Tema: AVALIAÇÂO: prática social e ação docente

Discussões iniciais sobre o conceito de avaliação.

O ato de avaliar não se restringe ao contexto educacional, é uma prática social ampla, pela própria capacidade que o ser humano tem de observar, refletir e julgar. Todas as atividades humanas são orientadas por um critério avaliativo assistemático, ou seja, sem critérios pré-estabelecidos.
Assim, pode-se afirmar que o ato de avaliar aponta caminhos, para tomada de decisão. Entretanto na escola, sua função não tem sido muito clara. Ela vem sendo utilizada ao longo das décadas como atribuição de notas, visando a promoção ou reprovação do aluno, adotando uma perspectiva quantitativa.
O princípio da avaliação é um aspecto crucial, já que determina, em grande parte, o tipo de informação considerada pertinente de ser analisada e define os critérios a serem tomados como pontos de referência, bem como, os instrumentos utilizados no cotidiano da atividade avaliativa.
A avaliação norteia todas as dimensões do processo ensino aprendizagem, quer se dirija ao sistema em seu conjunto quer a qualquer de seus componentes, correspondendo a uma finalidade que, na maioria das vezes, implica tomar uma série de decisões relativas ao objeto avaliado. Em decorrência deste aspecto, a proposta que se refere ao objeto avaliado deve ser clara e bem definida. Entretanto, o que se percebe é que a avaliação, em alguns momentos, tem sido utilizada de forma equivocada pelos profissionais que se encontram à frente deste processo, ocasionando distorções no sistema educacional. Nesse sentido, faz-se necessário uma análise sobre os procedimentos e critérios avaliativos operacionalizados no contexto em questão.

Quem está à frente da avaliação?

A autora Nilda Alves (1999), ao levantar possibilidades para se discutir as propostas avaliativas desenvolvidos no sistema educacional, inicialmente, levanta a seguinte questão: "Quem é mesmo que avalia?", pois segundo autora; "É esta a grande decisão política a ser tomada, a indicadora do rumo curricular e pedagógico que vai se dar ao processo educacional".
O ato de avaliar requer do avaliador competências, pois, a partir de seus resultados decisões serão tomadas na esfera educacional, direcionando a conduta a ser seguida com os sujeitos nela envolvidos. Assim, identificar quem se encontra a frente do processo se torna algo relevante.
Esta discussão nos reporta ao seguinte questionamento: só os que têm competência avaliam, o que restringe seu campo de ação. Quais os princípios que determinam a competências desejáveis para o ato de avaliar?
Esta competência pode ser entendida como um campo de conhecimentos que capacita o sujeito para tal atribuição ou por um lugar assumido e determinado, A COMPETÊNCIA POSSUÍDA E NÃO CONSTRUÍDA ACABA POR REFLETIR A EXPRESSÃO DE INTERESSE DO GRUPO DE PODER.
A AVALIAÇÃO FEITA POR ESTE PROFISSIONAL "COMPETENTE" É INDISCUTÍVEL, as escolhas, critérios, procedimentos e encaminhamentos a serem dadas ao sistema avaliativo ? cabem a este avaliador, por ser ele competente. Sendo, suas ações claras, rápidas e verdadeiras.
A este sujeito cabe decidir: O que avaliar? Como avaliar? Para que avaliar?Estas decisões acabam tendo um cunho hierárquico, seletivo e excludente. Causa do fracasso, evasão e mau funcionamento dos processos educacionais.
A partir desta análise Alves (1999), sugere um outro caminho possível: "eu avalio, tu avalias, ela avalia, nós avaliamos...". Ou seja, com ou sem decisão técnica todos estão envolvidos nos procedimentos avaliativos.
O avaliador deve ter, portanto, um conhecimento mais aprofundado da realidade na qual vai atuar, porém, este conhecimento, só será possível através da interação de todos os partícipes do processo educativo, para que o seu trabalho seja dinâmico, criativo, inovador e inclusivo.


AVALIAR É UMA MANEIRA DE EXERCER A VIDA.

O fluxo da percepção humana se estabelece a partir dos opostos, e esta lógica estrutura a realidade o qual se está inserido.
"A realidade, enquanto refletida na linguagem e conseqüentemente, pelo pensamento não é um continuum, mas um âmbito regulado por categorias descontínuas, substancialmente antitéticas" (se estabelece pelo oposto).
Esta afirmativa nos reporta ao seguinte aspecto, os conceitos e categorias que sistematizam a vivência humana se constituem a partir de suas negações, ou seja, a nossa referência sobre o belo, se organiza a partir do reconhecimento do seu contrário. Esta lógica se estende ao contexto educacional, uma prática avaliativa solitária e autoritária, impossibilita ao perito que se encontra a frente do processo, uma visão holística que possibilita a análise da diversidade que sustenta as práticas educacionais.
Assim, uma prática avaliativa satisfatória só é possível a partir da interlocução com o coletivo, ou seja, todos os envolvidos neste processo, podem, através da avaliação, refletir sobre sua própria evolução na construção do conhecimento.
Com isso, se colaborará para um sistema educacional mais justo que não exclui o aluno do processo de ensino-aprendizagem, mas o inclua como um ser crítico, ativo e participante dos momentos de transformação da sociedade.

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