A autenticidade na acção docente

Uma rápida reflexão em torno da temática

Fernando Osias Queco

Docente (Assistente Estagiário) na Universidade Pedagógica – Delegação de Quelimane

Licenciado em Ensino de Educação Fisica e Desporto

Mestrando em Desenho de Sistemas de Educação – na Universidade Pedagógica

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Cell: +258 820131250 e +258 847424346

 

A ideia de escrever sobre a autenticidade está intimamente ligada a este grande caminho que venho percorrendo, de escolarização geral e formação em educação. Sob o ponto de vista de quem vem tendo a sua frente na sala de aulas e/ou sessões, variadas formas, estratégias, metodologias, etc., de condução, acompanhamento, facilitação, moderação, etc., do processo de transmissão e/ou construção do conhecimento. Ora, neste longo percurso várias foram e têm sido as peças que assistimos e temos assistido, as quais, caracterizam as representações feitas pelos professores, orientadores ou facilitadores. Em alguns momentos foi fácil perceber e em outros não tanto, que o que o professor pregava e/ou prega não era/é do seu agrado, domínio e nem crença (conduzindo a aula/sessão como se de uma peça teatral se tratasse). Neste caso, o que o professor espelha não coaduna com o que ele é e, assim vislumbra-se uma terrível luta para a descoberta de sua identidade, identificando-se nele vários personagens em uma única peça.

Entendo autêntico aquele professor capaz de estabelecer uma correspondência saudável entre o que percebe e o que comunica e/ou transmite aos seus interlocutores, ou seja, um professor que não oculta-se ou tenta ocultar-se através de palavras ou de máscaras, que não representa personagens que não lhe pertencem e mais, que não se esconde de ninguém nos seus gestos, actos e palavras, demonstrando domínio e precisão no que diz e gesticula.

Acredito que o professor, em sua actividade tem necessidade de estima, o que conduz-lhe a constantemente buscar a valorização e o reconhecimento por parte dos outros e só quando esta necessidade é plenamente satisfeita, aparecem nele sentimentos de acolhimento, de confiança bem como de valorização de si mesmo. Ora, contrariamente originam-se nele sentimentos de inferioridade, de desamparo e de incapacidade perante os que lhe rodeiam.

Olhando por esta perspectiva, consideraría a auto-estima referindo-se à valorização que uma pessoa e/ou o professor (neste caso) tem de si mesma/o, a crença acerca do seu próprio valor, originando certos sentimentos em si, dos outros e do mundo. Considerando assim, ter auto-estima, o professor que dá valor a si próprio, a partir de teorias construídas acerca do mundo e de si mesmo, que servirão de sustento ou fundamento para situações da realidade. Estes são aspectos que creio serem possíveis de alcançar quando o professor agir de forma autêntica perante o seu meio envolvente.

Ora, a construção de um agir autêntico, crê-se ser resultado de experiências adquiridas em processos de solução de problemas concretos ao longo da vida, configurando-se deste modo como um instrumento de integração e adaptação, com o fim de manter e acrescer gradualmente a sua confiança perante os outros. Para tal, o auto-conceito desempenha um papel preponderante no nível de credibilidade e confiança.

A sala de aulas é constituída por uma multiplicidade de situações que caracterizam o dia-a-dia da actividade do professor. No entanto, as habilidades para encarar esta multiplicidade de situações são construídas integrando os saberes do ser, do conhecer e ensinar que o professor ostenta. Entretanto, é importante o professor apresentar-se como sendo um ser singular na sua acção educativa, realista e original.

Ao ser sincero, o professor irá aprender enquanto ensina, será um líder disposto a reconhecer e compartilhar incertezas e erros próprios, no sentido de conhecer-se e buscando assim o autoconhecimento. Permitirá ainda, vivenciar momentos que possam renovar as suas acções educativas com ideias próprias e conscientes do desenvolvimento dos alunos, visando à formação integral de todos envolvidos no processo de construção de conhecimento, razão pela qual oficialmente encontram-se o professor e aluno.

Creio no entanto, que o professor como um ser social e profissional, deseja profundamente ser autêntico ou age na perspectiva de que todos em seu redor assim o identifiquem pois, ser autêntico assemelha-se a ter personalidade. Portanto, a busca por uma personalidade, este ser autêntico depende exclusivamente de quem o pretenda ser, neste caso o professor, porém para tal é preciso querer e empreender um esforço para que tal se concretize e, acreditando que todos os objectivos são alcançados com dedicação, realizando exames de consciência constantes perante decisões e atitudes do dia-a-dia.  

Ora, o ser autêntico precisa ser cultivado e mais ainda, ele deriva de factores relacionados com o passado de cada um. Portanto, se um professor foi educado de forma tradicional com autoritarismos absolutos por parte de seus educadores tal, terá fortes repercussões nas acções actuais do professor por isso, há a necessidade de o professor estar munido de instrumentos que o permitam analisar e assim perceber que as realidades e situações de aprendizagem por ele tidas são diferentes das que os seus alunos encontram-se actualmente.

Ao perceber a diferenciação e dinâmica sociais, um professor que seja ser autêntico e que almeje o desenvolvimento integral, intelectual e positivo de seus educandos, a sua mediação far-se-á de acordo com a nova realidade, procurará guiar-se por metodologias que se adeqúem a nova conjuntura social, aos novos paradigmas e pedagogias educacionais, sem no entanto temer o confronto estrutural, contextual e de gerações pois, não resistirá a mudanças e de forma natural estas ocorrerão. Tendo em conta, que ele estará em constante busca de novas informações, em constante formação e/capacitação e permitirá de forma natural que a nova conjuntura social seja seu professor e dela aprender as novas formas de ser, estar e fazer.

Ora, enquanto antes o aluno era visto como uma tábua rasa e por isso, justificava-se a transmissão pelo professor e assimilação do conhecimento pelos alunos. Hoje, um novo e actual paradigma talvez mais justo e real surgiu, que defende que o conhecimento não se transmite do professor para o aluno mas sim, constrói-se em ambos ao longo do processo de ensino. Esta, é uma razão muito forte para o professor precisar ser autêntico e face a novas realidades redimensionar suas práticas. 

Enquanto acontecem as mudanças de paradigmas, em simultâneo a identidade do professor também tem ganhado novas características, visto que esta é entendida não como algo estático, imóvel, mas pelo contrário, como algo que se desenvolve ao longo do processo de formação que continua na função laboral. Entretanto, uma das questões mais requisitadas nesta sociedade da informação é que o professor assuma a postura de pesquisador na sala de aulas, que este a olhe como um caminho para alcançar uma aprendizagem de qualidade e que ajudará o aluno no seu processo de construção do conhecimento e a posterior, formação profissional.

Se a perspectiva da escola é formar sujeitos preparados para as adversidades do futuro, uma das grandes bases é um professor que saiba influenciar a formação deste indivíduo para o futuro e ao ser autêntico, transmitira aos seus educandos sinais de segurança, de personalidade e variados valores que serão suporte para a vida futura e até do dia-a-dia fora da sala de aulas.

Vários são os factores que concorrem para tornar o professor autêntico na sua acção diária, porém, grande atenção precisa ser dada ao seu processo de formação que portanto deve ser vista como prática contínua, pois, pensar na formação, capacitação do professor significa pensar na sua continuidade, num processo dinâmico que confronta os saberes iniciais com a experiência prática, de modo que o professor paute sua prática pedagógica na reflexão, a fim de aprimorá-la, transformá-la e qualificá-la.

Uma formação continuada, deve estar focalizada para mudanças e, sobretudo combater práticas de transmissão de conhecimento e/ou atitudes que pautem em tal premissa. E, ainda abarcar as mudanças contextuais, contribuindo para a conscientização política e apropriação de identidade, viabilizando assim, a formação de um profissional inovador.

Ao revitalizar-se os saberes pedagógicos do professor através da formação, directamente implicar-se-á no acto de pesquisar não como instrumento que acrescenta informações conceituais, mas com o intuito de tornar a pesquisa fonte formativa, agregada ao ensino, numa perspectiva problematizadora, analista e reflexiva. Um professor que busca problematizar o seu quotidiano, refaz constantemente as suas acções e tal, terá implicações também nos seus educandos/formandos que deixarão progressivamente de ser meros recipientes dóceis de depósitos e passarão a investigadores críticos em diálogo com o educador, investigador crítico também.

Entretanto, ao pretender que a formação do professor o capacite a uma busca constante na sua acção pedagógica é de extrema importância potencializar uma nova cultura formadora, da qual implicasse em novas perspectivas e metodologias, que se assentassem numa revisão moral, intelectual e profissional baseada na retomada de controlo sobre seu processo de trabalho, tornar os professores em formação protagonistas activos de sua formação em seu contexto de trabalho, no qual combinam-se o prescrito e o real aumentando assim, o seu auto-conceito.

Desta forma proporcionar-se-ia ao futuro professor uma formação e educação mais crítica, promovendo uma nova cultura profissional, onde combate-se a opressão escolar e social, por isso torna-se importante uma análise mais profunda sobre a formação continuada.

Com estes condimentos, automaticamente a formação do professor tornar-se-á crítica, o que possibilitará muitas reflexões sobre a sua própria prática e procurando sempre confrontar com os conhecimentos científicos, proporcionando assim novos planeamentos de trabalho.

Desse modo, o professor antes de tentar contribuir para formação de sujeitos conscientes, críticos e autónomos estará se tornando/formando também num sujeito autónomo, capaz de discernir os aspectos favoráveis para o sucesso de sua prática que reflectirá no sucesso do processo de construção do conhecimento dos seus alunos.