Existem evidências científicas abundantes que demonstram que as doenças cardiovasculares constituem a primeira causa de óbito nos países industrializados e também no Brasil, com base nessas evidências foi estabelecida a importância na mudança de hábitos e comportamentos (consumo alimentar, fumo e ingestão de álcool) na ocorrência de doenças cardiovasculares. É importante lembrar que a inadequação atinge populações de todas as classes sociais, dando origem à carência de micronutrientes e/ou doenças-crônicas não transmissíveis. Com o objetivo de avaliar o consumo alimentar das usuárias de uma policlínica da polícia militar, realizou-se um estudo seccional, através de amostragem. O consumo alimentar foi investigado através de questionário de freqüência alimentar e avaliado conforme as recomendações do guia alimentar para a população brasileira. Embora a maior parte da população apresente bons hábitos alimentares, os resultados confirmaram que boa parte dos entrevistados consome maior quantidade de alimentos com gordura saturada e açúcar. De acordo com estudos recentes, parece não haver dúvidas de que a prevenção e controle de certas doenças estão relacionados com a mudança de seus hábitos alimentares.

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares constituem a primeira causa de óbito nos países industrializados e também no Brasil (BUSS, 2000; MENDONÇA & ANJOS, 2004). Inúmeras investigações epidemiológicas, clínicas e experimentais estabeleceram a importância de hábitos e comportamentos (consumo alimentar, tabagismo e ingestão de álcool) na ocorrência das doenças cardiovasculares. Além disso, demonstraram que diversos desses fatores são passíveis de redução através da mudança de estilo de vida (FONSECA et al., 1999; SILVEIRA & RIBEIRO, 2005).

Dentre essas mudanças estão os hábitos alimentares e as necessidades nutricionais do homem contemporâneo que começaram a ser estabelecidas no passado pré-histórico, as práticas alimentares sofreram adaptações muitas vezes para hábitos pouco saudáveis, tais como: o consumo inadequado de alimentos, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo que constitui desvantagem para a saúde (MARINHO et al., 2007). Esses hábitos associados muitas vezes com os desvios ponderais e desenvolvimento de deficiências nutricionais múltiplas ou específicas ocasiona manifestações que podem ocorrer sem sinais clínicos detectáveis ou sem estarem associadas a doenças multicarenciais claramente definidas, dificultando seu diagnóstico pela equipe de saúde (RAMALHO, 1998; MARINHO; et al, 2007).

Os hábitos alimentares inadequados atingem indivíduos de todas as classes sociais. Os indivíduos de classe alta e países desenvolvidos sofrem de obesidade, doenças-crônicas não transmissíveis como: hipertensão arterial, câncer, diabetes mellitus, entre outras. A nutrição inadequada dos indivíduos de classe baixa que era caracterizada pela magreza, nanismo e menor resistência às infecções, atualmente tem sido modificada por crescente prevalência de excesso de peso. Entretanto, a carência de micronutrientes pode se manifestar independentemente das condições socioeconômicas (RAMALHO & SAUNDERS, 2000).

O caráter simbólico do alimento também se diferencia com a idade, situação social e outras variáveis. Em todas as faixas etárias, encontra-se uma alimentação entendida como apropriada devido a tabus e costumes regionais, variando a adequação em relação ao sexo e papéis sociais. Existe, portanto um processo de socialização que procura mostrar o comportamento alimentar mais apropriado a diferentes segmentos da sociedade. Entretanto, estas questões são permeadas pelo poder aquisitivo dos segmentos sociais e por oscilações entre comer aquilo que é ditado pela nossa cultura e aquilo que é entendido como saudável (DANIEL & CRAVO, 1989; JOMORI; et al, 2008).

Através de uma pesquisa realizada, pode-se afirmar que os processos de urbanização e globalização facilitaram a propagação de hábitos alimentares inadequados, favorecendo as altas prevalências de Doenças crônicas não transmissíveis. De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2002-2003, parece haver uma tendência ao decréscimo do consumo e produção de alimentos de origem vegetal e aumento do consumo dos de origem animal. Entre as famílias brasileiras, independentemente de renda e região, persiste o alto consumo de açúcar, principalmente refrigerantes, e o baixo consumo de frutas, hortaliças e gorduras (IBGE, 2004).

Desde os anos 70 o regime alimentar tradicional do brasileiro vem sendo substituído por refeições que não atendem adequadamente às necessidades nutricionais do corpo. O consumo de refrigerantes, por exemplo, aumentou em 400%. As refeições prontas e misturas industrializadas tiveram crescimento no consumo em 82%. Já os embutidos, como a salsicha, frios e lingüiças, tiveram um aumento de 300% (MS, 2008). O presente trabalho objetivou avaliar o consumo alimentar das usuárias do serviço de Nutrição de uma Policlínica situada no Município de São João de Meriti e verificar se está de acordo com o Guia alimentar para a população brasileira.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo seccional cuja população-alvo foi constituída pelas usuárias de uma Policlínica localizada no município de Vilar dos Teles – RJ.

Os pacientes foram selecionados aleatoriamente e a coleta de dados foi realizada entre o dia 22 de setembro e o dia 31 de setembro de 2008, por meio de questionário de freqüência alimentar validado (VILLAR, 2001) composto por 95 perguntas. O questionário foi preenchido pelo próprio paciente com a ajuda de aplicadores treinados, que informavam sobre a participação e a identificação voluntária no estudo.

Os dados foram tabulados no programa Excel da micrososoft do ano de 2007. Para discussão de caso selecionamos os alimentos que mais se destacaram na freqüência de consumo ou de rejeição.

RESULTADOS

Foram analisados 30 questionários. A idade da população estudada variou entre 25 e 60 anos e com uma amostra de 30 mulheres. A figura 1 apresenta a freqüência de consumo diário de alguns alimentos, tais como: arroz (40%), o feijão (57%) e o pão (40%), que apresentam as maiores freqüências de consumo diário. Além desses alimentos, foi observado um alto consumo semanal de frango (46,6%),carne bovina (53,3%), e ovos (30%), assim como a ingestão freqüente de frutas e verduras e legumes que são consumidos diariamente por cerca de metade da população entrevistada. Dentre os alimentos de menor consumo estão os embutidos 40%, e a carne suína 81% dos respondentes. Os entrevistados relataram não consumir carne suína por ser não confiável e ser gordurosa. Tal rejeição deve-se a associação feita com o crescimento de doenças crônicas. Quanto aos embutidos, a maioria relatou que esse alimento eleva o colesterol, tal informação foi fornecida pela nutricionista e no que se refere ao alto consumo de açúcar (40%) adicionado as bebidas, exceto refrigerante, as usuárias relataram ocorrer pelo sabor agradável que ele confere as preparações. Já o adoçante (50%), tem um alto consumo, pelas condições de saúde da população entrevistada, dentre elas diabetes, sobrepeso e obesidade.

 DISCUSSÃO

O consumo alimentar tem sido objeto de pesquisas que procuram definir um perfil de consumo alimentar da população com o intuito de avaliar se está de acordo com um padrão de alimentação saudável (MURRIETA; et al, 2008).

Segundo o Guia alimentar para a população brasileira (2006) a alimentação saudável deve incluir os carboidratos totais 55% a 75% do valor energético total (VET). Desse total, 45% a 65% devem ser provenientes de carboidratos complexos e fibras e menos de 10% de açúcares livres (ou simples) como açúcar de mesa, refrigerantes e sucos artificiais, doces e guloseimas em geral.

As gorduras devem atingir de 15% a 30% do VET da alimentação. As gorduras incluem uma mistura de substâncias com alta concentração de energia (óleos e gorduras), que compõem, em diferentes concentrações e tipos, alimentos de origem vegetal e animal. Já as proteínas devem atingir de 10% a 15% do VET. As proteínas são componentes dos alimentos de origem vegetal e animal que fornecem os aminoácidos, substâncias importantes envolvidas em praticamente todas as funções bioquímicas e fisiológicas do organismo (DOLINSKY, 2008).

Com base nos dados obtidos, devemos ressaltar que a freqüência do consumo de arroz e feijão está adequado, mas podemos citar que o consumo destes alimentos é em maior quantidade apenas 1 vez ao dia, o que pressupõe que essa população troca uma das refeições por lanche.

Um alimento que também se destaca pelo alto consumo é o pão, que foi citado por 40% da população entrevistada. Com base neste dado, tivemos a oportunidade de salientar a troca de refeições (geralmente o jantar por lanche).

Como demonstra os resultados, o consumo de proteínas de origem animal é adequado. As carnes bovinas, de aves e de peixes são boas fontes de todos os aminoácidos essenciais, substância química que compõem as proteínas, necessárias para o crescimento e a manutenção do corpo humano (MS, 2006).

Os produtos derivados da carne, embutidos, hambúrgueres, salsichas e outros possuem, em geral, quantidades bem maiores de gordura e alto teor de sal, devendo ser evitado, para que não prejudique ou agrave o estado de saúde (MENDONÇA & ANJOS, 2004).

O consumo de frutas, verduras e legumes, como foi observado neste estudo, indica uma preocupação com a alimentação adequada e com a saúde. Isso significa a relevância dada, atualmente, à importância do consumo desses alimentos para um adequado suprimento das necessidades de diversos nutrientes (vitaminas, minerais e fibras) em razão da sua função que é a proteção contra doenças cardíacas, diabetes e distúrbios gastrintestinais (BUSS, 2000).

Neste estudo foi observado que esta população ainda utiliza 40% açúcar para adoçar bebidas, devemos lembrar que o açúcar não é necessário ao organismo humano, pois ele pertence ao grupo dos carboidratos, então, a energia requerida pelo nosso organismo pode ser adquirida pelos carboidratos complexos (amido) e não pelos açúcares simples (MS, 2006).

De acordo com os estudos recentes, parece não haver dúvidas de que a prevenção e controle de certas doenças estão relacionados com a mudança de seus hábitos alimentares e a prática de atividades físicas regulares. Em contrapartida, é oportuno ressaltar que informações sobre alimentação adequada são importantes porque, de imediato, mostram situações de risco (Mello; et al, 2004).

CONCLUSÃO

Com o presente estudo concluiu-se que as usuárias dos serviços da Policlínica da Polícia Militar possuem uma alimentação equilibrada, mas com algumas inadequações, tais como a substituição de grandes refeições (jantar) por lanche, alto consumo de açúcar para adoçar bebidas e um alto consumo de pão. De acordo com o Guia alimentar para a população brasileira, não é recomendado a substituição de grandes refeições por lanche e que o consumo elevado de açúcar contribui para o risco de adoecer.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição). Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição: condições nutricionais da população brasileira: adultos e idosos. Brasília (DF); 1991.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: Promovendo a alimentação saudável/ ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BUSS, P.M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Rio de Janeiro: ENSP, 2000.

CLARO, R.M.; CARMO, H.C.E.; MACHADO, F.M.S.; MONTEIRO, C.A. Renda, preço dos alimentos e participação de frutas e hortaliças na dieta. São Paulo: Rev Saúde Pública, 2007.

DANIEL, J.M.P., CRAVO, V.Z. O valor social e cultural da alimentação. Boletim de Antropologia. São Paulo, 1989.

DOLINSKY, M. Manual dietético para profissionais ∕ Manuela Dolinsky; colaboradora Cláudia Martins. – 2.ed. – São Paulo: Roca, 2008.

FISBERG, R.M., SLATER, B., MARCHIONI, D.M.L., MARTINI, L.A. Inquéritos Alimentares: Métodos e bases científicos. São Paulo: Manole, 2005

FONSECA, M.J.M., CHOR, D., VALENTE, J.G. Hábitos alimentares entre funcionários de banco estatal: padrão de consumo alimentar. Rio de Janeiro: ENSP, 1999.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares, 2002-2003. Aquisição alimentar domiciliar per capita, Brasil e grandes regiões. Rio de Janeiro: 2004.

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LEVY-COSTA, R.B., SICHIERI, R., PONTES, N.S., MONTEIRO, C.A. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). São Paulo, 2005.

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MENDONÇA, C.P., ANJOS, L.A. Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento do sobrepeso/ obesidade no Brasil. Rio de Janeiro, 2004.

MURRIETA, et al. Consumo alimentar e ecologia de populações ribeirinhas em dois ecossistemas amazônicos: um estudo comparativo. Ver. Nut. Campinas, agosto de 2008.

PATACO, V.L.P., Metodologia para trabalhos acadêmicos e normas de apresentação gráfica. Rio de janeiro: LTC, 2008.

SILVEIRA, L.M.C.; RIBEIRO, V.M.B.Grupo de adesão ao tratamento: espaço de "ensinagem" para profissionais de saúde e pacientes, Interface – Comuc, saúde, educ, V.9, n.16, p,91-104, set.2004

VILLAR, B. S. Desenvolvimento de um questionário semiquantitativo de freqüência alimentar para adolescentes. São Paulo, 2001.