Atividades que exercitam a atenção e a memória : a escola e a aprendizagem 

Poti Chimetta Havrenne 

                 Uma das atividades  que pode ser usada em crianças com dificuldades escolares para  exercitar a memória e a atenção é  o jogo da memória em que várias cartas de baralho ou de um joguinho adequado à idade infantil são mostrados à criança e depois novamente virados para baixo.À criança é dada a tarefa de descobrir onde estão determinadas cartas que podem ser escolhidas à vontade pelo professor.Naturalmente esse jogo exercita a atenção pois a criança deve ficar atenta se quiser descobrir as cartas.

                 A atenção pode ser desenvolvida com numerosos jogos infantis ou não, como o xadrez e o jogo de damas que são inclusive importantes para desenvolver o raciocínio e a estratégia.Variações de palavras cruzadas podem ser utilizadas forma simples para exercitar a memória, precisando apenas de papel e lápis.Um dos problemas do xadrez é a aprendizagem um pouco demorada das regras do jogo, mas é um ótimo instrumento para desenvolver a orientação espacial, a estratégia a longo prazo para se chegar a um resultado final e pode ser utilizado com inúmeras vantagens em situações de dificuldade de aprendizagem.  

               Atividades utilizadas para atenção e estratégia devem ser de natureza lúdica, principalmente na criança que apresenta problemas de adaptação escolar, onde quaisquer tarefas que lembrem a escola e suas atividades, não devem ser utilizadas inicialmente para não desinteressar o aluno logo numa fase precoce da terapia.Atividades baseadas em jogos com pelo menos dois competidores favorecem a atenção pois a criança tem de ficar atenta à sua “perfomance” e também à do adversário se pretender ganhar o jogo.

                O problema da atenção em situações de dificuldade escolar, sejam essas  devidas a problemas de ordem psiquiátrica como no Transtorno de Atenção e da Hiperatividade (TDAH), ou de ordem emocional, ou mesmo de ordem situacional, como no caso da criança que não tem local adequado onde dedicar-se a seus estudos em ambiente doméstico, ou no caso de grande desinteresse dos pais com relação à Educação, precisa em seu manejo  de algumas medidas específicas que variam de problema a problema, como por exemplo uma medicação no caso da TDAH , mas também de outras medidas gerais para reforço da atenção, da memória e da motivação.

                A motivação é a pedra mágica na Educação e poucos educadores se preocupam em preparar seus alunos para que se dediquem às suas tarefas escolares e transformem a Escola num espaço de lazer e não num de pesado labor.

A Educação precisa ser transformada em prazer e não em dor e pavor.O ser humano evoluiu através da busca de novas soluções para seus problemas e este instituto epistemofílico ( de busca de conhecimento ) está presente em todos e principalmente nas crianças, que sem a busca  novos conhecimentos de atividades físicas, como andar de bicicleta, e mentais como saber ler e escrever, continuariam a ter um comportamento de bebês por toda sua vida (HERNANDEZ, 1991; HERNANDES, 2011).

          Assim a função primária da escola coincide com uma atividade instintiva que deveria ser aproveitada na Educação como algo natural.

           A Escola quase sempre destrói esse instinto confundindo a busca de conhecimento com uma nota de avaliação, levando a criança a sentir medo e temor, pois uma nota baixa na prova implica quase sempre em situações de desprazer como ter de enfrentar a ira dos pais e a  uma baixa de sua auto-estima, fazendo-a sentir - se inferior às outras que conquistaram uma nota melhor.

           Dessa forma uma situação em que se conseguiria um resultado naturalmente bom para todos leva a uma situação grave tanto do ponto de vista psicológica ( a baixa auto-estima) como do ponto de vista social,  transformando a tendência gregária de cooperação e de alegria que normalmente existe entre as crianças numa situação de competição, de desigualdade, de humilhação e de “bullying”. Não é assim estranha a aversão infantil da criança pela escola - a Escola doente deveria sofrer um processo de cura e não a criança é que deveria sofrer um processo de adoecimento e embotamento mental (BARBOSA SILVA, 2010;KOURY, 2011). 

           A Escola assim é o grande agente  responsável pela desaprendizagem e pela transformação da criança, um ser naturalmente bom e   curioso, num monstro violento que ataca ferozmente os outros alunos vendo-os  como competidores a quem necessita destruir.Assim a Escola está na raiz da violência e do desinteresse dos jovens adolescentes e adultos por tudo que diga respeito à atividade escolar,  pois esta os remete a coisas desagradáveis, quase sempre de conhecimento desnecessário e destrói a criatividade, outra qualidade inata do ser humano.Este é outro problema causado por nossas escolas, ávidas em inundar a cabeça dos pequenos seres com informações que não servem para nada no quotidiano, enquanto informações importantes sobre o dia a dia são suprimidas e vistas como pouco importantes. Recentemente uma adolescente, aluna de um colégio de renome, tido como um dos melhores da cidade,   perguntou-me porque precisava saber tudo sobre a sexualidade das pteridófitas ( samambaias ) e nada sobre a sexualidade humana - não sei se algum professor poderia lhe responder usando argumentos sérios e convincentes.

            É notório que grandes inovadores como Bill Gates não terminaram (felizmente !) nenhuma faculdade e que um gênio como Albert Einstein foi considerado por seus professores como semi-retardado.Thomas Edison, o grande inventor, que revolucionou a vida de toda a Humanidade só chegou à metade da segunda série do primário.  É possível que nossas vidas fossem bem piores se eles tivessem freqüentado os bancos escolares  e  tirado boas notas - afinal de contas a Escola acredita que sua função é a de conservar  os conhecimentos e não de criá-los (BOHM, 2011). 

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hernandez, Alicia - A inteligência aprisionada.Porto Alegre : Artmed, 1991.

Hernandez, Alicia - A atenção aprisionada.Porto Alegre : Penso-Artmed, 2011.

Barbosa Silva, Ana Beatriz - Bullying - mentes perigosas na escola.São Paulo: Fontanar, 2010. 

Koury, Jussara Rocha - Conceito sem preconceito - bullying.São Paulo :Bagaço, 2011.

Bohm, David -Sobre a Criatividade.Botucatu: UNESP,2011.