Atenção + Direção = Uma Combinação Perfeita

 

                                                                                                                                        By  Fátima Rassul

                                                                                                              Psicóloga Especialista em Trânsito

                                         

As palavras empregadas na linguagem comum causam certa confusão quando utilizadas com um sentido técnico pelos psicólogos, e a palavra “Atenção” é uma delas.

Segundo o Dicionário de Psiquiatria, a definição de atenção é: Focalização consciente e deliberada de energia mental num objeto ou num componente de uma experiência complexa e, ao mesmo tempo, excluindo outros conteúdos emocionais ou intelectuais; o ato de tomar cuidado, notar, observar ou concentrar-se em algo1.

Em outras palavras, comumente os seres humanos e outros animais escolhem um filão de impressões para atender.....Os estímulos que ficam na periferia (limite) de nossa atenção formam um pano de fundo. Essa abertura seletiva para uma pequena porção de fenômenos sensoriais chama-se atenção2.

Atenção é um termo com diversos significados e que pode ser utilizado em âmbitos distintos e específicos. Para a psicologia, a atenção é considerada uma qualidade da percepção que funciona como uma espécie de filtro dos estímulos ambientais, avaliando quais são os mais relevantes e dotando-os de prioridade para um processamento mais profundo.

Por outro lado, a atenção pode ser entendida também como um mecanismo que controla e regula os processos cognitivos. Em certas ocasiões, chega mesmo a atuar de forma inconsciente.

O vocábulo atenção também pode ser usado na sua qualidade de cortesia ou gentileza (a atenção enquanto demonstração de respeito para com alguém) ou ainda em forma de exclamação para alertar o destinatário/receptor no sentido de tomar cuidado com alguma situação ou fato concreto, por exemplo antes de atravessar a rua, deve prestar atenção por ser algo que deve fazer com cuidado e cautela pelo perigo que representa.

Tendo vários sentidos e definições, então qual seria a natureza da atenção? Alguns estudos psicológicos vêem a atenção como um filtro que tem a função de peneirar as informações recebidas pelos diferentes pontos dos nossos processos perceptivos. Outros consideram que o indivíduo simplesmente focaliza o que deseja perceber, porém sem excluir os outros eventos que estão envolvidos na situação.

A preocupação da ciência psicológica é identificar os pontos do processo perceptivo onde a atenção opera. Os estudos desenvolvidos lembram que a atenção se ativa em várias situações: inicialmente quando recebe um input de um órgão sensorial, e mais tarde, ao decidir se reage a ele, preparando uma ação.

Kenneth Nakdimen estabeleceu uma diferenciação entre a atenção aloplástica e atenção autoplástica. Na atenção aloplástica o estudioso sugere que se trata de uma função do hemisfério cerebral esquerdo: é a atenção analítica, conceptualizante e abstrativa; caracterizando-se pela manutenção da fronteira do ego o que comumente é chamado de reflexão. Ao passo que a atenção autoplástica é uma função do hemisfério cerebral direito voltada para as imagens gestálticas e para concretização, portanto sinestésica e alteradora do eu incluindo a forma de atenção chamada de imaginação.

Pelo fato de ser uma ocorrência de ordem interna que não pode ser observada e nem controlada diretamente, a atenção tem a mesma prerrogativa que o processo da aprendizagem, ocorrendo somente se um determinado fato desencadear ou motivar uma resposta. A resposta vai depender do estado em que se encontra a pessoa -acordada ou adormecida, alerta ou indiferente, vigilante ou absorta- onde surge o dilema “quando a pessoa está realmente prestando atenção em algo?” ou quando estará alheia à situação?  

Assim como ocorre no processo da aprendizagem, a atenção também só pode ser mensurada através das alterações do comportamento observável.

Se ambos são mensurados por alteração no desempenho, é impossível apurar se a falta de alteração na performance é devida à atenção imperfeita, a aprendizagens imperfeitas ou a ambas. Este problema de circularidade lógica foi debatido por Mostofsky 3.

O estilo perceptivo é de grande valor para a nossa sobrevivência. Partindo da premissa que o homem é o principal agente do trânsito, o estudo da atenção nos interessa muito, pela sua implicação direta na direção segura, promovendo condições favoráveis, quando possível, para o condutor evitar ou conseguir safar-se de acidentes.  Devido a sua “construção”, os homens tendem a focalizar mais o mundo externo, e não o interno. O ambiente externo no qual o homem esta inserido é repleto de estímulos potenciais e de uma grande quantidade de outros que emanam do interior do próprio corpo, sendo que nos indivíduos há uma maior ênfase aos estímulos visuais. A valorização do sentido visual é devida a facilitação da colocação do indivíduo no espaço, permitindo sua adaptação ao mesmo, ajudando-o a responder a perigos súbitos, localizar e manipular objetos no espaço e a movimentar-nos sem colisões2.

A atenção é um dos aspectos importantes envolvidos na capacidade de percepção, e que tem por base o funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC). O processo de percepção é muito complexo e depende tanto dos órgãos sensoriais como do nosso cérebro.

A percepção do meio depende de como os nossos órgãos dos sentidos detectam o estímulo e como o nosso cérebro interpreta e arquiva essas informações para uso posterior, o que exige atenção, organização, discriminação e seleção. Os órgãos receptores percebem uma mudança física ou química no organismo e transformam a percepção em impulsos que percorrem o neurônio sensorial. O neurônio sensorial transmite os impulsos recebidos até o SNC, que ativa o órgão executor para que  o comportamento seja manifesto. O cérebro desempenha um papel muito importante no processo da percepção sensorial.

A percepção, como processo receptivo, não subentende somente a discriminação, mas também a capacidade de distinguir entre sons e imagens, bem como a capacidade de organizar e arranjar a sensação captada em um todo significativo, desenvolvendo a capacidade de estruturar, organizar e arquivar a informação que está sendo recebida. A apreensão do estímulo refere-se à percepção da imagem como um todo.

O processo da percepção depende de quatro operações fundamentais:

1-detecção do estímulo,

2-tradução (conversão da energia de uma forma para outra),

3-transmissão e

4-processamento da informação.

1-O organismo humano está equipado com sistemas especiais de captação de informações, que são denominados sentidos ou sistemas sensoriais. Os cientistas conseguiram catalogar onze sentidos humanos bastante distintos. O olfato, a audição, o paladar e a visão são os mais conhecidos. O que antigamente chamava-se tato revelou-se composto de cinco sistemas dérmicos separados (ou somato-sensoriais): contato físico, pressão profunda, calor, frio e dor2.

Nos seres humanos tem mais dois sentidos que detectam os atos do próprio organismo: o sentido cinestésico e o sentido vestibular.

O sentido cinestésico depende dos receptores dos músculos, tendões e articulações; e o sistema vestibular nos dá a noção de orientação e equilíbrio espacial.

2-Outro aspecto da percepção e da consciência do meio ambiente depende de comparações entre o passado e o presente: analogamente os nossos sentidos detectam os estímulos e o nosso cérebro interpreta essas informações.

Por isto, podemos dizer que a interpretação e a compreensão dos fatos denotam uma avaliação cognitiva da situação em que estamos envolvidos.

Existe grande quantidade de estudos que se preocupam em decifrar o que dirige a atenção da pessoa para determinado fato ou objeto. Necessidades, interesses e valores têm sido citados como influências importantes sobre a atenção. 

A atenção pode ser entendida como uma função especial e uma maneira geral de exercício da vida psicológica.

A atenção dedicada aos objetos externos recebe o nome de observação; e a atenção dirigida a objetos internos, isto é fatos da consciência recebe o nome de meditação.

A atenção através dos órgãos dos sentidos para o mundo exterior é a atenção sensorial, enquanto que a aplicada aos fatos da vida psíquica é a atenção intelectual. 

Alguns aspectos podem ser considerados como fatores determinantes da atenção, como por exemplo:

Amplitude - o silvo da sirene do carro de bombeiros.

Reprodução - anúncios na televisão.

Retraimento - uma única palavra, na página da revista.

Animação e mudança - o pisca-pisca no cruzamento da estrada.

Inovação - o desenho exagerado do último modelo de carro.

   Contradição - a mulher fumando um charuto.

3-Psicólogos associacionistas definem a percepção como um conjunto de sensações que, por meio de analogias, forma um todo homogêneo, sobre o qual a atenção confere nitidez e clareza aos fatos. 

A nossa integração social depende da percepção que temos do meio e das pessoas com quem interagimos. A percepção nunca é o registro objetivo da realidade, mas sim, constitui um processo ativo-seletivo, com características subjetivas, baseado numa série de condições fisiológicas, psicológicas e sociais4.  Nesse ponto a avaliação psicológica do condutor é muito importante, pois nos fornecerá um perfil do seu estado emocional ajudando-nos a compreender como suas emoções estão interferindo na sua maneira de perceber o mundo e projetar que tipo de comportamento poderá ter no trânsito.

O pericampo social determina como a pessoa vai perceber o que está à sua frente, e nesta forma de perceber o mundo devemos considerar as características e o modo de reação próprio, individual e inerente a cada pessoa. A motivação e o estado emocional do indivíduo influenciam decisivamente na sua percepção e na sua capacidade de atenção e interpretação dos fatos.

4-Os processos mentais orientam as percepções, os conhecimentos, as crenças e as expectativas de cada ser humano. O ambiente é repleto de estímulos potenciais que são captados pelos órgãos dos sentidos (sons, imagens, cheiros, etc...), e por um conjunto de sensações que provêm do interior do próprio corpo (palpitação cardíaca, vazio no estômago, e outras....) Wertheimer, Koffka e Kohler consideram que a percepção humana funciona seguindo certo padrão, trabalhando de uma forma organizada e estruturada, de tal modo que se pode verificar a presença de certas regularidades na maneira de um indivíduo perceber a realidade física e social e essas regularidades são tão previsíveis que podem ser testadasem laboratório. Essaforma regular de percepção denomina-se de princípios ou leis que regem a percepção.

O empirismo e o racionalismo são duas formas de interpretar o modo como o homem percebe o mundo, como ele o apreende os estímulos e como ele aprende. O empirismo enfatizou o funcionamento dos órgãos dos sentidos, enquanto que o racionalismo se preocupou com o trabalho da mente. Perceber significa compreender o fato e/ou a situação, e a essa potencialidade de análise temos que vincular a capacidade de atenção do indivíduo. 

Berlyne em seus estudos identificou os aspectos intensivos da atenção. A atenção seletiva ajuda-nos a limitar o número de estímulos captados, auxiliando-nos na emissão de respostas mais assertivas. A todo o momento recebemos uma gama de estímulos através dos nossos órgãos receptores, estímulos que são vindos de várias fontes como já foi considerado anteriormente.

As fibras nervosas visuais, táteis, auditivas, sinestésica e proprioceptivas estão conduzindo  constantemente  impulsos  para  o  nosso cérebro e que as vezes requerem respostas conflitivas e incompatíveis, que acabam gerando um conflito. Se o indivíduo não for capaz de filtrar e selecionar os estímulos, para atender a um número limitado dos mesmos, ocorrerá o caos no comportamento. 

A atenção seletiva é, assim, a capacidade altamente adaptável, e um defeito na utilização dessa capacidade pode ser prontamente considerado como uma séria desvantagem em todas as esferas de nossas vidas3.

Portanto a atenção seletiva é uma variável decisiva no processo da aprendizagem do futuro condutor, tanto na memorização quanto no seu desempenho, fornecendo um dos meios para a pessoa lidar com os seus conflitos e encontrar solução para situações inesperadas.

O curso do desenvolvimento da atenção seletiva inicia-se na infância, quando os hábitos da atenção são considerados hiper-exclusivos. Em seguida, ocorre o aumento da capacidade de atenção simultânea a uma grande variedade de estímulos, hábito designado como hiper-inclusivo.

Por atenção hiperexclusiva, ou superseletiva entende-se a recepção de um estímulo onde o indivíduo atende a recepção do estimulo observando um único aspecto do mesmo, excluindo e desprezando todos os demais. (por exemplo: mostra-se um quadrado vermelho para o indivíduo, sua atenção fica detida somente na cor, não observam a forma da figura, o tamanho, os ângulos etc.). Esse tipo de atenção é muito comum nos autistas.

Quando se defronta com estímulo composto de muitas dimensões, a criança autista parece que responde apenas a uma dessas dimensões, não revelando nenhuma aprendizagem incidental, segundo os trabalhos realizados por Lovaas, Schreibman, Koegel & Rehm em 19713. Para o trânsito este tipo de atenção representa o caos.

Quando estamos em estado de alerta (acordados), ou seja, em todos os nossos momentos de vigília, uma enorme quantidade de estímulos compete por nossa atenção. Sofremos um bombardeio constante tanto do meio externo como do meio interno e quando estamos em trânsito isso não é diferente. Vamos imaginar que um motorista consegue prestar atenção em um único detalhe do trânsito, como por exemplo, observar somente o veículo que vai à sua frente desprezando por completo todos os outros que estão envolvidos na situação de tráfego, assim como os pedestres, a sinalização, etc... Certamente esse tipo de atenção hiperexclusiva dedicada ao trânsito acabará em acidente.

Na atenção hiperinclusiva a pessoa atende a muitos estímulos irrelevantes e não consegue distinguir os aspectos que são realmente importantes para situação. (por exemplo: mostra-se um quadrado vermelho para o sujeito, ele observa tudo; a cor, o tamanho, a posição, os ângulos, só não percebe que é um quadrado, porque incluem todos os estímulos e não seleciona o que realmente interessa). Para o trânsito, este tipo de atenção também é totalmente desaconselhável, pois se o motorista é absorvido por todos os detalhes que as ruas oferecem, não conseguirá estar atento às manobras dos outros veículos, à sinalização, aos pedestres, etc. o que acabará também em acidente.

Gradativamente, com o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo, vai aumentando a sua capacidade de concentração em um número maior de estímulos, conforme impõe cada situação, até atingir os níveis ótimos de maturação, que ocorre na adolescência e ao  qual se denomina  “atenção seletiva”. Atenção seletiva pode ser definida como a capacidade do indivíduo em atender seletivamente à característica relevante decisiva de um complexo de estímulos; o sujeito percebe todos os aspectos do estímulo, e filtra a informação selecionando o que realmente é significativo na situação total.

Dentro do conceito de atenção seletiva, Berlyne considerou três outros aspectos: Atenção na aprendizagem, que se refere à seleção do estímulo para estabelecer uma associação S-R (estímulo e resposta); Atenção na rememoração que corresponde ao tipo de estímulo que a pessoa estará apta  a rememorar em situações futuras, portanto parece que pouquíssima diferença existe entre a atenção  na aprendizagem e atenção na rememoração uma vez que o relembrar implica diretamente em algo aprendido; e finalmente  a  Atenção no desempenho onde foi utilizado o termo conflito para indicar a situação em que respostas mutuamente incompatíveis estão sendo induzidas ao mesmo tempo, e a atenção no desempenho é um dos meios pelo qual o individuo pode enfrentar e resolver esse conflito dirigindo sua atenção seletivamente a um estímulo ou a um limitado número de estímulos para emitir a resposta que aprendeu3.

O ato de dirigir um veículo motor depende do processo de aprendizagem e a atenção é uma capacidade indispensável conjuntamente com os processos perceptivos, processamento das informações tomado de decisão, e externalização desta, mediante ação psicomotora voluntária, principalmente de braços, mãos, pernas e pés.  O desempenho motor depende da capacidade da atenção motora que é caracterizada pela concentração na atividade física e muscular antecipadamente planejada, distinguindo os elementos automáticos do comportamento.  Esse tipo de atenção funciona como um aviso das ações musculares que devem responder prontamente às circunstâncias beneficiando o organismo em sua adaptação. Para que isso aconteça, além da prontidão física deve haver uma hipervigilância da consciência.

Sabemos que alguns tipos de ação podem integrar produtos específicos da aprendizagem, que são os chamados comportamentos automáticos constituídos pelo hábito e pela habilidade.

Um hábito consiste no uso repetido de determinada conduta em determinada situação. A habilidade consiste no domínio definido de uma técnica5.

O hábito corresponde ao fazer muitas vezes e a habilidade ao como fazer, isto é saber como se conduzir dentro de uma situação definida, onde a habilidade é um importante meio para aquisição de novas informações e conhecimentos, pois sabendo aproveitar todos os recursos disponíveis a pessoa estará preparada para enriquecer cada vez mais a sua bagagem cognitiva e comportamental.

O psicólogo Fitts descreveu três fases na aprendizagem de automatismos:

1- Fase cognitiva - estar atento e preparado para captar e compreender a situação;

2- Fase organizadora - a ênfase desloca-se do aspecto intelectivo para o motor, onde as indicações do ambiente se tornam mais significativas e as ações do sujeito mais coordenadas.

3- Fase do aperfeiçoamento - a prática conduzindo ao automatismo.

A aprendizagem é um processo global, já que a compreensão, o sentimento e a ação ocorrem na mesma pessoa que busca uma coerência em sua personalidade.  Entender a situação (cognição), sentir gosto pela execução (apreciação) e ser hábil na realização do comportamento (automação) são aspectos fundamentais para uma direção segura. Para que todas essas fases ocorram com sucesso, é preciso que a pessoa seja capaz de manter um foco de concentração e a sua capacidade de percepção voltada para a situação em que está envolvida possibilitando uma boa atenção e uma boa aprendizagem.

Por exemplo, um indivíduo que se mostra apático, desanimado, astênico, por estar experimentando conflitos de ordem interna, terá sua capacidade de atenção e percepção alteradas, não conseguindo captar de forma adequada os estímulos provenientes do mundo externo. Essa dificuldade é devida ao fato do individuo estar voltado para si mesmo não sendo capaz de perceber e observar a alteração que ocorre no meio externo, como por exemplo, mudança de cor no semáforo, o que torna perigoso o ato de dirigir, sendo este motorista um sério candidato a envolver-se ou provocar acidentes.

Um determinado nível de alerta é fundamental para que haja condição de se pensar em atenção. Estenível, também considerado vigília plena, é o que mantem o cérebro em constante preparo para desempenhar suas funções, recrutando para seu funcionamento uma complexa orquestração de subsistemas que vão desde o tronco cerebral até o córtex basicamente chamado de sistema reticular ascendente6.

A todo o momento uma infinidade de estímulos é enviada para nosso córtex cerebral através dos órgãos dos sentidos, e dependendo da nossa motivação e do nosso interesse, apenas alguns se tornarão conscientes e foco de nossa atenção. Alguns aspectos podem interferir e prejudicar a nossa capacidade de percepção e assimilação como desatenção, distração e dispersão conhecidas como os 3 D’s que dificultam a atenção. O sujeito desatento tende a:

 cometer erros por puro descuido, mostra dificuldade em atividades que exigem atenção prolongada.

 é pouco persistente, não completa tarefas.

 apresenta um estilo de vida desorganizado, tem dificuldade, por exemplo, em controlar o talão de cheques, comumente paga contas com atraso, etc.

 tem grande dificuldade em estabelecer prioridades.

 costumeiramente perde, ou não sabe onde colocou, objetos ou pertences, como chaves, canetas, óculos, etc.

 qualquer estímulo desvia sua atenção do que está fazendo.

 muda freqüentemente de uma atividade para outra, quase sempre sem completar a anterior.

 vive freqüentemente atrasado (a).

 sofre a ocorrência de "brancos" durante uma leitura, conversa ou conferência.

 se houver uma breve interrupção quando está falando ou fazendo alguma coisa, esquece o que deveria dizer ou fazer7.      

No sujeito distraído a atenção flutua, escapa do foco da atividade para qual é solicitado. O distraído é aparentemente muito concentrado, mas a atenção se encontra em outro lugar.

Na dispersão ocorre o constante deslocamento do foco de atenção que acaba incapacitando a concentração.

Para conduzir um veículo com segurança, o motorista deve ser capaz de utilizar-se dos vários tipos de atenção de forma organizada e sincronizada, sem perder o controle da situação. Os vários tipos de atenção considerados importantes para o motorista são:                                                                                                                               

-Atenção Difusa

-Atenção Concentrada

-Atenção Discriminativa

Na atenção difusa o motorista focaliza vários estímulos que estão disseminados no meio ambiente, capturando de forma rápida essas informações que lhe darão um direcionamento dentro do contexto. Por exemplo: o motorista deve ser capaz de observar as placas de trânsito, consultar seu painel sem perder o controle da direção e condução do veículo.

Já na atenção concentrada o foco de interesse e de atenção é dirigido a um determinado estímulo, ou um grupo de estímulos com as mesmas características para obter um melhor aproveitamento do seu desempenho. No caso do condutor, um dos estímulos que são contínuos e que há necessidade da concentração da atenção refere-se às placas e a sinalização de trânsito que orientam o motorista para garantir uma boa fluidez e segurança na direção.

Outros aspectos que tornam a atenção concentrada importante são:

- Facilitadora da comunicação e do relacionamento interpessoal: quando prestamos atenção no nosso

   interlocutor, entendemos e valorizamos o que ele fala.

- Auxilia no aperfeiçoamento da memória: quando nos envolvemos na leitura, estimulamos o

  arquivamento das informações e podemos questionar enquanto estivermos lendo, o que otimiza o

  aprendizado.

- Ajuda a manter o foco nos objetivos (planejamento e organização).

- Colabora no estabelecimento de dianteira.

- Melhora a qualidade de vida (social; profissional e acadêmica).

A atenção discriminativa enfoca vários estímulos e realiza uma separação do que é mais importante para que o sujeito possa emitir uma resposta específica e assertiva. Por exemplo, o condutor pode estar conversando com o passageiro, mas nem por isso deixará de prestar atenção para onde está indo bem como não deixará de observar o trânsito como um todo.

Considera-se a atenção como um processo psicológico mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação, percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções, as representações, os conceitos e elaborar o pensamento e o comportamento. Resumidamente pode-se considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa; é um processo intelectivo, afetivo e volitivo.

É importante ressaltar que a atenção não é uma função psíquica autônoma, visto que ela encontra-se vinculada à consciência. Por exemplo, uma pessoa que está em estado de obnubilação geralmente se encontra com alterações ao nível da atenção, apresentando-se hipervigil. Contudo, um indivíduo em torpor encontra – se estado hipovigil.

Sem a atenção a atividade psíquica se processaria como um sonho vago, difuso e contínuo.

De acordo com Alonso Fernández, ao concentrar a atenção o indivíduo elege um tema no campo da consciência e majora este tema ao primeiro plano da mesma, mantendo-o rigorosamente perfilado, sem deixar-se desviar pelas influências dos setores excêntricos do campo da consciência, podendo quando sentir necessidade, modificar o tema escolhido com plena liberdade. Este tema pode ser um objeto, uma ação, um lugar, uma palavra, etc.

Dentre todas as formas de atenção, distinguem-se duas outras: a espontânea (vigilância) e a ativa (tenacidade). No primeiro caso a atenção resulta de uma tendência natural da atividade psíquica orientando-se para as solicitações sensoriais e sensitivas, sem que esse processo seja interferido por um propósito consciente. A atenção voluntária é aquela que exige certo esforço, no sentido de orientar a atividade psíquica para um determinado fim. Entretanto, o grau de concentração da atenção sobre determinado objeto não depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das condições gerais do psiquismo do indivíduo.

O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a intensidade com que a empregamos é o grau de concentração alcançado.

As alterações da atenção desempenham um importante papel no processo de conhecimento. Em geral estas alterações são secundárias, decorentes de perturbações de outras funções das quais depende o funcionamento normal da atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos estados patológicos determinam uma incapacidade de concentrar a atenção.

Entre os distúrbios mais freqüentes que acometem a atenção podemos citar:

Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento acentuado da atenção em todos os seus aspectos. É observada em estados infecciosos, embriaguez alcoólica, psicoses tóxicas, esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por:

- falta de interesse (deprimidos e esquizofrênicos)

- déficit intelectual (oligofrenia e demência)

- alterações da consciência (delirium)

Os estados depressivos geralmente se acompanham de diminuição da capacidade de concentrar a atenção como um todo. No entanto, têm aumento da concentração ativa para temas depressivos (hipertenacidade).

Hipotenacidade: diminuição da atenção "ativa".

Hipertenacidade: aumento da atenção "ativa"

Hipovigilância: diminuição da atenção "passiva"

Hipervigilância: "distratibilidade", ou aumento da atenção "passiva"

Hipervigilância e Hipotenacidade: ocorrem nos casos de mania.

Hipovigilância e Hipertenacidade em temas depressivos: ocorrem nos casos de depressão.

Sob todos esses aspectos considerados no nosso estudo sobre a atenção, é importante questionarmos “Como o motorista poderia dirigir, e como está dirigindo”. A sua ação ao volante, além de ser um reflexo de sua personalidade e do seu estilo de vida, reflete também como foi o seu aprendizado.                                                                                                                                 

Sendo a percepção a propiciadora da apreensão de toda a informação recebida, é imprescindível que a captação seja precisa e exata para que o condutor possa ter condições de elaborar e definir uma ação mais precisa e assertiva dentro de uma situação real.

A atenção em suas várias formas constitui-se numa função primordial para o ato de dirigir, devendo o bom motorista manter seu estado de vigília e atenção de modo constante para sua segurança e a segurança do usuário.

 

Bibliografia

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3. Ross Alan. Aspectos psicológicos dos distúrbios da aprendizagem e dificuldades na leitura.  Tradutora Alexandra Fares. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil Ltda; 1979.

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