratório e outros .

Número de amostras esperadas e Baciloscopias População 19ª CRS 199.000 hab

De acordo com o PNCT2 a 19ª CRS deveria realizar um total de 3960 lâminas de baciloscopia no ano de 2006, no entanto o número registrado foi de 400 lâminas, o que equivale a apenas 10% do total esperado.
A análise desses dados nos faz pensar que se com uma cobertura de 10% de baciloscopia de escarro diagnosticou-se 13 bacíliferos, teoricamente com a incidência de 1,5 casos pulmonar positivos por 100.000 poderíamos detectar 30 bacilíferos se tivéssemos realizando uma cobertura de 100% dos exames baciloscópicos. Avaliando-se somente números essa situação é preocupante porque onde estariam estes casos e em que momento apareceriam no sistema.
Na fase exploratória foram questionados 100% dos 10 entrevistados sobre as causas de baixa cobertura de baciloscopia em sintomáticos respiratórios, como mostra a Tabela.1 e Gráfico.1, as respostas apontaram para a falta de conscientização, motivação, comprometimento da equipe de saúde, falta de educação em saúde para a população, deficiência na estrutura física, equipamentos e recursos humanos capacitados para a realização de baciloscopia, sobrecarga de trabalho e qualidade da lâmina também foram relatados.

Tabela.1
Causas de baixa cobertura de BK em SR % n
Falta de comprometimento da equipe de saúde 42,85% 6
Falta de educação em saúde para a população 21,42% 3
Deficiência na estrutura física 14,28% 2
Sobrecarga de trabalho 7,14% 1
Qualidade da lâmina 7,14% 1
Outros 7,14% 1
Total 100% 14
Baciloscopia de Sintomáticos Respiratórios - 2007

Gráfico.1

Causa da baixa Cobertura de BK em SR. 2007

Falta de conscientização, motivação, comprometimento da equipe de saúde.

Observou-se desmotivação por parte dos profissionais, devido à sobrecarga de trabalho realizado nas unidades. Isso leva a inúmeros problemas, tais como a não priorização de tempo para realizar capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde, falta de reuniões de equipe para organização do trabalho e troca de informações entre os membros, com isso não ocorre interação entre os membros da equipe e não haverá compromisso como resultado do trabalho4.
Estudo mostra que a dificuldade para encontrar sintomáticos respiratórios na demanda dos serviços está diretamente associada ao modo como a assistência é prestada, identificando a falta de empenho, envolvimento e diálogo13.

Pizzoli, L. M. L., 200714, refere que

...a motivação é um estado interno resultante de uma necessidade, aborda-se sua inferência na expressão do comportamento...Mediante a cultura, a experiência familiar e individual, cada pessoa desenvolve forças de motivação que influenciam no seu trabalho, conforme seus valores...p.2.

"Uma das razões de ter a baixa cobertura de BK em sintomático, é talvez, a falta de motivação dos profissionais..."

"Eu acho que não existe uma busca ativa, né, assim, especifica para estes casos..."

Observou-se nas entrevistas a falta de sensibilização dos médicos em procurar investigar casos de tuberculose, diagnosticando casos mais adiantados da doença, por não ter o costume de investigar a tuberculose nos pacientes atendidos no consultório.

"...os profissionais médicos que tem mais contato com os paciente de TB, não procuram realizar estes exames, pra analisar né, pra ver se tá ou não com tuberculose..."

"...falta de conscientização e colaboração da classe médica do PSF..."

Estudo mostra que a dificuldade para identificar SR na demanda dos serviços esteja associada diretamente ao modo como a assistência é prestada, sendo que o serviço é organizado para atendimento de doenças agudas, destacando falta de diálogo no acolhimento dos pacientes, passando despercebidos os sintomas da tuberculose. Assim os casos são percebidos no momento que o paciente retorna ao serviço com a agudização de sua condição crônica13.
Um bom sistema é aquele que se organiza com o propósito de conter o ciclo evolutivo dos eventos crônicos.

Falta de educação em saúde para a população

Observou-se nas entrevistas dos profissionais o reconhecimento da importância da informação da comunidade quanto à tuberculose.
A educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientadas para a prevenção de doenças e promoção da saúde15. Ela é um recurso por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde16.

"A gente também não tem feito muita campanha, então acho que a população não está muito informada, então eles não vem procurar mesmo. Eu acho que a gente poderia melhorar mesmo, informando mais, então eles não vem mesmo procurar."

"Falta de divulgação nos meios de comunicação de nossa região."

"... pra nós talvez o maior mesmo né, seja a falta de orientação das pessoas."

"...pouca divulgação de pessoal, das equipes de Enfermagem."






Deficiência na estrutura física, equipamentos e recursos humanos capacitados para a realização de baciloscopia

Estudos citam a insuficiência de recursos para o cuidado da saúde e a falta de decisão política por parte dos gestores para priorizar as ações efetivas de controle da tuberculose como um agravante do quadro4, 13.

" Eu acredito que a falta de investimento, estrutura também, pessoal se disponha a trabalhar em cima da tuberculose, por exemplo, no nosso município temos a estrutura, o pessoal, só falta o material. Por exemplo, um deles é o Bico de Bursen, o qual usamos para proteção, pra confeccionar as laminas. Então, nós não temos como fazer uma demanda maior... então, Eu, acredito assim, que se o município investir, no nosso por exemplo, falta material".

"...acredito que seja na estrutura de profissionais e na estrutura física também. Nas unidades a grande maioria não tem uma sala especifica para afazer as lâminas de BK,... falta de pessoas, pessoal treinado..."

Sobrecarga de trabalho

Observou-se nas falas dos profissionais a sobrecarga de trabalho e a forma como o serviço está organizado o que se confirma em estudos estudos13.

"... geralmente tem uma ou duas pessoas treinadas para fazer a coleta e isso acarreta excesso de trabalho, esses profissionais tem outros trabalhos e outras áreas de trabalho e não pode trabalhar só com a tuberculose."

Qualidade das lâminas de baciloscopia

"... a gente tem um índice alto de pessoas com sintomas de BK, com raio X compatível, todas as vezes que se fez essa pesquisa de BK, essa pesquisa deu negativa. Então, eu não sei se as lâminas estão sendo mal feitas, não sei se está sendo mal coletado, não sei o que está acontecendo..."

Dados do Ministério da Saúde, 2002, mostram que no Brasil, 55,07% dos casos diagnosticados de tuberculose têm baciloscopia positiva de escarro8. Com isso, se este fosse o único método utilizado, metade dos casos não seriam diagnosticados o que nos faz pensar que a meta de 90% de detecção de casos de tuberculose apontada pela Portaria n° 1474/GM de 2002 é irrealizável17.
Não podemos esquecer do fator, qualidade das lâminas realizadas e do treinamento do pessoal que confecciona as lâminas. No ano de 2005, o LACEN* realizou revisão de qualidade de um amostra das lâminas confeccionadas na 19ª CRS, desta amostra 36% das lâminas eram mal feitas, 14% tinham material escasso, 28% eram aceitáveis e apenas 22% eram consideradas boas.

De acordo com Nogueira, 200518,

A baciloscopia é essencial para a internação dos doentes de tuberculose, evitando internações equivocadas, sendo que os pacientes positivos merecem uma especial atenção, para que não ocorram as saídas indesejadas e os longos períodos de internação. p.01

Outros fatores citados

Como já mencionamos acima, existem outros fatores que foram citados nas falas dos profissionais entrevistados, que independem do trabalho desempenhado pela equipe

"...aqui são os da área indígena e de baixa renda, eles não se interessam né, mesmo sabendo que estão doentes e todos eles não procuram um atendimento."

"...embora que nós temos os ACS que a gente trabalha bastante, que é procurado, mas mesmo assim as pessoas não procuram o serviço..."

Em pesquisa realizado no Hospital de São Paulo18 observou-se que os fatores sociais e alcoolismo são estatisticamente significativos à internação de pacientes com tuberculose, revelando que 90,5% e 81,1%, respectivamente, foram internados com baciloscopia positiva. Em estudo realizado em Natal, RN, observaram-se os fatores associados à tuberculose pulmonar em pacientes internados de 2000 a 2002, revelando que 11,1% dos pacientes internados eram etilistas isolados e associados e 13,8% eram etilistas/tabagistas e associados, um total de 24,9% de etilistas associados ou não com drogas, contágio direto, desnutrição, abandono de esquema, pneumonia, etc19.
Isso no leva a questionar quanto à importância da equipe ter um reconhecimento crítico tanto da clientela dos serviços como do reconhecimento da natureza interdependente e complementar dos trabalhos institucionalmente articulados em trabalho coletivo13.
Observa-se que a tosse não é um caso agudo que exigiria intervenção imediata, por isso, nem sempre é valorizada pela equipe de saúde, o que determina um prejuízo da atenção no primeiro contato, fazendo com que o usuário não encontre resposta para o seu problema, procurando outro serviço ou retornando apenas quando a quadro está agravado13.

Organização da UBS na busca de casos de SR nos municípios

Com relação ao modo de agir dos profissionais médicos e responsáveis pela baciloscopia sobre como está organizada a busca de casos os relatos foram:

"Na busca de casos? Prá começar não tem nem sala pra fazer os exames de Bk, a gente tem que se deslocar para outro posto, e ainda no consultório do médico...tem que incentivar as enfermeiras porque é elas que fazem a pré-consulta..."(ent 7)

" Olha, aqui o que a gente tem feito, aparece aqui no consultório, em cima da queixa a gente vai procurar, a gente vai pro RX, se o RX vem com suspeita, com lesão característica de tuberculose, se vai pedir a pesquisa de Bk" ( ent 2)

"É a gente tem feito só um treinamento aqui dentro da unidade entre os profissionais, mas não pra abranger fora daqui... é em cima da demanda" ( ent 6)

"... eu acho assim que o treinamento não deve ser só para a enfermeira porque a gente cobra muita coisa deles (médicos), não sei se é pelo acúmulo de coisas que eles têm mesmo, mas eles não dão muita importância " ( ent1)

Observa-se ainda que a equipe das UBS não atuam unidas com o PSF e não participam da capacitação continuada dos ACS que são atores principais na realização da busca ativa de SR. A importância da utilização do Programa de Agentes Comunitários de Saúde na realização de busca ativa de SR, porém refere que para garantir impacto no controle da tuberculose é necessário a realização de capacitação permanente que permita, dentre outras habilidades, a apropriação de outros saberes e conhecimentos que ofereçam os subsídios necessários na complexidade da atenção aos usuários acometidos do agravo13.

"... a busca de casos, bom os pacientes que chegarem a mim eu faço, agora até chegarem a mim seria feito pelo pessoal do PSF" ( ent 4)

Percebe-se que o imperativo dos trabalhos é em cima da demanda e não de ações de busca em prontuários, busca de grupos vulneráveis, rotina de identificação do sintomático respiratórios na US, educação e prevenção em saúde20.
Existem modelos implantados, como na Unidade de Saúde da Cidade de Deus, RJ onde comprovou-se que a integração de ações e parcerias com capacitação de equipes multiprofissionais, visita domiciliar, busca de casos, estratégias para o envolvimento da comunidade levou a um aumento da captação de casos novos em 85,7%, na captação de sintomáticos respiratórios em 181,8% e redução da taxa de abandono no tratamento da doença para zero20.

Medidas a serem tomadas para aumentar a busca de SR

Quando questionados sobre medidas a serem tomadas para aumentar a busca de sintomáticos respiratórios observamos que as mais citadas dizem respeito a incentivar busca de casos junto aos profissionais (42,85%), educação em saúde para a população (21,42%), capacitação pela Regional para as equipes de saúde (7,14%), melhorar as estruturas físicas nas Unidades de Saúde (21,42%) e outras (7,14%) como mostra o gráfico. 2 a seguir.

Gráfico 2

Medidas a serem tomadas para aumentar a busca de SR. 2007

Estudo mostra que apesar da busca ativa ser uma das atribuições do Agente Comunitário de Saúde isso não significa que de fato esta ação seja incorporada no seu cotidiano de trabalho. O processo de capacitação dos profissionais não garante a continuação do processo13, isso ficou evidente nas falas dos profissionais entrevistados.
"...maior empenho das equipes de saúde, do PSF, principalmente dos ACS..."

"...eu acredito que a gente tem que procurar identificar mais né, os pacientes que passam, assim, no dia-a-dia....e ir atrás, né..."

"...e tem que incentivar as enfermeiras, que façam a pré-consulta e encaminhem pra gente (médico) qual o motivo do BK..."

Identificou-se nas falas dos profissionais a importância de informar a população quanto à tuberculose, com o objetivo de conscientizá-los a procurar a unidade de saúde assim que reconhecer os sintomas. O meio de comunicação mais citado foi o rádio.

"...é a gente tem um programa da secretaria aqui na rádio, que é o meio de comunicação que mais abrange a população, então eu acho que a gente poderia pensar nisso, para atingir melhor esta população..."

"eu acredito que se nós formos usar os meios de comunicação, colocar pra população o que é a TB.... daí a população vai estar consciente do que é a doença..."

A coordenadoria foi citada pelos profissionais entrevistados como responsável pela realização de capacitações dos profissionais, além de melhorar a informação quanto à dados epidemiológicos e alcance ou não de metas estabelecida. No entanto cabe ressaltar que as metas a serem cumpridas pelos municípios são estabelecidas por cada município anualmente, no momento da pactuação, cabendo a coordenadoria dar suporte e orientações.
A política atual de formação de recursos humanos para PNCT, segue a diretriz de atender às necessidades e demandas do SUS. Para a assistência, tem-se como princípio que toda a equipe das unidades de saúde deve ser treinada e atualizada para oferecer melhor assistência ao paciente com tuberculose. Assim, todas as categorias devem ser contempladas no planejamento de cursos e treinamento pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. As equipes de instância central devem também ser treinadas e atualizadas para sua função específica de gerenciamento do programa8.
É importante ressaltar, que o supervisor enfermeiro deve ser a pessoa de referência para a atuação dos ACS, orientando suas atividades; alguém que o forma, recicla e atualiza. Assim, em nível operacional o treinamento, a reciclagem são pontos cruciais e indissociáveis para o êxito do programa13.

"... então, na verdade a gente teria que fazer um preparo maior dos profissionais né, pela coordenadoria, pra tal, pra poder encontrar..."

"...os médicos devem ser informados dessa baixa cobertura pelo estado a partir daí fazer então, um informativo para os médicos e pessoal do PSF, de enfermagem, agente de saúde, noticiando esta informação, transmitindo esta informação..."

Alguns profissionais citaram entre as melhorias a serem realizadas para aumentar a busca de Sintomáticos respiratórios uma melhor estruturação da Unidade de Saúde e aumento do número de profissionais capacitados para o serviço.

"... aumenta o número de profissionais treinados e melhorar a estrutura física..."

A fala de um profissional entrevistado expressa a dúvida quanto à confiabilidade do método diagnóstico utilizado. Estudo mostra que de um percentual de 84,1% de pacientes que realizaram bacislocopia, apenas 55,3% apresentaram positividades, enquanto que 44,7% tiveram resultado negativo, confirmando a baixa sensibilidade do método19.

"... eu não sei se está havendo falha na coleta, na lâmina que é feita, mas se busca, nesse sentido melhorar... acho que o BK é que tem que se esmiuçado para ver porque não está aparecendo (os bacilos)."

Conclusão:

Observou-se que não existe interdisciplinariedade nas ações da UBS, a organização do serviço não favorece para a realização de reuniões de equipe, não ocorrendo troca de informações entre os profissionais. Destacamos a importância da educação permanente em saúde (EPS) que tem como objetivo de transformação, o processo de trabalho, orientado para a melhoria da qualidade dos serviços e para a equidade no cuidado e no acesso aos serviços de saúde. Partindo da reflexão sobre o que está acontecendo no serviço e o que precisa ser transformado21.
Apesar da busca ativa ser uma das funções básicas do ACS, esta não é realizada como rotina se não existir cobrança por parte do supervisor enfermeiro e também da equipe de saúde. A gestão municipal não prioriza a prevenção de agravos como a tuberculose, não oferecem estrutura adequada para a realização do trabalho básico para identificação de sintomáticos respiratório, contando sempre com a improvisação de local e profissionais com acúmulo de funções.
Os resultados da pesquisa mostram a necessidade contínua de capacitação das equipes de saúde, visando o estabelecimento de rotinas e atribuições profissionais, viabilizando recursos para a estrutura física da área de coleta e reflexões sobre a necessidade de implantar estratégias de mudança na lógica de trabalho. Não esquecendo, ainda, da importância da Educação em Saúde da população, ou seja, que o trabalho se dirija para atuar sobre o conhecimento das pessoas, para que elas desenvolvam juízo crítico e capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre o ambiente com o qual interagem, assim, criem condições para se apropriarem de sua própria existência22.


Referências Bibliográficas

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* No ano de 2006 devido a falta de recurso humanos o LACEN não conseguiu realizar a revisão da qualidade das lâminas de baciloscopia.