A pergunta sempre me soa seca e inoportuna: "qual a sua religião?"

A resposta de sempre sai automaticamente, toda vez que me permito respondê-la: nenhuma!

Quase sempre a cretinice assume o comando e a segunda pergunta aparece: "então você é ateu?"

Intimamente revejo minha resposta para essa afirmação/pergunta: conclusão errada, esta é OUTRA pergunta.

Mas na maioria das vezes limito-me a olhar para o inquisidor, sempre dono da verdade, abstendo-me de deixar claro que, na minha concepção de vida, fé nada tem a ver com religião, no contexto atual. Antigamente ainda era tolerável, havia respeito e interesse pelo bem estar do outro, mas hoje tudo gira em torno de uma única palavra: faturamento.

Mesmo assim, não rejeito totalmente as religiões nem pretendo o abalo da fé de ninguém. Pessoas existem que precisam de uma religião, como uma espécie de "freio", que o mantenha aceitável no contexto social.

Desde muito jovem, no entanto, senti o impulso de não permitir atravessadores entre meus assuntos com a Eternidade. Muito logo cedi a esse  impulso e com isso aprendi que meus diálogos com o Universo  só são possíveis pessoalmente, não permitindo intermediários, representantes e outras "profissões" correlatas.

Não raro a pseudo-religiosidade de uma pessoa, apenas a transforma em vítima das armadilhas dispostas no caminho que atravessa na selva dos interesses escusos, da sede de domínio doentia, que grande parte das pessoas sentem, jamais importando a elas se existe dor em suas vítimas ou não.

Carrego um espírito cansado da malversação dos assuntos da fé, quando centenas de pessoas de mau caráter enriquecem as custas da boa fé (ou seria preguiça?) alheia.

Poderia responder aos meus eventuais inquisidores a respeito do assunto, que possuo duas respostas para a pergunta: "não tenho religião" ou "tenho todas as religiões". Explico: só retiro das religiões a essência, aquilo que é intangível, inegociável. Exatamente aquilo que os mercadores delas jamais encontraram ou imaginam existir.

É doloroso assistir o sofrimento de pessoas entregues às ilusões vendidas disfarçadamente, como solução para suas vidas e assistir o surgimento – cada vez mais acelerado – de notícias sobre as aberrações sexuais conexas. Ser espectador involuntário de guerras e toda sorte de violências em nome de determinadas religiões. Ver que a maioria desconhece o fato indiscutível de que, se você quiser conversar com Deus, apenas conversa e pronto. Não existem "corretores credenciados" para intermediarem essa relação. Essa possibilidade é pessoal e intransferível.

Assisto ao crescimento acelerado do poderio econômico de organizações pseudo-religiosas. Religiões profissionais, com domínio da mídia, efetuando descaradas lavagens cerebrais em massa.

Espero, desejando profundamente, que a "justiça poética" cuide seriamente do assunto, pois a justiça humana é seriamente conivente com os crimes que se pratica nesta área corrompida da sociedade contemporânea.