ORIENTADORA: PROFª. ESP. ANDRÉA SOUZA MOREIRA QUIRINO*
CO-ORIENTADOR: PROF. ESP. MANOEL DE JESUS LEAL**
MAIANA TRANZILLO DE MATTOS***

RESUMO

O presente estudo teve como objetivos identificar a percepção das mães mediante a assistência prestada ao filho hospitalizado, sendo assim, torna-se interessante avaliar a assistência prestada e verificar pontos positivos e negativos do cuidado na pediatria do Hospital Geral Prado Valadares (HGPV), sob o olhar das mães. Os atores da pesquisa foram sete mães que estavam acompanhando seus filhos hospitalizados na unidade pediátrica, escolhida aleatoriamente. Trata-se de um estudo qualitativo, de natureza descritiva exploratória. A coleta de dados foi realizada utilizando entrevista semi-estruturada com perguntas abertas e fechadas buscando identificar a importância de ficar com o filho durante a internação e como está sendo oferecida a assistência de enfermagem a essas crianças hospitalizadas. Os dados foram analisados de acordo com a técnica de análise de conteúdo de onde emergiram quatro categorias. A primeira categoria corresponde à importância de ficar com o filho durante a internação. A segunda categoria refere ao olhar materno: assistência oferecida pelos profissionais à criança hospitalizada. A terceira categoria refere às atitudes diante dos procedimentos de enfermagem oferecidos aos filhos, que deu origem às seguintes subcategorias: Aceitação e não aceitação dos procedimentos. A quarta categoria refere ao olhar de mãe, sugestões para melhorar o atendimento de enfermagem na pediatria. Como considerações parciais, após a análise de dados, ficaram evidenciadas que as entrevistadas demonstraram sensação de bem-estar e segurança por poderem acompanhar seus filhos hospitalizados e satisfação com o atendimento disponibilizado pela equipe de enfermagem na pediatria.
Palavras Chaves: Assistência de enfermagem, criança hospitalizada, olhar materno.

ABSTRACT

The objective of this research is to identify the mother’s perception about the care of their hospitalization children. Therefore, the mothers’ opinion about the assistance evaluation and the positives and negatives points of Hospital Geral Prado Valadares (HGPV) pediatric care is interesting. The actors of the research had been seven mothers who were following its children hospitalized in the pediatric unit, chosen randomly. It is a descriptive nature qualitative study. The collection of data was carried through using interview half-structuralized with open and closed questions searching to identify the importance to be with the son during the internment and as she is being offered the assistance of nursing to these hospitalized children. The data had been analyzed in accordance with the technique of content analysis of where four categories had emerged. The first category corresponds the Importance to be with the son during the internment. The second category relates to the look at maternal: assistance offered for the professionals to the hospitalized child. The third category relates to attitudes ahead of the procedures of nursing offered the children, that it gave origin to the following categories: aception and not aception of procedures. The fourth category relates to the look at of mother, suggestions to improve the attendance of nursing in the pediatrics. As partial consideration after the analysis of data is the interview had demonstrated to sensation of well-being and security for being able to follow its hospitalized children and satisfaction com the nursing team attendance in the pediatrics.
Key Words: Assistance of nursing, hospitalized child, to look at maternal.

O olhar materno à assistência hospitalar de uma criança internada está muito presente na prática de enfermagem nas unidades pediátricas. Participam do processo de adoecer não só a criança, mas toda a sua família. A família é um grupo de pessoas ligado por descendência identificada de dois ou mais indivíduos. Outras vezes, não é necessária ligação consangüínea ou legal entre seus membros para tanto. Essas pessoas formam um grupo social funcional, base para relações intrapessoais de seus componentes. De modo tradicional, é composta por um homem e uma mulher (pai e mãe) e seus filhos(WIKIPÉDIA, 2009).

A indissolubilidade do binômio mãe-filho é determinação genética inevitável originada desde os primórdios da civilização. No século XX, as teorias psicanalíticas relataram profundamente esta relação afetiva. Segundo Bowlby (1997), é uma relação íntima que ocorre com a figura materna e a criança, ou qualquer tipo de relação entre a mãe e filho. Essa relação se intensifica afetivamente, quando ocorre um processo de adoecimento com uma das partes envolvidas. Assim, a hospitalização da criança interfere com a estrutura psicológica tanto da mãe, por estar afetivamente ligado ao filho pela essência da maternidade, quanto da criança, que se fragiliza em muitos aspectos, por estar afastadas emocionalmente do convívio social, pelo estado físico debilitado, pelos seus objetos pessoais, roupas e brinquedos, e pelas rotinas hospitalares onde vivenciam situações na qual o desconforto e a dor se tornam muito intensos, seja pela própria patologia ou pelos procedimentos a que são submetidos (EINLOFT, 1996).

Portanto, seus efeitos psicológicos refletem na figura materna, pois a sensibilidade e a ligação entre ambos é um instinto materno desenvolvido desde a concepção, um vínculo historicamente destacado, inato a grande maioria das mulheres.

Esse instinto representa um sentido de maternidade, envolvimento emocional, proteção e compartilhamento de sentimentos. Ficando mais evidente durante a internação hospitalar da criança. A mãe se depara com a dor e a angustia do filho, bem como, a sua própria dificuldade em lidar com a assistência prestada. A sua percepção instintiva pode por vezes prejudicar a qualidade do cuidado, dificultando o profissional de realizar sua tarefa assistencial.

De acordo com Alves (2006), Quando o cuidado é voltado para a criança exige do enfermeiro atenção, cuidado ativo e dinâmico, envolvendo a família, pois a hospitalização mobiliza toda a estrutura familiar. A família junto com a criança passa por uma série de fatores estressantes e muitas vezes repentinos acerca da doença. A cada dia que passa durante o período de hospitalização da criança, aumentam as preocupações, temores, angústias e ansiedade.

O interesse em realizar esse trabalho se deu primeiramente por observar que a hospitalização é uma experiência difícil enfrentada tanto pela criança, quanto pela família, em particular a figura materna, e que esse processo envolve profunda adaptação das crianças às várias mudanças que acontecem no seu dia-a-dia. Ao deparar com a aflição das mães e, envolvida emocionalmente pelo sofrimento enfrentado pelas crianças internadas, e instigada pela enfermagem que nos habilita a pesquisa, na busca de entender melhor nosso instrumento de trabalho, o cuidado do ser humano de forma integral e humanizada, decidimos pesquisar sobre o tema por entender que a pesquisa permite a obtenção de maior nível de profundidade e entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

Partindo desses princípios e guiados pelo objeto de estudo dessa pesquisa indagamos: qual a percepção da mãe frente á assistência prestada ao filho hospitalizado?

Mediante estes questionamentos propomos os seguintes objetivos: identificar a percepção da mãe mediante a assistência prestada ao filho hospitalizado, sendo assim, torna-se interessante avaliar a assistência prestada e verificar pontos positivos e negativos do cuidado na pediatria do Hospital Geral Prado Valadares (HGPV), sob o olhar das mães.

Ciente de que a participação da mãe no cuidado ao filho hospitalizado, influência na qualidade da assistência, este estudo torna-se importante por revelar a necessidade do profissional de enfermagem conhecer a realidade emocional da mãe durante a internação do filho, para identificar que tipo de informação ela mais necessita saber, esclarecendo suas dúvidas, afim de que possa contribuir na melhoria da qualidade assistencial. É necessário expandir a atuação da enfermagem, não se restringindo puramente à prestação da assistência a criança hospitalizada; mas estender-se ao conhecimento dos fatores emocionais da mãe, pois o cuidado humanizado engloba cuidar de quem cuida.

METODOLOGIA

Esse estudo trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva de natureza qualitativa, onde o propósito é interpretar e descrever as vivências das informantes, não havendo, portanto, nenhuma preocupação, com a quantificação dessas informações.

Nessa perspectiva, Minayo (2000), nos afirma que a abordagem qualitativa é entendida como:

Aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas.

Para Triviños (1992), na pesquisa qualitativa, de forma muito geral, segue-se a mesma rota ao realizar uma investigação. Isto é, existe uma escolha de um assunto ou problema, uma coleta e análise das informações.

Na condução deste estudo foi utilizada entrevista como técnica de coleta de dados. De acordo com a concepção de Lakatos e Marconi (2003) esse instrumento de pesquisa possibilita o contato face a face entre o pesquisador e os informantes, sendo roteiro de perguntas preenchido pelo pesquisador. Essa técnica proporciona a coleta dos dados que fundamenta e responde os nossos objetivos.

O instrumento para entrevista constou de itens que caracterizam a amostra, como: idade, estado civil, escolaridade, ocupação, religião, quantidade de filhos, idade da criança hospitalizada e tempo da hospitalização. A segunda parte foi constituída de questões específicas.

Antes de realizar a entrevista, a informante recebeu todos os esclarecimentos sobre a pesquisa de acordo o postulado pela resolução 196/96 do CNS, logo após as mesmas assinaram o termo de consentimento, ficando um com as mães e outro com a autora, em seguida foi realizado a entrevista. Utilizamos ainda como instrumento de apoio à coleta dos dados um gravador digital a fim de registrar os depoimentos e transcrevê-los posteriormente.

Para análise dos dados utilizamos como técnica uma aproximação ao método de análise do conteúdo, que segundo Bardin (1979, apud RICHARDSON, 1999 p.31),

a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção, (variáveis inferidas) dessas mensagens.

QUADRO I - CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS

 CATEGORIAS

SUBCATEGORIAS

 CÓDIGO

Nº. DE UNIDADES DE ANÁLISE

 1-Importância de ficar com o filho durante a internação.

 

 

 IFFDI

7

 2- Olhar materno: assistência oferecida pelos profissionais à criança hospitalizada.

 

 

 OMAOPCH

7

 3- Atitudes diante dos procedimentos de enfermagem oferecidos aos filhos.

 3.1 Aceitação

 

3.2 Não aceitação 

 ADPEOFa

 

ADPEOFna

6

 

1

 4- Olhar de mãe, sugestões para melhorar o atendimento  de enfermagem na pediatria.

 

 

OMSMAEP

 

7

Fonte: Dados da Pesquisa (2009)

Categoria 1: Importância de ficar com o filho durante a internação.

A figura materna representa conforto, segurança, apoio, carinho e proteção, quando as crianças internadas podem contar com o apoio das mães durante a internação se tornam mais capazes de suportar os sofrimentos e ansiedades causadas pela hospitalização.

[...] Pra mim é muito importante. Eu quero estar com minha filha até a hora que ela receber alta. Não tem nada igual a carinho de mãe. Eu tenho fé em Deus que ela vai ficar boa logo. (Rosa)

Ficou nítido também na pesquisa que a fé tem sido para as mães fonte de força, segurança e cura para as incertezas. A Bíblia fala que a respeito da fé ela "[...] é o firme fundamento das coisas que esperam, e a prova das coisas que não se vêem [...]" (HEBREUS, 11:1).

Categoria 2: Olhar materno: assistência oferecida pelos profissionais à criança hospitalizada.

Para que a assistência de enfermagem seja efetiva deve-se compreender o impacto da hospitalização nas crianças e em suas mães, observando suas reações, e buscando junto à equipe ajuda-las, pra que se possa desenvolver um melhor trabalho possível. "O apoio emocional, que é o coração da enfermagem" (WAECHTER; BLAKE, 1979, p.51).

[...] Está bem, as enfermeiras tem muita atenção sempre vem ver se ta tudo bem, pergunta se ele ta comendo direitinho, troca o soro, aqui é muito organizado. (Violeta)

Categoria 3: Atitudes diante dos procedimentos de enfermagem oferecidos aos filhos.

Subcategoria 3.1: Aceitação

Por meio dos vários contatos que as mães vão estabelecendo com o serviço de saúde e com os profissionais enfermeiros, estas vão construindo um conjunto de atitudes frente aos procedimentos de enfermagem oferecido aos filhos hospitalizados, que remetem a uma cuidadosa avaliação pessoal dos cuidados prestados aos filhos.

[...] Sim, É necessário para saúde dele, assim ele vai ficar melhor e voltar pra casa o mais rápido. (Margarida)

Subcategoria 3.2: Não aceitação

A não aceitação de procedimentos de enfermagem pela mãe, conduz a mesma a preocupação com o filho hospitalizado, podendo gerar ansiedade, de modo a interferir na hospitalização do filho. Como pode ser visto na fala da informante:

[...] Não, Porque as enfermeiras ficam furando ele e não consegue, aí eu não deixo ficar tentando direto, aí por enquanto ele ta sem soro. Teve até que mudar os medicamentos. Ele ta muito magrinho. (Cravo)

Categoria 4: Olhar de mãe, sugestões para melhorar o atendimento de enfermagem na pediatria.

Foram evidenciados respostas favoráveis no que diz respeito a satisfação das mães frente a sugestões para melhorar o atendimento, conforme evidenciado nas falas abaixo.

[...] Está ótimo, deve continuar assim, não tenho do que reclamar, espero que fique sempre assim. (Jasmim)

QUADRO II - CARACTERIZAÇÃO DAS INFORMANTES

INFORMANTE

IDADE

ESTADO CIVIL

ESCOLARIDADE

OCUPAÇÃO

RELIGIÃO

Rosa

39 anos

Solteira

Fundamental incompleto

Diarista

Católica

Violeta

21 anos

Solteira

Fundamental incompleto

Do lar

Católica

Margarida

30 anos

Casada

2º grau completo

Comerciante

Católica

Tulipa

24 anos

Casada

Fundamental completo

Do lar

Católica

Jasmim

37 anos

Casada

Fundamental incompleto

Do lar

Católica

Cravo

27 anos

Casada

Fundamental incompleto

Do lar

Católica

Girassol

37 anos

Solteira

Fundamental completo

Domestica

Protestante

Fonte: Dados da Pesquisa (2009)

O fato de todas serem religiosas leva-nos a pensar que o sofrimento da hospitalização do filho, pode ser diminuído com a fé e partindo do pressuposto salientamos que a espiritualidade ajuda nos momentos difícies e devem ser até mesmo incentivados pela equipe de enfermagem aos seus pacientes e familiares, já que dessa maneira as mesmas podem encontrar alívio para seu estado emocional muitas vezes em conflito.

CONCLUSÃO

Analisando a assistência de enfermagem a criança hospitalizada sobre o olhar materno em uma amostra com sete informantes no HGPV no município de Jequié-Ba, através da análise de conteúdo, foi possível chegar às seguintes conclusões, fundamentadas nas unidades temáticas:

Que a hospitalização constitui uma crise na família, pois representa o fato de um responsável ter que sair de casa, parar suas ocupações, ter que sair do contexto familiar, que na maioria das vezes depende dele, para dar assistência à criança que se submeterá a internação. A interdependência é uma característica forte da família e desencadeará outras sensações de difícil enfrentamento, em cada membro dela.

Neste momento de crise, determinado pela doença e hospitalização, a criança necessita, basicamente, de apoio e amor materno. A ausência da mãe leva a criança a sentir-se abandonada gerando graves conseqüências, como ansiedade, agressividade, choro, por isso é de grande importância um ambiente criativo para que a criança continue a desenvolver suas habilidades, táteis e sensoriais. A mãe acaba também sofrendo com a hospitalização do filho, pois as mesmas são tomadas por uma série de sentimentos que acaba influenciando na hospitalização, não é simples ligar com esses sentimentos, é muito importante à presença dos profissionais atuantes na unidade pediátrica, para adquirir um maior poder de enfrentamento da situação de forma que possibilite contribuir nas ações de cuidado à criança. Segundo Brunner (2005, p.251) "O enfermeiro deve estar preparado para dar apoio físico, emocional, social, cultural e espiritual ao cliente e a família".

Nesse contexto, as representações das informantes desse estudo revelaram satisfação em acompanhar a criança hospitalizada e demonstraram que estão gostando da assistência prestada pela equipe de enfermagem na unidade pediátrica, as mesmas referiram nas sugestões que esperam que o atendimento continue como está suprindo as necessidades das crianças para que as mesmas possam se sentir melhor.

Esperamos que esse estudo favoreça reflexões e discussões com aqueles que concordam ou discordam dessas idéias, para a construção de novos questionamentos, de novos projetos e de novas descobertas. E o que parecia ser fim, seja apenas o começo de um novo caminhar que revertam em contribuições para a prática da assistência de enfermagem na pediatria, buscando não olhar só a criança hospitalizada e sim ter um olhar mais amplo sobre a família, principalmente a mãe. Pois as mesmas precisam da ajuda dos profissionais atuantes na unidade pediátrica, para adquirir um maior poder de enfrentamento da situação de forma que possibilite contribuir nas ações de cuidado à criança.

* Profª coordenadora Saúde do Adulto e Idoso, BTM I e BTM II do curso de graduação em Enfermagem pela FTC- FAculdade de tecnologia e Ciências - Campus Jequié . Mestranda pela SOBRATI em Terapia Intensiva

**  Enfermeiro Obstetra aposentado SESAB

*** Aluna do curso de graduação em Enfermagem pela FTC- FAculdade de tecnologia e Ciências - Campus Jequié