RESUMO:

A doença de Chagas é uma afecção endêmica comum no Brasil e pode deixar seqüelas em diversos órgãos do indivíduo por ela acometido como, por exemplo, o intestino grosso (cólon), cuja doença denomina-se megacólon chagásico. Muito freqüentemente o cólon sigmóide é o mais acometido (FILHO, 2000). O presente artigo enfatiza os cuidados de enfermagem prestados a pacientes portadores de megacólon chagásico submetido à cirurgia de Duhamel-Haddad, visto que tal patologia é quase que prioritariamente das Américas.
PALAVRAS-CHAVE: Megacólon, Doença de Chagas, Cirurgia, Duhamel-Haddad, Enfermagem, Assistência.

INTRODUÇÃO

A maior dispersão e incidência da doença de Chagas no Brasil ocorreram na primeira metade do século XX. Na década dos 80, foi empreendida uma campanha nacional de combate à doença de Chagas que incluía, entre seus objetivos, a erradicação do principal vetor. Em meados dessa década, cerca de 75% da área endêmica no Brasil se encontrava sob vigilância e a prevalência da doença começou a se reduzir progressivamente, e sua incidência tornando-se praticamente nula. (DIAS; COURA, 1997).

O megacólon chagásico caracteriza-se por estase fecal crônica, com dilatação cólica, podendo evoluir para formação de fecaloma e outras complicações (FILHO, 2000).

A doença é progressiva e o tratamento clínico nem sempre tem sucesso, o que culmina em tratamento cirúrgico, cujas técnicas empregadas podem levar a um pós-operatório difícil para o paciente.

Assim, o presente trabalho procurou oferecer um melhor entendimento à equipe de enfermagem que cuida desses pacientes, na intenção de contribuir para uma assistência sistematizada e de bom nível, através da identificação dos cuidados de enfermagem mais freqüentes, que foram prescritos aos pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de Duhamel-Haddad para o tratamento do megacólon chagásico.

OBJETIVOS

Identificar a assistência de enfermagem prestada em pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia de Duhamel-Haddad;

Contribuir para o conhecimento, bem como, a melhoria da assistência de enfermagem prestada a pacientes portadores de megacólon chagásico submetidos a cirurgia de Duhamel-Haddad;

METODOLOGIA

Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico utilizando revistas de enfermagem, base de dados na internet com artigos já publicados da USP, UNB, entre outras universidades, bem como bibliografias específicas e gerais voltadas tanto para anatomofisiologia como para a patologia em si e principalmente ao tratamento cirúrgico e aos cuidados de enfermagem.

Acrescenta-se, então, o fato de haver escassez de publicações em enfermagem, uma vez que se pesquisando recursos como Medline, Lilacs e Scielo, percebeu-se que as poucas publicações eram de anos muito retrógados e encontrou-se poucos e quase inaproveitáveis artigos voltados para o cuidar desses pacientes.

DESENVOLVIMENTO

Fang, et al (2008) apud Tafuri e Raso (1983), descrevem as lesões do megacólon como sendo fundamentalmente uma destruição do sistema nervoso autônomo. Onde as lesões nos gânglios são variáveis de um paciente a outro e no mesmo paciente, visto que, essas lesões são observadas em especial no reto, onde a dilatação, hipertrofia da parede e danos das estruturas nervosas são bem evidentes.

Fundamentalmente o paciente portador de megacólon não consegue evacuar adequadamente, o que decorre de uma dupla alteração funcional que segundo Fang (1996) são: a discinesia e a dilatação do cólon extensamente afetado o faz comportar-se como inerte; e a falta de integridade nervosa retal leva à diminuição da sensibilidade e à distensão e abolição do reflexo inibitório reto-anal, e com conseqüente falta de relaxamento ao evacuar, à acalasia.

Kasper; et al (2006) diz que os pacientes com megacólon apresentam dor abdominal e constipação crônica, e que a patologia quando mais avançada pode causar obstrução, vólvulo, septicemia e morte.

O tratamento farmacológico da doença de chagas é insatisfatório. Há muitos anos, apenas dois fármacos – nifurtimox e benznidazol – estão disponíveis para esse objetivo. Infelizmente, os dois fármacos são ineficazes e frequentemente causam efeitos colaterais graves como: dor abdominal, anorexia, vômitos, náuseas, perda de peso, inquietude, desorientação, insônia, espasmos musculares, parestesia, polineurite e convulsões, Os quais geralmente desaparecem com a redução da dose ou a interrupção do tratamento (IDEM).

Gama; Costa e Azevedo, (1986) apud Oliveira, (1983) afirmam que no Brasil várias técnicas têm sido propostas para o tratamento cirúrgico de megacólon adquirido como é o caso do megacólon chagásico citado nesse artigo.

A técnica descrita por Duhamel em 1956 e posteriormente modificada por Haddad e Cols em 1965 (cirurgia de Duhamel-Haddad) vem sendo empregada por vários grupos na atualidade como uma das principais opções de tratamento cirúrgico ao paciente acometido pelo megacólon chagásico (GAMA; COSTA; AZEVEDO, 1986 apud REZENDE, 1976).

A cirurgia de Duhamel Clássica é descrita por Haddad; Raia e Corrêa, (1995) como sendo: Um abaixamento retro retal trans-anal do cólon, procedimento este modificado por Haddad (Técnica de Duhamel-Haddad), acrescentando ao procedimento uma exteriorização do cólon, sob forma de colostomia perineal.

Fagundes; Góes e Medeiros, (1993), afirmam que a anastomose se dá por segunda intenção e, geralmente, de forma retardada.

A cirurgia é realizada em duas etapas: o paciente permanece com o coto cólico por aproximadamente 15 dias, quando ocorre o segundo tempo cirúrgico, com ressecção do coto (MEDEIROS et al, 1991).

Recentemente, na reconstrução do trânsito colorretal, pela técnica de Duhamel, tem sido utilizado o grampeador mecânico, que tem possibilitado a realização de anastomose colorretal primária, como originariamente proposta, sem a necessidade de exteriorização de alça ou colostomia de proteção (NORONHA et al, 1998 apud CUTAIT e CUTAIT, R; 1990).

Souza e Carmel, (1996) relatam que, a técnica de Duhamel tem sido realizada através da videolaparoscopia e os resultados têm também sido bastante satisfatórios.

As prescrições de enfermagem têm três momentos distintos: os períodos pré, trans e pós-operatórios, sendo este último o objeto do presente trabalho. Levando em consideração o procedimento cirúrgico citado nesse artigo, vale destacar que a técnica cirúrgica de Duhamel-Haddad, requer uma assistência de enfermagem específica, atenta e direcionada aos pacientes submetidos a esse processo cirúrgico, visto que quase sempre o paciente permanece com uma colostomia (coto) perineal ou coto cólico, o qual pode vir a surgir complicações psicológicas e fisiológicas ao paciente.

Dos cuidados de enfermagem prescritos, podem ser evidenciados por Craven e Hirnle, (2006):

  • Cuidados higiênicos, como banho no leito e de aspersão;
  • Higiene oral;
  • Verificação dos sinais vitais;
  • Controle da diurese e eliminações intestinais (fezes e flatus), visto que está diretamente ligada a doença e a cirurgia;
  • Curativos;

Pacientes submetidos à cirurgia de Duhamel-Haddad apresentam incontinência fecal e têm dificuldade em compreender, aceitar e lidar com o coto cólico, dessa forma cabe a enfermagem garantir a atenção básica ao paciente. Incluindo quando necessário citados por Garcez, (2008):

  • Orientações;
  • Explicações;
  • Incentivo ao tratamento;
  • Apoio psicológico;

Dessa forma, é preciso que o enfermeiro tenha conhecimento sobre o procedimento e oriente sua equipe, os pacientes e os familiares ou cuidadores. A equipe precisa receber todas as informações sobre o procedimento cirúrgico bem como orientações sobre como assistir o paciente, de tal forma que seja criado um ambiente de autocuidado e de perspectivas positivas.

O paciente deve receber orientações compatíveis com seu nível intelectual, com destaque para o autocuidado, a participação no tratamento e a comunicação de sinais e sintomas que possa apresentar no período pós-operatório.

Podem ser citados de acordo com Nettina (2003):

  1. Cuidados gerais para pós-operatório de pacientes submetidos

a cirurgias do cólon:

Avaliar o funcionamento do trato gastrointestinal, observando:

• aceitação alimentar;

• náusea/vômito;

• distensão abdominal;

• eliminação de flatus;

• queixas álgicas abdominais e perianais;

• ruídos hidroaéreos;

• eliminações intestinais (freqüência, características, algias e sangramentos).

Avaliar o funcionamento do sistema urinário, observando:

• eliminação urinária: volume, características, freqüência e algias.

1.3.Incentivo ao autocuidado: mobilização no leito, deambulação, higiene

e proteção do coto cólico.

2. Cuidados pós-operatórios para pacientes submetidos a

cirurgia de Duhamel-Haddad:

• prescrever os cuidados gerais para pós-operatório de cirurgias

do cólon;

• estimular cuidados higiênicos com o coto cólico;

• orientar manutenção do coto cólico com gaze ou compressa

vaselinada, fraldão, fralda descartável, absorvente, etc;

• orientar realização de banho de assento com água morna;

• orientar sobre o uso de rodilha de material flexível, quando estiver

sentado;

2.1. Fazer/ orientar/ incentivar/ ajudar/ estimular:

• banho no leito

• banho de aspersão

• higiene oral

• procedimentos a serem realizados

• saída do leito

• deambulação

• banho de assento com água morna

• curativos

• colocação de gaze vaselinada no coto anal

• higiene do coto

• movimentação no leito

• autocuidado

• ingesta alimentar

• higiene íntima

3.Verificar e anotar:

• Sinais vitais;

• Diurese;

• drenagem da Foley abdominal;

• ruídos hidroaéreos;

• débito da ostomia;

• débito da Sonda Nasogástrica – SNG;

• aspecto do coto;

4. Observar e anotar:

• coloração das mucosas;

• jejum;

• padrão respiratório;

• hidratação;

• distensão abdominal;

• algias abdominais;

• algias;

• aceitação da dieta;

• edemas;

• náusea/ vômito;

• sangramentos;

• tosse e expectoração;

• funcionamento da ostomia/ coto;

• evacuação;

flatus;

• nível de consciência;

• pupilas;

• desconforto respiratório;

• perfusão periférica;

• arritmias;

• dispnéia;

• palidez;

• deiscência;

• presença de secreção;

• lipotímia;

• aspecto da ostomia/ coto;

• circunferência abdominal em jejum;

• peso em jejum;

CONCLUSÃO

O entendimento do procedimento cirúrgico, ao qual o paciente foi submetido, torna-se fator importante, na medida em que a enfermagem vai, cada vez mais, procurando pautar a assistência que oferece à clientela nos conhecimentos científicos, o que lhe permite, orientar adequadamente os componentes de sua equipe, o paciente e seus familiares ou cuidadores.

Portanto, a busca em contribuir para a assistência de enfermagem, o bem-estar e segurança dos pacientes submetidos à cirurgia para o tratamento do megacólon chagásico, por si só já está revestida de importância.

REFERENCIAS

CRAVEN, R. F; HIRNLE, C.J. Fundamentos de Enfermagem: Saúde e Função Humanas. 4ª ed. São Paulo: Manole, 2006.

CUTAIT, D.E; CUTAIT, R. Aparelho digestivo: clínica e cirurgica. Rio de Janeiro: Medsi. 1990: 590-604.

Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: Definições E Classificação 2007/2008 / North American Nursing Diagnosis Association; Tradução de Regina Machado Garcez. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

DIAS, J.C.P; COURA, J.R. Epidemiologia Clínica e terapêutica da Doença de Chagas: uma abordagem prática para o clínico geral. 1 ed. Rio de Janeiro: FIO CRUZ. 1997.

FAGUNDES, J.J; GOES, J.R.N; MEDEIROS, R.R. de. Megacólon chagásico. Terapêutica em gastroenterologia: Gastrocentro - UNICAMP, 2ª ed. São Paulo: Roca; 1993: 205-14.

FANG, C.B. Manometria anal e proctografia nos doentes com megacólon chagásico. Tese de doutoramento na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 1996.

FILHO, Geraldo B. Bagliolo Patologia. 6ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2000.

HADDAD, J.H; RAIA, A; CORRÊA NETTO, A. Abaixamento Retro-retal do Cólon com Colostomia Perineal no Tratamento do Megacólon Adquirido. Operação de Duhamel modificada. Rev Bras Colo-Proctologia. 1995; 15(3): 126-30.

KASPER, D.L; et al. Harrison: Medicina Interna. 16 ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil LTDA. 2006.

MEDEIROS, R.R;GOES, J.R.N; FAGUNDES, J.J; LEONARDI, L.S. Tratamento Cirúrgico do Megacólon Chagásico com Técnica de Abaixamento à Duhamel–

Haddad. Controvérsias na cirurgia do aparelho digestivo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medsi. 1991.

NETTINA. Sandra, M. Prática de Enfermagem. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2003.

OLIVEIRA, D.B. Tratamento Cirúrgico do Megacólon pela Operação de Duhamel. Revista Paulista de Medicina, 63: 283-304, 1983.

REZENDE, J.M. – Forma digestiva da moléstia de chagas. Revista Goiana de Medicina, 5:193-314, 1956.

SOUZA, J.V.S; CARMEL, A.P.W. Colectomia laparoscópica versus convencional para o tratamento do megacólon chagásico: existem diferenças? Rev. Bras Colo-Proctologia. 1996; 16(2): 86-9.

TAFURI, W.L; RASO, P. Anatomia patológica: Manifestações digestivas da doença de Chagas. São Paulo: Sarvier. 1983.