AUTOBIOGRAFIA 

Joilma Joaquina Damascena de Oliveira[1] 

      Nasci em uma comunidade simples do interior, conhecida como Pimental, por sinal muito tranquila. Por coincidência, nasci no dia em que se comemorava o aniversário da Escola Raimundo Lopes Gaspar ,no dia 16 de agosto de 1977  onde iniciei meus estudos, com oito anos de idade. Foi um tempo difícil, pois meus pais não tinham condições para dar uma vida melhor para mim e meus irmãos, mas para mim, o melhor mesmo era estar perto deles e de meus irmãos, um tempo em que os filhos não podiam passar no meio, enquanto os mais velhos estivessem conversando. Era normal para a época, mas acredito que não foi bom para mim, assim mesmo admiro meus pais, apesar de tudo , fizeram o melhor que eles puderam por mim e meus irmãos .

         Apesar de minha mãe ser analfabeta, ela fazia de tudo para dar uma boa Educação para mim e meus irmãos. Era muito difícil sustentar onze filhos, mas meus pais foram grandes heróis; minha irmã mais velha, filha apenas de meu pai com outra mulher, também ajudou bastante na minha vida escolar e de meus irmãos, pois no dia em que algum de nós  ia para a escola  sem lápis ou sem caderno, era ela  quem arrumava, fazia um caderninho com folhas que tinha na escola, pois era professora. .Apesar das dificuldades, fui muito feliz na minha infância, pois meus pais me ensinaram a valorizar tudo que tinha e agradecer muito a Deus por tudo, assim as pequenas coisas para mim tornavam-se grandes.  Nesta época , não tinha televisão na comunidade, então as brincadeiras ,como cantigas de roda, eram bem animadas.

       Durante meus estudos da 1ª à 4ª séries ,, os professores eram rígidos , não deixavam os alunos se expressarem sofri muito com isso. Um certo dia, eu e minha prima pegamos umas reguadas, isso era normal para meus pais , mas os pais da minha prima não gostaram e foram à escola e fizeram uma confusão, então a professora foi afastada da escola por alguns anos, mas depois voltou. Senti-me muito mal  pois apesar de tudo isso , eu gostava muito da minha  professora. Meu pai era catequista e tocador da igreja católica e nos levava quando ia para a igreja. Lembro-me muito bem,  quando era hora dos cânticos ,eu cantava muito, apesar da timidez que tinha.

       Quando terminei a 4ª série, fiquei sem estudar, pois na minha comunidade só tinha até esta série, depois de alguns anos  fui para a cidade de Itaituba trabalhar em casa de família. Não gostei, pois é muito difícil viver longe da família; não  me preocupei com meus estudos  assim desisti  e juntei-me com um rapaz e fiquei sem estudar novamente. Depois que eu voltei para minha

Comunidade,  continuei a 5ª série, já grávida e sozinha, pois tinha me separado do marido. Depois casei novamente e tive mais duas filhas, então nesta época  fui convidada pelo catequista da comunidade a fazer parte na ajuda das celebrações da igreja. Assim comecei a dar aula de catequese, um tempo muito difícil, pois era uma família formada sem estrutura, depois ministrei aulas em Morais de Almeida e voltei para minha comunidade.

         Meu esposo foi para o garimpo e me deixou com uma colônia e cinco cabeças de gado. Minha irmã mais velha mais uma vez me ajudou, pois estava se aposentando e me indicou para a diretora da escola. Então fiquei substituindo a diretora que era professora da 4ª série, pois ela precisava sair  todas as semanas para buscar recursos para a escola no município de Itaituba. Era uma turma de alunos mal comportados e eu não tinha muita experiência mais ia em frente com responsabilidade no meu trabalho .

   Minha Formação Acadêmica

          Em 2010, vendi os últimos gados para entrar na faculdade, pois minha irmã Josefina garantiu que iria me arrumar uma vaga de professora na escola. Tive muitas dificuldades nas apresentações, mas busco vencer essa dificuldade. Minha sobrinha  Gelsinete me ajudou bastante, para mim foi uma grande ajuda, pois quando estudava na minha comunidade nunca tive uma aula de exposição, por isso hoje incentivo meus alunos a perguntarem  nas minhas aulas para eles não sofrerem com essa falta de diálogo.

       Neste ano, iniciei ministrando aula no 2º ano do Ensino Fundamental, uma turma que gostei muito de trabalhar, pois era só minha turma, não tive dificuldades de ensiná-los a ler , pois essa turma não tinha tanta dificuldade, eram os antigos alunos de minha irmã que era professora.

           Em 2011, foi diferente trabalhei com duas turmas de 2º ano juntas, pois não tinha salas suficientes, era um sofrimento, eu estudava História e ministrava aulas de 2º ano, mas a minha vontade era estar ministrando aulas de História para que eu pudesse desenvolver melhor meus trabalhos na faculdade.

        Em 2012, trabalhei com o 5º ano e ministrava aulas no refeitório da escola por estar sendo muito difícil ministrar as aulas sem uma sala adequada  e resolvi levar as crianças para estudarem em uma área da casa de minha sobrinha, uma funcionaria da escola. 

         Neste ano conheci outro homem e comecei uma história com esta pessoa muito importante para mim. Ele me ajudou bastante em minhas pesquisas de monografia sobre a História da Educação em Pimental e especialmente na Escola Raimundo Lopes Gaspar. Neste período, fiz muitas coisas que não havia feito antes, além de aprender muito com os professores em sala de aula , tive oportunidade de conhecer outros lugares, e o mais importante conhecer um pouco da História de cada lugar , além de aprender muito em cada visita que nossa turma de História fez .

         Nos estudos de campo em cursos que participei e nas aulas normais foi um grande avanço em minha vida. É muito gratificante quando um professor faz o aluno sentir-se bem e com todos os professores que ministraram aulas no curso de História, pude aprender um pouco com todos eles; agradeço muito a Deus por ter tido esta oportunidade de ingressar em uma faculdade e conhecer pessoas que me ajudaram bastante. Espero ainda seguir em frente, não parando por aqui e  encontrar um dia todas essas pessoas que contribuíram para meu desenvolvimento acadêmico.

Caracterização Geral da Escola

            A Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental  Raimundo Lopes Gaspar está localizada na rua Maximiano Azevedo na comunidade de Pimental, foi fundada 16 de Agosto de 1971, por Tibiriçá de Santa Brígida, em uma parceria da FAG - Fundação da Assistência aos garimpeiros, com o Estado, na Administração Estadual  do governador “Aluísio Chaves’’. Desde que foi fundada em 1971 até 1994,  a Escola Raimundo Lopes Gaspar funcionava apena de 1ª à 4ª série; já no ano de 1995 formou-se a 1ª turma de 5ª série, e assim cada ano aumentava mais uma série. No ano de 2000, a escola foi contemplada com o GEM, Ensino Médio feito por módulo ,hoje SOME - Sistema de Ensino Modular.

          Segundo o Projeto Político Pedagógico – PPP, criado em 2007, todo o material da escola vinha de barco para a comunidade, pois na época não tinha estrada que ligava a cidade de Itaituba a Pimental,apenas a cidade de Itaituba ao Buburé. Outro trajeto que ligava Pimental à Itaituba era por via fluvial e era preciso passar por cachoeiras, por sinal perigosas, e apenas no inverno era feito este percurso. Um certo dia, quando um barqueiro fazia seu percurso com os materiais da construção da escola, houve uma tragédia. Segundo o PPPE escrito por Martinelles Galvão Albuquerque da Silva, este senhor sofreu um grave acidente onde perdeu a vida, assim o homenagearam colocando seu nome na escola  que foi concluída no dia 16-08-1971

         Já a senhora ex:professora Josefina Maria das Graças diz que sempre falou para a Diretora Martinelles que esse Sr:Raimundo Lopes Gaspar já havia morrido há muito tempo e não quando carregavam os materiais da escola, pois ela lembra muito bem que nesta época os materiais vinham pelo Buburé e não direto de Itaituba a Pimental. A escola passou por uma reforma em 2008 pelo prefeito Roselito Soares .

           Hoje tem cinco sala de aulas uma secretaria, um refeitório onde duas turmas de Educação Infantil estudam, por não ter salas suficientes, uma cozinha, uma dispensa a biblioteca funciona em uma das salas de aula e quatro banheiros  a escola vem passando por diversos problemas, um deles que o conselho não estava em dia, então não estava recebendo o PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola ).

          Em 2013, foi preciso fazer uma gincana na escola para arrecadar produtos de limpeza, foi um sucesso, os professores, juntamente com alunos e moradores conseguiram vários produtos.

           A direção da escola é bem organizada, isso é muito bom para a escola , pois todos que a visitam elogiam, por ser uma escola no interior é muito bem arrumada na medida do possível; os alunos não se comportam muito bem , mas também, não são tão desobedientes e todos se conhecem e se respeitam, por que eu vejo, às vezes, na cidade, como alguns alunos não consideram professores e como os tratam mal.

          Desde que foi fundada, a Escola Raimundo Lopes Gaspar desenvolve , nas datas comemorativas,  projetos que envolvem todos os professores, alunos e moradores da comunidade.

        Em junho de 2013, a escola recebeu um documento que autorizava o Município do Trairão a fazer o censo escolar, houve desentendimento de moradores, pois a comunidade está dividida entre Município do Trairão e Itaituba; a escola está passando por vários problemas, pois o Município de Itaituba não  ajuda como deveria ajudar a Escola Raimundo Lopes Gaspar .

         Atuação com a Disciplina de História

          Gostaria muito de ministrar aulas de História de 5ª à 8ª série, desde que ingressei na faculdade, apenas ministrava aulas de História no 5º ano em 2010. No ano de 2011, a profª Natalina adoeceu, não queria isto para ela, mas gostaria de substituí-la e não consegui, pois deram esta oportunidade para  um pedagogo.

       Em 2012, comecei a ministrar aulas de História, de 5ª à 7ª série, uma oportunidade de estar trabalhando na minha  área; tive muitos desafios tanto em sala de aula  quanto fora. Estou muito feliz em poder compartilhar com meus alunos o que aprendo aqui na faculdade; estou tendo oportunidades de aprender com cada um de meus professores a escrever a História da minha comunidade, pois Pimental está prestes a sumir do mapa e eu como Historiadora posso levar um dia essa História para muitos conhecerem,  analisar os acontecimentos e  tirar lições de vida desta História.

           Estar ministrando  aula de História  para mim é um grande desafio,  pois desenvolvo  minhas aulas a cada dia, de uma forma diferente, para que os alunos  possam interagir em sala de aula.  Levei os alunos para participarem   de uma reunião que estava acontecendo na comunidade, com a presença do promotor público de Belém e advogados, para esclarecer ao povo da comunidade os seus direitos, pois muitas pessoas não conhecem os  direitos que  tem, depois pedi que os alunos relatassem alguma coisa sobre a reunião,  trabalhei também com debates, caixas de perguntas e respostas, dramatização da História da comunidade; levei também meus alunos para assistirem apresentações nas outras séries e pedia relatório para incentivá-los na produção de textos,  incentivo não somente meus alunos mais também as outras pessoas da comunidade a escrever sua própria História.

            Trabalho também com imagens em papéis,  pois minha comunidade tem apenas quadros para se trabalhar na sala de aula, mas nem por isso eu fico triste; busco a cada dia desenvolver um bom trabalho em sala de aula , para que meus alunos possam  gostar mais da disciplina de História. Todo conteúdo  que trabalho  busco trazer para a realidade do aluno para que os mesmos participe nas aulas cada vez mais e sinta mais prazer em estudar a História . Hoje moro com uma pessoa que é um grande amigo o mesmo  esta me ajudando bastante na minha monografia pois ele trabalhou muito tempo como presidente da comunidade e relata muitas Histórias em que aproveito a oportunidade  e escrevo tudo que posso .

             Tive também oportunidade de conhecer várias pessoas durante o período em que estive estudando na FAI; pude participar aos sábados de almoço em  casas de pessoas  muito importantes; uma diversão muito importante para nossa turma, pois a maioria das colegas não tinha lugar para sair e encontrar uma família para estar ao nosso lado, nos finais de semana,  era uma grande alegria para todas nós.

         Já no ano de 2013, comecei trabalhando com 3º ano e só apenas no 8º ano trabalho hora aula na disciplina de História; gosto muito de trabalhar com o 3º ano, pois as crianças são mais obedientes; nas aulas de História eles estão atentos para saberem como era a comunidade antes; estão sempre atentos a saber mais e preocupados, pois não sabem o que vai acontecer com a comunidade de Pimental. Em relação ao 8º ano, já é diferente, uma turma na maioria desinteressada, acredito por ser repetentes alguns deles ,e não tem muita ajuda em casa, um incentivo dos pais.

           Mesmo assim, ainda consigo que eles dramatizem fatos históricos que ocorreram na comunidade, através de trabalhos de avaliações e sempre incentivo os mesmos a escrever sua própria História e a estar atentos nos fatos históricos que acontecem na própria comunidade e em todo o mundo; gosto muito de trabalhar a disciplina de História e mais ainda de escrever o que acontece na comunidade de Pimental, pois a mesma está prestes a sumir com a construção da Hidrelétrica do Complexo de são Luís do Tapajós .   



[1] Joilma Joaquina Damascena de Oliveira é  professora da rede pública de ensino Fundamental , na escola Raimundo Lopes Gaspar e acadêmica do Curso de História da Faculdade de Itaituba –FAI, 2013.