Aspectos relacionados à amamentação exclusiva no primeiro semestre de vida: uma revisão bibliográfica

Literature review: An exclusive aspect to breastfeeding in the first six months of life.

Valorizando a importância do aleitamento materno

 

Gleibiene de Sousa Fernandes¹, Xisto Sena Passos², Vanessa Bueno De Morais Santos³

¹Acadêmica de Enfermagem da Universidade Paulista- UNIP- Goiânia – (GO)- Brasil. ²Doutor em Medicina Tropical Professor de Enfermagem da Universidade Paulista. 3Especialista em Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família. Professora e Coordenadora Pedagógica do curso de Enfermagem da UNIP Campus Goiânia.

Gleibiene de Sousa Fernandes: Av Francisco Ludovico de Almeida Qd 34 Lt 28 Parque das Amendoeiras Goiânia-Go CEP: 74.780-440 Fone: (62) 84208679 [email protected]

Área temática: Saúde da Mulher

Declaração de conflitos de interesse: Declaramos que não existem conflitos de interesse entre os autores deste artigo, quanto à publicação.

Resumo

O leite materno humano, produzido por mulheres saudáveis é considerado a maior fonte de nutrição que o bebê necessita. O aleitamento materno deve ser exclusivo até os primeiros seis meses de vida, a partir desse período inicia-se a complementação com outros alimentos necessários para o crescimento e desenvolvimento da criança, sendo considerado ideal, a continuidade da amamentação até os dois anos de idade. A amamentação é de extrema importância, pois o leite materno possui atividade protetora e imunomoduladora, proporcionando proteção contra várias doenças, estimulando o desenvolvimento imunológico, a maturação do sistema digestivo e neurológico, prevenindo distúrbios nutricionais como a desnutrição, sobrepeso e obesidade, além de favorecer vínculo entre mãe e filho. Este estudo teve como objetivo analisar artigos científicos nacionais relacionados à amamentação exclusiva no primeiro semestre de vida, e os inúmeros benefícios que essa prática trás à criança e à mãe. Trata-se de uma revisão da literatura, nas bases de dados SciELO, LILACS e Bireme. Foram analisados 30 artigos publicados entre 2004 e 2014. O estudo desenvolvido permitiu identificar que o leite materno tem muitos benefícios não só para a criança, mas também para a família e a sociedade. Concluímos que apesar de inúmeros programas de incentivo ao AM, há uma preocupação com o declínio da prática de amamentação, necessitando de uma atuação mais prática no que tange a promoção, proteção e apoio à amamentação por meio das políticas públicas com participação social.

Descritores: Aleitamento materno. Nutrição infantil. Leite humano

Abstract

Breast milk produced by healthy women is considered a major source of nutrition for babies. Breastfeeding should be exclusive to the first six months of life, after that period should start implementing other nutrition foods that children need to growth and to evolve, also its considered ideal continued breastfeeding up to two years old. Breastfeeding is extremely important because the milk has protective and immunomodulation activity, providing protection against various diseases by stimulating the immune development, maturation of the digestive and neurological system, preventing nutritional disorders such as malnutrition, overweight and obesity, as well as favoring bond between mother and son. This study aimed to analyze national scientific articles related to exclusive breastfeeding in the first six months of life, and the numerous benefits that this practice brings to the child and mother. This is a narrative literature review, the data bases are: SciELO, LILACS and BIREME. 30 articles published between 2004 and 2014 were analyzed. The study identified that breast milk has many benefits not only for the child but also for the family and society. However concluded that despite numerous incentive programs, there is a concern with the decline in the practice of breastfeeding, requiring a more practical role in relation to promoting, protecting and supporting breastfeeding through public policies with social participation.

Descriptors: Breast feeding. Child nutrition. human milk

Introdução

O aleitamento materno é um grande aliado na redução dos índices de mortalidade infantil, sendo considerado um ato de prevenção contra doenças como as cardiovasculares, diabetes melittos tipo 2, hipertensão arterial, doenças alérgicas, diarréia, vários tipos de infecções além de prevenir contra os distúrbios nutricionais, como o sobrepeso e a obesidade. O leite materno é considerado ideal para a alimentação do bebê, e tem a importância de ser exclusivo nos primeiros seis meses de vida, com complementação gradativa de outros alimentos estendendo à amamentação por pelo menos dois anos. No primeiro semestre não há necessidade alguma de introduzir qualquer tipo de alimento, pois o leite materno humano é rico em nutrientes, minerais, água e vitaminas capazes de suprir todas as necessidades nutricionais de um bebê, possui a importante função de proteção contra doenças, além de o ato ter um vínculo de afetividade e segurança entre mãe e filho (1).

            Há inúmeros benefícios já conhecidos e divulgados e também a criação de programas e incentivos ao aleitamento materno como a experiência realizada em 1990 na Itália idealizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cujo objetivo foi mobilizar os profissionais de saúde e autoridades para mudanças nas rotinas das instituições de saúde, visando prevenir o desmame precoce (2).

Há vários estudos que relatam que a mãe também é muito beneficiada quando amamenta o seu filho, diminuindo os riscos de câncer de mama e câncer de colo de útero, retorno do peso anterior com mais facilidade e involução uterina mais rápida onde por consequência menos sangramento (3).

Existem vários fatores que contribuem para o desmame precoce. O aleitamento artificial ou introdução de outros alimentos complementares antes dos seis meses de vida bem como os fatores culturais, sociais, psicológicos e econômicos se destacam como contribuintes deste fato. Torna-se importante a compreensão da influência do universo cultural na tomada de decisão do ser humano, em que respeitar a pessoa, partilhar com ela saberes e costumes é condição essencial para o profissional de saúde na reversão da prática do aleitamento materno, garantindo como a redução do desmame precoce (4).

O objetivo deste artigo foi analisar artigos científicos nacionais relacionados à amamentação exclusiva no primeiro semestre de vida, e os inúmeros benefícios que essa prática trás à criança e à mãe.

Revisão da Literatura

Trata-se de uma revisão da literatura. A pesquisa foi realizada através de levantamentos de artigos científicos que abordam o tema no período de 2004 a 2014, nas bases de dados SciELO, LILACS e Bireme, utilizando-se os seguintes unitermos: “aleitamento materno”, “nutrição infantil”, “leite humano”.

Os benefícios para a criança

Os estudos científicos mostram, que crianças que amamentam com leite materno exclusivo até o primeiro semestre de vida, e até os dois anos de idade ou mais, tem menos chance de desenvolver doenças crônicas na infância, adolescência e na vida adulta. Os benefícios que a amamentação trás ao bebê são reconhecidos não importando raça, condição social ou econômica. As muitas qualidades do leite materno fazem com que seja o ato mais natural e o mais aconselhável método de alimentação infantil no que diz respeito aos aspectos fisiológicos, físicos e psicológicos (5).

A partir da década de 1990 várias ações foram divulgadas em nível nacional e internacional com o objetivo de ampliar a divulgação dos benefícios e a prática do Aleitamento materno. Apesar da ampla divulgação em campanhas de saúde pública, unidades de saúde, à prática do aleitamento materno ainda não atingiu a freqüência e duração desejáveis (6).              

Recentemente estudos comprovam que a promoção da prática do aleitamento materno exclusivo é a melhor maneira para a diminuição da mortalidade infantil (7). Destaca-se a importância dos serviços de saúde e os setores sociais com estruturas adequadas e motivadoras do aleitamento materno no âmbito do pré-natal, a fim de diminuir os anseios da mulher à prática da amamentação (8).

Estudos comprovam que o leite materno exerce uma forte influência sobre bactérias no intestino, necessárias para o sistema imunológico, a diferenciação das estruturas de defesa a partir desses micro-organismos pode acontecer desde os primeiros dias de nascimento. Outro fato importante é a sucção, deglutição e respiração, que são os primeiros sentidos do bebê, são desenvolvidos através de uma correta forma de amamentação (5).

O leite materno é importante na prevenção de defeitos dos dentes da criança, diminui a incidência de cáries e dificuldades da fala. Além de proteger contra vários tipos de alergias, infecções, diarréias, pneumonias entre outras patologias.

A amamentação propicia o contato entre mãe e filho, se é feita com amor e carinho o bebê além de se sentir satisfeito fisiologicamente, também sente o prazer do contato de sua mãe, pois o desenvolvimento da personalidade de uma criança também está relacionado com uma amamentação correta, foi comprovado que crianças que amamentam no peito tendem a desenvolver uma personalidade mais tranqüila e ser mais sociável (5).

Para Balaban e Silva,(9) crianças alimentadas no peito, podem desenvolver mecanismos mais eficazes para regular sua ingestão energética, sendo assim menor será o risco de desenvolver uma obesidade ou até mesmo uma desnutrição infantil.

   Os benefícios para a família e sociedade

Segundo Rea,(3) até o presente, sabe-se que há uma relação positiva entre amamentar e apresentar menos doenças como o câncer de mama, certos cânceres ovarianos e certas fraturas por osteoporose. Indaga-se também sobre o efeito da amamentação no menor risco de morte por artrite reumatóide. Outro benefício para a mulher que amamenta é o retorno do peso anterior mais rápido, menor sangramento uterino pós-parto e através da amenorréia lactacional, ser um método contraceptivo natural.

O ato de amamentar pode também ser importante contra a depressão pós parto que acontece com muitas mulheres, por muitas vezes pela sensação de separação abrupta que ocorre no parto, pois ao amamentar o instinto maternal é satisfeito (5).

Os benefícios tragos pelo aleitamento materno não é somente para o bebê, mas também para a mãe, sua família e sociedade, principalmente no aspecto financeiro, pois a amamentação exclusiva é uma forma de economia, pois até seis meses de idade não há necessidade de gastos com a alimentação do bebê. A presença do bebê fortalece os laços afetivos da família e essa proximidade pode ajudar no prolongamento da amamentação (10).

Sob o ponto de vista econômico o ato de amamentar é considerado umas das estratégias de saúde de maior custo benefício para a sociedade, pois diminui os custos em geral, reduz episódios de doenças na infância,  futuramente adultos mais saudáveis gerando menos gastos públicos, crianças doentes impossibilita os pais ao trabalho gerando prejuízos financeiros.

Discussão

Segundo o Ministério da Saúde o aleitamento materno é indiscutivelmente ideal para a vida saudável de uma pessoa. Costa et al.,(10) o aleitamento materno é a estratégia que mais previne a mortalidade infantil, porém o desmame precoce e a alimentação artificial tem tido um crescimento nos períodos de lactação. Fato concordado por Frota et al.,(11) que justifica que o fato de alimentos não nutritivos serem introduzidos na dieta da criança muito cedo ou muito tarde é um risco à saúde pra toda a vida, considerando que a maior ameaça a saúde nutricional de uma criança é até 2 anos de idade

Para Cunha,(12) o leite materno possui componentes que o tornam único e imitável, e tem componentes imunológicos capazes de diversas funções entre as principais a capacidade de prevenção das infecções.

Em estudo longitudinal em uma instituição pública de Belém (PA) realizado por Marques et al.,(13) com 102 lactentes nascidos a termo, alimentados exclusivamente com leite materno durante os seis primeiros meses de vida, foram acompanhados mensalmente, as crianças pesquisadas chegaram aos seis meses com peso médio superior aos padrões utilizados para comparações.

Outro estudo feito por Balaban et al.,(14) com 409 crianças de 2 a 6 anos de idade provenientes de creches vinculadas a prefeitura de Recife, constataram que crianças que receberam amamentação exclusiva por quatro meses ou mais a prevalência de sobrepeso foi inferior àquelas que não receberam AM ou que receberam por menos de quatro meses.

Para Frota et al.,(11) as mães têm conhecimento dos benefícios do leite materno, e sabem que o correto é amamentá-los exclusivamente durante o primeiro semestre de vida, mas vivenciam obstáculos que as impedem de praticar o ato da amamentação exclusiva, o que é discordado por Costa et al.,(10) que acredita que apesar de ser um assunto bastante discutido ainda há grandes variações sobre o conhecimento e benefícios do aleitamento materno.

Em um estudo de pesquisa de campo com 32 puérperas internadas em uma enfermaria de um hospital privado em Cascavel PR, feita por Vaucher e Durman,(1) mostra que as crenças e mitos têm uma grande relação com o desmame precoce, com preocupações de que o leite não é suficiente, ou que possui leite fraco esses mitos interferem bastante na lactação em caráter negativo. Costa et al.,(10) concorda, pois através de uma pesquisa de revisão exploratória constatou que a prática do aleitamento materno ainda sofre influências socioeconômicas e culturais.

Segundo Bueno e Teruya,(15) a mãe precisa receber apoio e ajudas necessárias e centradas no problema, deixando-as mais tranqüilas e confiantes com uma comunicação facilitada durante a assistência e destaca-se a importância do pré-natal. Almeida e Novak,(16) questiona-se quanto os profissionais de saúde, os serviços de saúde e as políticas de saúde estão preparados para trabalhar com os anseios da amamentação. Para Giugliani e Lamounier,(17) nem sempre os profissionais de saúde tem a habilidade e conhecimento para manejar os inúmeros obstáculos que podem surgir durante o processo da amamentação.

A importância da sociedade na influência na nutriz é um fato discutido por Marques et al.,(18) que através de estudo de revisão bibliográfica concluiu que a família e a sociedade são capazes de interferir na decisão de amamentar, destacando a importância do pai no aleitamento, o papel dos avós e dos profissionais de saúde, vendo a importância de programas de educação em saúde, com participação social, para que todos tenham a consciência da importância do aleitamento materno.

Conclusão

Em todas as literaturas revisadas constatou-se que o aleitamento materno exclusivo e essencial para um bom desenvolvimento de uma criança e futuramente ser um adulto saudável. Os benefícios que o aleitamento materno trás não se limita só a criança, mas também a saúde materna e aos interesses da família e sociedade.

O desmame precoce é um assunto bastante discutido, é um problema de saúde pública, tendo a necessidade da intervenção das equipes de saúde multiprofissionais, pois a realidade só melhorou e só vai melhorar se houver uma educação sobre os benefícios do aleitamento materno exclusivo.

Referências

1.        Vaucher ALI, Durman S. Amamentação: crenças e mitos. Rev Eletronica Enferm. 2005;07(45):207–14.

2.        Bosi MLM, Machado MT. Amamentação: um resgate histórico. Cad Espec Esc Saude Pública do Ceará. 2005;1(1).

3.        Rea MF. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. J Pediatr (Rio J). 2004;80:142–6.

4.        Silva MB de C, Moura MEB, Silva AO. Desmame precoce: representações sociais de mães. Rev Eletrônica Enferm. 2007;09(1):31–50.

5.        Antunes L dos SA, Antunes LAA, Corvino MPF, Maia LC. Amamentação natural como fonte de prevenção em saúde. Ciência e Saúde Coletiva. 2008;13(1):103–10.

6.        Ciampo LA Del, Ferraz IS, Daneluzzi JC, Ricco RG, Junior CEM. Aleitamento materno exclusivo: do discurso à prática. Pediatria (Santiago). 2008;30(1):22–6.

7.        Toma TS, Rea MF. Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências. Cad Saúde Pública. 2008;24(2):235–46.

8.        Marlúcia A, Assis O. Fatores associados à interrupção precoce do aleitamento materno: um estudo de coorte de nascimento em dois municípios do Recôncavo da Bahia , Brasil. Cad Saúde Pública Rio Janeiro. 2012;28(4):641–54.

9.        Balaban G, Silva GAP. Efeito protetor do aleitamento materno contra a obesidade infantil. J Pediatr (Rio J). 2004;80(1):7–16.

10.     Costa LKO, Queroz LLC, Queiroz RCC da S, Ribeiro TSF, Fonseca M do SS. Importância do aleitamento materno exclusivo: Uma Revisão sistemática da lietratura. Rev Cienc Saúde. 2013;15(1):39–46.

11.     Frota MA, Costa FL da, Soares SD, Filho OAS, Albuquerque C de M de, Cíntia Freitas Casimiro. Fatores que interferem no aleitamento materno. Rev da Rede Enferm. 2009;10(3):61–7.

12.     Cunha MA. Aleitamento materno e prevenção de infecções. Rev Port Clin Geral. 2009;5(Quadro I):356–62.

13.     Marques RFS V, Lopez FA, Braga JAP. O crescimento de crianças alimentadas com leite materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida. J Pediatr (Rio J). 2004;80(2):99–105.

14.     Balaban G, Silva GAP da, Dias MLC de M, Dias MC de M, Fortaleza GT de M, Morotó FMM, et al. O aleitamento materno previne o sobrepeso na infância? Rev Bras Saúde Matern Infant. 2004;4(3):263–8.

15.     Bueno LG dos S, Teruya KM. Aconselhamento em amamentação e sua prática. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5):126–30.

16.     Almeida JAG de, Novak FR. Amamentação: um híbrido natureza-cultura. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5):119–25.

17.     Giugliani ERJ, Lamounier JA. Aleitamento materno: uma contribuição científica para a prática do profissional de saúde. J Pediatr (Rio J). 2004;80(05):117–8.

18.     Marques ES, Cotta RMM, Magalhães KA, Sant’Ana LF da R, Gomes AP, Batista RS. A influência da rede social da nutriz no aleitamento materno: o papel estratégico dos familiares e dos profissionais de saúde. Cien Saude Colet. 2010;15(1):1391–400.