AVALIAÇÃO - UMA QUESTÃO A SER REPENSADA

Jeovane Soares Rodrigues1

Resumo O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de proporcionar uma visão crítica e construtiva de Avaliação; diferenciar Avaliação de Medida e analisar a nossa prática avaliativa nas escolas. A razão pela qual vim realizar este estudo é para desmistificar de maneira clara e consciente, a ideia que muitos educadores têm de avaliação. Pois, o caminho que a avaliação trilha, tem sido difuso, complicado e mal sucedido.

Palavras-chave: Avaliação – Mitos - Concepções

Para muitos, avaliar resume-se apenas em medir quantitativamente a capacidade de alguém. Ora, ingênuos são aqueles que pensam assim, não sabendo eles, que agindo desta forma, estão contribuindo para o fracasso da escola e consequentemente da sociedade. Avaliar é um processo amplo, global, que leva o indivíduo a pensar, refletir, participar, a assumir a sua cidadania. Por motivos como estes e outros se faz, necessário repensar o significado da ação avaliativa, com a esperança de mudarmos a realidade atual, formando estudantes capazes de agir para modificar o sistema social vigente. Estudar a Avaliação Escolar no contexto da realidade brasileira recente, a partir de uma prática pedagógica, exige um referencial teórico que pode ser encontrado em parte nas obras de notáveis educadores, com formação diversa e que voltam sua atenção para o processo de avaliação educacional.

1 Mestrando em nível Profissional em Educação e Multidisciplinariedade, promovido pela
FACNORTE/IBEA. O que tem ocasionado à maioria das discussões em torno da avaliação é a tentativa de definição do significado primordial de sua prática na ação educativa. Contudo, o ponto comum, em quase todos os autores é o reconhecimento da Avaliação a serviço do autoritarismo, o do direito de cátedra do professor desde os primórdios da educação e a esperança de uma prática avaliativa que busque a transformação social. A explicação para problemas como: evasão, repetência, fracasso escolar, como resultantes da ação educativa de nossas escolas, no que se refere à prática avaliativa, está na compreensão dos pressupostos teóricometodológicos que fundamentam os diferentes modelos ou paradigmas de avaliação. Isto é, a identificação da matriz epistemológica em que foi inspirado este ou aquele modelo de avaliação adotado. No modelo objetivista, inspirado na matriz positivista, a avaliação caracteriza-se pela valorização dos testes, as questões de múltipla escolha, as provas ditas “objetivas”. O objetivo passa ser somente aquilo que pode ser observado, medido, palpado. Há a separação entre o sujeito que conhece e o objeto do conhecimento. Contrapondo esse modelo objetivista foi criada uma nova postura, a subjetivista ou idealista. Um módulo que não preocupa em garantir a objetividade do conhecimento, mas sim, volta-se, exclusivamente para a atividade do sujeito, a quem se atribui o papel de criador da realidade. A avaliação neste modelo caracterizou-se pela valorização da “auto avaliação”, e elaboração de “questões abertas” para a utilização de entrevistas nas quais o sujeito constrói a sua própria resposta. Resumindo, ambos modelos citados são insuficientes e inadequados, pois, o primeiro a ênfase avaliativa recai sobre a medida do produto observável, na quantidade; enquanto que o segundo, volta-se também para a apreensão das habilidades já adquiridas, que não estão necessariamente refletidas nos produtos demonstráveis, apresentando a visão de homem de forma automatizada e abstrata, sem vínculo nenhum entre indivíduo - sociedade, limitando-se apenas a conceitos sem provocar alterações como afirma Mediano(1976) que medir é um ato de colher informações e ordená-las, levando em conta seu aspecto quantitativo numérico... Avaliar é um processo mais amplo que a medida. ... a avaliação pode utilizar tanto descrições quantitativas, como qualitativas, ou ambas. A questão da avaliação é tão complexa como de extrema importância no setor educacional. Verifica-se que a avaliação educacional em geral e a avaliação da aprendizagem escolar, devem sofrer mudanças qualitativamente, partindo assim, para uma avaliação que visa o crescimento contínuo dos estudantes, através da participação levando os mesmos a fazerem parte de um processo histórico de conquista da autopromoção, como diz Diniz (1982) que avaliação é um meio para alcançar fins e não um fim em si mesmo. A prática avaliativa pode ser identificada dentro dos modelos pedagógicos para a conservação e para a transformação social. Estando a avaliação a serviço da conservação, assume a característica de um instrumento disciplinador de condutas cognitivas e sociais, tendo obrigatoriamente, que ser autoritária, pois esse caráter pertence à essência de uma sociedade, que exige controle e enquadramento dos indivíduos; enquanto que, a serviço da transformação, é vista como instrumento que busca a autonomia do educando, uma participação democrática de todos que compõem o processo educativo, como afirma Luckesi(2006):
“(...) a avaliação da aprendizagem escolar será autoritária
estando a serviço de uma pedagogia conservadora e,
querendo estar atenta à transformação, terá de ser democrática
e a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a
transformação da sociedade a favor do ser humano, de todos
os seres humanos, igualmente.” (p. 32) Analisando, no aspecto geral, os instrumentos de avaliação de algumas instituições de ensino, nota-se que a ênfase avaliativa recai sobre a medida daquilo que se observa. Os testes e provas aplicados são vistos como de mensuração e constatação, dificilmente levam o aluno a raciocinar, pois as questões são objetivas e, necessita apenas da memorização dos conteúdos, dando margem para a construção de tudo o que foi visto nas aulas. É descartada a possibilidade de extrapolar ideias e reconstruir seus próprios conceitos. Muitos professores não deram conta da responsabilidade de avaliar. Não sabem porque avalia, e, porque tem que medir. São acomodados nas suas práticas rotineiras, não preocupando em elaborar uma avaliação voltada para reflexão e transformação, ou seja, não dão uma atenção especial ao elaborar as questões, para que no momento da resolução, o educando possa repensar o que foi estudado, reconstruindo a sua própria resposta. Nós, educadores de hoje, devemos procurar e muito levar em consideração a concepção do educando, ajudando-a entender a realidade que o cerca, desenvolvendo sua consciência crítica, com trabalhos que possam conduzi-los a pensar, a raciocinar, opinar, pesquisar, como um sujeito que sofre e provoca mudanças dentro do meio em que vive. Devemos agir como orientadores do processo de aprendizagem, que se educa cada dia com seus alunos, apostando sim, num modelo dialético, onde todos participem como diz Gadotti (1983) que Avaliar pode se constituir num exercício autoritário do poder de julgar ou, ao contrário, pode se constituir num processo e num projeto em que avaliador e avaliando buscam e sofrem uma mudança qualitativa. É nesta segunda prática da avaliação que podemos encontrar o que uns chamam de avaliação emancipadora e que, na falta de melhor expressão eu chamaria de “concepção dialética da avaliação”. Por fim, tudo o que foi relatado neste trabalho é de fundamental importância para nós professores. Precisamos repensar a nossa prática educacional avaliativa, num sentido de conscientização; apostando numa nova postura de educadores aptos a transformar, mesmo que ao longo prazo, essa avaliação quantitativa, em uma avaliação dialética, onde todos participem, buscando construir juntos o conhecimento. E para que isto venha a acontecer se faz necessário, que cada um de nós, que trabalha na área de educação, deixemos o medo, a acomodação e principalmente a submissão de ideias, e, nos posicionemos lado a lado com educando, orientando-o e reconhecendo em cada um deles um ser social e político, sujeito do seu próprio desenvolvimento. Se agirmos assim, estaremos contribuindo para uma mudança qualitativa e transformadora da avaliação. Cada passo da nossa ação pedagógica humanizadora e democrática será dialeticamente a própria transformação. Referências Bibliográficas DINIZ, Terezinha. Sistema de avaliação e aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1982. 100 p. GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da avaliação. In: DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. 2. ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1988. 103 p. (Coleção Polêmicas do nosso tempo, 25) LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 180 p. MEDIANO, Zélia Domingues. Módulos instrucionais para medida e avaliação em educação. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. 116 p.