O ingresso do estudante no ensino superior precisa ser muito adequado e acolhedor. É preciso compreender que os jovens que ocupam esse espaço social – Ensino Superior – ainda estão em processo de construção de suas identidades e, por isso, aprendem não só uma profissão mas também sobre a sociedade, sobre os outros e até sobre si próprios.

Os educadores, portanto, precisam investir tanto na dimensão cognitiva, quanto humana do desenvolvimento. Não podemos considerar que jovem estudante “cresceu” e, então, não precisa de atenção especial, como também não podemos apenas cuidar e acolher, sem refletir nos desafios necessários para que todos possam avançar cognitivamente.

Por isso, o Prof. Adjunto da UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) Mirco Solé, Doutor em Biologia e avaliador institucional e de cursos do Ministério da Educação em documento editado em 2006 pelo MEC (2004, p.53), reitera que não se trata de compartimentos estanques.

À medida que meninos e meninas se mostram mais competentes na área cognitiva, suas possibilidades de inserir-se socialmente aumentam, bem como as relações interpessoais que podem estabelecer; e tudo isso muda a maneira como vêem a si mesmos.

Por outro lado, se eles adquirem mais segurança nas relações, perdem o medo de errar, se lançam mais e, conseqüentemente aprendem mais.

Neste sentido, é fundamental que o educador, ao planejar cada situação didática, reflita sobre seu grupo e seus alunos, considerando o desenvolvimento cognitivo da faixa etária de seus componentes, além de contemplar características culturais e individuais que os jovens trazem para este espaço que é coletivo; partindo deste pressuposto entendemos por avaliação formativa aquela que, por exemplo, considera que os jovens estudantes desta faixa etária enfrentam a mudança de uma fase de pensamento ainda muito centrada em um caráter egocêntrico, e considerando a formação média deficitária trazida por estes estudantes temos que os mesmos ainda apresentam dificuldades para adquirir e trabalhar conceitos e processos cognitivos cada vez mais sofisticados, como aqueles previstos para o ensino superior.

Justamente por isso é sempre muito importante pensar na utilização de materiais adequados para que estes jovens possam experimentar diferentes hipóteses e construir suas aprendizagens de forma sólida.

E para que o professor participe dessa construção de conhecimento significativa, o mesmo deve, de fato, reconhecer necessidades características da faixa etária com que atua; respeitá-las bem como tentar perceber as possibilidades e potencialidades de cada um destes indivíduos.

Por tudo isso, as situações de avaliação não devem ser isoladas, mas sim, devem fazer parte de um processo, iniciado desde os primeiros dias de aula. Estamos, portanto, falando de uma avaliação formativa, da avaliação como acompanhamento de um percurso de aprendizagem, sempre mediado pelo conteúdo (o que o estudante aprende), mas também pelo sujeito (como cada estudante aprende). E, então, precisamos considerar que conteúdo e sujeito não estão dissociados, ou seja, um sempre depende do outro.

A primeira conclusão a que podemos chegar é a de que as situações de avaliação não precisam ser criadas para avaliar e medir o que este jovem estudante ainda não conseguiu aprender, mas sim para analisar as intervenções adequadas que contribuam para o avanço de cada um destes indivíduos.

Consideramos que ao longo de toda a vida os seres humanos diferem entre si no modo e no tempo como aprendem, qualquer situação de avaliação deve, portanto, fornecer possibilidades de execução para que todos possam realizá-las de acordo com o nível em que se encontram, embora fosse ideal e até utópico, que tais características psico-sociais pudessem ser superadas, embora a realidade fática nos apresente outra necessidade.

E se não nos esquecermos que a aprendizagem de qualquer conteúdo é um processo que se dá na interação entre os alunos e, entre professores e alunos, nas atividades de avaliação desse mesmo processo (que também devem ser consideradas como momento de aprendizagem e não de verificação), também precisamos garantir tal interação. Tais atividades, portanto, devem ter as mesmas características das variadas propostas realizadas em classe cotidianamente; é importante compreender que o percurso do acadêmico pode ser avaliado em situações diversas. O mais importante aqui é ter clareza do percurso de aprendizagem percorrido por seu aluno e também pelo grupo.

Desta arte, a avaliação que pretende-se defender é aquela que se faz de forma constante e que permite refletir sobre o conteúdo trabalhado, o modo de trabalho e os resultados obtidos. Toda esta análise implica na revisão do conteúdo e no planejamento da continuidade de atividades significativas de aprendizagem e avaliação formativa.

Assim, temos que o momento de avaliação deve sempre ser encarado como um dos instrumentos do trabalho do professor e não como um fim. E neste sentido, o mais adequado é avaliar as conquistas e os avanços de cada aluno, inseridos constantemente nesse processo e nesse percurso de ensino-aprendizagem.

Por esta esteira de pensamento, temos que se faz necessário modificar o foco do “que olhar”: ao invés de observar apenas o produto da aprendizagem (respostas finais dadas pelos estudantes do ensino superior), precisamos analisar o processo (as estratégias usadas para enfrentar os desafios e auxiliar este estudante a adquirir os conhecimentos e habilidades necessários para sua formação).

Isto posto, como resposta ao questionamento trazido nesta avaliação, temos de forma sintética que:

a necessidade de avaliar para que o processo de aprendizagem tenha averiguado suas metas e seja corrigido constantemente seu rumo e suas ações;

avaliamos se os objetivos propostos foram alcançados e não se houve a “mera transmissão” do conhecimento;

como método de avaliação, temos que ter em mente uma sequência de atos concatenados, baseados não em um sistema punitivo, mas sim formativo do ponto de vista da construção do conhecimento;

ainda sobre este prisma temos que quem avalia é o docente assim como também o aluno, ambos se avaliam, ambos avaliam ao outro (ambos sugerindo medidas e corrigindo processos de aprendizagem);

Com isso, a avaliação deve se dar a serviço de toda a sociedade, pois somente com processos educacionais inclusivos e libertadores (FREIRE), norteados nas necessidades do próprio aluno, de sua instituição de ensino, de sua sociedade e de seu meio.

Sobre o mesmo prisma, RIOS (2004) assevera que:

“Investir na formação dos docentes em encontros proporcionados no espaço institucional substitui, progressivamente, ações individualizadas por ações coletiva. Estas últimas permitem ao docente contribuir efetivamente para a construção do Currículo na Instituição, em uma concepção de transcender a matriz curricular e desenvolver diferentes saberes, competências e habilidade.

Essa constatação, num trabalho de avaliação de docentes, é essencial, pois sinaliza que estamos caminhando ao encontro dos nossos objetivos. O professor, ao deparar-se com o próprio crescimento, ratifica a contribuição da avaliação formativa para o seu aperfeiçoamento” (Rios, 2004).

Assim, o texto apresentado mostra-nos uma necessidade existente em qualquer grupo docente, qual seja, o da formação e aperfeiçoamento continuados, contudo, o autor apresenta uma medida que gera economia e de ganho de processos, uma vez que convida aos docentes para prepararem-se de forma conjunta (aqui, a máxima do ditado popular se faz atual e verdadeira: a união faz a força!), já que tais atividades podem ser realizadas em locais e datas que atendam as necessidades de um grupo específico de docentes, além de permitir uma maior interação sócio-cultural entre os mesmos.

Neste mesmo sentido, temos que as atividades podem ser direcionadas também para o interesse das instituições de ensino enquanto gestão do paradigma educacional formado pelo tripé “docente-discente-gestão” já que as atividades podem ser iniciadas pela avaliação das necessidades de cada curso, bem como pela obrigatoriedade legal de formação dos quadros docentes de cada IES imposta pelo Ministério da Educação – MEC.

Ainda de acordo com o texto, se a formação do professor foi embasada pelas avaliações institucionais interna e externa, à partir do momento em que aquele mesmo docente entender que sua formação será melhorada de acordo com a percepção de seus próprios alunos, haverá a validação e ratificação de tais avaliações como processos adequados de ensino-aprendisagem.

Desta arte, concluímos que a educação e mais precisamente o ensino universtário brasileiro ainda encontra-se baseado em sistemas obsoletos que necessitam de ampla reforma, ainda que institucionalizada, restando-nos o alerta para que tais objetivos não ofendam aos princípios do pluralismo de idéias que é um dos (poucos) pilares que sustentam a educação superior nacional.