Resumo

Os programas do governo estadual e federal, assim como outras iniciativas privada ou pública contribuem para aumentar o acesso dos interessados aos cursos de graduação. Porém, a sustentação econômica só não basta. Pois é necessário que o graduando conclua seu curso superior com qualidade e consiga inserir-se no mercado de trabalho.

Por meio do uso de recursos próprios da psicopedagogia, o atendimento psicopedagógico aos graduandos do ensino superior, tem contribuído para promover a superação do não aprender e a construção da autonomia no aprendizado.

SUMÁRIO

Introdução

A Psicopedagogia

Atendimento de Graduandos com Transtornos na Aprendizagem

 

Alguns Recursos utilizados

 

Orientações de Estudos

 

 

Introdução

Em nossa sociedade o curso superior passou a ser uma exigência para o mercado de trabalho. Por conta disso, os jovens estão ingressando em cursos superiores diversos, quer sejam da área de humanas quanto da área de exatas. Isso ocorre independente da situação financeira das famílias, pois hoje é possível contar com financiamentos bancários, com convênios de empresas e, ainda com programas governamentais, quer sejam estadual ou Federal. Dentre os programas tem-se o PROUNI (Programa Universidade para todos), criado pelo Governo Federal em 2004 pelo Ministério da Educação (MEC), o qual oferece bolsas de estudos em instituições de educação superior privadas para cursos de graduação aos estudantes brasileiros que ainda não tenham o diploma de curso superior. Conta-se com o PEF (Programa Escola da Família), criado pelo Governo do Estado de São Paulo, garantindo ao estudante 100% de gratuidade no curso de graduação, sendo que 50% da mensalidade (no valor máximo de R$ 310 por mês) pagos pelo Estado e o restante é financiado pela própria IES (Instituição de Ensino Superior), podendo o benefício ser renovado a cada seis meses. Também há o FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) o qual possibilita ao estudante financiar até 100% do curso superior presencial, pagando, no máximo, R$ 50,00 por trimestre. Os juros são de 3,4% ao ano e o período de pagamento é de até três vezes o período do curso a ser financiado. Há, ainda, um período de carência de um ano e meio, o que possibilita o início do pagamento só depois do término do curso.

Há ainda o Programa Ler e Escrever, o qual oferece uma Bolsa Alfabetização para graduandos dos cursos de Pedagogia e Letras que atuam auxiliando professores de 2ºs anos a realizarem a alfabetização. Esta é uma iniciativa do governo do estado de São Paulo, implantado pela SEE/FDE, que tem por objetivo garantir que alunos de ciclo I/EF desenvolvam o domínio da leitura e escrita, até os oito anos de idade, privilegiando o contato com a diversidade de gêneros textuais. A Bolsa Alfabetização é uma parceria entre as instituições de ensino superior (IES) e o governo do estado de São Paulo. Trata-se de uma troca de experiência da instituição superior parceira e a escola pública, fato que permite aos graduandos vivenciarem questões reais da educação, as quais deverão ser repensadas por ambas as partes, possibilitando a busca de soluções.

Os referidos programas possibilitam o acesso há muitos interessados que, num primeiro momento, teriam dificuldades financeiras para manter-se em um curso superior. Nesse sentido, tornam-se instrumentos de democratização do ensino superior. Mas a questão financeira não é o único obstáculo, pois muitos estudantes conseguem ingressar nos cursos de graduação, porém possuem dificuldades em acompanhar as exigências acadêmicas.

Com a intenção de auxiliar os graduandos com dificuldades nos estudos, em muitos casos tratam-se das dificuldades de aprendizagem que carregam desde a Educação Básica, as IES estão se organizando para oferecer o apoio psicopedagógicos a essa clientela.

Não se trata de uma ação solidária das IES e sim de cumprir uma exigência. Pois, o apoio psicopedagógico é um dos itens da Avaliação de Cursos utilizada pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; Diretoria de Avaliação da Educação Superior e Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, conforme a qual aborda o Instrumento de avaliação para reconhecimento do curso de Pedagogia. O apoio psicopedagógico é parte integrante da Dimensão 1: Organização didático-pedagógica do Curso, sendo o mesmo referente ao Item 13, denominado Atendimento ao Discente.

Penso que a obrigatoriedade do apoio não invalida o trabalho psicopedagógico no curso de graduação. Visto que a Psicopedagogia é uma área que integra saúde e educação.

 

A Psicopedagogia

 

Entendo que a Psicopedagogia é uma área de estudo voltada para o atendimento de sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. No Brasil ela está sendo desenvolvida desde a década de 80 remontando mais de 30 anos de existência.

Segundo Bossa (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda - dificuldade de aprendizagem.

Com relação à conceituação a psicóloga e psicopedagoga Bossa (1994) considera que o termo Psicopedagogia deixa claro que não se trata de uma aplicação da Psicologia à Pedagogia. Pois, a Psicopedagogia vai muito além dessa aplicação. Visto que esta área de estudo não pode ser vista sem o caráter interdisciplinar, que implica a dependência da contribuição teórica e prática de outras áreas de estudos para se constituir como tal (Costa, 2008).

A Psicopedagogia preocupa-se com a compreensão da atividade cognitiva de quem aprende ou não aprender, podendo tratar-se de crianças, adolescentes ou adultos.

De acordo com o Código de Ética da Psicopedagogia (Capítulo I, Artigo 1º.). Esta “é um campo de atuação que integra saúde e educação e que lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento por meio de múltiplos processos”.

Nesse sentido, Bossa (1994) afirma que a Psicopedagogia ainda está construindo seu corpo teórico, portanto, não se constitui como ciência.

Acredito que a psicopedagogia vem consolidando seu espaço, deixando de ser uma área de estudo nova deixando de ser vista com desconfiança, conforme afirma Bossa (1994). Pois a atuação de psicopedagogos comprometidos vem contribuindo para a credibilidade desta área. Assim como o trabalho realizado pela ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) no sentido de promover eventos para discussões, apresentações de pesquisas, relatos e troca de experiências entre os profissionais. Estas ações contribuem para a construção do seu campo teórico e possibilita a formação continuada dos profissionais que lidam com o não aprender.

Os transtornos na aprendizagem continuam crescentes. Pois muitas crianças não superam suas dificuldades na infância, embora continuem avançando nos estudos. Assim, ingressam no ensino superior necessitando de ajuda para acompanhar os estudos. É por meio da Psicopedagogia que muitos estudantes vêm encontrando apoio para superação do não aprender.

As contribuições desta área de estudos ocorrem tanto no espaço clínico quanto no institucional, quer seja na prevenção dos transtornos quanto na intervenção nos problemas já instalados, pautando-se pelo enfoque multidisciplinar com contribuição de diversas áreas do conhecimento humano, como da Psicologia, da Pedagogia, da Psicanálise, da Psicologia Genética, da Lingüística, dentre outras Costa (2008).

 

Acredito que é com o apoio psicopedagógico que os estudantes que estão no ensino superior e enfrentam dificuldades de aprendizagem podem contar. Já que esta área de estudos possui recursos diversos para auxiliá-los na construção da autonomia cognitiva.

 

Atendimento de Graduandos com Transtornos na Aprendizagem

 

Os transtornos de aprendizagem, conforme é a nomeação no CID 10 (2003), podem ocorrer devido a causas transitórias ou permanentes. Contudo, o estudante necessita avançar em seus conhecimentos, de modo que possa demonstrar isso no processo avaliatório de seu curso, correspondendo aos critérios necessários para prossegui com os estudos. Assim também ocorre com os estudantes do curso superior. Pois, independente dos cursos serem semestrais ou anuais há prazos fixados para os registros das avaliações.

Vendo-se a avaliação como um processo, a intervenção deve ocorrer o mais rápido possível para que o aluno não seja prejudicado, Portanto, não se deveria aguardar o resultado de uma prova ou da entrega de um trabalho para planejar a intervenção.

Nas Faculdades de Educação e Tecnologia Thereza Porto Marques quando se percebe que um graduando está com dificuldades na aprendizagem, o professor os aconselham a buscar ajuda no apoio psicopedagógico. Além disso, é realizada pela coordenação dos cursos a divulgação desse serviço à comunidade acadêmica.

O atendimento psicopedagógico foi iniciado em 2006. A princípio houve muita procura pelo atendimento, depois de esclarecimentos a respeito, a procura foi realizada de forma mais consciente pelos estudantes. Além dos encaminhamentos realizados pelos docentes. Dentre os atendimentos tivemos dez (10) de ambas as Faculdades, houve (5) casos da Faculdade de Educação, do curso de Pedagogia e 5 (cinco) da Faculdade de Tecnologia, oriundos dos cursos de Gestão Financeira, Gestão Ambiental e WEB. Todos os casos foram atendidos considerando as dificuldades na aprendizagem. Dentre elas, constatou-se dificuldades na interpretação dos dados para realização de cálculos; dificuldades na leitura e interpretação de textos; na escrita, ou seja, na produção de textos; dificuldades para se prepararem para as avaliações; para administrar o tempo, dentre outras. Assim, as intervenções foram realizadas considerando a importância da leitura, interpretação e escrita, sendo feita também a orientação de estudos para as anotações, métodos de estudos, atenção e concentração, ainda organização e otimização do tempo.

 

 

Alguns Recursos Utilizados

No atendimento psicopedagógico fez-se de diversos recursos, respeitando as especificidades dos casos; Dentre os recursos tem-se a entrevista livre, desenho livre, par educativo, orientações de estudos, uso de técnicas específicas para as dificuldades detectadas, contato com os docentes e, quando possível, com os familiares.

O uso da entrevista livre, conforme recomenda Alvarez (2005) ocorre com a intenção de conhecer melhor o graduando, seu modo de vida, os motivos que o levou a escolher o curso, o seu desenvolvimento nos estudos na Educação Básica, enfim faz-se uso de recursos investigação para conhecer a origem do transtorno.

Depois de colhida as informações busca-se identificar a modalidade de aprendizagem, conforme aconselha Paín (1989), para compreender a problemática do não aprender e conhecer o funcionamento cognitivo do sujeito. Apesar de saber da relevância da família na constituição da modalidade de aprendizagem, como destaca Alicia Fernández (2011), no atendimento dos graduandos, nem sempre podemos contar com as informações da família, por conta do respeito à autonomia que o sujeito conquista, pela própria família, ao ingressar no curso superior.

Fernàndez (2011, p.107) esclarece que modalidade de aprendizagem pode ser resumida na “maneira pessoal para aproxima-se do conhecimento e para confirmar seu saber”.

A autora argentina afirma que o sujeito aprende assimilando e acomodando. Porém, quando acomoda mais do que assimila, acaba deformando a informação, ou seja, pode deformar o objeto do conhecimento, já que cria muito sobre o mesmo. Quando assimila mais do que acomoda, acaba por incorporar muitas informações, mas não cria, não transforma o conhecimento, assim, repete-o tal qual.

Neste aspecto considero ser importante que o graduando tenha consciência da sua modalidade de aprendizagem e do seu funcionamento em relação aos objetos de estudo.

Para Orientação de Estudos faço uso de outro instrumento, trata-se do Programa de Hábitos e Desempenho no Estudo (PHD) da Editora Vetor. Este material aborda ações sobre .compreensão, concentração, distribuição do tempo, provas, métodos e apontamentos.

Por si só o PHD (1997) não traz indícios significativos, mas proporciona ao graduando pensar sobre como estudos, como permanece em sala de aula, se registra, se faz perguntas ao professor sobre suas dúvidas, como se organiza pra estudar, dentre outras questões. Nesse sentido, a contribuição é riquíssima porque contribui para o autoconhecimento e a retomada de suas ações.

Técnicas com desenhos, como é o par educativo, também são utilizadas quando percebe-se disponibilidade do cliente para realização das tarefas. Caso contrário, foca-se o atendimento na conversação.

O contato com os familiares para mais esclarecimentos ou mesmo orientações ocorre quando o graduando em atendimento permite que isso ocorra.  Em geral o contato com os familiares é rico, porém, resguardam-se informações que o cliente, previamente, não autoriza serem reveladas.

Se durante o processo de investigação no apoio psicopedagógico verifica-se que a causa do transtorno não é do campo de atuação do psicopedagogo é realizado e encaminhamento para outros profissionais, cabendo ao estudante procurar o profissional de acordo com suas possibilidades, ou seja, pelo convênio médico ou pela rede pública.

Quando a causa é de aprendizagem o trabalho de orientação de estudos tem dado conta. Além disso, há casos onde se detecta que o estudante necessita de conhecimentos específicos de determinada disciplina para que possa acompanhar os estudos. Assim, é proposto pela IES aulas extras dada lecionada por profissional habilitado fora do horário de aula do graduando, sendo mantido o apoio psicopedagógico.

 

 

Orientações de Estudos

 

Há situações em que é necessária orientação para que o graduando faça uso de técnicas de estudos, como escolhendo um lugar específico para estudar, trazer consigo todo o material necessário para o estudo, estudar constantemente e não deixar para a véspera da avaliação, fazer anotações em classe, revisar a matérias, dentre outras); leituras complementares; indicação de leituras complementares sobre assuntos específicos; Material de apoio como consultas a enciclopédias, dicionários, mapas, sites, etc.

Para sanar as dificuldades, em muitos momentos, é realizado contatos com os docentes das disciplinas em que os graduandos estão encontrando dificuldades. Isso, com a intenção de que sejam analisados os métodos e técnicas em uso, para que possam ser pensadas mudanças que favoreçam o aprendizado.

As orientações de estudos são realizadas para que os graduandos em atendimento possam superar as suas dificuldades e apropriarem-se dos conteúdos curriculares, dessa forma tornem-se autônomo em sua aprendizagem, fato que reflete, também, em outras dimensões das suas vidas, como a familiar e a profissional. Como exemplo tem-se alguns casos.

Houve uma situação de um graduando em atendimento psicopedagógico que dependia dos familiares para levá-lo à Instituição de Ensino, pois ele não dirigia seu automóvel, apesar de possuir Carteira de Habilitação. Ao decorrer dos atendimentos ele optou por vir dirigindo para as aulas. Outra situação que ilustra a construção da autonomia foi a de um graduando do curso de Gestão Financeira que delegava à esposa a administração de sua conta bancária. Após as vindas para o apoio psicopedagógico ele assumiu a administração da sua conta bancária.

 

Considerações

 

É fato que há programas do governo estadual e federal que contribuem para aumentar o acesso dos interessados aos cursos de graduação, fato que também aumenta a demanda nas Instituições. Porém, só o ingresso nos cursos superiores não basta, como também não é suficiente a sustentação econômica para pagamentos dos cursos. Pois é necessário que o graduando conclua seu curso com qualidade, com autonomia, então consiga inserir-se no mercado de trabalho.

Para promover esta formação, as Instituições de Ensino Superior vem oferecendo o apoio psicopedagógico aos graduando que encontram dificuldades de aprendizagem. Neste enfoque a Psicopedagogia vem contribuindo, cada vez mais, para a superação dos transtornos de aprendizagem. Assim, o apoio psicopedagógico no ensino superior tem se constituído em instrumento para a consolidação da democratização do ensino, visto que promove a superação do não aprender e a construção da autonomia, fato que implica na formação social e profissional.

Pode-se constatar que o apoio psicopedagógico realizado aos graduandos do ensino superior nas áreas de educação e tecnologia, brevemente relatadas, o uso dos recursos psicopedagógicos específicos, consequentemente, as intervenções psicopedagógicas, ilustram o quanto é importante a contribuição desta área de atuação para a consolidação de um ensino de qualidade.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

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COSTA, Teresinha de Jesus de Paula. Recursos a Serem Utilizados no Diagnóstico e na Intervenção Psicopedagógica. In: Psicopedagogia diversas faces, múltiplos olhares. PINTO. Maria Alice Leite (org). São Paulo: Olho D’água, 2008. Cap. 5. p.33 A 54.

 

DEL NERO, Carlos. Programa de Hábitos e Desempenho no Estudo (PHD) da Editora Vetor. São Paulo, 1997.

 

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