. Avaliação a Serviço de uma Pedagogia Dominante

Com o mito da ascensão social da escolaridade, oficializa-se a ideologia da doutrina liberal. Igualdade de oportunidades para todos. O valor da escola passa a não estar nela mesma, mas na recompensa que, supõe-se, haverá depois. É aqui que passa a ocorrer então, a reprovação escolar, como decorrência natural das diferenças individuais, cada sujeito sendo, portanto, responsável pelo "seu" fracasso escolar.
A avaliação escolar acaba sendo utilizada como instrumento de discriminação e seleção social, na medida em que assumimos como tarefa da escola separar os "aptos" dos "inaptos", sob uma falsa aparência de neutralidade e de objetividade. Cabe aqui salientar que, mesmo sendo figuras centrais na reprodução desta situação, a maioria dos educadores ainda não está consciente das origens e interesses envolvidos nesta prática.
Nossa sociedade está dividida em classes sociais antagônicas. A classe que detém o poder tem apenas um único interesse que é de se tornar mais poderosa através da acumulação do capital. Para isso se apossa dos meios de produção, tecnologia, comunicação e outros, a fim de sempre mais conquistas e outras hegemonias. Por outro lado, a classe trabalhadora é a classe mais marginalizada e escravizada. Vivemos num sistema capitalista onde abarca a totalidade das atividades econômicas do país. Para este sistema não é importante que a maioria, pense e seja diferente, o interessante é que a maioria, nem sempre questione porque sendo assim é mais fácil a manipulação.
A classe dominante sempre se organiza para permanecer no poder. Nossos governantes estão preocupados com interesses pessoais, inclusive as leis mudam para favorecer a elite dominante. De um lado os capitalistas pregam a liberdade, solidariedade, à verdade e de outro praticam o individualismo.
A educação é o reflexo deste sistema que está aí implantado e que reforça cada vez mais a diferença entre as classes sociais. Na verdade a educação humanista no Brasil nunca foi e não é até hoje prioridade em nem uma esfera de governo, embora os responsáveis pela condução do processo educacional coloquem a educação como primazia e ressalta o ensino como necessidade prioritária.
Uma escola inserida nessa sociedade não poderia estar melhor. Os ricos têm acesso a melhores escolas, boa educação e os pobres marginalizados são obrigados a abandonar a escola no primário para ajudar no sustento da família. Esta escola reproduz a desigualdade social excludente e reforça as diferenças entre as classes.
Neste sentido, também a avaliação do processo de ensino aprendizagem no Brasil, está a serviço de uma pedagogia dominante. Vale ressaltar que as pedagogias hegemônicas que vieram definindo-se historicamente nos períodos subseqüentes a revolução Francesa estiveram e ainda estão a serviço desse modelo social. Conseqüentemente a avaliação educacional em geral e a da aprendizagem em específico, contextualizados dentro dessas pedagogias estiveram e estão instrumentalizadas pelo mesmo entendimento teórico-prático da sociedade.
Escola, Instituição Decisiva na Formação do Cidadão
A passagem pela escola, para maioria dos alunos não parece como uma vivência interessante, agradável e gratificante. O que na maioria das vezes leva-os a evasão e a outras formas de abandono, gerando inclusive uma atitude de rejeição da própria escola. Será que podemos passivamente aceitar que um grande número de alunos esteja condenado ao insucesso e a reprovação atribuindo-lhes culpa dizendo que eles não estudam, não tem interesse e que eles vêm de um contexto sócio-econômico pobre? Frente a isto, é que precisamos construir escolas que venham criar no seu interior um lugar atraente, um espaço e um tempo estimuladores de aprendizagem, aumentando nos alunos o gosto pelas atividades e trabalhos, tornando-a um lugar enriquecido. Em nosso entendimento a função primeira da escola é de ajudar e orientar os alunos na busca de uma aprendizagem a mais integral possível.
Dentre os vários aspectos inovadores em sua mudança curricular prática dos professores e demais segmentos (funcionários, pais e alunos), é a escola se organizar num movimento pedagógico flexível. Voltado para o desenvolvimento dos alunos e não para o seu fracasso. Pois, educar não é transmitir verdades, mas essencialmente uma estimulação permanente à criação e a existência de um processo de vivência e exercício concreto da autonomia. No plano pedagógico a conseqüência disso é a consciência de que, como educadores, não ensinamos saberes já constituídos a sujeitos que apenas recebem passivamente o que apresentamos a eles.
Os fracassos escolares de muitas crianças, jovens e adultos é um fato assustador nas escolas brasileiras. Neste sentido, vimos que há vários fatores que colaboram para que ocorra a repetência e evasão escolar. Entre muitos fatores, muito se fala do nível sócio-econômico como principal responsável pelo mau desempenho das crianças. Porém compreendemos que junto com esse fator situa-se a tradicional maneira do professor avaliar o aluno. Esta parece ser uma das mais perigosas armas que leva os alunos à evasão e a repetência nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Vimos que cada vez mais se amplia à discussão em nossas escolas sobre a forma do professor avaliar seu aluno. Compreendemos que este problema deve ser uma preocupação de educadores, pais, professores e alunos.
Ressaltamos que a educação é um dever e direito de todos, mas as portas permanecem ainda fechadas para muitos. Quanto aos que conseguem entrar para a escola, há logo um afunilamento muito grande.
Todos nós sabemos que a avaliação se constitui num problema ou melhor dizendo, comporta vários problemas.
Percebe-se portanto, uma enorme resistência quando algumas escolas pretendem modificar a forma de avaliação do desempenho do aluno. No processo de alfabetização, muitas vezes, o professor atribui notas por quantidade de palavras lidas ou escritas. Estando a atual prática da avaliação escolar a serviço de um entendimento teórico conservador, temos e procuramos situá-la num outro contexto pedagógico e colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de transformação social.
Para Perrenoud:
"A avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais todavia, nascida com os colégios por volta do século XVII e tornada indissociável do ensino de massa que conhecemos desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória". (Perrenoud, 1999 p.9)
contribuir com as reflexões sobre a prática da avaliação da aprendizagem escolar.
Para Luckesi:
"A avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo ensino-aprendizagem, cuja função é de auxiliar o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho". (Luckesi in Lima, 1998, p. 11)

LUCKESI, C.C. Prática docente e avaliação educacional e escolar: Compreensão teórica, ensino e produção de conhecimento. São Paulo: ANPED, 1986.

-----------. Avaliação da aprendizagem escolar. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.

-----------. Avaliação educacional para além do autoritarismo. Revista A.E.C.,n° 60, 1986.

PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência á regulação das aprendizagens ? entre duas lógicas. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 1999.