AVALIAÇÃO DE ADOLESCENTES PRATICANTES DE FUTEBOL ATRAVÉS DE CORRIDA DE 400 METROS

Paulo Roberto Alves Falk¹

 

Dyane Paes Pereira²

 

RESUMO

Trabalhos para a melhoria da velocidade não são iguais em todas as modalidades esportivas. A velocidade é necessária para percorrer as distâncias curtas o mais rápido possível. Para Reilly (1997) a maioria das atividades relacionadas com o futebol competitivo é de intensidade submáxima, assim como a corrida de 400m onde o atleta inicia em velocidade máxima e tenta resistir até o final. Assim este estudo mostra o tempo gasto para percorrer 400 metros por alunos de escola de futebol da cidade de Lages/SC. A amostra compreende 40 alunos, na faixa etária entre 15 e 17 anos de idade, média de 16 anos de idade ± 0,84, todos do sexo masculino. A média de tempo gasto para percorrer os 400 metros foi de 62,30 segundos ± 4,71, sendo que o menor tempo foi de 53,03 segundos e o maior tempo 75,37 segundos. Não encontramos classificação para esta avaliação nesta determinada faixa etária, por isto consideramos necessário acompanhamento periódico desta amostra para comprovarmos a melhora das capacidades físicas envolvidas nesta avaliação através do treinamento do futebol.

Palavras-chave: Velocidade, futebol, treinamento.

ABSTRACT

Work for the improvement of speed are not equal in all sports. The speed is needed to run the short distances as soon as possible. For Reilly (1997) most of the activities related to competitive football is submaximal intensity, and the race of 400m where the athlete starts at full speed and try to resist to the end. Thus this study shows the time taken to travel 400 meters by pupils of school football in the city of Lages / SC. The sample includes 40 students, aged between 15 and 17 years old, mean age of 16 ± 0.84, all male. The average time spent to run the 400 meters was 62.30 seconds ± 4.71, and the less time was 53.03 seconds and 75.37 seconds longer. There was no classification for this assessment in this particular age group, so I believe this sample required periodic monitoring to verify the improvement of physical abilities involved in this assessment through the training of football.
Keywords: Speed, football, training.

INTRODUÇÃO

Trabalhos para a melhoria da velocidade não são iguais em todas as modalidades esportivas. No futebol, por exemplo, a ação do jogador se caracteriza pela movimentação rotacionada, acíclica e realizada em pequenos espaços. Desta maneira, seu sistema de treinamento não pode ser o mesmo de um velocista (Nospereira, 2002). Porém utilizamos de uma modalidade específica do atletismo para iniciar o planejamento de alunos da escola de futebol do Grêmio em Lages/SC, pois segundo Zabot (2001), o metabolismo aeróbio é o mais acometido com a parada do treinamento, causando repercussões no metabolismo músculo esquelético e cardiovascular de acordo com o tempo de inatividade do atleta, sendo que no metabolismo cardiovascular as perdas acontecem após sete dias de inatividade. Entendemos que o aluno que esta começando seu treinamento pode estar há mais de sete dias sem treinamento, então utilizamos uma corrida de 400m que utiliza energia aeróbia, porém de baixa intensidade para mensurar os níveis dos iniciantes na modalidade de futebol e seu atual estado físico. O trabalho se justifica através do relato de REILLY et al. (2000), que consideram as características que devem ser trabalhadas para se chegar ao profissionalismo no futebol são: resistência aeróbia, velocidade, força, flexibilidade, agilidade, composição corporal (percentil de gordura) e somatotipo. Para outros autores o importante é obter condicionamento físico em diversas valências e utilizá-las conforme solicitados dentro do jogo. Como afirma Kunze (1987) a resistência tem sua importância para desempenhar uma boa performance durante todo o jogo. A velocidade é necessária para percorrer as distâncias curtas o mais rápido possível. Afirma também que a ligação entre as capacidades é de extrema importância, como também entre a velocidade e a agilidade. Esta possibilidade de utilizar valências diferentes o mais rápido possível, torna um jogador qualificado a desempenhar com grande eficiência as demandas do futebol. Para Reilly (1997) a maioria das atividades relacionadas com o futebol competitivo é de intensidade submáxima, assim como a corrida de 400m onde o atleta inicia em velocidade máxima e tenta resistir até o final em atividade submáxima. Mas Nospereira (2002) salienta e contrapõe as formas de treinamento, dizendo que nos gramados, o atleta precisa de explosão e variação na aceleração para se adequar as surpresas do jogo. Diferente, por exemplo, de um corredor, que tem de manter uma constância durante determinado período de tempo para evitar maiores desgastes. Correa (2009) concorda, afirmando que os jogadores de futebol não necessitam da mesma velocidade que um corredor de 100 ou 400 metros. Contudo justificamos este trabalho com o estudo de Bompa (2002), onde o método contínuo caracteriza-se por um alto volume de trabalho sem quaisquer interrupções. É altamente recomendável para desportos que requerem resistência aeróbia. O método contínuo se baseia nos exercícios tipicamente aeróbios, também chamados de exercícios cíclicos, cuja duração é prolongada com intensidades baixas, moderadas ou altas (50 a 85% do VO2 máx) em ritmo cadenciado, provocando uma melhora no transporte de oxigênio até o nível celular desenvolvendo a resistência aeróbia (WILMORE; COSTILL, 1988). Entre exercícios contínuos e cíclicos podemos enquadrar os 400 metros em pista, objeto deste estudo. Porém os 400 metros se enquadram também na utilização de energia anaeróbia lática que fornece energia para ações rápidas e intensas de um jogo, de duração entre 20 e 90 segundos, disparando um processo de fadiga pela produção do chamado ácido lático (Bompa, 2002). Assim sendo utilizou-se esta avaliação física no início do planejamento do treinamento, concordando com a afirmação de Floriano (2007) que dentro do processo de treinamento, as avaliações físicas apresentam-se como elemento essencial.

Bompa (2002) utiliza uma tabela do percentual de energia utilizado, relacionado ao tempo de atividade física.

Duração da atividade

Sistema alático

Sistema lático

Sistema aeróbio

5 segundos

85

15

0

10 segundos

50

40

10

30 segundos

15

65

20

1 minuto

10

40

50

2 minutos

5

25

70

4 minutos

2

18

80

10 minutos

1

9

90

30 minutos

Desprezível

5

95

1 hora

Desprezível

2

98

2 horas

Desprezível

1

99

Bompa, 2002.

Como a corrida de 400 metros leva entre 1 e 2 minutos para ser realizada se enquadra entre a utilização dos sistemas energéticos aeróbio (50%) e anaeróbio lático (40%) e anaeróbio alático (10%). Desta forma entendemos como um trabalho de corrida de 400 metros pode contribuir para o desenvolvimento de todas as formas de energia utilizadas no futebol.

METODOLOGIA

A corrida de 400 metros utilizada para mensurar níveis de atividade sub-máxima nos alunos segue uma seqüência de atividades, que consiste em aquecimento breve de aproximadamente 10 minutos, com alongamento. Após é realizado em pista de pedra ao redor do campo de futebol. O atleta recebe o sinal Prepara – Vai do monitor do teste. Outro avaliador dará inicio à cronometragem de tempo, finalizando e anotando após o término do percurso.  De um ponto zero o indivíduo partirá da inércia e percorrerá uma distância de 400 metros procurando desenvolver a maior velocidade possível, completando o percurso no menor tempo possível. Os tempos coletados foram aferidos por meio de cronometragem dos atletas com o Cronômetro da marca SL888T Oregon em segundos.

AMOSTRA

Nossa amostra compreende alunos regularmente matriculados em escola de futebol de Lages/SC, com cronograma de aulas 3 (três) períodos semanais com duração das aulas de aproximadamente uma hora e trinta minutos. Para nosso estudo relacionamos 40 (alunos) praticantes desta modalidade na escola de futebol matriculados neste ano de 2009. A amostra da avaliação foi feita com alunos em início ou reinício de atividades de futebol de campo no ano de 2009, servindo como base para a elaboração do plano de treinamento do ano letivo na escola de futebol. O total da amostra é composto de alunos, todos do sexo masculino, com as idades variando entre 15 e 17 anos de idade. Todos devidamente matriculados e cadastrados conforme exigência da referida escola esportiva.

PADRONIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO

Todas as avaliações foram realizadas em pista de pedra, localizada ao redor do campo de treinamento. Os alunos encontravam-se uniformizados com calções, meias, camisetas da escola, além de tênis próprio para corrida. O horário utilizado para as avaliações foi entre 14h00min e 16h00min.

DESENVOLVIMENTO

Segundo BARBANTI (1996 p, 11) o futebol possui 88% da energia adquirida do sistema aeróbio e 12% do sistema anaeróbio, sendo que, das distâncias totais que um atleta percorre durante um jogo 98% ocorrem sem posse de bola. Sendo assim o deslocamento sem bola é importantíssimo no futebolista e podemos através da corrida dos 400 metros rasos entender que é fundamental existir uma velocidade prolongada mantida por um esforço submáximo, assim os corredores devem apresentar características essenciais como estilo próprio, velocidade, resistência, espírito de luta e critério para administrar as próprias forças, com intuito de reservar energia suficiente para um final. Por ser considerada uma prova fatigante, seus usuários devem adotar uma posição correta, com passadas largas e poderosas. O treinamento é realizado, objetivando adquirir a resistência à velocidade (FERNANDES, 1979; SILVA, 1982). Segundo Platonov (2003) O desenvolvimento da força - resistência depende dos índices de força necessária para a realização da atividade competitiva, da intensidade e duração do trabalho realizado em competições e das respectivas particularidades de cada modalidade esportiva. Força resistência desempenha importantíssimo papel no intento alcançar bons resultados nas corridas de 200 e 400 metros rasos, nas provas de 100 e 200 metros. O nível apresentado de força resistência é determinado pela potencia, pela capacidade de mobilização e economia dos sistemas de fornecimento energéticos e pelo nível de força máxima. A resistência de força está relacionada com a capacidade muscular de manter durante um longo período de tempo índices de força elevados, significando a capacidade de tolerância do organismo frente á presença da fadiga causada por cargas prolongadas e exerce significativa influencia por processos de adaptação a velocidade, assim como á resistência de velocidade (Carravetta, 2001).

VELOCIDADE DE CORRIDA

A velocidade da corrida é resultante da relação entre freqüência e comprimento da passada, por esta razão os corredores podem aumentar sua velocidade alterando um ou ambos. Inicialmente um corredor incrementa sua velocidade, elevando o comprimento, porém existe um limite físico de quanto o indivíduo pode alterar este comprimento que é estabelecido pela morfologia de cada atleta, assim, para correr mais rápido, é necessário aumentar a freqüência de sua passada (FERNANDES, 1979; HAMILL; KNUTZEN, 1999; SILVA, 1982).  Para Dantas e Silva Junior (2002) a corrida é caracterizada pela substituição da fase de duplo apoio da marcha por uma suspensão do corpo, assim haverá dois períodos de apoio unilaterais para um de suspensão do corpo. Esta se processa devido a ação de forças internas resultantes de contrações musculares além de fatores externos como, gravidade, resistência do ar, reação do solo e atrito.

RESULTADOS

Segundo Aoki (2002) o futebol requer predominância do sistema anaeróbio, qualidade de resistir ao esforço de sucessivos piques, em velocidade máxima ou sub-máxima. Os períodos de alta intensidade compreendem movimentos ou deslocamentos vigorosos, de natureza anaeróbia, que devem ser sustentados pelos jogadores durante todo tempo de duração da partida, com o mínimo de fadiga (Kokubun et al 1996). Para Campeiz (2001) o futebol é uma modalidade desenvolvida de forma coletiva, que possui características particulares e tem sido foco de pesquisadores que buscam conhecer aspectos como distância percorrida, capacidades físicas envolvidas, metabolismo predominante na produção de energia para atletas entre outros.

 

 

Assim encontramos os resultados expressos na tabela a seguir para nossa amostra:

 

Média

Desvio Padrão

Corrida 400 metros

62,30 segundos

± 4,71

Idade

16

± 0,84

 

A média encontrada para nossa amostra na corrida de 400 metros foi de 62,30 segundos ± 4,71, sendo o menor tempo 53,03 segundos e o maior tempo 75,37 segundos. A média de idade é de 16 anos ± 0,84.

CONCLUSÃO

Não encontramos classificação para a faixa etária que compreende nossa amostra. Assim necessitamos desenvolver um acompanhamento periódico dos avaliados para que possamos obter dados a fim de comprovar a eficiência do treinamento para desenvolver as capacidades físicas exigidas nesta avaliação. A partir da avaliação realizada e adequação do planejamento espera-se uma melhora no condicionamento físico dos atletas e conseqüente melhora dos resultados.

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