SECRETARIA DA SAUDE DO ESTADO DA BAHIA
SUPERINTENDENCIA DE RECURSOS HUMANOS DA SAÚDE
ESCOLA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA PROF. FRANCISCO PEIXOTO
DE MAGALHÃES NETTO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA COM ÊNFASE NA IMPLANTAÇÃO DE LINHAS DE CUIDADOS
ATIVIDADES DE GRUPO DURANTE O PRÉ-NATAL: ESTRATÉGIA PARA A PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE MAMÃE E BEBÊ: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE UMBURANAS - BA.
JENIFEN MIRANDA VILAS BOAS
ORIENTADORA: SHIRLEY ROCHA SILVEIRA DE SOUZA
SALVADOR/BA
2010
ATIVIDADES DE GRUPO DURANTE O PRÉ-NATAL: ESTRATÉGIA PARA A PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE MAMÃE E BEBÊ: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE UMBURANAS - BA. ¹
Jenifen Miranda Vilas Boas2
Resumo
O presente estudo trata-se de um relato de experiência sobre a implantação do grupo de gestantes como instrumento de educação em saúde na Estratégia de Saúde da Família Barriguda do Anibal a partir do Curso de especialização em Saúde da Família com Ênfase nas Linhas de Cuidados. Para a realização do trabalho utilizou-se ferramentas como grupo focal e oficinas com base na metodologia da problematização. Foram discutidos temas como: A importância do pré-natal; Mudanças que acontecem durante a gravidez; O desenvolvimento da gravidez e do bebê; O nascimento: como acontece o trabalho de parto; Após o parto (puerpério); Amamentação; O recém-nascido e Cuidados com o corpo. Obteve-se a participação de cerca de 80 a 100% das gestantes cadastradas no pré-natal de alto e baixo risco. A participação das gestantes no grupo ampliou seus conhecimentos sobre temáticas do pré-natal focada na prevenção de riscos gestacionais, serviu como espaço para compartilhar informações e saldar as angústias e dúvidas, aproximou-as da ESF, fomentou o vínculo profissional, etc. Os profissionais de saúde entenderam a importância da realização da educação em saúde como estratégia de organização e planejamento assistencial e o uso de ferramentas da atenção básica para mudanças das práticas em saúde.
Palavras Chave: Educação em Saúde, Atenção Básica, Gestantes.
1 Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Saúde da Família com ênfase na Implantação de Linhas de Cuidado, ofertado pela Diretoria de Atenção Básica e Escola Estadual de Saúde Pública da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, entregue como pré-requisito para o recebimento do título de Especialista.
2 Enfermeira da Unidade de Saúde da Família. Barriguda do Aníbal. Integrante do Núcleo microrregional de jacobina. Endereço para contato: [email protected]
GROUP ACTIVITIES DURING THE PRENATAL: STRATEGY FOR HEALTH PROMOTION AND PREVENTION OF MOTHER AND BABY: REPORT OF EXPERIENCE IN A FAMILY HEALTH UNIT IN THE MUNICIPALITY OF UMBURANAS-BA. ¹
Jenifen Miranda Vilas Boas2
Abstract
The present study this is an experience report on the implementation of the group of pregnant women as a tool for health education in the Health Strategies Family of Anibal Potbellied from the Specialization Course in Health with an emphasis on family care lines. To carry out the work has used tools like focus groups and workshops based problem methodology. Themes such as: the importance of prenatal care, changes that occur during pregnancy, the development of pregnancy and the baby; Birth: As labor; More About labor, after delivery (postpartum); Breastfeeding; The newborn and Body Care. We obtained the participation of about 80 to 100% of pregnant women enrolled in prenatal care of high and low risk. The participation of women in the group broadened their knowledge about issues of prenatal care focused on prevention of risks of pregnancy, she served as a place to share information and settle the anxieties and doubts, approached the FHS, fostered the bond work, etc.. Health professionals understand the importance of conducting health education as a strategy for organizing and planning assistance and the use of tools for changing primary care practices in health
Key words: Health Education, Primary Care, Pregnant Women.
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1 INTRODUÇÃO
Na perspectiva de consolidar mudanças na organização e no processo de trabalho das equipes de saúde da família e da gestão microrregional na atenção à saúde da gestante e da criança até 28 dias de vida, com enfoque na redução da mortalidade materna e infantil no estado da Bahia, a linha guia saúde da mamãe e bebê foi inserida como módulo obrigatório do Curso de Saúde da Família com Ênfase nas Linhas de Cuidado.
A partir deste módulo "Saúde da mamãe e bebê" e do desenvolvimento de atividades práticas associadas ao conhecimento teórico referente a essa linha de cuidado no âmbito da Estratégia de Saúde da Família da Barriguda do Aníbal, zona Rural de Umburanas ? BA, despertou-me a necessidade de mudanças das práticas vigentes e inserção de novas formas de atuação conforme as diretrizes preconizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Por considerar a gestação como um momento singular na vida da mulher, a qual envolve vários aspectos novos no seu cotidiano como: alguns comportamentos e sensações ainda não vividas; surgimento da carga emocional provocadas pela responsabilização sobre uma nova vida; mudanças na rotina familiar; necessidade de realizar o acompanhamento de pré-natal; dúvida sobre alguns aspectos da gestação e com o cuidado do recém nascido disparou-se a necessidade de uma reorganização da assistência prestada à Saúde da mamãe e bebê.
Diante desses aspectos, a realização de grupo de gestantes1 surge da emergência de alternativas que possibilitassem ascender à prevenção de riscos gestacionais como estratégia prioritária de atenção primária em saúde, proporcionando às gestantes da ESF barriguda do Aníbal uma assistência de qualidade, pautada nos princípios da integralidade, equidade e humanização.
___________________________________________________________________ Grupo de gestantes: Espaço de Conhecimentos, de Trocas e de Vínculos entre os Participantes.
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De acordo com o programa de humanização e atenção à saúde o desenvolvimento de grupo de gestantes é considerado recurso importante para promover o atendimento individualizado (1) A participação no grupo também permite à gestante ser multiplicadora de saúde no seu coletivo (2). Podemos, desse modo, aferir que tal atividade é uma forma de expansão do acesso à unidade de saúde e de valorização dos sujeitos na sua subjetividade, sem, contudo, perder o foco social e familiar.
As atividades de grupo junto às gestantes da ESF barriguda do Anibal tiveram objetivo de discutir temas relacionados à gestação com base nas especificidades locais. Dentre as temáticas abordadas, discutimos as principais mudanças corporais na gestação, intercorrências clínicas mais frequentes e como enfrentá-las, cuidados de saúde durante a gestação, aleitamento materno, alimentação saudável, puerpério, cuidados com o recém nascido e etc.
Os temas trabalhados no grupo de gestantes e a reorganização da assistência prestada à linha de cuidado Mamãe e bebê foram subsidiados com os assuntos e ferramentas abordadas durante o curso de especialização: Assistência ao pré-natal e puerperio, Acolhimento, Territorialização, grupo focal, agenda programada, sistema de informação da atenção básica (SIAB), análise de demandas entre outros.
Assim, com o intuito de socializar a minha experiência como especializando do Curso de Saúde da Família com Ênfase nas Linhas de Cuidado relatarei sobre o processo de planejamento, implantação e implementação de grupo de gestantes na Estratégia de Saúde da Família Barriguda do Aníbal- Umburanas ? BA, fundamentada nas mudanças no processo de trabalho, participação das gestantes, principais facilidades e dificuldades resultantes das atividades de grupo.
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2 METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência com abordagem qualitativa, com método diário de campo, observação participativa para o desenvolvimento estrutural do trabalho, tendo como base a vivência da implantação do grupo de gestantes como medida de educação em saúde. Tal abordagem busca a aproximação da realidade através da descrição e análise da cultura e comportamento humano e de grupos sob o ponto de vista do estudo proposto; ênfase na perspectiva compreensiva ou conhecimento holístico e, pesquisa estratégica que é interativa e flexível, adequando-se ao longo do processo investigativo (3).
Participaram das atividades de grupo as gestantes de baixo e alto risco, cadastradas e acompanhadas na estratégia de saúde da Família Barriguda do Aníbal, no Período de Junho a novembro de 2010. As atividades em grupo foram realizadas em cinco encontros, tendo a participação variável entre 8 a 10 gestantes por data programada. Seguem as temáticas discutidas: 1. Apresentação e discussão sobre a Cartilha da gestante e importância do pré-natal; 2. Mudanças que acontecem durante a gravidez; 3. O desenvolvimento da gravidez e do bebê; 4. O nascimento: como acontece o trabalho de parto; Mais sobre o trabalho de parto; Após o parto (puerpério); 5. Amamentação; O recém-nascido e Cuidados com o corpo.
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As atividades ocorreram no turno vespertino, sendo pré-agendadas na consulta de pré-natal e orientadas sob supervisão dos agentes comunitários de saúde (ACS). No
primeiro encontro foi fornecida a cartilha da gestante e cronograma de atividades com respectivas temáticas que seriam abordadas durante o período.
Os agentes comunitários de saúde (ACS) e parte da equipe de saúde (Técnico de enfermagem, recepcionista, serviços gerais) foram facilitadores das ações desenvolvidas durante o período de interação, sendo também coadjuvantes que tornaram o processo viável. Os ACS foram atuantes tanto na formulação do cronograma de atividades como com a responsabilização da visitas de orientação, apoio nas oficinas, e planejamento das ações.
Na perspectiva de proporcionar aprendizagem e prazer à abordagem dos temas, usou-se a metodologia da problematização na busca da construção do conhecimento baseado na experiência de cada gestante, estímulo do pensamento quanto a suas ações e comportamentos e aplicabilidade na realidade vivida. Usou-se também técnicas como a de grupo focal e oficinas. Os recursos vídeos e músicas contribuíram de forma significativa nas atividades.
Inicialmente a nossa pretensão era realizar as atividades em um espaço cedido pela igreja católica local, pois permitiria a participação de outros atores envolvidos na comunidade mas, devido à dificuldade de deslocamento e falta de transporte coletivo, os encontros foram realizados na sala de reunião da ESF Barriguda do Aníbal.
O ambiente foi harmonizado com mensagem de amor, carinho, fraternidade, amizade. Utilizou-se músicas de fundo, tornando o local aconchegante e acolhedor. Os materiais necessários à realização das atividades foram fornecidos pela SMS do Município de Umburanas, entre estes cartilhas de gestantes, notebook, papel madeira, pilotos, caneta, impressos e etc.
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Foram realizadas reuniões em equipe no intuito de identificar quais temáticas seriam discutidas e relacionadas ao contexto local, e quais os dias e horários compatíveis e favoráveis à adesão das gestantes à programação.
Chegou-se ao consenso que seria fundamental a realização de visitas domiciliares pelos ACS com objetivo de convidar as gestantes a participarem do grupo e esclarecer que os encontros permitiriam a troca de experiências, a socialização de diversas questões envolvidas no período gestacional e o esclarecimento de dúvidas acerca do parto, da amamentação e etc.
Com a finalidade de avaliação do entendimento das gestantes acerca dos temas intrínsecos ao pré-natal, parto e puerpério foi aplicado um questionário com perguntas fechadas, após o término das atividades de grupo. As questões norteadoras do instrumento além de buscar de forma simples e acessível entender o grau de conhecimentos sobre a gestação traziam alguns questionamentos sobre o atendimento de Pré-natal da ESF Aníbal, e a sensibilização quanto a participações em grupos de educação em saúde.
3 RELATO/ DISCUSSÃO DA EXPERIÊNCIA
A partir do aprendizado adquirido sobre a percepção de saúde ampliada e uso das ferramentas e temas discutidos fomentadas pelo curso de especialização em linhas de cuidados é que se pode de fato inserir no cotidiano da ESF da Barriguda do Anibal as ações de cunho preventivo, particularmente no atendimento da Saúde da mamãe e bebê.
O presente trabalho foi muito relevante e atingiu seus objetivos, pois além de ser o pioneiro na história da saúde da família do local, trouxe uma contribuição para a conscientização da necessidade do auto cuidado e do cuidado com o recém nascido, visando uma melhor qualidade de vida. O grupo de gestante resultou no disparar da
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educação em saúde e práticas de assistências não medicalocêntricas, ou seja, o indivíduo não é mais um sujeito apenas de ações médicas, mas sim visto com suas
particularidades por uma equipe profissional, sendo autor de ações e práticas saudáveis de vida.
O grupo de gestantes é considerado um espaço de conhecimentos, de trocas e de vínculos, pode ser terapêutico para seus participantes, sendo pertinente a sua implementação como forma de assistir de modo integral as pessoas (4). Em concordância com o exposto, considero que as atividades desenvolvidas em grupo permitiram às gestantes um maior conhecimento sobre a gestação e parto, sendo um espaço aberto para expressar dúvidas e compartilhar as sensações desencadeadas pela gestação. O grupo facilitou o contato e a troca de experiências por indivíduos que estão vivenciando um momento específico da fase da vida, o que possibilitou torná-los mais resilientes.
Antes de darmos início às atividades de grupo realizamos algumas modificações na rotina do atendimento da unidade e, desse modo, produzimos uma agenda de atendimento flexível e prioritário, garantia de encaminhamentos através de fluxograma, consulta médica e de enfermagem conforme o grau de risco gestacional, medicações e vacinação, busca ativa de gestantes faltosas através de livros de registros e acompanhamento de agentes comunitários de saúde, territorialização, entre outros.
As mudanças implementadas tiveram o objetivo de reorganizar a assistência à saúde da mamãe e bebê e consequentemente tornar acessível às gestantes a realização de consultas programadas, garantir a realização dos exames de pré-natal com acompanhamento integral e criação de vínculo entre a unidade de saúde e as clientes.
O planejamento e programação das atividades de grupo junto à equipe de saúde dispararam uma movimentação interna para a produção da educação em saúde buscando uma relação direta sobre as especificidades loco - regionais. Assim recorríamos a um
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planejamento estratégico que buscava suprir as necessidades de saúde trazidas pelas participantes, o que contribuiu para efetivar a ESF de Anibal como referência primordial das gestantes cadastradas na área adscrita.
Foi perceptível uma redução significativa a procura pela unidade de saúde de atendimento ambulatorial do município, retratadas pela frequência assídua das consultas de pré-natal e do grupo de gestante. Notou-se também por parte dos profissionais e das participantes do grupo uma maior procura pela ESF do Aníbal. Desta forma, reforçamos o vínculo com as gestantes e a prática do acolhimento, pois tivemos um maior contato com o grupo percebendo suas necessidades individuais.
No decorrer desta experiência, usamos nas atividades de grupo a pedagogia problematizadora, pois possibilita uma prática educativa em saúde mais participativa, direcionada tanto à população, na educação em saúde, quanto a profissionais de saúde, na educação continuada (5). Tal método em nível individual mantém o participante constantemente ativo, observando, formulando perguntas, expressando percepções e opiniões e, em nível social, considera a população conhecedora de sua própria realidade, reduz a necessidade de um líder, eleva o nível de desenvolvimento médio da população graças à maior estimulação e desafio; criação (ou adaptação) de tecnologia viável e culturalmente compatível (6) .
O uso da problematização foi inovador para as participantes, pois o conhecimento foi construído em coletividade a partir da realidade vivida por cada uma, além de ter despertado o senso de transformação. Com base nesta experiência e o embasamento teórico, a metodologia da problematização me fez reconhecer que a educação acontece no seio da realidade, de uma determinada realidade física, psicológica ou social. A realidade é vista como "problema", isto é, como algo que pode ser resolvido ou melhorado (6).
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Sob essa lógica, o grupo de gestante não se esgotou em momentos pontuais, mas passou a compor a programação mensal de assistência em saúde da mamãe e bebê, sendo uma forma de consolidação da educação continuada sob o que é real para as pessoas que compõe determinado território.
Apesar de termos enfrentado algumas dificuldades para definir o local para desenvolver as ações, devido à distância entre os povoados e a unidade de saúde, bem como a falta de transporte coletivo nos horários compatíveis com a programação do grupo, a participação das gestantes surpreendeu toda equipe em relação ao cumprimento dos horários e datas, participação ativa nas oficinas e quanto aos questionamentos sobre as temáticas discutidas.
Para superar os obstáculos relatados acima e garantir a acessibilidade, a equipe estabeleceu interlocução com as gestantes e as mesmas se dispuseram a conseguir transporte particular e elegeram a unidade de saúde como o local ideal para desenvolvimento das atividades, além de terem sugerido continuidade da ação o que demonstra o quanto foi proveitoso.
Durante a execução das atividades educativas pude perceber que as gestantes, apesar de considerarem importante, desconheciam a finalidade da consulta de pré-natal e realização dos exames. Em relação à amamentação tinham pretensão de amamentar seus bebês, em contrapartida existiam relatos que o leite era fraco e não sustentava. Expressaram também que não conheciam as fases da gestação, dieta alimentar adequada e dificuldade de lidar com as intercorrências clínicas gestacionais.
Relataram também que a freqüência assídua das consultas associadas ao grupo de gestante fomenta o aprendizado que permitirá uma melhor condução da gestação e um cuidado correto do recém nascido.
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Em relação à realização dos exames de pré-natal, as gestantes o realizavam, contudo, não conheciam o motivo da solicitação, sua finalidade e quais seguimentos para a coleta do material na unidade de saúde. A partir da interação, as mesmas passaram a reconhecer quais os exames e o porquê da sua realização, facilitando à adesão a realização de todos os exames de rotina do pré-natal.
A partir das atividades de grupo ficou evidente que muitas gestantes utilizam medicações sem orientação do profissional de saúde. Notou-se que, além das medicações prescritas na rotina de pré-natal, as gestantes usavam outras medicações contra-indicadas no período gestacional. Para tanto, foram orientadas que a maioria das queixas diminui ou desaparece sem o uso de medicamentos, e que estes devem ser evitados ao máximo.
No tocante ao uso de álcool e drogas, as gestantes referiram não utilizar nenhum tipo de substância psicoativa durante a gestação, todavia algumas utilizam socialmente a bebida alcoólica e o tabaco anteriormente ao período. Foram enfatizados os danos causados pelo uso de drogas no organismo humano e a necessidade do combate e redução destas substâncias no ambiente familiar.
O direito da gestante foi um tema peculiar, pois as gestantes conheciam os direitos sociais como: atendimento em caixas especiais, prioridades na fila de bancos, supermercados, acesso à porta da frente de lotações e assento preferencial, no entanto não exigia seus direitos. Em relação aos direitos trabalhistas a maioria tinha o conhecimento da licença maternidade de 180 dias, em contrapartida achavam que poderiam ser demitidas quando grávidas, e desconhecia o direito de ser dispensada do trabalho duas vezes ao dia por pelo menos 30 minutos para amamentar, até o bebê completar seis meses.
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Por ocasião do primeiro atendimento pré-natal, todas as gestantes inscritas deveriam ser agendadas para consulta de rotina nas unidades de saúde que disponham de serviço odontológico; caso contrário, deve ser referenciada (7). A maioria das participantes do grupo demonstrou receio e muitas evitavam realizar a consulta com o dentista da unidade, sendo assim, as gestantes foram orientadas quanto à importância do acompanhamento odontológico, desmitificando o conhecimento vigente e inserindo-as na agenda odontológica
Diante de algumas manifestações das participantes procuramos ter uma atitude mais esclarecedora em alguns temas trabalhados. A compreensão dos temas discutidos foi ocorrendo gradativamente aos encontros e os resultados refletem com uma maior adesão às consultas de pré-natal, uso das medicações corretamente, realização dos exames diagnóstico, gestantes com pressão arterial e glicemia acompanhadas quinzenalmente na unidade, adesão à consulta odontológica, conscientização sobre os direitos, entre outros.
Notamos que a unidade da Barriguda do Anibal passou a ser atrativa para as gestantes, pela confiança que foi estabelecida após as atividades de grupo. Desse modo, tornou-se a primeira referência para as mesmas, fortalecendo a integralidade das ações por meio da referência e contra-referência adequada a cada situação.
Em relação à expectativa da equipe de saúde em detrimento aos resultados esperados com a implantação do grupo, foi perceptível uma formação de vínculo entre profissional e paciente, uma aproximação que permitiu conhecer as gestantes, saber como elas vivem quais os determinantes sociais que estão inseridos em seus contextos, as iniquidades que existem nas áreas cobertas pela unidade e compreender as necessidades de saúde local. Os elementos identificados nessa vivência foram norteadores para o planejamento e construção de uma assistência de qualidade a saúde da mamãe e bebê, adaptada as especificidades da população.
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A educação em Saúde ainda encontra muitas barreiras históricas, principalmente pela visão ainda hospitalocêntrica e medicalizada que perduram em algumas instituições de saúde. E na nossa não foi diferente. Foi notável a resistência de alguns profissionais de saúde no desempenho deste trabalho, em contrapartida a satisfação das participantes e resultados alcançados fortaleceu a equipe e ratificou a necessidade de participação da população nas ações de cunho preventivo.
Encontramos ainda resistência por parte dos gestores em relação à implantação das agendas de atendimento programado e espontâneo, adequação profissional da equipe de saúde a sua real atribuição, disponibilização de horários para educação em
saúde e reuniões na nossa Estratégia de Saúde da Família. Tivemos que ser muito flexíveis ao romper com alguns costumes e concepção culturalmente e socialmente enraizados, principalmente na priorização de uma qualidade de assistência e não quantidade de atendimento.
Foi necessário realizar uma reunião com a equipe de saúde para solicitar o apoio junto aos gestores, apresentamos o projeto de implantação de linhas de cuidados, discutimos sobre os princípios da atenção básica, mostramos a necessidade modificar as praticas em saúde mamãe e bebê na unidade. Desta forma, as mudanças foram implantadas com apoio de toda equipe e dos gestores.
Vivenciar a implantação do grupo de gestantes foi de extrema importância para o meu desempenho como profissional de atenção primária em saúde, pois o modelo pedagógico e as ferramentas utilizadas foram permeados com os princípios da atenção básica, os quais estão focados numa atenção humanitária, participativa e integral. Em determinados momentos tive algumas limitações pessoais na discussão de determinadas temáticas interdisciplinares, sendo de fundamental importância o apoio de profissionais
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tais como: assistentes sociais, nutricionistas, educador físico, terapeuta ocupacional, entre outros.
O embasamento teórico sobre as ações da Estratégia de Saúde da Família e os seus mecanismos de atuação (Cartografia, grupo focal, SIAB, análises de demandas, programação e planejamento em saúde, agenda compartilhada e etc.) me permitiu elaborar produtos de boa qualidade no decorrer do curso de especialização em saúde da família com ênfase nas linhas de cuidado e avanços na organização assistencial, sendo o grupo de gestante um dos resultados positivos alcançados na condição de cursista.
A experiência com grupo de gestante ampliou a intervenção preventiva da ESF sobre o território de acordo com as necessidades específicas, despertando para implantação de outros grupos prioritários como de saúde do trabalhador, pois há uma quantidade relevante de agricultores na região exposto a riscos como, por exemplo, o
uso intensivo de agrotóxicos, sem orientação e uso de equipamentos de proteção individuais, entre outros.
4 CONSIDERAÇÕES
A partir da satisfação observada nas participantes do grupo de gestantes, o aprendizado concebido durante as atividades e a aproximação profissional-paciente foi possível concluir que as ferramentas fornecidas pelo curso de linhas de cuidado e o uso da metodologia da problematização devem ser inseridas no contexto da educação em saúde das Estratégias de Saúde da Família, sendo uma forma efetiva nas práticas preventivas e de promoção de saúde voltada as especificidades locais.
A experiência apontou que a implantação das linhas de cuidado e de grupos de educação em saúde se constitui realidade e os profissionais devem estar cientes da
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importância, uma vez que sua utilização supera práticas vigentes em algumas instituições de saúde.
As participantes foram muito receptivas e abertas para compartilhar de conhecimentos sendo possível perceber, através das atividades de grupo, que alguns dos assuntos abordados eram desconhecidos para as elas. Desse modo, fica evidente a necessidade de garantir aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) melhor qualidade no atendimento e informações prestadas nos serviços da rede que são desenvolvidos pelos trabalhadores de saúde.
Apesar das dificuldades enfrentadas para implantar o grupo de gestantes, foi bastante positivo para as partes envolvidas, ou seja, os profissionais e as participantes, pois o mesmo viabilizou oportunidades para reflexões que perpassam por mudanças de conhecimentos, de habilidade e de atitudes. Podemos notar que houve uma mudança significativa no perfil de atendimento da Estratégia de Saúde da Família da Barriguda do Anibal para com o Grupo Saúde mamãe e bebê tanto na esfera organizacional, como
na assistência direta às pacientes. A forma de atuação da equipe de saúde está sendo diferenciada e reconhecida pelo enfoque da prevenção e incentivo a práticas saudáveis de vida, resultando em uma assistência de qualidade.
Por último, é relevante acreditar que a socialização desta experiência provoque reflexões e encontrem ressonância em outros profissionais de saúde para que sejam despertados a propor novos conceitos e a romper paradigmas.
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REFERÊNCIAS
1.Ministério da Saúde (Brasil); Secretaria de Políticas de Saúde; Área Técnica da Mulher. Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
2. Delfino MRR. O processo de cuidar participante com um grupo de gestantes: repercussões na saúde integral individual coletiva. Dissertação de mestrado. Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão (SC). 2003
3. Silva L G . Estudo em empresa vinculada ao projeto Economia de Comunhão na Liberdade Monografia apresentada à Universidade Estadual do Maranhão como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de bacharel em Administração.São Luís
2007.
4. Sartore, GS, Van der Sand, ICP. Grupo de gestantes: espaço de conhecimentos, de trocas e de vínculos entre os participantes. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 02, p.153-165, 2004.
5. Pereira, ALF. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad. Saúde Pública [online], vol.19, n.5,p. 1527-1534, 2003.
6. Bordenave, JED. Alguns fatores pedagógicos. In: Capacitação em Desenvolvimento de Recursos Humanos CADRHU (J. P. Santana & J. L. Castro, org.), pp. 261-268, 1999.
7. Assistência pré-natal: normas e manuais técnicos / equipe de colaboração: Martha Ligia Fajardo... [et al.]. - 3º ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 62p. 1. Preparo para o parto e o nascimento humanizado, Bernardo Pedrosa.