AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR

 

 

 

Carlos Henrique Nichi 1

 

 

 

RESUMO

 

Este artigo apresenta uma análise reflexiva sobre a relação entre avaliação e aprendizagem no ensino superior, contextualizando a utilização da avaliação como instrumento da prática pedagógica de inclusão, demonstrando como sua aplicação pode tornar-se um fator de qualificação e não de classificação. Por meio de pesquisas bibliográficas, pôde-se observar a influência que as avaliações exercem no processo ensino-aprendizagem e quais metodologias podem ser mais eficazes em sua aplicação, não se tornando apenas atribuições de notas aos alunos, mas sim utilizada como um instrumento cognitivo para uma aprendizagem mais democrática.

 

Palavras-chave: Avaliação. Aprendizagem. Ensino Superior.

 

 

ABSTRACT

 

This article show a reflective analysis about the relation between assessment and learning in higher education, contextualizing the use of assessment like a instrument of pedagogic practice of inclusion, showing how its application may become a factor of qualifying and not for classification.

Through bibliography research, will show the influence that the assessment exert on the teaching-learning process and methodologies which can be more effective in their application, not become only the attribute of student’s  notes, but surely to used as a cognitive method for a more democratic learning.

 

 Keywords: Assessment. Learning. Higher Education.

 

 

 

1 Carlos Henrique Nichi

   Universidade Nove de Julho

   Graduado em Ciências Contábeis

   Pós-graduação em Formação de Docentes para o Ensino Superior

   E-mail: [email protected]

 

 

INTRODUÇÃO

Historicamente a avaliação promove a pedagogia do exame, que caracteriza-se em resolver provas, seu principal interesse é preparar alunos do ensino médio para o vestibular, motivados pela ameaça e testando sua capacidade de competição através dos resultados obtidos como aprovados ou reprovados.

Muitos docentes confundem a avaliação com exame e se utilizam das provas como instrumento de tortura homeopática, ameaçando constantemente os alunos com punições aos seus comportamentos, tirando ou dando pontos, tentando desta forma autoritária, os estimularem a prestarem atenção na aula e estudarem para prova.

A função principal da Avaliação da aprendizagem é de garantir a qualidade da aprendizagem do aluno, qualificando e não classificando seu potencial, sendo aplicada através de juízo de qualidade sobre dados relevantes e visando tomadas de decisões.

As instituições de ensino superior tem sua parcela de culpa quando se esquecem da qualidade do ensino e preocupam-se apenas com resultados estatísticos e movimentações financeiras, focando sua atenção nas notas tiradas pelos alunos, não importando se eles realmente estão aprendendo os conteúdos ensinados.

Este trabalho se desenvolve por meio de pesquisas bibliográficas, tem por objetivo verificar a eficácia da avaliação no processo de ensino-aprendizagem e refletir sobre a sua aplicação como prática pedagógica de inclusão para democratização do ensino e seus efeitos no processo de aprendizagem no ensino superior.

Para sua elaboração, foram pesquisadas bibliografias especializadas na temática, tais como livros, revistas científicas e artigos de periódicos de autores como Cipriano Carlos Luckesi e Jussara Hoffmann.

Na busca de um resultado satisfatório, investir no educando é a grande diferença entre avaliar e examinar, assim como o ato de dar aulas e o de ensinar, onde o primeiro espera-se que o aluno aprenda e no segundo deseja-se que o aluno aprenda, para isto é necessário ter clareza quanto as finalidades e resultados que se objetiva buscar, através de uma ação pedagógica que investiga, diagnóstica e intervem se necessário, oferecendo uma direção as metas definidas pela mediação no processo ensino-aprendizagem.

 

 

 

 

PEDAGOGIA DO EXAME

A pedagogia do exame é aplicada na maioria das instituições de ensino superior, acarretando em graves consequências ao processo de aprendizagem, é totalmente voltada a promoção do aluno, através dos percentuais de aprovação, seu foco são as provas e não a aprendizagem do conteúdo.

As instituições de ensino preocupam-se apenas com as curvas estatísticas, achando que são suficientes por demonstrarem o quadro global de notas dos alunos, mas esta aparência serve apenas para esconder os obsoletos processos educativos permanentemente aplicados.

 

Segundo Luckesi (2002, pg 23)

Ao longo da história da educação moderna e de nossa prática educativa, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exames e provas, foi se tornando um fetiche. Por fetiche entendemos uma “entidade” criada pelo ser humano para atender a uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina, universalizando-se.

 

As provas são elaboradas para testar os alunos e não para auxiliar em sua aprendizagem, em muitos casos são executadas para reprovar os alunos, consagrando-se do mérito da matéria ensinada ser difícil, tornando-se instrumento de disciplina, sob a égide do medo.

Tal intencionalidade vem se consolidando historicamente ao longo dos séculos, tendo sua origem na pedagogia jesuítica e na pedagogia comeniana.

A pedagogia jesuítica no século XVI dava uma atenção especial com o ritual das provas e exames, pela solenidade da ocasião, muitas vezes pela constituição da banca examinadora e pela divulgação dos resultados.

Já a pedagogia Comeniana, foca sua atenção na ação do professor, ressaltando que o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos, assim aprenderão com mais facilidade, sem preguiça ou perda de tempo.

 

Segundo Luckesi: a pedagogia do exame não auxilia a aprendizagem dos estudantes, pois seu principal objetivo são as provas e não a aprendizagem, esta sempre articulada a reprovação do que com a aprovação e daí vem a sua contribuição para a seletividade social, pois avalia-se a classificação e não o diagnóstico, como deveria ser constitutivamente, onde o erro não deveria ser uma fonte de castigo, e sim um suporte para o crescimento. (2002, pag 25)

 

 

A pedagogia do exame é independente da relação professor-aluno, pois as provas são realizadas conforme os interesses do professor ou do sistema de ensino, nem sempre levando em consideração o que foi ensinado, sempre articulada com a reprovação do que com a aprovação e contribuindo para a seletividade social.

A avaliação é parte fundamental no processo educacional, não há a possibilidade de eximi-la, mesmo que seja indesejável sua existência pelos alunos, mesmo assim, torna-se um reflexo da formação prática e avaliativa dos professores, é preciso adota-la como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem e do funcionamento e organização acadêmica, considerado seus objetivos, recursos materiais e humanos, tecnologia e metodologias.

 

AVALIAÇÃO: PARA ALÉM DO AUTORITARISMO

 

A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, tem obrigatoriamente de ser autoritária, pois pertence à essência desta perspectiva de sociedade, que exige o controle dos indivíduos nestes parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social, sendo um instrumento disciplinador não só de condutas cognitivas, mas também sociais.

Para Luckesi:

Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que procuramos fazer, temos necessariamente situá-la num outro contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente, colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de transformação social (2002, p. 28).

 

Para Freire (1975) existem dois grupos de pedagogia responsáveis, um que pretende a domesticação dos educandos e o outro que pretende a humanização dos educandos, de um lado a pedagogia que pretendem a conservação da sociedade, que praticam a adaptação e o enquadramento dos educandos, de outro os que pretendem oferecer ao educando meios pelos quais possa ser sujeito desse processo e não objeto de ajustamento.

Para Freire

A educação autoritária, domesticadora não é irresponsável. Ela é também responsável, mas a sua é uma responsabilidade em relação aos interesses dos grupos e das classes dominantes, enquanto a responsabilidade na prática educativa libertadora está em relação com a natureza humana fazendo-se e refazendo-se na história. Está em relação com a vocação ontológica dos seres humanos para a humanização que os insere na luta permanente no sentido de superar a possibilidade, histórica também, da desumanização, como distorção daquela vocação. Há uma qualidade diferente nas duas formas de ser responsáveis, de entender e assumir a responsabilidade. Em outras palavras, a responsabilidade na prática educativa domesticadora exige de seus agentes competência científica e astúcia política tanto quanto educadoras e educadores progressistas necessitam de conhecer o que e como fazer ao lado da perspicácia política. Os primeiros, porém, a serviço dos interesses de quem domina. Os segundos, em nome do sonho ou da utopia de ser mais de mulheres e homens. (1995, p.90-91)

 

A pedagogia da domesticação adota uma prática de avaliação quantitativa e não processual por meio do diagnóstico, como deveria ser constitutivamente, ou seja, julgamento de valor, que teria a função de possibilitar uma nova tomada de decisão sobre o objeto avaliado, com a função classificatória da avaliação, não auxilia no avanço e no crescimento dos alunos, pois somente uma função diagnóstica poderia servir para esta finalidade.

Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação da aprendizagem deverá ser diagnóstica, sendo o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos, reconhecendo os caminhos percorridos e identificando os caminhos a serem perseguidos.

 

AVALIAÇÃO CLASSIFICATÓRIA

No ritual da avaliação dar um ponto a mais ou a menos, é um arbítrio baseado em dados irrelevantes da aprendizagem, pois este ponto significa um modo de premiar ou castigar alguém, descaracterizando uma efetiva avaliação da aprendizagem do aluno.

A prática classificatória de avaliação é antidemocrática uma vez que não encaminha uma tomada de decisão para o avanço, para o crescimento, pois há uma grande diferença entre qualidade e quantidade. Por exemplo é a classificação por números e sua interpretação: (notas 0-4) péssimo, (notas 5-6) regular, (notas 7-8) bom e (notas 9-10) excelente, normalmente a prática escolar adota símbolos que expressam juízos de qualidades ou são numéricos ou verbais.

Há diversas formas de classificar estes símbolos numéricos em expressões verbais para classificar o aluno pela avaliação, um exemplo é a atribuição da seguinte classificação de 0 (zero) a 10 (dez), onde 0 = sem rendimento, 1-2= inferior, 3-4= médio inferior, 5-6= médio, 7-8= médio superior, 9-10= excelente, com isto transformando o processo de avaliação, que poderia ser a qualidade, em quantidade.

A avaliação por meio de provas e exames vem sendo usada equivocadamente por professores para obter resultados classificatórios e dados estatísticos, propõe um sistema de ensino voltado para o disciplinamento, utilizando as provas como instrumentos de persuasão, partindo do pressuposto que o medo transmitido por elas faz com que os alunos estudem.

A avaliação representará sempre a ótica de quem avalia, e quem avalia tem uma visão da realidade, uma competência científica e técnica e um engajamento político que irá se refletir na forma de avaliar e no critério definido que pode não ser o mais ético e o mais atento em promover as potencialidades de cada pessoa humana e do aluno enquanto cidadão.

Segundo Luckesi “O contrabando entre qualidade e quantidade, do qual falamos, é uma forma pela qual os alunos podem ser aprovados sem deter os conhecimentos necessários numa unidade de ensino”. (2002 – pg 80).

A atual prática da avaliação escolar não viabiliza um processo democrático do ensino, ao contrário, se torna cada vez mais antidemocrático no que diz respeito a expansão do ensino e quanto a sua qualidade, em contraposição à avaliação classificatória e como forma de ruptura e superação emerge ao paradigma da avaliação diagnóstica e mediadora.

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E MEDIADORA

O modelo de avaliação diagnóstica é oposto ao modelo de avaliação classificatória, transformando-se em um instrumento de compreensão do estágio da aprendizagem em que se encontra o aluno, tomando providências suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem.

O principio básico da avaliação diagnóstica é a preocupação com o crescimento do aluno, verificando como está atingindo seus objetivos, possibilitando a auto compreensão do aluno e um retorno ao professor que poderá medir a eficiência de seu trabalho.

“Avaliar nesse novo paradigma é dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de aprendizagem, reflexões acerca do mundo, formando seres críticos libertários e participativos na construção de verdades formuladas e reformuladas”. (HOFFMANN, 2002 - pg 86).

 

Os resultados da avaliação deverão ser utilizados para diagnosticar a situação do aluno, tendo em vista o cumprimento das funções de auto compreensão, através da participação do professor com os alunos por meio da discussão, para atingirem um entendimento, superando o método conservador autoritário e antidemocrático, onde o sistema de ensino está inserido e nos percentuais de aprovação ou reprovação.

Segundo Hoffmann “Um professor que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo do termo, instala sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais”. (2003 - pag 15).

Quando a avaliação é conduzida de forma inadequada pode possibilitar a repetência e esta tem consequências na evasão escolar, por isso uma avaliação escolar realizada com desvios pode estar contribuindo significativamente para um processo que inviabiliza a democratização do ensino, pois sua finalidade é garantir a qualidade da aprendizagem do aluno.

A avaliação diagnóstica é o instrumento fundamental para auxiliar cada educando no seu processo de competência e crescimento para autonomia, situação que lhe garantirá sempre relação de reciprocidade, tornando assim uma sociedade mais democrática.

O ato de avaliar retrata a qualidade de alguma coisa, de uma situação ou dos resultados de nossa ação, não podemos formar cidadãos com uma consciência restrita, que conhece pouco, consequentemente compreende pouco, este cidadão terá uma visão e interpretação restrita do mundo, com base em sua prática de ação restrita.

 

PROFESSOR: VERIFICADOR OU AVALIADOR DA APRENDIZAGEM?

A avaliação da aprendizagem visa garantir a qualidade do resultado que se procura construir, é por este motivo que não pode ser estudada, definida e delineada sem um projeto que a articule, pois sua prática serve de base para a tomada de decisões no sentido de construir conhecimentos, habilidades e hábitos que possibilitem o seu efetivo desenvolvimento.

Em nossa prática escolar, os resultados da aprendizagem são obtidos pela medida, variando a especificidade e a qualidade dos mecanismos utilizados para obtê-la, a medida é uma forma de comparar grandezas, tendo um padrão e um objeto para comparação a ser medido, seu resultado é a quantidade de vezes que a medida padrão cabe dentro do objeto medido.

Atualmente uma das grandes dificuldades encontradas no campo da educação superior é a capacidade de avaliar, tanto pelas imposições da instituição de ensino, quanto a professores universitários totalmente despreparados. De acordo com (Luckesi 2002) a avaliação que se pratica na escola é aquela onde as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir.

 

Para Demo:

 

O professor que avalia precisa criticar, pois é fundamental que o aluno com desempenho impróprio saiba de sua condição, assimile de maneira pedagógica e parta para a reação. Essa crítica precisa ser pedagógica, ou seja, destinada a erguer o aluno, não a humilhar, estigmatizar, isolar. (2003, p. 32).

 

A qualidade da aprendizagem no ensino superior é atribuída por notas e conceitos, medida sob a forma de acertos ou pontos, ocasionando a transposição indevida de qualidade para quantidade, de tal forma que se torna possível, ainda que impropriamente, obter uma média de conceitos qualitativos.

 

Nos dizeres de Luckesi:

Precária ou não, importa compreender que, na aferição da aprendizagem, a medida é um ato necessário e, assim, tem sido praticada na escola. Importa-nos ter clareza que, no movimento real da operação com resultados da aprendizagem o primeiro ato do professor tem sido, e necessita ser, a mediada porque é a partir dela, como ponto de partida, que se podem dar os passos seguintes da aferição da aprendizagem  (2002, pg.89).

 

Seria interessante oferecer ao educando, caso tenha notas inferiores a média, uma oportunidade de melhorar sua nota ou conceito, permitindo que faça uma nova aferição, mas usualmente quando é feita uma nova revisão dos conteúdos, em si, não é para proceder a uma aprendizagem ainda não realizada, mas sim para melhorar a nota do educando para possível aprovação.

 

Segundo Luckesi:

Avaliar implica coleta, análise e síntese dos dados que configuram o objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de valor ou qualidade, que processa a partir da comparação da configuração do objeto avaliado com um determinado padrão de qualidade previamente estabelecido para aquele tipo de objeto. (2002, pág 93).

 

 

Somente uma compreensão pedagógica desenvolvimentista do ser humano poderá dar suporte a uma prática avaliativa construtiva e sustentar a crença de que os resultados obtidos, poderão sempre melhorar, pois a aprendizagem não é algo dado, mas sim construído, pois o ser humano esta inserido no meio que o cerca, vivendo e convivendo com sua capacidade de agir e de compreender como age e por qual razão age.

O ser humano em sua dimensão consciente constitui-se por meio da ação, compreendendo e utilizando-a de forma cada vez mais atenta, agindo sobre o que reflete sua compreensão, pois em cada ação procuramos ter o entendimento de como agimos, e do porquê agimos daquela forma, aperfeiçoando-nos para a próxima ação, todo ser humano aprende pela ação e uma cadeia de atos, intitulada ação-reflexão-ação, onde o senso crítico do ponto de vista dos valores, oferece possibilidade de consciência no agir.

 

O ato de avaliar é uma ação cotidiana na ação docente, independente do professor ter estudado teórica e didaticamente o processo de avaliação da aprendizagem. A avaliação pode ser um ato técnico, intuitivo e/ou intencional, cuja ênfase dada pelo professor traz consequências ao desenvolvimento do processo. (DEMO, 2003, p. 31).

 

O que é praticado nas instituições de ensino superior é a verificação e não a avaliação da aprendizagem, pois sua função de estabelecer uma classificação do educando através de sua aprovação ou reprovação, é negativa na medida em que serve apenas para desenvolver o ciclo do medo e a ameaça pela reprovação, já a avaliação é um ato dinâmico que qualifica e subsidia a retomada da ação, possibilitando consequências no sentido da construção dos resultados que se deseja.

Portanto, a avaliação da aprendizagem é um diagnóstico de qualidade dos resultados intermediários ou finais, sendo de fato dinâmica, já a verificação é uma configuração dos resultados parciais ou finais, tornando-se estática, a superação de uma avaliação que apenas verifica rendimento para uma avaliação que diagnostica aprendizagem exige obrigatoriamente uma mudança de postura do professor.

 

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA AVALIAÇÃO

A avaliação subsidia decisões sobre atos pedagógicos e administrativos na perspectiva da eficiência dos resultados, suas relações interpessoais são recursos fundamentais para que o ato de avaliar a aprendizagem se realize, sem eles, dificilmente a avaliação poderia cumprir com seus objetivos, seria contraditório utilizar um recurso construtivo, numa proposta pedagógica estática.

Para que possamos trabalhar na busca e construção de resultados satisfatórios da aprendizagem, necessitamos de clareza quanto às finalidades, o planejamento define aonde se deseja chegar, assim como os meios para chegar aos resultados desejados, o sucesso tem como ponto de partida uma ação intencionalmente planificada, que expressa a meta aonde se quer chegar.

Tudo que é ensinado e aprendido necessita ser avaliado, pois se queremos compreender e atuar adequadamente em avaliação da aprendizagem, necessitamos iniciar por esse ponto de partida, tendo por base, identificar se nossos atos educativos estão ou não nos conduzindo para as metas que escolhemos, o planejamento é o ponto de partida e tem a ver com o projeto pedagógico.

Para que a avaliação da aprendizagem possa cumprir seu papel como um dos componentes do ato pedagógico, deve atuar numa concepção desenvolvimentista do ser humano, se não for desta forma, não realizará o seu papel de subsidiária da ação, já que a sua função é retratar a qualidade da realidade para intervenções adequadas, os estudantes que se movem em direção ao crescimento podem ser ajudados nesse processo.

 

A brutalidade da punição corporal e as consequentes grosserias, que é gerada tanto em professores como em alunos, levou, naturalmente, às reformas. As reformas significaram pouco mais do que mudar para medidas não corporais, das quais a educação pode jactar-se de uma lista espantosa. O ridículo (hoje quase sempre verbalizado, mas antes simbolizado pelas orelhas de burro ou pelo ficar de pé no canto), as descomposturas, os sarcasmos, as críticas, o encarceramento (“ficar depois da aula”), “cópias” ou tarefas extras, a perda de privilégios, os trabalhos forçados, o ostracismo, ser posto em gelo, e multas – são alguns dos artifícios que têm permitido ao professor poupar o bastão sem estragar a criança. Sob certos aspectos são recursos menos condenáveis do que a punição corporal, mas o padrão permanece: o estudante passa a maior parte do seu dia fazendo coisas para as quais não se sente inclinado. A educação é compulsória em mais de um sentido.  (SKINNER, B. F. Tecnologia do ensino. São Paulo: EPU, 1972. P. 92.)

 

Muitos professores não enxergam outras possibilidades de agir, adotam exames como a única solução, automaticamente repetem os mecanismos aos quais foram submetidos, como foram examinados, agora examinam, como foram submetidos a situações de estresse com provas, agora submetem os estudantes às mesmas situações, foram julgados com rigidez excessiva, agora julgam com rigidez, foram ameaçados disciplinarmente com as provas, agora ameaçam os estudantes com o mesmo rigor, foram submetidos ao poder do educador de aprovar ou reprovar, e hoje, detêm nas mãos o poder de aprovar ou reprovar.

O senso crítico atua no que se refere aos valores que dirigem a vida, permitindo aos seres humanos escolher conscientemente que valores desejam, para assumir uma direção em suas vidas, pois a avaliação não é algo dado, e sim construído que possibilita consciência para agir, motivo pelo qual o ensino também deve ser construtivo, não existe o ensino se não houver a aprendizagem.

A prática da avaliação em virtude de subsidiar a obtenção de resultados desejados e bem-sucedidos, depende de uma concepção pedagógica construtiva, seguida de uma execução consistente na obtenção desses resultados, o sua eficácia se sustenta numa concepção da ação voltada para o sucesso, onde para o educador não interessa um resultado insatisfatório, ele deseja encontrar soluções para melhorar os resultados.

 

AVALIAÇÃO POR OBJETIVOS

Em 1930, Ralph Tyler, um educador norte americano preocupado com a realidade educacional em seu país, no qual, somente 30 de cada 100 crianças que entravam na escola eram aprovadas, perguntava-se: não haveria um recurso pedagógico que pudesse modificar esse quadro? Com base nesta compreensão, ele desenvolveu o ensino por objetivos, cuja meta era oferecer ao educador um recurso metodológico pelo qual pudesse caminhar para o sucesso e não para o fracasso na prática educativa.

O termo avaliação educacional inicia-se, com os trabalhos de Ralph Tyler, quando este desenvolveu análises sobre uma nova concepção de aprendizagem, o autor percebeu a avaliação como um meio para se estabelecer comparações entre os resultados e os objetivos educacionais, passando a ser vista, como uma atividade prática.

No Brasil, a avaliação da aprendizagem sofreu forte influência dos estudos de Ralph Tyler, a partir dos anos 40, passando a ser referencial teórico utilizado nas décadas seguintes, o método consistia em verificar as mudanças comportamentais ocorridas, julgando o comportamento dos alunos, pois o que se pretende em educação é justamente modificar tais comportamentos.

Este enfoque comportamentalista resultou no processo de aprendizagem em verificação das mudanças ocorridas, previamente delineadas em objetivos definidos pelo professor, na visão de Tyler, a avaliação ganhou uma dinâmica comparativa, enfatizando uma determinante aproximação ou distanciamento entre os objetivos definidos, podendo ser avaliada uma série de objetos educativos, como os currículos, as estratégias, os materiais e sobre tudo a aprendizagem.

 

Avaliação é inerente e imprescindível, durante todo processo educativo que se realize em um constante trabalho de ação-reflexão, porque educar é fazer ato de sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições, comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente. (Gadotti, 1984, p. 90)

 

 

O aproveitamento não vem da ameaça nem do medo da reprovação, mas sim de uma orientação ou reorientação consistentes e constantes da aprendizagem, mediante adequados procedimentos, com base em tarefas preestabelecidas, no processo de ensinar e aprender, era diagnosticada se a aprendizagem realmente acontecia ou não, se positivo, prosseguia-se para nova tarefa ou novo patamar de ensino, se negativo, reorientava-se a aprendizagem, visando sua efetiva realização, com esse modelo simples, indicava-se um caminho de superação da exclusão pela reprovação nos exames.

O processo de avaliação está relacionado com o processo de aprendizagem, é necessário à compreensão de alunos e professores, para seguirem a mesma direção, e identificarem se os objetivos propostos estão sendo alcançados, com isto podem seguir o método utilizado ou refaze-lo se for necessário, de acordo com os resultados obtidos.

Deve ser pensado, planejado e realizado de forma coerente com os objetivos propostos tendo como foco o processo de aprendizagem, com um bom conteúdo selecionado, com realização de exames para acompanhamento dos alunos, e norteando o aluno no processo.

Uma avaliação focada na aprendizagem necessita de uma capacidade de observação e de registro por parte do professor, pois nem sempre o plano de ensino é ascendente linear, pode ser precedido de desvios e retrocessos, exigindo do professor esta habilidade de percepção para melhor adaptação e evitar falhas em seu desempenho.

A avaliação da aprendizagem em decorrência de padrões históricos sociais, tornou-se crônica em nossas práticas pedagógicas escolares, assumiu a prática de provas e exames, ocasionando um desvio do uso da avaliação, em vez de ser utilizada para a construção de resultados satisfatórios, tornou-se um meio para classificar os educandos e decidir sobre os seus destinos no momento subsequente de suas vidas escolares.

Para mudar alguns aspectos no ciclo da avaliação, é imprescindível promover transformações, discutir sobre o processo avaliativo nas salas de aula de formação de professores, mudar a forma de avaliar os universitários e pensar na inclusão do tema avaliação da aprendizagem também nos currículos dos cursos de licenciatura, mostrando a avaliação como aliada da educação, essas são algumas estratégias para começar a modificar o cenário da avaliação no sistema de ensino.

Deve haver uma adequação do plano e analise do desempenho dos professores, muitas vezes não é o plano que se torna inadequado, mas sim o professor, que deve ter um bom planejamento, flexibilidade para aplicação do plano de aula e metodologias adequadas aos objetivos propostos.

Outra estratégia importante no processo de aprendizagem é a auto avaliação, uma habilidade que pode ser desenvolvida pelo aluno, para isto exige a observação, comparação e a reflexão sobre seu processo de aprendizagem, além da honestidade para reconhecer tanto os avanços quanto os limites de uma atividade que deve ser aprendida, refletida e realizada.

 

 

AVALIAÇÃO: COMO INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO

A avaliação da aprendizagem não pode ser praticada isoladamente, sob o risco de perder sua dimensão pedagógica e tornar-se seletiva, comparada com os exames, pois este sim, tem objetivo de classificar e selecionar, onde quem detém o conhecimento, detém o poder, este recurso se soma a muitos outros, sem o conhecimento, não se chega a lugar algum.

 

Nesse contexto, convém distinguir duas modalidades de avaliação: a utilizada para avaliar um objeto já configurado e concluído e a utilizada para avaliar um objeto em construção. Respectivamente, temos então a avaliação de certificação e a avaliação de acompanhamento de uma ação. Ainda que atrelados pelo conceito básico de avaliação, são dois fenômenos diferentes e dois conceitos distintos entre si. Essas duas modalidades de avaliação assemelham-se pelo fato de ambas se dedicarem a investigação da qualidade do seu objeto de estudo e distinguem-se pelo fato de a primeira, certificação encerra-se na qualificação do objeto com o qual trabalha e a segunda, acompanhamento, dedicar-se a acompanhar uma atividade em sua dinâmica construtiva, tendo em vista a busca dos resultados desejados. A primeira incide sobre um objeto já construído e a segunda sobre um objeto em construção. (pg 182) Luckesi 2011

 

O que diferencia a avaliação de certificação, é que ela atua no processo de construção em andamento na perspectiva do resultado final, após a investigação da qualidade dos resultados em andamento, subsidiará a intervenção para a correção ou a reorientação da ação com a finalidade de chegar ao resultado desejado, no que se refere à avaliação da aprendizagem, cabe o acompanhamento, uma vez que a aprendizagem é a ação de aprender, contando com o suporte do ensino satisfatório.

Avaliação da aprendizagem está a serviço desse projeto de ação e configura-se como um ato de investigar a qualidade da aprendizagem dos educandos, a fim de diagnosticar impasses, propõe soluções que viabilizem os resultados satisfatórios desejados, só funcionará bem se houver clareza do que se deseja, se houver investimento e dedicação na produção dos resultados por parte de quem realiza a ação, buscando sempre o melhor resultado.

Nenhum empresário faz avaliação da sua empresa em funcionamento exclusivamente para classifica-la em boa, média ou ruim. Ele a avalia para encontrar a melhor solução para os impasses que enfrenta, ele a avalia com o olhar voltado para as possibilidades futuras de sucesso, o mesmo ocorre em nossas ações cotidianas, o mesmo deveria ocorre na escola.

Quando se pratica algum tipo de avaliação, não se busca a classificação de alguma coisa, mas sim, o seu diagnóstico que pode apontar para a necessidade de novos cuidados com uma ação em andamento, a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional diz que compete ao educador participar da elaboração do projeto político pedagógico, do planejamento do ensino e zelar para que a aprendizagem seja satisfatória, onde a função principal do ato de avaliar é subsidiar soluções para os impasses diagnosticados, pois o foco do avaliador está centrado na busca do melhor resultado do ensino e da aprendizagem.

A avaliação tem por característica ser diagnóstica, e não classificatória, não interessa ao avaliador colocar o seu objeto de estudo num ranking, que vai do maior para o menor, com um ponto de aprovação ou reprovação, o que importa é constatar a qualidade da situação, e se necessário, proceder com a intervenção, tendo por base os seus dados, a classificação é estática, já o diagnóstico é dinâmico, à medida que subsidia a melhoria de sua qualidade.

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

O presente artigo objetivou analisar as questões que permeiam as práticas avaliativas dentro das instituições de ensino superior em seus diferentes níveis, possibilitou enxergar o uso da avaliação além de aferição e classificação, punição ou mero instrumento de controle ou expressão de poder, contribuindo para a efetivação de uma aprendizagem mais significativa em termos dos objetivos pretendidos.

As características da avaliação escolar reflete a unidade dos objetivos, conteúdos e métodos, não se pode conceber a avaliação isolada do processo de ensino e aprendizagem, seus objetivos precisam ser claros com método adequado para que os resultados avancem, ao avaliar o aluno o professor também se auto avalia e obtém subsídios para refletir sobre a sua prática e o que precisa ser melhorado e ampliado, isto se chama  feedback, pois reflete valores e expectativas do professor em relação aos alunos, para a reorientação imediata da aprendizagem.

Uma renovação no campo da avaliação é essencial para superar velhos conceitos e práticas inadequadas como constatação e verificação da aprendizagem, é necessária uma proposta avaliativa que possibilite ao estudante integrar conteúdos, articular diferentes perspectivas de análise, exercitar a dúvida e o desenvolvimento do espírito de investigação, colocando a aprendizagem como um ato de autonomia do aluno e a avaliação da aprendizagem como oportunidade de participação.

A pesquisa bibliográfica constatou o recente interesse por parte dos estudiosos na produção e na carência de pesquisas sobre o assunto, trabalhos que discutem e indicam caminhos para a avaliação da aprendizagem nesse nível de ensino, pois os fatores que permeiam a avaliação são complexos e podem revelar certa incompreensão dos objetivos de uma proposta inovadora por parte dos discentes e uma indefinição quanto ao modo de avaliar, por parte dos docentes.

Para compreender o papel exercido pela avaliação no processo de ensino, é importante perceber os princípios que embasam os julgamentos feitos pelos professores ao avaliarem, ou seja, os pressupostos valorativos presentes na avaliação escolar que explicitam o ato de julgar o desempenho dos alunos, o professor precisa avaliar o que, e como se aprendeu, mas também o que, e como se ensinou, de forma a ter informações sobre o que sabe um estudante nos diferentes momentos de sua formação profissional.

A avaliação da aprendizagem precisará contar com uma variedade de recursos de fontes, dados e informações, é necessário recorrer às mais diferentes estratégias, técnicas, e os resultados da aplicação devem ser analisados, interpretados e utilizados para a melhoria do rendimento ou do desempenho do avaliado.

Observa-se, que as mudanças mais significativas em relação à avaliação da aprendizagem do aluno no ensino superior, dificilmente acontecerão por meio de ações individuais isoladas, desvinculadas de um projeto pedagógico curricular compartilhado e participativo, que favoreça a reflexão conjunta e que não desconsidere o papel do contexto social e sobre a influência que a universidade tem na formação profissional.

Enfim, para colocar em prática uma avaliação que ultrapasse essa concepção faz-se necessário esclarecer o sentido do processo avaliativo, para que todos envolvidos possam adotar procedimentos que realmente tenham a intenção de cuidar da aprendizagem do discente, adotando uma prática avaliativa diferenciada, este será um grande desafio, pois não se trata de aplicar uma avaliação estruturada, é preciso pensar em uma avaliação que cumpra um papel com responsabilidade e que tenha um compromisso efetivo com a qualidade da educação.

REFERÊNCIAS

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HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora, Uma prática em construção da pré-escola à universidade, 31º ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.

 

 

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mito & desafio, uma perspectiva construtivista, 33º ed. Porto Alegre: Mediação, 2003.

 

 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

 

 

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem, componente do ato pedagógico, 1º ed. São Paulo: Cortez, 2011.

 

 

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2002.