O que queremos quando "avaliamos"? Classificar em ordem de notas ou contar com mais um instrumento para ajudar cada um a aprender?

É consenso entre os educadores que o aprendizado, na sala de aula, não se dá de forma uniforme. Cada um de nós tem seu ritmo, suas facilidades e dificuldades. O que DIFICULTA bastante a AÇÃO do professor, que passa a ter de avaliar cada aluno de um jeito. "Sim, todos merecem ser avaliados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas", afirma o espanhol Antoni Zabala, especialista em Filosofia e Psicologia da Educação e professor da Universidade de Barcelona. "É essencial atender à diversidade dos estudantes."

A avaliação, mais que um conjunto de técnicas, é um conjunto de atitudes que permitem valorizar as potencialidades de cada um ( Cortesão ).

Numa época de democratização do ensino e socialização do saber, como a actual, não se aceita uma avaliação arbitrária, discricionária e reprodutora das diferenças sociais.

A prática social de avaliação tradicional traz à tona a prática social dos professores em relação à avaliação do aproveitamento escolar. Vigora uma pedagogia de exames que faz com que todas as actividades girem em torno de provas.

Estudos realizados pela pesquisadora Kátia Smole sobre o impacto da avaliação na auto-estima do aluno mostram que os boletins baseados no desempenho em provas têm apenas uma função: classificar em "bons" ou "maus", o que tem cada vez menos utilidade. "O pressuposto de que existe uma inteligência padrão está ultrapassado", avalia. Ao sentenciar que uns são mais e outros, menos, o saber fica em segundo plano. "O jovem valoriza a nota, não o aprendizado", exemplifica. "Em vez de se relacionar com o mundo, ele só vai querer aprender em troca de prémio (a nota) e, nesse ambiente, só sobrevive quem se adapta ao toma lá, dá cá."

As perguntas que professores, coordenadores e directores podem fazer são: Com que objectivo vamos avaliar? Para classificar e excluir alunos ou para ajudá-los a aprender? Para humilhá-los com suas dificuldades ou incentivá-los com suas conquistas?

A aceitação dessas ideias está na origem de tentativas de avaliar de outra forma. Surgem os conceitos de avaliação permanente (feita pela observação quotidiana de cada aluno, com dados mais qualitativos) e de autoavaliação (em que o próprio aluno verifica o que sabe, o que não sabe e o que precisa saber).

TIPOS DE AVALIAÇÃO:

Baseado em Ander-Egg (1997), Ferreira e Santos (2000) e outros, cito abaixo alguns tipos de avaliação:

A avaliação diagnóstica, primeira tentativa bem sucedida a se contrapor à avaliação classificatória, traz contribuições marcantes, como ideia de diagnóstico, avaliação como decisão e o compromisso político de avaliação democrática.

Perpassando todas as formas de avaliação e toda a prática construtivista, a avaliação diagnóstica se baseia na aplicação dos princípios do método clínico-crítico utilizado por Piaget.

A avaliação mediadora é uma sistematização verdadeiramente construtivista: é uma dinamização das oportunidades de acção-reflexão, um acompanhamento permanente do professor, uma prática para desafiar o aluno e uma forma de compreender suas dificuldades e o seu processo de cognição. Seu objectivo é promover a construção e a organização do conhecimento. Assume seu verdadeiro papel quando trata dos erros, tomando-os como meio de construção dos conhecimentos e não como faltas graves a condenar.

A avaliação dialógica possibilita identificar as respostas verdadeiras e as não-verdadeiras. É o diálogo (fundamentalmente interacção do sujeito com o mundo) que assegura o carácter aberto do construtivismo, bem como a sua dialéctica. A avaliação dialógica subsidia tanto a avaliação diagnóstica como a mediadora e está destinada a marcar uma mudança na educação, juntamente com o próprio construtivismo.

A AVALIAÇÃO, às vezes, é confundida como MEDIÇÃO (ato ou processo que determina a extensão e/ou a quantificação de algo). Também se utiliza como ESTIMAÇÃO (de carácter aproximado e subjectivo). No entanto, a AVALIAÇÃO deve se basear em métodos científicos e técnicos.

Um outro conceito muito próximo é a OBSERVAÇÃO, que como processo analítico, permite registar, medir (quantitativa ou qualitativamente), processar e analisar uma série de informações, verificando o desenvolvimento de uma actividade programada, passo a passo.

AVALIAÇÃO INICIAL proporciona a informação sobre os conhecimentos prévios e as capacidades e atitudes que têm os alunos. Deve ser feito no início de um determinado processo de ensino/aprendizado.

AVALIAÇÃO FORMATIVA - tem o propósito orientador, auto correctivo e regulador do processo educativo, proporcionando a informação constante do desenvolvimento do aprendizado. Este tipo de processo ajuda aos alunos a ver seus progressos e suas dificuldades (suas capacidades e limitações) e aos professores a avaliar sua própria efectividade no processo educativo e a reajustar seus métodos e estratégias pedagógicas.

AVALIAÇÃO SUMATIVA Também chamada CRITERIAL. È a que se realiza no final de cada uma das fases do processo de aprendizagem. Proporciona a informação se os objectivos propostos foram alcançados, por cada aluno e para o processo formativo. Assim, para além de saber se o aluno alcançou os objectivos previstos, é importante que a avaliação permita detectar dificuldades, criar condições de desbloqueios, estimular a progressão da aprendizagem Manuela S Ferreira et al.

Se a nota for dinâmica e servir como indicadora da situação do aluno naquele momento, ela pode apontar rumos a seguir. Enquanto os alunos se preocupam em o que fazer para recuperar a nota, os docentes devem sempre se questionar sobre a melhor maneira de questionar sobre a melhor via para recuperar a aprendizagem" Celso Vasconcelos.

"É preciso romper definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes" Luiz Carlos de Menezes

AVALIAÇÃO CONTÍNUA situa cada aluno no currículo e favorece uma detecção precoce das dificuldades ou das potencialidades de cada um, permitindo um ensino mais individualizado, permitindo diminuir as diferenças do saber entre os alunos.

Há que se diferenciar: testar e avaliar. Enquanto testar implica expor o aluno a uma particular série de questões em ordem a obter um resultado (Salvia e Yssedyke, 1978), avaliar é um processo de recolha de dados com o objectivo de uma tomada de decisão psico-educacional.

AVALIAÇÃO AUTÊNTICA Avalia as competências dos alunos para a realização de tarefas da vida cotidiana.

AUTOAVALIAÇÃO é aquela em a própria pessoa analisa suas actividades como estudante, desenvolvendo sua capacidade de autocrítica, muito importante na tomada de decisões.

Cristiane Ishihara utiliza um modo de melhor aproveitar o exame. Dias depois de aplicá-lo, ela o distribui novamente, em branco, e pede que cada aluno responda, para cada problema proposto, se:

- fez e está seguro de que aprendeu;

- fez, mas não está seguro de que tenha aprendido;

- fez, mas tem certeza de que errou por ter-se confundido na resolução;

- fez, mas tem certeza de que errou porque não aprendeu;

- se não fez, qual o motivo?

Depois de tabular as respostas, ela detecta as dificuldades gerais da turma e as específicas de um determinado grupo, além do nível de segurança de cada um em relação aos conteúdos. Se a maioria apresentou deficiência, Cristiane ensina tudo de outra maneira. Se alguns não aprenderam, ela prepara exercícios para ser trabalhados em casa ou na sala de aula.

A saída mais eficiente, dizem os especialistas, é propor trabalhos em grupo, que permitem observar melhor as atitudes individuais e colectivas. Menezes sugere ainda que se dê prioridade a estudos do meio, com propostas de actividades variadas, nas quais todos tenham a oportunidade de explorar suas potencialidades

Outro consenso é a importância da autoavaliação. Ela está directamente ligada a um dos objectivos fundamentais da educação: aprender a aprender. É óbvio que o próprio aluno tem as melhores condições de dizer o que sabe e o que não sabe, se um determinado método de ensino foi ou não eficaz no seu aprendizado e de que maneira ele acredita que pode compreender determinados conteúdos com mais facilidade. Para isso, basta conversar com a turma, de forma sincera e directa, ou fazer questionários onde todos possam expor livremente suas críticas e sugestões. Quanto mais frequentes forem essas conversas mais rapidamente aparecerão os problemas e, o que realmente importa, as respectivas soluções.

Como exemplo: há uma experiência que aparece com frequência cada vez maior e permite ilustrar o espírito das novas formas de avaliar é o uso de pastas e porta-folhas. Eles são montados pelos próprios alunos com materiais como textos, desenhos e outros recolhidos ao longo do tempo e que, ao serem comparados, permitem ao aluno observar e analisar a sua própria evolução.

É difícil, mas não impossível, mudar a avaliação sem alterar toda estrutura de funcionamento da escola. Isso porque, em locais onde todo o trabalho é predefinido pelo currículo e pelos livros didácticos, a necessidade de saber para "passar na prova" acaba sendo um recurso a que os professores recorrem como forma de prender a atenção dos alunos.

Notas e boletins continuam sendo os métodos preferidos das escolas, mas há professores que, pelo menos, estão tentando renovar seu modo de avaliação, introduzindo a montagem de pastas e outras formas de autoavaliação.

CONCLUSÃO:

A avaliação não pode mais servir para seleccionar quem passa e quem reprova, e para dividir a turma numa maioria de alunos "médios", cercada por uma minoria de "melhores" e outra de "piores" do que a média.

É preciso que a avaliação sirva para que todos possam ter experiências de sucesso, para orientar sobre as dificuldades, os pontos positivos e as necessidades de cada um. Não só para comparar os alunos entre si de acordo com um critério único ou básico, criando competição, inveja e frustração, mas para auxiliar cada um a evoluir em relação a si mesmo (ao seu potencial).

Qualquer inovação pedagógica em profundidade e qualquer novo modelo de educação pressupõe reformular o sistema de Avaliação.

BIBLIOGRAFIA:

ANDER-EGG, Ezequiel Diccionario de Pedagogia, Argentina: Editorial Magistério.

FERREIRA, Manuela Sanches; SANTOS, Milice Ribeiro Aprender a Ensinar/Ensinar a Aprender, 3ª ed. Porto: Edição Afrontamento.

MARQUES, Ramiro Dicionário Breve de Pedagogia, Lisboa: Editorial Presença.

http://www.ensino.net/novaescola/147_nov01/html/repcapa4.htm , 16/11/2004.