José Maria Couto Moreira*

“Façamos a revolução antes que o povo a faça”. Esta advertência do grande estadista Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente do Estado de Minas de 1926 a 1930, inscreveu-se na história política brasileira como dos mais sábios ensinamentos que um governante lúcido e voltado para as causas sociais podia oferecer naquele momento histórico, em que as oligarquias encontravam-se enfraquecidas. O lúcido Antônio Carlos a produziu tangido pela realidade de então, em que as práticas anti-republicanas instalaram-se fundamente no estado brasileiro.
Revelava o grande mineiro, já naquele tempo, que o povo não mais aceitava favorecimentos e privilégios obsequiados à classe dominante, e contra eles se insurgia aquela figura impoluta. Sua ancestralidade garantia sua atuação firme em defesa do interesse público, bisneto que era de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência e neto do conselheiro Martim Francisco Ribeiro de Andrada, estes ilustres brasileiros de que se orgulha a nação.
Antônio Carlos iniciou sua vida pública como promotor de justiça, e, por todos seus passos até as culminâncias da política, inclusive breve exercício da presidência da República, foi este mineiro um paladino da democracia, havendo, em Minas, instituído o voto secreto, uma punhalada certa no coronelismo. Opondo-se à ditadura de Vargas, seus atos de rebeldia acenderam as chamas de outros bravos mineiros para o futuro documento a que a história chamou de Manifesto dos Mineiros, um grito à opressão insustentável.
O estado brasileiro está em crise, ninguém pode negar. Os escândalos se repetem no Executivo, no Legislativo, e agora, também o Judiciário, por seus próprios membros, revela suas entranhas e as põe a nu. A opinião pública continua perplexa com os relatos da austera ministra Eliane Calmon, uma voz firme e forte da banda boa do poder que integra e uma voz dissonante, por sua vez, na corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, órgão criado para investigar eventuais deslizes dos integrantes do Poder Judiciário. Pasmem os leitores pelo fato de que, nos últimos dez anos, houve uma movimentação bancária que a ministra abranda para atípica, na conta de juízes e servidores, no valor de quase um bilhão de reais, entre magistrados dos estados do Rio, Bahia e São Paulo. E mais: entre os anos de 2000 e 2010, as movimentações dos indigitados alcançou a cifra estratosférica de quase dez bilhões de reais, isto é, um valor comparável a quatro pontes Rio-Niterói ! Uma só pessoa, vinculada à Justiça do Trabalho do Rio, movimentou, só em 2002, a quantia de quase 300 milhões de reais !!!
Não bastassem as informações autênticas divulgadas pela corajosa ministra, a corporação logo se inquietou, e, de imediato, interpôs mandado de segurança junto ao STF, e um decreto liminar manda cessar as incômodas investigações da corregedora. Costumes republicanos, rio-abaixo.
Lembrêmo-nos da advertência de Antônio Carlos.

* Advogado