Por. Correia Hermenegildo Correia[1] & Armando Venâncio Laita[2]

A avaliação é, e como se sabe, um instrumento indispensável na educação escolar, pois assume muitas vezes, ao nível do currículo em geral e das práticas pedagógicas em particular, o papel de elemento estruturador do trabalho de professores, alunos, gestores educativos entre outros.

Em Moçambique, se não em todos os sistemas educativos, o procedimento de regulação da acção educativa, passa necessariamente pelo processo de avaliação e efectivamente a presença do professor e do aluno, no qual criam condicionalismos de aprendizagem. Porém, as principais preocupações são levantadas nos fundamentos de Philippe Perrenoud, Jean-Jacques Bonniol e Michel Vial em suas teorias Modelos de avaliação, quando pretendem abordar sobre a avaliação formativa como o principal dispositivo pedagógico, no qual compreende três aspectos fundamentais: a orientação, auto-avaliação e autocorrecção dos alunos.

É nesta perspectiva, que o presente artigo com a temática em alusão, pretende compreender as razões da aplicação da avaliação sumativa "classificatória" nas escolas, como o único recurso para atribuir nota ou seja credito para o aluno transitar de um nível escolar para o outro, e não valorizando o principal dispositivo regulador do PEA, como afirmam vários pedagogos.

Para analisar o tema em discussão, procura-se privilegiar uma abordagem meramente qualitativa, com recurso a consulta bibliográfica. Portanto, para desenvolver o argumento central da análise, faz referência a avaliação na prática escolar: conceitos e contextualização, objectividade na avaliação, a importância e o pragmatismo da Avaliação formativa. 

 

Avaliação na prática escolar: conceitos e contextualização

A avaliação é um fenómeno muito complexo na actividade pedagógica do professor. Portanto, constitui a componente indispensável do processo de ensino e aprendizagem. O termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões como fazer prova, fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar de ano. Esta associação, tão frequentemente em nossas escolas, é resultante de uma concepção pedagógica arcaica, mais tradicionalmente dominante.

PILLETI (1997:190) define avaliação como sendo

“Processo contínuo de pesquisa que visa interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento, propostos nos objectivos, a fim de que haja condições de decidir sobre alternativas da planificação no trabalho do professor e da escola como um todo".

De um modo geral a avaliação serve: para classificar, castigar, definir o destino dos alunos de acordo com as normas pré-definidas pedagogicamente. Luckesi apud Libâneo (1994:196), diz que avaliação "é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia ao professor a tomar decisões sobre o seu trabalho".

Nesta vertente, formar personalidades com alto nível de saberes científicos, é objectivo geral da educação que se executa e realiza de forma gradual em cada disciplina curricular e atendendo o desenvolvimento cognitivo da criança. Como afirma Stiggins (1987) apud Ferreira (2007:101) "verificou que os professores poderiam mesmo ocupar um terço do seu tempo em actividades que se relacionam com a avaliação".

A prática da avaliação nas escolas do ensino Secundário Geral em Moçambique, se não a todos os níveis, tem sido motivo de discussão sobretudo por reduzir-se a função sumativa "classificatória", mediante a qual se faz uma classificação quantitativa dos alunos sobre as notas obtidas nas avaliações (testes escritos, trabalhos escritos e outros) para atender a sua função educativa, em detrimento da avaliação formativa, que é o principal instrumento no qual o professor usa no decurso do ano lectivo, e permite ao professor conhecer melhor o nível de competências do seu aluno.

Durante o processo de inteiração activa entre o professor e o aluno ou seja durante a leccionação tem existido muitos alunos que demonstram um certo nível de competências, cognitivas, psicomotoras experimental e afectivas sobre diferentes conteúdos pragmáticos, mas estes muitas vezes não conseguem traduzir o aspecto cognitivo (conhecimento) para uma dedução mais prática, ou seja para a folha de testes escrito.

A preocupação que se levanta é a seguinte: Que valores são atribuídos a avaliação formativa no processo de ensino e aprendizagem? Porém, visto que no final de um trimestre, semestre, ano lectivo só e só são colocadas na pauta ou validadas as notas das provas escritas, trabalhos escritos, para classificar ao aluno.

Uma segunda preocupação que se levanta é a questão de tender-se a sair de uma pedagogia tida como “tradicional” em que colocava a figura do professor no centro das atenções em detrimento a do aluno e actualmente vem sendo levado acabo posições pedagógicas modernas, nas quais preconiza-se colocar o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem. Colocar o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem é de facto valorizar a sua figura, reconhecer que o aluno não é “tabua rasa”, tem um potencial para aprender e discutir, e, este desempenha um importante papel no desenvolvimento das acções psicopedagógicas do professor colocando-o como mero mediador dos conteúdos de ensino.

Com esta prática, remete-nos a ideias de que o professor reduz a avaliação a cobrança daquilo que o aluno memorizou e usa a nota somente como instrumento de controlo. Parece que tal actuação é meio descabida, primeiro porque a atribuição de notas visa apenas um controlo formal, com objectivo classificatório e não educativo.

Segundo, porque o que importa é a preocupação do professor sobre o grau de adequação e conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. Essa atitude dos professores, ignora a complexidade de factores que envolve as condições do ensino, tais como os objectivos de formação, os métodos e procedimentos do professor, a situação social dos alunos, as condições e meios de organização do ensino, os prévios requisitos que os alunos possuem para assimilar a matéria nova, as diferenças individuais, o nível de desenvolvimento intelectual, as dificuldades de assimilação devidas a condições sociais, económicas, culturais adversas dos alunos.

Uma outra preocupação é que os professores utilizam a avaliação sumativa como recompensa aos alunos bons e punição para os desinteressados ou indisciplinados ou mesmo alunos fracos.

Segundo Libâneo (1990:198), diz que "o entendimento correcto da avaliação consiste em considerar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e qualitativos. A escola cumpre uma função determinada socialmente, a de introduzir as crianças e jovens no mundo da cultura e do trabalho. Tal objectivo social surge espontaneamente na experiencia das crianças jovens, mas supõe as perspectivas traçadas pela sociedade e um controle por parte do professor. Por outro lado, a relação pedagógica requer a interdependência entre influências externas e condições internas dos alunos. O professor deve organizar o ensino, mas o seu objectivo é o desenvolvimento autónomo e independente dos alunos, deste modo, a qualificação deve transformar-se em qualificações, isto é, numa apreciação qualitativa dos resultados verificados".

Assim sendo, cada professor tem uma grande responsabilidade nos resultados de cada aluno. Em cada avaliação, o professor deve ter sempre em conta a personalidade do aluno e a comparação entre os objectivos e os resultados esperados. Cada avaliação deve ser uma estimulação para que os alunos empreendam esforços para a aprendizagem.

Objectividade na avaliação

Se olhar-se para a avaliação, verificaremos que avaliar é o acto que transforma, condiciona, regula, dirige e constrói o objecto da avaliação. Coloca-se então o problema de saber o que de facto: queremos avaliar? Podemos avaliar? o que avaliamos? Esta pratica se parece acessível a tarefa de poder fazer coincidir o objecto de avaliação desejado com o objecto de avaliação possível, já o mesmo não se poderá dizer quanto ao que, de facto avaliamos.

A avaliação tem a pretensão de apreender da realidade algo que se possa transcrever para uma medida, uma descrição, uma representação dessa realidade. Mas a natureza do acto de avaliar escapa ao desejo da objectividade, do rigor, ao desejo íntimo de cada professor de transformar a realidade fluida na rígida evidência do classificável. Se o desejo de objectividade é compreensível e aceitável em cada professor, deve-se, no entanto, partir do princípio que, em Ciências Humanas, Ciências da Educação, não é através de medidas rígidas que se obtém o rigor, mas por sucessivas aproximações qualitativas, cujo uso nos levará progressivamente a uma precisão cada vez maior. Moles (1990) apud Leite (2001:45) diz que, a propósito do acto de medir

"...poder-se-ia dizer que o conjunto daquilo a que chamamos "medidas", conceitos precisos, dados objectivos...existe em número muito reduzido este conjunto representa, de facto, uma serie de luxo do espírito, um fragmento de um ideal racional que só muito raramente é conseguido".

Por outro lado, há na avaliação, quer por parte do professor quer por parte do aluno, quer ainda do próprio objecto de avaliação, toda uma serie de subjectividades que são próprias ou seja que os caracteriza. Salientar que ignorar esta presença de subjectividade equivale, de facto, aumentar desmensuravelmente, a sua influência no acto de avaliar, pelo contrário, consciencializar a parte da subjectividade existe em cada avaliação e permite pôr em marcha mecanismos de compensação que ajudarão em grande parte a reduzi-la, ainda que não se consiga eliminá-la.

Portanto, a busca de uma maior objectividade passa necessariamente, pelo enfrentar e assumir da subjectividade por parte do professor.

 

A importância e o pragmatismo da Avaliação formativa.

A avaliação pedagógica deve ser um acto contínuo, com a função de controlar, regular e dinamizar as aprendizagens dos alunos, isto é, informa ao professor sobre o rendimento de aprendizagem, localização das deficiências na organização do ensino. Esta deve-se converter num instrumento, para levar a todos os alunos a adquirir o saber e dele se apropriarem de um modo reflexivo.   

É com base nesta discussão que pretende-se primeiro trazer a importância da avaliação formativa no processo de ensino e por outro trazer uma abordagem reflexiva para as acções dos professores do Ensino Secundário Geral no que compete as demonstrações das competências dos alunos em diferentes níveis de aprendizagem, remetendo uma prática inovadora sobre a valorização das actividades dos alunos.

A avaliação corrente praticada pelos professores pode igualmente ser utilizada para fins de gestão do sistema educativo com um duplo sentido: de um lado, o ajuste período do currículo, das exigências, das normas de admissão, das estruturas e de outro, o controle do ensino e do trabalho dos professores. Esse segundo ponto é menos abertamente reconhecido. Assim que informada a direcção das escolas ou a instâncias responsáveis pelo sistema, de que a avaliação dos alunos permite, indirectamente, uma avaliação do estabelecimento ou dos professores. Quebeque Apud Abrecht (1994:31) "avaliação formativa é um sistema que consiste em recolher em ocasiões diferentes, no decorrer de um programa de estudo ou de curso, informações úteis para verificar, periodicamente, a qualidade da aprendizagem"

A pragmática da avaliação formativa remete a uma consciencialização por parte do professor pelo facto deste saber que as notas e as apreciações que faz sobre os alunos terá uma influência decisiva sobre o futuro do aluno.

 

Considerações finais  

Em jeito de epílogo dizer que tornar-se necessário realçar a insuficiência de alguns procedimentos avaliativos, caracterizados por uma forte instrumentalização e estandardização, que pretendem reflectir, através de uma nota, o nível de aprendizagem de cada aluno. Assim, tem de se progredir no sentido de que práticas avaliativas, essencialmente tecnicistas, dêem lugar a preocupações com as dinâmicas educativas, estas sim, propiciadoras de mudanças.

A avaliação formativa é vista como principal modalidade de avaliação no ensino, esta informa o estado de aprendizagens dos alunos, e através dela permite-nos dar a conhecer a maneira como os alunos estão a aprender ou seja o grau de compreensão. Quando é aplicada de forma destorcida pode levar ao aluno, a uma relação pacífica na assimilação dos conteúdos de aprendizagem. Portanto, é necessário que os professores tomem consciência sobre a forma como avaliam e consequente como atribuem nota, crédito aos alunos no final de um semestre, ciclo, unidade temática, ano lectivo, sob o ponto de vista de que existem muitos alunos que demonstram competências ao longo do ensino, mas não conseguem traduzir ou seja demonstrar seus conhecimentos nas provas escritas, e a ser assim, não são valorizados os seus esforços de aprendizagem, de modo que sejam acrescidas as notas nas suas médias quando são verificadas algumas fraquezas por parte dos alunos. 

Bibliografia

1. ABRECH, Roland. Avaliação formativa: Col Praticas Pedagógicas, edições Asa, Lisboa 1994.

 2. BONNIOL, Jean Jacques e VIAL, Michel. Modelos de Avaliação: textos fundamentais.  Editora Artmed, Porto Alegre, 2001.

3. CAMBI, Franco. Histórias da pedagogia, editora ONESP, São Paulo, 1995

4. FERREIRA, Ângelo et al. Manual da disciplina de Metodologia de ensino e treinamento.  Maputo, 2001.

5. LEITE, Carlinda et al. Avaliar a avaliação, 3Ed. Editora Asa, Porto, 2001.

6. LIBANEO, José Carlos. Didáctica Editora Cortez, São Paulo, 1994.

7.___________________. Pedagogia e Pedagogos, para que? 3Ed. Cortez editora, São Paulo, 1990.  

8. MACHADO, Fernando Augusto e GONSALVES, Maria Fernanda. Currículo e desenvolvimento curricular: Problemas e perspectivas. 2Ed. Edições Asa, Porto, 1999.

9. MINED, Manual de apoio a avaliação pedagógica, DNEB, Moçambique, 2003.

10. PERRENOUD, Philippe. Avaliação, da excelência a regulação das aprendizagens entre  duas lógicas. Artes medicas sul, Porto Alegre, 1999. 

11. PILETTI, Claudino. Didáctica geral, 14Ed. Editora Ática, São Paulo, 1997

12. SACRISTAN, J. Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3Ed. Editora Artmed.Trad. de Ernani da Fonseca. Porto Alegre, 1998.


[1]  Docente da Universidade Pedagógica – Quelimane; Mestrando em Educação/Psicologia Educacional.

[2]  Docente da Universidade Pedagógica – Massinga; Mestrando em Educação/Psicologia Educacional.